Desmond, Jason e Nico foram conduzidos para a sala do Poderoso Chefão.

Eles estavam cansados, sujos, com fome e frio, mas ainda assim, decidiram ir em frente com a missão. Afinal, era para isso que estavam ali, mesmo depois de tudo o que aconteceu.

A Ordem era dividida em Níveis, como nos Estados Unidos, mas ainda assim, continha detalhes próprios. Eles tinham que admitir: Os Assassinos russos sabiam bem como honrar o nome.

Cada Nível era composto por uma qualidade específica, ao qual continham os Sub-Níveis, que estavam ligados dentro dos andares. Era bem mais elaborada e caprichada que a americana, mas ainda assim, com o mesmo padrão.

Os aposentos do Grão-Mestre ficavam no Nível Máximo, ou seja, o mais baixo. O Nível era dedicado a Mika, com todos os seus Sub-Níveis compostos de armamentos, escritórios e lazeres. O Sub-Nível supremo era o seu gabinete particular, aonde ele tinha acesso a tudo da Ordem.

Quando chegaram ao local, eles foram conduzidos para dentro, onde foram recepcionados por um grande salão em mogno, com detalhes exóticos russos e redesenhados por detalhes dos Assassinos.

O lema dos Assassinos estava gravado na parede de trás da mesa central, onde o Grão-Mestre se sentava. Atrás dela, estava ele.

Mikaellis Kwatochovisk tinha uma posição bem severa e aplicada, parecendo muito mais velho do que a sua juventude. Aparentava ter vinte e cinco anos, talvez menos. Tinha cabelos castanhos lustrosos, bem moldados para trás e um rosto altivo e anguloso.

Seus grandes olhos verdes observavam tudo, com certa frieza por trás deles. Usava terno de seda completamente preto, mas no lugar do paletó, ele preferia uma jaqueta de couro. E em vez de sapatos pretos lustrosos, estavam no lugar dois belos tênis Vans pretos, como se ele quisesse misturar a juventude com a seriedade.

Desmond admitiu que o cara tinha muito estilo.

Quando os viu, o jovem Grão-Mestre se levantou, com um pequeno sorriso. Indicou as cadeiras a frente e convidou-os a sentar. O homem que havia os levado, com um sinal respeitoso, se retirou da sala. Desmond ainda estava se perguntando qual seria o seu nome.

Ficaram a sós.

O Grão-Mestre russo os olhou com um sorriso, nenhum sinal de frieza em seus magnânimos olhos verdes.

- Muito bem – Ele quebrou o silêncio em um inglês perfeito, sem nenhum sinal de sotaque. – Aqui estão vocês.

- Pois é – Desmond concordou. – Queríamos agradecer em nome de toda a Ordem dos Assassinos americana por nos receber. Não sabe como é de extrema importância.

Ele sorriu.

- Para mim é um enorme prazer que vocês estejam aqui, especialmente quando se trata de um missão encomendada em nosso país. – Ele franziu as sobrancelhas. – Por acaso, você é Desmond certo? É filho de William?

Desmond assentiu.

- Bem que eu observei – Mikaellis riu. – Você tem o mesmo jeito de seu pai.

Dez olhou para baixo constrangido, aparentemente sem saber o que dizer. A vida toda só dera decepção ao pai, compara-lo a ele parecia um insulto a Bill.

Para quebrar o silêncio novamente imposto, o Grão-Mestre se dirigiu aos outros dois parceiros.

- E você deve ser Jason Hank, sim? O específico de nossa missão, digo.

Jason assentiu pouco a vontade e Desmond sentiu uma solidariedade pelo amigo. Ser retratado como alguém de grande importância não estava nos planos de Jason, quanto mais nos de Desmond.

- E por fim, Nico Auditore. – Mikaellis sorriu. – Creio que você deve ter conhecido o antigo Grão-Mestre russo, meu pai.

Nico sorriu para o simpático líder.

- Com toda certeza. E devo admitir que pelo que eu vi aqui, você está fazendo um trabalho tão grande como o de seu pai.

Mikaellis sorriu lisonjeado.

- Ora, muito obrigado. – Ele riu. Depois de um minuto de descontração, o sorriso se desfez e uma leve expressão séria tomou conta de seu rosto. – Muito bem. Agora que estamos aqui, vamos aos negócios.

Eles ficaram mais retos nas cadeiras.

- Como todos sabemos, vocês estão aqui para recuperar os Novos Códex das mãos dos Templários, certo?

Eles assentiram.

- Já tenho o conhecimento sobre a missão de vocês, confiada a mim pelo próprio Ezio Auditore. O propósito que foi formado para termos um pouco de paz novamente é arriscado, mas é único e incrível.

Desmond entendera que ele estava falando de Legião, o Círculo Místico que Minerva havia escolhido para conquistar uma vitória.

- Creio que vocês estão aqui como um refúgio, e recentemente tomei conhecimento sobre a queda de alguns Templários russos. – Ele olhou para Desmond com um olhar divertido, e este corou.

- Muito bem, pessoal – Mikaellis disse complacente. – Creio que primeiro acho que devem tomar alguns conhecimentos. Especialmente você, Jason.

Jason olhou para o Grão-Mestre com uma interrogação em seus olhos, e Desmond devia estar com a mesma cara.

- Os Novos Códex foram destinados a você, não é mesmo? Você irá fazer a leitura deles, por isso, é confiável que você os resgate também, certo?

Jason assentiu.

- Bem, a missão de vocês é um pouco trabalhosa, na verdade. Jason foi incumbido de resgatar os Novos Códex, mas ele não pode se distrair. Os artefatos são extremamente raros e só o herdeiro original poderá retirá-los. Por isso, a função de vocês dois, Nico e Desmond, é tentar afastar os Templários de onde Jason estiver.

- Hm, senhor – Jason disse desconfortável. – Primeiro, eu também posso lutar, mas o que eu digo é que se só eu posso retirá-los, por que os Templários conseguem estar com eles?

- Bem, porque, eles têm um meio de fazer isso, certo? Além do que, não existe uma só pessoa no mundo capaz de lê-los. Apenas a pessoa certa, que é o seu caso. Mas eles possuem um leitor obviamente, só que... Ele está usando os Códex para o mal, e está destruindo o propósito de tudo isso. Cabe a você tornar-se digno dos artefatos.

- Espere um minuto – Disse Desmond. –Está querendo dizer que há mais de um leitor dos Códex no mundo?

- Sim. – Ele refletiu. – Um de sangue Templário e outro de sangue Assassino. – Gesticulou para Jason.

- Mas se Jason é o escolhido de Minerva, como pode haver outro que tenha poder sobre eles?

- Porque uma fruta sempre possui duas metades, certo? Obviamente, os Códex também possuem dois leitores. Só que... Digamos que a fruta, uma laranja, por exemplo, esteja com uma metade podre e outra boa. Qual poderá ser consumida?

- A boa? – Desmond disse confuso.

- Exatamente. – Ele sorriu. – E o que se deve fazer com a parte ruim?

- Devemos nos livrar dela, para não danificar a fruta inteira. – Desmond disse, compreendendo tudo.

O silêncio tomou conta de toda a sala. Estava certo que eles não haviam pressentido isso, mas deveria ser feito.

- Agora, Jason, você entende o porquê de ter que ficar protegido dos outros? – Mikaellis olhou-o com uma sobrancelha erguida.

- Sim – Ele suspirou.

Desmond também entendera. A posição de Jason não era somente resgatar os Novos Códex. Era também retirar a metade podre da fruta.

Em outras palavras, um novo assassinato iria ocorrer.

                                                                                       ***

Depois de algumas horas discutindo sobre o planejamento, Desmond sentiu que o assunto iria para algo mais delicado. Até porque eles não poderiam ignorar o desaparecimento de Bianca.

Mikaellis não pareceu surpreso quando o fato fora mencionado. Na verdade, ele parecia saber de algo mais.

Ele não estava querendo contar, isso era óbvio. Mas vira que eles passaram por muita coisa para chegar até aí, o mínimo seria tentar amenizar a situação.

- Muito bem – Ele suspirou. – Está na hora de vocês saberem.

Jason ficou tenso na mesma hora e Nico fechou os olhos, controlando o impulso das lágrimas. Desmond mexeu-se nervoso em sua cadeira.

- Bianca não desapareceu na queda. Ela foi sequestrada.

O silêncio tomou conta de todo o local. Um sentimento enorme de alívio tomou conta do coração de Desmond. Ela estava viva.

- Os Templários interceptaram a queda de seu avião no momento em que vocês pularam. Com uma técnica de transporte desconhecida para olhos humanos, eles conseguiram raptar a menina.

- Mas ela está bem? – Jason empolgou, com as suas mãos tremendo.

Desmond colocou a mão no ombro do amigo e olhou para Nico com um olhar de compaixão. Estar nas mãos dos Templários e ficar viva já eram uma grande sorte. Bem? Acho que não seria a mesma coisa.

Mikaellis ficou quieto, olhando para a grande papelada que possuía em sua mesa. Pela primeira vez naquele dia, ele estava pouco a vontade.

A expressão de Jason desmoronou. Pela primeira vez, ele estava à beira das lágrimas. Nico tentava se controlar. Desmond teve vontade de gritar e chutar qualquer coisa. Por que Bianca? Por que ela? Uma menina tão forte e corajosa, cair nas mãos desses vagabundos?

- Não – Mikaellis disse sombriamente. – Ela não está. Na verdade, eu nem sei se... Bem, digamos que você sabe o que aconteceu com ela, não sabe Desmond?

Ele franziu a testa. Depois, uma onda de horror tomou conta de seu corpo. Desmond sabia do que ele estava falando. Quando tinham Bianca em suas mãos, o que poderiam fazer? Ela não falaria nada. Nunca. Ou seja, eles teriam que obter a informação à força.

- Do que ele está falando, Desmond? – Jason se alterou. – O que eles fizeram com ela?

- Calma, Hank. – Ele olhou para Jason com lágrimas nos olhos. – Se estou certo, eles devem ter tentado obter a informação de uma forma nada agradável, certo?

Mikaellis assentiu.

- Como vocês sabem, os Templários possuem formas de conseguir informações que desafiam as leis da física. O exemplo disso são os programas invasivos que eles possuem, para invadir a mente do ser humano como um hacker faz com um computador. Obter a força.

- Bianca tem sido muito forte, ela é uma menina inacreditável. – Ele sorriu tristemente. – Resistiu a todos os programas de invasão, até que...

- Eles decidiram usar o Animus – Desmond completou.

- Exatamente. O Animus, como sabemos, usa a nossa mente para reviver a mente de qualquer coisa que o controlador queira. Mas em casos de extrema emergência, ele pode ser considerado um programa invasivo. No caso dela, eles decidiram usar o Animus, não para reviver a mente de ninguém, apenas a dela própria.

Desmond respirou fundo. Isso era terrível. Usar um programa tão potente como o Animus para fazer reviver a mente de alguém já era perigoso, imagina a própria mente? Ele não queria nem imaginar.

- Você mesmo sabe o que acontece quando o Animus é usado à força, certo Desmond?

Ele assentiu tremendo.

- Causa efeitos colaterais gravíssimos e pode levar a morte.

Jason gritou.

- O que?

Nico não conseguiu mais se controlar. Ele começou a chorar.

- Acalmem-se, por favor. – Mikaellis levantou-se, e colocou a mão nos ombros de Nico. – Eu sei que é difícil, mas Bianca é uma menina forte.

Desmond sabia que ele estava tentando amenizar a situação, mas ele conhecia a verdade. Toda a esperança de seu coração havia desaparecido.

Se usaram o Animus na menina que nunca teve a mente invadida, a fazendo reviver sua própria mente, Bianca não teria nenhuma chance.

Desmond abaixou a cabeça e chorou baixinho. Ele não queria acreditar, mas estava certo.

Bianca não teria a menor chance contra o programa. Talvez fosse melhor ela ter morrido na queda.

Ele fechou os olhos e esperou pelo pior.

Se ela ainda não havia morrido, estava bem perto.

Bianca não teria mais chance.