Na última aula, a professora de artes— que era a mesma do outro ano —nos deu um trabalho.
            —Aproveitando que temos bastante alunos, novos e velhos, faremos um trabalho que deverá ser apresentado no máximo até o fim desse semestre e valerá quase metade da nota de vocês. —ela fez uma pausa —Vocês deverão formar grupos de quatro e vão sortear um bilhete com quatro coisas nele. Vocês deverão escolher uma dessas quatro coisas, ou juntá-las de algum modo, e fazer uma apresentação para a turma.
            Virei-me para Jéssica e Eduarda. Elas viraram-se para mim sorrindo e eu as ajudei a se juntar perto de minha classe.
            —Precisamos de mais uma pessoa no grupo. —dissemos.
            —Quem? —perguntei.
            —Algum aluno novo. —sugeriu Jéssica.
            Varremos a sala com os olhos, todos já tinham grupo exceto por Jared e Jason.
            —Jason? —eu sugeri.
            —Tudo bem. —elas disseram.
            Fui até Jason.
            —Quer se juntar a nós? —perguntei.
            —É claro. —ele respondeu.
            O ajudei a levar suas coisas até o grupo.
            —Jared? —ouvi a professora.
            —Sim, professora? —ele perguntou.
            —E o seu grupo?
            —Eu não estou em nenhum.
            —Estou vendo. Bem, um dos grupos terá cinco integrantes, escolha um grupo rápido e junte-se à eles. —ela disse.
            Eu mordi o lábio e baixei a cabeça esperando que ele não olhasse para nosso grupo.
            —Tudo bem professora, já sei em que grupo entrar. —ele disse
            Ele veio até nós.
            —Posso me juntar a vocês? —ele perguntou.
                        —É claro. —disse Jéssica.
            Eu me virei para ela e sussurrei:
            —O que?!
            —Vai ser melhor para nós. —ela disse.
            Ele veio até Eduarda que estava sentada ao meu lado.
            —Posso sentar aí? —ele perguntou.
            —É claro. — ela disse com um tom de deboche na voz e sabia que ela só queria me irritar.
            Ele se sentou ao meu lado.
            —Olá novamente Alice. —disse ele.
            —Olá... Jared. —eu disse forçando um sorriso.
            Olhei para Jéssica e Eduarda que estavam rindo baixo.
            —Eu mato vocês duas. —sussurrei apenas para elas ouvirem.
            —Nós sabemos. —as duas sussurraram para mim ainda rindo.
            Olhei para a professora e meus olhos passaram por Jason, não pude deixar de notar sua expressão, era confusa e um pouco triste.

Foquei minha atenção na professora.
            —Eu quero um representante de cada grupo para vir aqui pegar o bilhete. —ela disse.
            —Eu vou. —disse Jason.
            Concordamos e Jason se levantou para ir pegar.
            —Então Alice, —começou Jared —O que você anda fazendo? —ele me perguntou.
            —Pare de tentar puxar conversa comigo, por favor, na verdade, pode tentar me esquecer? —eu perguntei.
            —Desculpe se quero ser legal. E eu nunca esquecerei você, vou continuar tentando. —ele disse sorrindo.
            Respirei fundo e revirei os olhos. Voltei minha atenção a Jason que voltava a seu lugar com o bilhete nas mãos. Ele me entregou o bilhete. Eu abri e li.
            —O que diz? —perguntaram.
            —Parece que teremos de escolher entre: teatro, musica, entrevista ou poema.
            —Legal. —todos disseram exceto Jason.
            —Então, o que faremos? —perguntei.
            —Teatro, eu já tenho a idéia para uma peça. —disse Jared se virando para mim.
            —É, mas eu prefiro música. —eu disse.
            —Entrevista não. —disse Jéssica e todos concordaram. —Poema? —ela perguntou.
            —Hm... É fácil de fazer, mas é melhor não. —eu disse e todos concordaram também.
            —Que tal juntar o teatro e a música? —sugeriu Jason.
            —Sim. —os outros disseram.
            —Sim, ótima idéia. —eu disse sorrindo para Jason.
            Os outros começaram a conversar sobre como fazer aquilo, mas eu não consegui me concentrar direito. Fiquei parada olhando para Jason, quando olho para ele sinto algo diferente, que nunca senti antes, uma sensação estranha, mas boa.
            —Alice? —Jared me chamou.
            —Sim? —perguntei “voltando” ao mundo real.
            —Acho que tive uma idéia. —ele disse alto para o grupo ouvir.
            —Então fale. —pedimos.
            —Eu vi na televisão uma pequena cena de Romeu e Julieta, mas musical. —ele disse.
            —Boa idéia. —disseram.
            —É... Bem, eu não sei se é uma boa idéia. —eu disse.
            —O quê? Por...
            —E então? Como vão? —a professora perguntou interrompendo.
            —Na verdade já tivemos uma idéia. —disse Jéssica.
            —Ótimo, e qual é? —a professora perguntou.
            —Vamos fazer uma parte de Romeu e Julieta musical. —disse Jared olhando para mim.
            A professora me olhou e eu forcei um sorriso.
            —Muito bem então, vou reservar um tempo na sala de teatro para vocês, lá já têm o rádio e os instrumentos também. —ela disse indo para a direção falar com a diretora.
            Eu respirei fundo. Baixei a cabeça enquanto eles discutiam o resto das coisas.
            —Você está bem? —perguntou Jason para mim.
            —Sim, eu só...
            A professora chegou à sala antes de eu terminar de falar.
            —Podem guardar suas coisas e sair. —ela anunciou.
            Guardei minhas poucas coisas que havia tirado da mochila e me levantei para ir pegar meu irmão.
            —Você só...? —perguntou Jason vindo ao meu lado.
            —Eu só não gosto da idéia de fazer um teatro com Jared, principalmente Romeu e Julieta. —eu disse.
            —Ele gosta de você não é?
            —Ele gosta de mim, mas eu não gosto dele. —eu disse.
            Ele riu.
            —Isso não é engraçado. —eu disse.
            —Eu sei, desculpe. —ele disse.
            —Onde você mora? —perguntei.
            —Na mesma rua que você. —ele disse.
            —Hum... Foram vocês que se mudaram para aquela casa perto da minha então. —falei raciocinando
            —Ao que tudo indica sim.
            —Não conhece ninguém naquela rua mesmo? —perguntei.
            —Só você, agora, mas por outro lado não.
            —Eu moro a um tempo naquela rua já e posso te apresentar a algumas pessoas, quer dizer, não há muitos meninos, mas mesmo assim se você quiser... —eu disse.
            —É claro que quero, obrigado.
            —De nada.
            Logo cheguei à sala de meu irmão e ele já estava se despedindo de seus colegas.
            —Vamos? —perguntei.
            —Vamos. — ele disse.
            Alex estava muito feliz e sabia que ele tinha tido uma ótima manhã, ao contrário de mim. Peguei a mochila dele e pude ver que Jason estava esperando alguma criança também.
            —Tem irmão? —perguntei.
            —Irmã. —ele respondeu.
            —Ah, sim. —dei de ombros.
            —Mano, oi. —disse uma garotinha, irmã de Jason.
            —Oi. — ele disse. —Pronta?
            —Sim, vamos.
            —Oi, Clara. —disse Alex.
            —Oi, Alex. —disse ela.
            —Essa é sua irmã? —perguntei a Jason.
            —É sim. —ele respondeu.
            —Uma graça. —eu disse.
            —Sim, e parece que ela já tem um amigo naquela rua.
            —Você também. —eu disse sorrindo.
            —Sim. —ele disse sorrindo para mim.
            Fomos conversando até o ônibus assim como Alex e Clara.

         Sentei-me bem na frente com Alex, Jason se sentou atrás de nós. Alex e Clara começaram a brincar e Jason trocou de lugar com Alex para que eles pudessem brincar sem atrapalhar a quem entrava no ônibus. O ônibus parou em frente a nossa casa e Jason e Clara desceram junto, pois eles moravam a somente três casas da nossa.
            —Até mais. —disseram Alex e Clara juntos.
            Eu e Jason rimos.
            —É... Até mais. —eu disse a Jason sorrindo.
            —Até mais. —ele disse.
            Virei-me e abri o portão para entrar em casa. Quando entrei ouvi minha mãe arrumando a mesa para o almoço e fui até a cozinha.
            —Oi. —eu disse —não sei por quê, mas soou mais alegre do que o normal.
            —Oi. —disseram minha mãe e meu pai.
            —Vou para o meu quarto. —avisei, virando-me.
            —Não vai almoçar? —minha mãe perguntou.
            —Não estou com fome.
            —Então tudo bem.
            Subi as escadas e fui para o meu quarto.
            Pendurei minha mochila na parede e deitei-me em minha cama. Respirei fundo e fechei os olhos. Fiquei deitada de olhos fechados por um tempo até que adormeci.