Acordei uma e meia da tarde e fui direto para o banheiro —por sorte tinha meu próprio banheiro em meu quarto. Lavei meu rosto e sorri olhando no espelho. Fechei os olhos com força e balancei a cabeça. O que aconteceu comigo? Por que estou assim? Tão... Feliz?

Esqueci isso e voltei à minha cama. Sentei-me na cama e respirei fundo. Peguei um livro para tentar me entreter lendo, já fazia um tempo que estava lendo aquele livro, mas nunca conseguia ler mais de cinco capítulos antes que alguém me interrompesse. Quando estava finalmente passando do quarto capítulo seguido, minha mãe me chamou.

—Alice. —ela disse batendo em minha porta.

—Entre. —eu disse distraída ainda lendo o livro.

—Vamos? —ela perguntou.

Havia esquecido que era segunda. Nós sempre saímos as segundas, a menos que eu achasse algum lugar para ficar ou alguém para ficar comigo em casa, minha mãe não gosta de me deixar sozinha em casa.

—Tudo bem, eu já desço. —eu disse.

—Rápido. —ela me apressou fechando a porta.

    Fechei o livro marcando a página e que tinha parado, peguei meu casaco e desci.

    Peguei minhas chaves no bolso de minha calça e fechei a porta ao sair.

    Corri e entrei no carro. Alex estava colocando o cinto com ajuda de Kevin, eu coloquei meu cinto e meu pai saiu com o carro.

    Como sempre faço, fiquei olhando pela janela, mas, diferentemente das outras vezes, eu não sinto vontade maior do que sorrir, sorrir para expressar meus sentimentos, que nem eu mesma sei quais são.

    Fomos a algumas lojas comprar algumas coisas necessárias. Eu havia levado algum dinheiro caso eu achasse algum livro que eu quisesse comprar. Antes de voltarmos para casa minha mãe pediu para meu pai passar shopping, pois ela queria comprar mais algumas coisas.

—Mãe, posso ir com você? —pedi.

—É claro. —ela respondeu.

—Obrigado.

Logo chegamos ao shopping e eu desci com minha mãe e Alex.

—Vou até a livraria. —eu disse.

—Tudo bem.

—Mãe, posso ir com Alice? —Alex perguntou.

—Pergunte para ela.

    Ele se virou para mim.

—É claro, venha. —eu disse e ele comemorou.

    Peguei sua mão e fomos até a livraria. Fui até uma estante de livros de romance para ver se achava “Romeu e Julieta”, a conversa de meus colegas sobre fazer essa peça não me alegrou muito, mas eu sempre gostei de Shakespeare mesmo não sabendo muito sobre ele. Achei dois livros que queria ler, “Romeu e Julieta” e “O morro dos ventos uivantes”. Olhei o preço e com a quantia que tinha poderia comprar os dois livros e ainda ficaria com algum dinheiro.

—Por que você gosta tanto de ler? —perguntou Alex olhando os outros livros.

—Eu não sei, eu só acho legal. —ele me olhou desconfiado, eu ri. —Você vai entender quando começar a ler livros com mais de trinta páginas. —eu disse.

—Pode me emprestar um? —ele perguntou.

—Hm... Não sei se vai gostar dos meus, mas... Por que não tentamos achar um para você? —perguntei.

—Sério? —ele perguntou alegre.

—Sim, porque não.

—Obrigado mana. —ele disse me abraçando.

—Vamos achar um rápido antes que a mamãe volte. —eu disse.

Pensei um pouco em que livro ele gostaria e me lembrei de um. Sorri quando me lembrei desse livro, eu já sabia exatamente onde estava, mas precisaria de mais dinheiro. Fui até onde deveria estar o livro e o achei assim que cheguei.

—Aqui está. —eu disse entregando o livro a Alex.

Ele leu o nome do livro com certa dificuldade, mas isso era normal em sua idade.

—Sim, acho que irá gostar. —eu disse.

Antes que ele pudesse falar —ou perguntar —algo, minha mãe entrou na loja.

—Prontos para ir? —ela perguntou.

—Na verdade, mãe, pode me dar algum dinheiro? —perguntei.

—Para quê? —ela perguntou.

—Alex quer ler este livro. —eu disse.

Ela hesitou, mas logo perguntou de quanto eu precisava.

—Aqui está. —ela disse me alcançando o dinheiro. —Te esperamos no carro.

—Tudo bem, não vou demorar. —eu disse indo ao caixa pagar.

Não tive de esperar muito para pagar. Paguei os livros e saí dali rapidamente para não precisar ver ninguém que eu conheça e não goste muito, mas não deu muito certo.

—Alice. —disse Jared vindo para o meu lado.

—Oi... Jared. —eu disse.

—Oi... Ah, eu falei com a diretora sobre o teatro e ela disse que já podemos ir amanhã ensaiar.

—Tudo bem, até amanhã então.

Eu me afastei dele o mais rápido possível e corri até onde meu pai havia estacionado o carro. Entrei rapidamente no carro. A estrada até nossa casa não estava tão ruim então chegamos rápido.

Meu pai estacionou o carro na frente de casa, eu fui a primeira a descer e a abrir a porta. Peguei minhas chaves e corri ao meu quarto.

Guardei minhas chaves e fui ao banheiro. Quando saí do banheiro minha mãe me chamou novamente:

—Alice, vamos visitar nossos novos visinhos. Você vem?

Levantei-me da cama e abri a porta de meu quarto.

—Claro. —respondi sorrindo. —Já estou descendo.

Desci rapidamente e minha mãe, meu pai e Alex já estavam esperando na porta, minha mãe com um bolo nas mãos.

—Comprou um bolo para eles? —perguntei.

—Algum problema? —ela rebateu sorrindo sarcasticamente.

—Não, nenhum é só que... Nunca tinha comprado um bolo para dar aos novos vizinhos. —respondi.

—Quis mudar um pouco. —ela deu de ombros.

Ainda achei aquilo estranho, mas não reclamei e passei pela porta. Esperei meu pai chavear a porta e andei até a casa de nossos novos vizinhos. Esperei minha mãe e meu pai na frente da porta com meu irmão.

    Minha mãe parou ao meu lado e meu pai ao lado dela e tocou a campainha. Logo uma mulher —que deduzi ser a mãe de Jason —abriu a porta.

—Oi. —disse ela.

—Oi. —disse minha mãe —Somos seus vizinhos e queríamos dar as boas vindas então resolvemos trazer esse bolo para vocês.

—Ah, muito obrigado é muita gentileza da parte de vocês. Querem entrar? —ela perguntou.

—Se não se importar. —disse meu pai.

—Claro que não, entrem.

Deixei-os entrar primeiro e entrei por último com meu irmão.

—Sentem-se. —disse ela indo para a cozinha guardar o bolo que minha mãe lhe deu. —Querem alguma coisa? — ela perguntou.

—Não obrigado, estamos bem. — disse minha mãe.

Ela voltou à sala com um homem que deduzi ser marido dela.

—Oi. — ele disse. —Eu sou Roberto e essa é minha esposa Marta.

—Oi, prazer em conhecê-los. Eu sou Carlos e essa é minha esposa Amanda. —disse meu pai se levantando e apertando a mão de Roberto.

—Sim, é um prazer conhecê-los também.

—Vocês moram sozinhos ou tem filhos? —minha mãe perguntou.

Sorri mais e baixei a cabeça.

—Não, temos dois filhos. —respondeu Marta.

—Ah, legal.

—Sim, vou chamá-los aqui para conhecê-los. —ela disse.

—Não precisa, temos que voltar para casa mesmo. —minha mãe disse.

  Levantamos-nos para nos despedir e ir embora, mas Jason e Clara já estavam descendo as escadas.

—Jason, Clara, bem na hora. —disse Marta. —Esses são nossos novos vizinhos: Carlos, Amanda... Hã, desculpe quais são os nomes deles? —ela perguntou se lembrando de que havia se esquecido de perguntar nossos nomes.

—Alice e Alex. —eu disse olhando para Jason.

—Lindos nomes. —ela comentou.

—Obrigada. —agradeci virando-me para ela.

—Bem, foi ótimo conhecê-los, mas precisamos mesmo ir para casa. —minha mãe interrompeu.

—Tudo bem, foi ótimo conhecê-los também, talvez algum dia possamos nos reunir e almoçar ou sair juntos. —disse Roberto.

—Claro. —disse meu pai. —Até logo então.

—Até logo. —ele disse.

Virei-me para a porta e fui a primeira a sair e voltar para casa, mas como havia esquecido minhas chaves em meu quarto tive de esperar meu pai com a chave para entrar. Já estava escuro e por isso fui tomar banho e me arrumar para dormir.

Quando deitei na cama não consegui dormir então resolvi ler um livro e fiquei com sono, finalmente conseguindo dormir.