Lorem escrita por The Klown


Capítulo 4
Capítulo 3 - Lorem




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   O céu estava alaranjado.

   Era de se esperar que, como sempre, o céu assumisse aquela cor. Nenhum dos moradores de Lorem jamais lembravam do céu ter sido de outra cor. Mas não reclamavam, a cor dos céus deixavam a paisagem harmoniosa. As montanhas eram nada mais que linhas castanhas recortadas na paisagem, escuras como o breu da noite, se estendendo por quilômetros sem fim, rochosas e pontudas. Era o mais bonito da paisagem, pois as suas pontas se fundiam ao céu, dando a impressão de harmonia.

   E isso era o mais bonito, realmente. O seu solo era de um árido desértico, como uma camada rochosa e arenosa que se expande para todos os lados, rachada e sem vida. Há eras plantas não cresciam por ali, embora os fundadores da vila de Lorem houvessem criado um tipo de aparelho que transmitia um ar respirável pelo planeta, interligando canais e tubos. Estranhamente funcionava. A densa atmosfera impedia a fuga dos gases vitais para o organismo deles.

   Fora isso, uma grande parte do planeta era formada de depressões enormes, como grandes penhascos. Os lorenses não ousavam descer tais depressões, pois haviam boatos de que lá habitavam os “nativos”.

   Tais nativos eram humanóides. Eles pareciam de certa forma com humanos, porém haviam muitas diferenças. Seus membros superiores eram mais alongados do que o normal, a sua pele carecia de pelos e era de um pálido acinzentado. Seus olhos não tinham íris, e eles não tinham cabelos. Eles nunca tinham feito contato, o que fazia os lorenses pensarem que tais nativos eram incapazes do raciocínio.

   Como já dito anteriormente, nesse planeta habita um pequeno número de humanos. Em uma vila nos arredores do planeta (o que é relativo, já que Lorem é uma esfera) os refugiados de Clare haviam construído uma pequena civilização. Algumas centenas de pessoas que desaprovaram o uso do E.V.O.L.  (embora o tivessem em suas veias) foram embora e acharam esse planeta que é pequeno em relação aos outros, logo não chamaria atenção de outras colônias humanas.            

   Os habitantes da vila eram pacíficos, auto-suficientes. Nunca ocorriam problemas como crimes ou derivados. O povo de Lorem era bom, do fundo de seus corações.

   Exceto ele.

   Klown estava sentado na calçada, olhando para o céu. Ele estava entediado, ao extremo. Nunca acontecia nada de legal naquela droga de planeta. Mas que vontade de cair fora dali, ir para Clare e causar confusão. Muita confusão. Iria ser divertido, sem dúvida. Um banho de sangue, para excitar-se um pouco. Mas ele não podia. O presidente da H.A.N.K. Corp precisava dele. E, por uma coincidência, o nome dele era “Hank”. Klown nunca soube o que a sigla que é o nome da corporação significava, sempre que tocava no assunto o assunto era rapidamente afastado.

   Ele não gostava de Hank. Ele era o único, excluindo o vice-presidente, que não o deixava mimicar o seu poder. Ele possuía todos os outros poderes de Lorem. Klown tinha fome por copiar os poderes de outros.

   Levantou-se rapidamente. Ficar parado era entediante. Pigarreou uma vez, e começou a passear pela vila. Aquelas casas pobremente arquitetadas de concreto. Concreto era tão ultrapassado. Mas fazer o quê? O povo de Lorem estava satisfeito com aquilo.

   Uma mulher passeava na rua com o seu filho. O garoto, um pirralho, gritava com a mãe. Queria um doce. Klown poderia simplesmente acabar com aquela choradeira, era só chegar perto do garoto e colocar os seus dedos indicador e médio sobre a cabeça do garoto. Após mais uns cinco segundos ouvindo aquilo, a sua tentação cresceu. Começou a caminhar na direção do garoto, fazer com que a morte o levasse. Se a mãe tentasse o impedir, que viesse junto. Klown era temido por Lorem.

   Caminhando, se aproximando... parou. Começou ao ouvir um ruído. Olhando para cima, viu um rojão cinzento cruzar os céus, deixando uma trilha de vapor para trás. Era algo como um homem. Um homem... voando?

 

--

   Lindas flores aquelas. Johnny se sentia no paraíso, deitado entre inúmeras margaridas. Um sol amarelado e leve se projetava acima de seu corpo, iluminando e aquecendo tudo ao redor. As margaridas balançavam-se com a brisa que vinha do oeste. Uma brisa refrescante e suave, que acariciava os cabelos de Johnny que, ainda deitado, sorria. Ele levantou e pôs-se a caminhar.

   O céu era alaranjado como o usual. Enquanto caminhava pelo campo de flores, olhava para o céu, contemplando as pequenas nuvens que se formavam, mesclando-se umas com as outras. Como uma poesia vermelha, em sua harmonia perfeita, com um significado oculto.

   Continuando a caminhar, o campo de flores foi deixado para trás por Johnny. Agora ele caminhava sobre uma superfície branca cuja textura ele não conseguia identificar. Ele queria ver o que havia mais acima. Começando a voar lentamente, ele começou a subir para a imensidão do céu alaranjado. Isto é, quando notou que não havia céu, apenas uma imensidão branca.

   Olhou para a direção dos campos floridos. Branco. Olhou para a outra direção. Branco. Onde estava, afinal?

   Começou a ouvir vozes em sua cabeça. Gritos. Chamando por seu nome. Perdeu o equilíbrio. Estava com uma sensação de queda. Mas, de onde? Onde? Onde....?

   De súbito, Johnny acordou.  Ele se lembrou de onde estava. Sua nave estava caindo naquele planeta desértico de mais cedo. As vozes gritantes eram de Stu e Martin. A nave estava se aproximando da superfície. O atrito estava provocando calor. Em breve estaria em chamas. Ele tinha de ser rápido.

   Rapidamente, correu até Stewart e Martin e os pegou pelos braços. Correu até a porta da nave, abriu-a com força e pulou para fora, voando.

   Seus amigos ainda estavam gritando, assustados. Olhavam para a sua antiga nave, que se chocava com a superfície do planeta. Olhando para baixo, Johnny conseguiu identificar um vilarejo. Sentiu que estava sendo observado. Estava fraco. O vento estava-o deixando fraco. Aquela atmosfera era pesada, ele não conseguia voar com facilidade. A altitude de seu vôo abaixou. Ele se sentia descendo cada vez mais... e descendo...

 

--

               

   Klown resolveu investigar.              

   Se alguém podia voar, ele também queria. Dando passos grandes, porém lentos, ele caminhava até o lugar onde o homem voador começara a cair. Ele não devia estar acostumado com a densa atmosfera de Lorem. Tolo.

   Seus passos provocavam rachaduras leves na superfície. Não que fosse pesado, mas seus sapatos tinham um forte impacto. Afastou a máscara da boca um momento para tossir. Não gostava tampouco da atmosfera de Lorem. Era desagradável. Dava preferência a de Clare, mas anos fora de lá o desacostumariam a atmosfera leve.

   Klown olhou para o alto e viu o rastro de vapor que o homem voador deixou para trás. O sol ofuscou a sua visão por alguns segundos, antes de conseguir traçar onde o homem devia ter caído. Não estava longe.

   Finalmente, depois  de mais alguns minutos caminhando, alcançou o local. Não era um homem, mas três. O trio estava inconsciente. Ele não sabia, mas eram Stewart, Johnny e Martin. Ele não sabia o que os outros dois faziam de especial, mas era bom ver. De dentro dos bolsos dos três, pegou as suas carteiras. Quando uma pessoa nascia em Clare, ela era geneticamente testada e seu poder era documentado em sua ficha.             

   -Hum... telecinese... interessante... ah... voo, velocidade anormal... ótimo. – Ele disse baixinho para si mesmo. Jogou a carteira dos três no chão. Posicionou a sua mão sobre o tórax de Stewart, e um clarão de luz o envolveu. Seu poder fora copiado.  A mesma coisa se repetiu com os outros dois.

   Ele raciocinou por um momento. Podia levar os três a HANK, e um deles poderia ser a cobaia que procuravam, se não os três. Podia. E faria. Mas antes, uma diversão não faria mal. Iria se divertir com os três forasteiros...

 

--

 

   Johnny abriu os  olhos vagarosamente. Estava deitado em um solo árido e rachado. Que lugar seco seria aquele. Olhando para o céu, observou as nuvens alaranjadas que escondiam parte do brilho do sol. Jazendo ao seu lado, estavam Martin e Stewart. Ele conseguiu! Não morreram na queda, conferiu, checando o pulso de ambos. Estavam apenas inconscientes.              

   Levantou-se de um único salto, olhando ao redor. Uma planície seca como o lugar onde estavam se estendia até o horizonte, onde era possível se enxergar montanhas recortadas da paisagem.

   Ele ouviu um pequeno barulho de impacto ao lado dele. De susto, se jogou para trás. Um rastro de fumaça cinza estava ao lado de onde estivera antes. Aproximando-se devagar, viu uma cratera do tamanho de uma moeda no chão. Dentro dela, uma pedra vermelha, incandescente. Ouviu um barulho semelhante atrás de si. Uma pedra exatamente igual.               

   Aquele lugar não era seguro. Começou a empurrar Martin e Stu, gritando em seus ouvidos. Eles acordaram, assustados. Após o choque de perceberem que não tinham morrido, estavam em terras desconhecidas e de estarem com meteoritos caírem pertos de si, resolveram ouvir a Johnny para cair fora dali.

   Ao começarem a correr, mais meteoritos começaram a cair. Os três amigos estavam tanto física quanto mentalmente cansados, incapacitados de utilizar as suas habilidades.

   Ao correr um pouco mais, uma pedra do tamanho de um fogão caiu na frente deles. Os três estavam amedrontados. Não havia algum abrigo para esconderem-se?

   Do outro lado da planície, Klown ordenava um ataque de meteoritos usando o seu poder. Como era divertido vê-los correr de um lado para o outro como ratinhos! Mas, precisava fazer o seu trabalho. Ah.

   Usando o poder adquirido de Martin, ele rapidamente apareceu na frente dos três.

   -Olá, amigos. – disse ele, desdenhoso.

   Os três não faziam a menor ideia de quem era. Provavelmente, um maníaco de máscara? Stu tomou a palavra.

   -Podem me chamar de... Klown. – E isso foi a última frase que ouviram antes de ficarem inconscientes.

 

 


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