All That Drugs - Sugar Coma escrita por AbyssinWonderdead


Capítulo 21
CAPITULO 20: Loucura com Desenhos


Notas iniciais do capítulo

- extremamente longo!
- desculpem pelo tamanho
- consegui uma brecha de tempo, e pude postar... *u*
- eu achei um pouco estranho, só isso que eu digo, e talvez cansativo e longo demais, fora isso acho que ficou bom... slá, né? vcs que vão dizer :3
- e é isso, espero que gostem :)



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ALL THAT DRUGS

CAPITULO 20: Loucura com Desenhos

"Give me the sense to wonder

To wonder of I'm free

Give me the sense to wonder

To know I can be me

Give me the strenght, to hold my head up

Spit back in their face

Don't need no key, to unlock this door,

Gonna break down the walls

Break out of this bad place”

– Can I Play With Madness - Iron Maiden


Haviam se passado cinco dias desde que Travis aparecera na entrada principal da Clinica de Reabilitação de Aberdeen; haviam se passado sete ou talvez oito dias que ela estava naquele lugar. E a parte boa era que estavam lhe dando mais liberdade que antes, desde aquele incidente na entrada principal, se era que se podia chamar aquilo de mais liberdade, mas era, comparada com a jaula em que estava vivendo antes, era sim uma liberdade.

Estava podendo sair para jardins que tinham pela clinica, acompanhada de alguém na maioria das vezes, a enfermeira loura que parecia jovem demais para trabalhar, que andava com uma revista adolescente sempre lhe acompanhando em seu trabalho, era quem ficava com ela a maior parte do tempo, e ficavam conversando sobre algumas coisas. Para a surpresa de Frances, ela era uma das poucas que parecia entender as frustrações de Frances, e haviam se tornado amigas.

Cherry Penrrie, a enfermeira da revista adolescente, lhe contara que estava trabalhando ali contra a vontade dela, Cherry dissera que estava trabalhando ali por causa que a mãe ameaçara ela a botá-la para fora de casa se ela não conseguisse um emprego, e só encontrara esse. Dissera também que sempre gostara de música, que tocava guitarra e baixo, mas só lembrava o básico, pela falta de uso durante os dois anos que estava trabalhando na clinica.

Frances lhe contou que tocava guitarra e havia tido chances de criar uma banda, mas contou que agora que estava ali na clinica e em Aberdeen seria mais difícil.

As duas ficavam a maior parte do tempo falando sobre música, Cherry dizia que gostava bastante de rock, grunge, mas não tinha muito tempo livre para ouvir música ou tocar baixo, pelo tempo que passava trabalhando no dia a dia comum e nos dias que tinha plantão.

Mas naquele dia Frances não pôde sair do quarto, ninguém estivera no quarto, apenas um origami de dragão, típico de Travis estivera lhe fazendo companhia, e quando entrou alguém não era Cherry que vinha ficar com ela o resto da noite, foi a vez de uma psicóloga, os cabelos eram pretos lisos e soltos pelos ombros, muito pretos a ponto de quando ficar na luz tinha um reflexo azulado esquisito, seus olhos eram de um tom de azul meio violeta, e sua pele era pálida com sardas salpicando um pouco o nariz e as bochechas eram bem rosadas a ponto de serem vermelhas. Carregava uma prancheta debaixo do braço e um estojo preto cheio em uma das mãos.

Estranhou a visita já à noite.

– Boa noite - a médica disse - Meu nome é Lanna, psicóloga. Vim fazer uma atividade com você.

– Que tipo de atividade? - perguntou enquanto olhava o origami de Travis.

A psicóloga mostrou-lhe a prancheta com folhas de papéis brancos, e o estojo preto.

– Eu vou lhe dizer uma palavra, e você desenha aqui nessas folhas o que representa para você, depois a gente conversa um pouco. - a psicóloga sorriu.

Frances deu um sorriso forçado, colocou o origami ao lado do celular e ficou olhando para a médica que se aproximou e colocou a prancheta no colo de Frances, e o estojo ao lado de sua perna, já aberto. Aquilo era ridículo, suspirou, rodou os olhos e pegou um lápis que estava já um pouco para fora e o ficou segurando enquanto esperava a psicóloga dizer qualquer coisa. Sentiu um choque em sua cabeça, sacudiu-a rapidamente e voltou a segurar o lápis com firmeza.

– Está tudo bem?

– Sim.

– Certo... Pedi a Senhora Lorance, que é a sua mãe, certo? – Frances confirmou – Pedi a ela que me dissesse algumas palavras relacionadas a você, e outras eu coloquei sem nenhuma relação com você - ela pegou um papel do bolso do guarda-pó branco - Pode começar, Brandon.

Frances deu um sorriso quase imperceptível e começou a desenhar um lindo gato listrado e laranja com enormes olhos verdes. Sentiu saudades da sua bola de pelos laranja. Sentia saudade de ouvir o miado dele pedindo comida, pedindo atenção, e sentia saudade de quando ele esfregava-se em sua perna e em seu rosto, pedindo carinho. Por um momento pensou que tinha ouvido Bran miar em seu ouvido, e o calor do corpo dele deitado em cima de seus pés como era de costume, mas Frances olhou para os pés e não estava lá. A psicóloga pareceu analisar com cuidado aquela reação com a memória de Bran.

Terminou e soltou a folha da prancheta, colocando-a como a última do amontoado de folhas de papel ofício.

Até que não era uma atividade desgastante e chata, já que gostava de desenhar, e esperava que as palavras não fossem torturantes, e a fizessem lembrar coisas ruins, desgostosas e amedrontadoras.

Ficou balançando o lápis laranja com dois dedos, esperando que a psicóloga dissesse a outra palavra. Coçou o nariz com a palma da mão e respirou fundo.

– Estranho. – a psicóloga parecia analisar com cuidado o que Frances iria desenhar relacionada àquela palavra.

Frances pensou durante alguns minutos, pegou no estojo um lápis preto, e desenhou uma espécie de máscara de teatro, uma metade era branca e a outra era preta, pegou um lápis da cor vermelha e fez uma linha vermelha, como uma lágrima de sangue em cada olho.

Sentiu um arrepio na nuca. Seus ossos tremeram. Abraçou o próprio corpo por um tempo, como se sentisse frio. A psicóloga a analisou, com olhos calmos e curiosos, que só pareciam fazer Frances sentir-se mais arrepiada e fria.

– Está tudo bem, mesmo?

– Sim. – disse, enquanto ainda se sentia tremula, pegou novamente o lápis preto, desprendeu a folha desenhada, e fez o mesmo que fizera com o desenho de Bran.

– Pânico – a voz de Tommen de seu pesadelo voltara em sua mente. Depois o seu pesadelo do quarto branco.

Olhou o quarto a sua volta, depois desenhou duas mãos estendidas, quase completamente vermelhas, lembrando-se de como suas mãos tinham ficado depois de tempos arranhando a porta de madeira. Ensanguentadas. Seus próprios gritos de socorro ecoaram novamente em seus ouvidos e largou os lápis quando terminou de desenhar.

Estava se sentindo desgastada, agora que desenhava a sua própria reflexão sobre aquelas palavras. Não era mais uma atividade tranqüila, e sim uma atividade torturante, e assustadora.

Colocou o desenho no fundo.

– Amor. – a psicóloga não piscou nem uma vez quando Frances pegou o lápis preto e posicionou-o me cima do papel.

Suspirou, pensou um pouco, algo como um Anjo da Morte como O Ceifador veio em sua cabeça, e desenhou uma pessoa com asas negras, uma capa preta com um capuz cobrindo o rosto e todo o corpo, com um local branco, onde ela desenhou um coração vermelho que manchava a capa preta com riscos vermelhos que era sangue.

A psicóloga pareceu um pouco surpresa com o desenho de Frances, ou era horror. Quando Frances a olhou havia terror em seus olhos, e não surpresa. Deveria pensar que normalmente as pessoas deveriam desenhar um coração brilhante e vermelho quando ela dizia “amor”.

– Você desenha bem. – a psicóloga disse com um sorriso.

– Obrigada. – sorriu forçadamente de volta.

– Travis – Frances olhou para a mulher como quem perguntava: “Como você o conhece?”, mas lembrou-se que essa deveria ser uma das palavras ditas pela mãe.

Antes de começar a desenhar, suspirou, rodou os olhos e pensou por alguns minutos, e a psicóloga parecia mais curiosa do que antes por essa reflexão do nome. Olhou para a psicóloga, depois olhou para o origami e o desenhou, sem pintar, trocou por um lápis prateado e fez uma espécie de luz em volta do origami de dragão.

Ficou olhando para o desenho, e coçou os olhos que tinham começado a arder. Por que estava tendo tanta vontade de desistir de tudo e de todos e começar a chorar a cada momento que se lembrava de Travis?

A Doutora Lanna ignorou aquilo e olhou o papel em que estavam escritas as palavras.

– Heroína – tinha chegado ao principal... O que a psicóloga queria saber mais.

Frances olhou para os lados, por algum motivo olhou para o braço esquerdo, e se lembrou da sensação de ter uma agulha em seu braço, e a sensação da droga agindo no corpo dela, deixando-a praticamente anestesiada de seus problemas, sentia falta daquilo, agora que parara para pensar. Sentia falta, muita falta. E lembrou-se de o quanto tinha ficado triste, e depressiva nos primeiros dias, depois que o ultimo saco de heroína havia acabado, passou a mão por cima de onde a agulha da seringa tinha perfurado. Pensou no que desenhava, e desenhou uma garota triste, chorando, com olheiras nos olhos e maquiagem escura borrada nos olhos, com uma seringa nas mãos.

Quando Frances retirou o desenho da prancheta a psicóloga estendeu uma mão, pedindo o desenho para olhá-lo e começou a se sentir uma criança, que fazia alguns rabiscos coloridos em uma folha de papel, e mostrava para os pais verem e mentirem, dizendo que estava a coisa mais linda que eles haviam visto. Só que a Doutora Lanna não era assim, e nem Frances queria que ela fosse. A psicóloga olhou para Frances, devolveu o desenho a Frances com um olhar curioso, esperou que Frances o colocasse no fim das folhas pra dizer a próxima palavra.

Olhou para as folhas, estavam acabando, já conseguia ver o primeiro desenho, o desenho de Bran. Restavam apenas duas folhas brancas, dois passos para o fim de seu tormento.

– Está acabando – disse a psicóloga, como se ela já não soubesse que Frances já notara o fim das folhas. – Morte.

Ela pensou bastante no que desenhar, mais uma vez fizera pensando no Anjo da Morte, O Ceifeiro, e fez um desenho estranho, misturado preto com branco, quase bizarro e abstrato se não fosse possível ver uma foice, asas negras fechadas, um rosto de uma mulher chorando sangue, com a roupa preta, o coração ensanguentado no peito, e as mãos que seguravam a foice estavam com ferimentos e pingava sangue das mãos da Morte, havia misturado todos os desenhos de antes, todos os desenhos de sentimentos e fizera a sua reflexão da morte.

– Isso é o que você pensa? – a psicóloga perguntou, com a voz baixa e um pouco surpresa.

– Sim. – respondeu com a voz seca.

A Doutora Lanna ficou um tempo em silencio, depois voltou a dizer:

– Paz.

Chegara à última folha, última palavra, a que a faria pensar mais, a que seria mais difícil, ao ver de Frances.

Procurou algo em sua memória, mas nada lhe vinha à cabeça com o sentido de “paz”, desenhou algo que nem mesmo ela sabia o que era. Já que não tinha um conceito concreto do que era realmente a “paz”. Desenhou uma garota que representava ela mesma, deitada no chão, e provavelmente não estava dormindo e sim, morta, a levar em conta como ela nem pintara a face da garota, deixando com o branco do papel e colocando olheiras grandes e escuras.

– A paz é a morte?

– Não. O jeito de se conseguir a paz é morrendo. – explicou, soltando todos os desenhos da prancheta. Cruzou as pernas e ficou passando um por um, analisando bem as suas artes estranhas que estava mais que acostumada a desenhar. – Terminou?

– Não. Quero conversar com você, ainda.

– Eu gostaria de dormir.

– Depois. – a psicóloga se sentou ao lado de Frances, e mais uma vez se sentiu uma criança. Quando sua mãe ia a seu quarto, sentava-se na beira da cama, ao lado dela, tocava em seu ombro e lhe perguntava o que a assustava.

“Os monstros me assustam" a pequena Frances de quatro anos sempre dizia isso quando sua mãe ia ver se a pequena estava dormindo, mas encontrava Frances encolhida no cobertor, olhando para o quarto, e se assustando com qualquer coisa.

– Do que tem tanto medo? - a voz da psicóloga era suave.

– Não tenho medo - respondeu de imediato.

– Como não? - mostrou o desenho da palavra "morte" - Isso é coisa de quem tem medo. Ou você simplesmente não conhece a si própria?

Frances ficou sem palavras enquanto encarava a psicóloga e o desenho nas mãos dela. Afastou o olhar, virando-se para olhar a janela com as cortinas abertas, mostrando a noite completamente escura, sem um risco de luz e fria lá fora.

A psicóloga se ajeitou na cama e mostrou o desenho da reflexão de "paz".

– Você diz que a única forma de se conseguir paz é morrendo... Então, você, Frances... Não possui paz?

– Não.

– Hum, mas gostaria de ter paz?

– Sim.

– Então gostaria de morrer... - concluiu com as duas sobrancelhas erguidas, como se estivesse entendendo o que se passava na cabeça de Frances. Esperou uma resposta, mas não a teve, e continuou: - Como se sente, estando aqui, na clinica?

Frances se manteve em silêncio.

– Pode me contar. Pode confiar em mim. - "mentira" pensou, enquanto ouvia ela falar tudo, achando que ela poderia entender uma parte do que se passava, achando que pudesse entender uma parte de seus problemas, mas nem mesmo Frances entendia, então não seria uma psicóloga que conhecera a alguns minutos atrás que entenderia em minutos de conversa.

– Como um animal preso - disse por fim.

– O que a fez procurar a heroína? - mais silêncio, a psicóloga já deveria ter percebido que Frances não ia falar tão livre e facilmente as coisas - Pode falar.

– Parecia ser a solução de meus problemas.

Frances se lembrou do dia em que Travis lhe dera a heroína pela primeira vez, um pequeno comprimido branco, tão viciante, e a solução para milhões de problemas, tanto fisicos, quanto emocionais. Sentira-se tão leve, despreocupada, como se o mundo passasse lento a sua volta. Quis voltar para aquele dia. Quis não ter mandado Travis voltar para Seattle, mesmo sabendo que ele não o faria, mesmo sabendo que ele estava em algum lugar de Aberdeen.

– Que tipo de problemas?

– Não vou dizer. – respondeu ríspida.

– Tudo bem, não vou forçar. – a Doutora Lanna recolheu os desenhos e o estojo – Vou levar isso aos seus pais, e à sua médica.

Frances ia protestar, sabia que os pais chamariam aquilo imediatamente de loucura, mas o modo como a psicóloga havia olhado para ela, a fez congelar por segundos, e perdeu a fala.

– Quero ir embora – murmurou – Não aguento mais.

– Sei como se sente, alguns caem na loucura por causa da abstinên...

– Não estou louca! – seu corpo tremeu mais forte que nunca, agora teve certeza de que a psicóloga estava vendo que seu corpo tremia. Ela se levantou e saiu do quarto, chamando por alguém.

Cherry Penrrie entrou no quarto com as mãos enluvadas. Logo Cherry estava ao lado de Frances, dizendo para ela se acalmar, estava deitada e se acalmando aos poucos, seu corpo estava se estabilizando com o tranquilizante que surgira do nada nas mãos de Cherry.

– Volto amanhã de manhã – a psicóloga saiu.

– Cherry.

– Hum?

– Eu quero ir embora, agora. – Frances disse decidida, tentando se levantar, lentamente já com o tranquilizante fazendo total efeito, Cherry a deitou novamente. – Preciso ir!

– Se acalme.

Cherry sorriu para Frances, se sentou em uma poltrona do lado da maca e ficou olhando para Frances que aos poucos parecia estar dormindo.

A última coisa que Frances fez antes de dormir para não ver ou ouvir mais nada, foi algo que ela nunca pensara que voltaria a fazer desde que parara com dez anos de idade... Frances rezou.

“Deus, dê-me o senso para ser livre, pelo menos uma vez, Deus. Dê-me forças para fugir daqui, força para vencer qualquer coisa aqui dentro, o medo, e dê-me força para derrubar as grades da jaula que me prendem”

E dormiu, pensando numa forma de fugir no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

- espero que tenham gostado
- desculpem pelo tamanho
- deixem reviews *u*
- xoxo - até sábado, ou domingo :3 (acho que agora eu n entro mais no resto da semana, slá, uma prova foi adiada uhu)



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