03 de Junho de 2012

POV Ranmaru Kirino

O dia começa frio e chuvoso. Tudo indicava que seria assim o dia todo.  Olhando para a janela, começo a relembrar tudo o que aconteceu ontem. Foi muito difícil o dia anterior. E parece que a noite mal dormida está agindo sobre o meu corpo.

Apesar de ter acertado as coisas com minha mãe, meu pais ainda não sabe de nada. Por sorte, ontem, no momento em que tudo ocorreu, ele havia saído com alguns amigos. Tenho medo da reação dele.

Além da permissão do meu relacionamento com Shindou ser aprovado ou não por meu pai ter passado por minha cabeça a noite toda, outra pessoa também não sai de meus pensamentos. Takuto Shindou.

Sei que ele não fez o plano com um objetivo ruim, é só que mesmo estando comigo ele não me contou. Pode parecer infantilidade, idiotice ou algo parecido, mas dói saber desse tipo de coisa pela a boca de outras pessoas.

Ouço o barulho de meu celular, resolvo não atender. Não importa quem é. Eu não estou com cabeça para falar com ninguém. Sinto-me um covarde agora.  Mil coisas na cabeça, mas a que mais me afeta, sem dúvida, é sobre Shindou.

“Qual será a sua reação quando descobrir? Será se você conseguirá me perdoar?”

Levanto de minha cama e ando em direção à janela de meu quarto.  Sinto o vidro gélido ao tocá-lo.  Assim, como lá fora, meu rosto está molhado. “Droga de lágrimas que teimam a cair.”

“Dói tanto saber que irei magoá-lo, mas não tenho outra opção. Sua vida está em perigo e jamais me perdoaria se algo acontecesse a ti, Shindou. Espero que um dia possa entender que o que irei fazer é para seu próprio bem.”

Quando dou por mim, estou segurando o colar que você me deu. Tantas lembranças invadem minha mente. Promessas que fiz em silencio, sonhos que sempre desejei realizar, enfim, tudo o que passei ao lado dele.

Sempre vi Shindou como uma estrela que brilhava, mesmo que sem querer, para mim. Sua bondade e simpatia sempre conquistou a todos e eu, felizmente ou infelizmente, cair em seu encanto. 

Ele sempre esteve ao meu lado e a cada palavra de conforto e encorajamento me fazia me apaixonar mais e mais por ele. Tão clichê.

Seu amor pelo o futebol, sua fidelidade aos amigos e seu caráter, ao longo do tempo, me fizeram perceber que, além de amor, eu sentia admiração e orgulho por aquele garoto serio e atencioso. “Merda. Eu preciso parar de pensar nisso, ou ficarei louco.”

Resolvo tomar um banho para esfriar a cabeça. O engraçado é que o banho é sempre o melhor lugar para pensar na vida. Ao mesmo tempo em que a água lava nosso corpo, ela consegue levar maior parte das nossas preocupações.

Após o banho, visto roupas quentes e desço as escadas. Vejo meus pais tomando café da manhã tranquilamente. Eu os comprimento com um sorriso falso e tomo meu café em silencio. Ao termino, levanto-me, pego um guarda-chuva que se encontrava atrás da porta e me disperso de meus pais dizendo que iria à casa de um amigo. Mesmo sem acreditar, minha mãe apenas pede que eu volte cedo.

A chuva não dava trégua. O vento soprava com força, o que fazia meus cabelos voarem em meus olhos. Eu não me importava muito, pois me sinto bem ao sentir a forte brisa roçar em minha face.

Não sei como nem por que, mas quando dou por mim, estou em frente ao píer onde nos encontramos pela a primeira vez. Tantas lembranças e sentimentos. É impossível não sorri ao lembrar o quanto a amizade de Shindou, naquele momento, me proporcionou felicidade.

A chuva se torna cada vez mais forte. Olho para o céu e vejo sua escuridão.  Ele me parece tão solitário e assustador. Acho que minhas emoções estão me levando à loucura.

Sinto braços calorosos e acolhedores me envolver. Não preciso me virar para descobrir quem é. Seu perfume é algo tão único. Impossível de ser irreconhecível para mim.

- Shindou. – sussurro.

- O que houve? – pergunta o mesmo em meu ouvido.

Sentir seu halito quente em meu ouvido me faz arrepiar. Esse sentimento de proteção e afeto é único.  Seus braços ao redor de meu corpo se encaixa como um quebra cabeça.

- Nada. Apenas quero que me prometa algo. – respondo ainda olhando para as águas do mar.

- O que?

- Que nunca irá duvida do que eu sinto por você.

- Por que está me falando isso? – pergunta me virando e olhando em meus olhos.

- Apenas me prometa. – digo.

- Tudo bem, eu prometo. – diz preocupado. – Mas o que houve? Por que está tão pensativo?

- Eu preciso te dizer algo. – respondo reunindo todas as forças que ainda me restam. Sei que se eu não lhe disser agora, não terei coragem de dizer depois.

- O que aconteceu?

✻

POV Matsukaze Tenma

Acordo com o barulho de chuva. Abro meus olhos lentamente e sinto a claridade vinda da janela incomodar meus olhos. Aos poucos consigo me acostumar com a claridade.

O tempo estar frio e bem escuro. Sinal que a chuva não vai parar tão cedo. Levanto e vejo que meu celular estar piscando. Três ligações perdidas do Tsurugi. “Ok, ele deve estar bem preocupado e estressado. Melhor ligar para ele.”

- Alo.

- Tsurugi?

- Ah, não. Aqui é o Yuuichi, irmão do Tsurugi. Quem é?

- Ah, Yuuichi, sou eu o Tenma.

- Oi Tenma, quanto tempo.

- Digo o mesmo. Como você está?

- Estou bem e você?

- Ótimo. Desculpa Yuuichi, mas o Tsurugi está ai?

- Ele foi tomar café da manhã. Estava com raiva por você não atender ao telefone.

- Imaginei. Mas, você sabe o que ele queria?

- Infelizmente eu não sei Tenma.

- Hum. Tudo bem então. 

- Ele acabou de chegar. Vou passar o celular para ele.

- Tudo bem. Falamos-nos depois Yuuichi. Até mais.

- Até mais Tenma.

- Por que não atendeu o celular?

- Bom dia para você também.

- Responde Tenma.

- Desculpa, mas é que meu celular estava no silencioso, por isso não o ouvir tocando.

- Hum.

- Ah, vai Kyosuke, me perdoa. Não fiz por mal.

- Ta, eu te perdoo.

- Obrigado. Mas o que você queria tanto me dizer para ligar com tanta urgência?

- Queria te convidar para sair. Infelizmente meus planos foram mudados por conta da chuva.

- Sério? Para onde iria me levar?

- Queria te mostrar um lugar especial.

- Ai Tsurugi, não fala assim. Sabe como eu sou curioso.

- Essa é a intenção.

- De qualquer maneira, não me diga que está com medo dessa chuvinha?

- Lógico que não. O problema é que você pode ficar doente.

- Oras Tsurugi, eu não sou feito de açúcar e não sou uma porcelana. Vai ou não me levar?

- Tem certeza que você quer ir?

- Daqui uma hora eu chego ao hospital.

- Não quer que eu vá lhe buscar?

- Não, tudo bem. Eu vou para o hospital e aproveito para rever seu irmão. Vemos-nos mais tarde.

- Ok, até mais tarde.

Após desligar o telefone, saio em direção ao banheiro para me arrumar. Confesso que estou bem curioso. “Que lugar é esse que o Tsurugi quer me mostrar? Bem, isso não importa. Contanto que eu esteja com ele, eu irei gostar do lugar.”

Termino o banho, coloco uma roupa bem quente e saio de casa. Inacreditável como a chuva estava forte. Mas apesar de tudo, gosto de vê-la cair. Dá a sensação de que ela veio para levar embora todos os problemas.

Depois de 30 minutos chego ao hospital. Cumprimento uma enfermeira e ando em direção ao quarto de Yuuichi. Bato na porta e logo ouço “Entre”, vindo de dentro do quarto. Ao entrar dou um sorriso de alegria ao ver Yuuichi dando alguns passos com a ajuda de Tsurugi.

- Tenma?! – fala Yuuichi sorrindo.

- Yuuichi. – digo após caminhar em sua direção lhe dando um abraço. Depois de conhecê-lo, Yuuichi e eu nos tornamos grandes amigos. Sempre muito gentil e carinhoso, sem duvida, Yuuichi é um ótimo ouvinte.

- Oi para você também. – ouço Tsurugi falar ironicamente. Pude sentir seus olhos revirarem.

- Desculpa Tsurugi. – respondo após dá-lhe um abraço e um selinho.

- Ai que lindo o amor de vocês dois, mas será que dá para deixar o momento “romance perfeito” para depois? Sério, não gosto de segurar vela. – fala Yuuichi rindo. Outra coisa que eu admiro em Yuuichi é que ele nos dá apoio total. Ele sempre deixou claro que quer seu irmão feliz, não importa com quem ele esteja.

- Aff Yuuichi. Para né? – diz Tsurugi um pouco envergonhado. Eu e Yuuichi começamos a ri de Tsurugi que logo fecha a cara.

- Vamos Kyosuke, não fique assim. Só estou brincando com vocês. Mas deixando de lado tudo isso, vocês não iriam sair?

- Tem razão Yuuichi. E então, aonde você vai me levar?

- Calma. Já iremos. Deixa eu só me despedir de meu irmão e nós iremos ao lugar que quero lhe mostrar. – fala Tsurugi rindo de minha curiosidade e se despedi do irmão com um abraço.

- Tenho certeza que vai gostar do lugar, Tenma. – diz o Tsurugi mais velho.

- Também acho. – digo dando um abraço em Yuuichi.

- Tchau se cuidem. – ouvimos o irmão de Tsurugi falar logo após sairmos do quarto.

Após sairmos do hospital, Tsurugi começa a me guiar. Estávamos em silencio, mas era um silencio confortante e caloroso. Estar ao lado de Tsurugi me fazia muito bem. Ele pode não parecer muitas vezes, mas é muito gentil e atencioso.  Ele só se esconde por de trás dessa máscara de cara do mal.

Ao passar pela a escola, relembro de algo um tanto desagradável. Yamana Akane. Tenho algo que pode revelar a verdadeira face de Akane. Não sei quando irei contar ao mundo quem é Akane, mas tenho certeza que não vai demorar muito tempo.

- Tenma. – ouço Tsurugi me chamar.

- Sim? – respondo.

- Tudo bem? – pergunta preocupado.

- Está sim, por que a pergunta?

- Te chamei várias vezes e você pareceu estar distante. Aconteceu alguma coisa?

- Nada de mais Tsurugi.

- Tenma, pare de esconder as coisas de mim.

- Por que acha que estou escondendo algo de você?

- Por favor, né Tenma. Você é muito obvio e eu te conheço muito bem. – ao ouvi isso, dou uma risada fraca. Era verdade o que Tsurugi disse. Por mais que negássemos, eu e Tsurugi nos conhecíamos muito bem. Algo inexplicável e cômico.

- Acho que não consigo esconder muita coisa de você. Não é mesmo?

- Com certeza não. E então vai me dizer o que tanto lhe incomoda?

- Bem, acho que isso eu posso lhe contar. – digo olhando para o mesmo que estava mais belo do que nunca. O vento bagunçava seus cabelos e o deixava com um ar mais rebelde que o normal. Seus olhos brilhavam de curiosidade, mesmo que sua expressão demonstrasse indiferença. Seus olhos nunca mentiam.

 - E então? Vai ou não dizer?

- Tenho algo que pode revelar a verdadeira face de Akane.

- Como? – pergunta surpreso.

- Eu gravei Akane confessando que não era tão santinha assim. – explico.

- E o que vai fazer?

- Irei revelar o lado negro da Akane, é claro. – digo olhando seriamente para ele.

- Tudo bem. Se você acha que isso é o melhor, eu vou apoiar. – diz incerto.

- Por que acha que isso não é o certo?

- Não é que eu ache que isso é errado, mas é que... Ah Tenma, a Akane é perigosa, você sabe disso. Eu não confio naquela garota. Nós nunca sabemos do que ela é capaz de fazer. Não quero ser chato e nem te desmotivar a fazer isso, até porque eu não sei quase nada dessa história, eu só não quero que você se machuque. – explica Tsurugi preocupado.

- Não precisa ficar preocupado comigo. Ela jamais conseguirá fazer algo contra mim. – respondo confiante.

- Como pode ter tanta certeza? Tenma, essa garota já te machucou uma vez. Eu não imagino do que ela é capaz de fazer.

- Tudo bem, tudo bem. Eu não quero discuti com você por causa dela. Vamos esquecer esse assunto por enquanto. Pode ser?

- Tudo bem.

O resto do caminho conversamos sobre assuntos banais. Começamos a seguir em direção à floresta de Inazuma, a Mori no Utsukushi-sa.  Já fui naquela floresta várias vezes, mas nunca percebi o quanto ela é bela. Bem, acho que o nome combina perfeitamente. Quanto mais entravamos, mais bela ela ficava.

- Vai demorar muito para chegar? – pergunto ansioso. Estava quase surtando de tanta curiosidade.

- Não muito. Estamos quase chegando. – avisa.

Andamos mais uns 20 minutos e em frente vejo a entrada de uma caverna. Eu não sabia que Mori no Utsukushi-sa tinha uma caverna. Entramos no local e me surpreendi com a vista. A caverna é simplesmente linda. Jamais imaginei ver algo tão lindo como nesse momento.

- Isso é...

- Lindo? É eu sei. – completa Tsurugi sorrindo.

- Como descobriu esse lugar? – pergunto confuso, já que o local é de difícil acesso.

- Um dia eu e o Yuuichi estávamos jogando bola na floresta e a bola veio parar por aqui perto. Vi a caverna de longe e entrei junto com o Yuuichi. Encantamos-nos pelo o lugar. Essa caverna virou nosso lugar secreto. Sempre que brigávamos ou estávamos tristes nós víamos aqui para espairecer. Prometemos que só mostraríamos essa caverna para quem realmente amassemos. Você é a primeira pessoa que eu trago aqui. – responde envergonhado.

Sinto meu coração bater fortemente. Jamais esperei ouvir isso da boca de Tsurugi. Ele sorria de uma maneira tão linda e encantadora. A minha única reação é beijá-lo.
Sinto seus braços envolverem minha cintura. Nossos corpos estavam extremamente colados. Logo Tsurugi aprofunda o beijo. O barulho da chuva combinava perfeitamente com o som de meu coração.

Podia sentir sua respiração acelerada. Eu sentia meu corpo tremer a cada toque. Aquilo era ao mesmo tempo uma tortura e algo extremamente excitante. Cada vez mais meus lábios precisam de Tsurugi. Não sei explicar, mas ao beijá-lo, percebo que meu amor por Tsurugi só aumenta.

- Eu também te amo muito. – digo ofegante. Meus olhos estavam marejados de emoção. Era tão bom estar em seus braços.

- Não podemos demorar muito. – fala Tsurugi após dá um selinho em minha testa.

- Ah, por quê? Não quero ir embora. – respondo fazendo birra. Tsurugi apenas ri de minha infantilidade.

- Ah, mas nós vamos. – fala me apertando mais ainda.

- Não quero. – digo fazendo bico. Logo o mesmo me dá outro beijo.

“Droga, ele sabe como me dobrar. Odeio quando as pessoas sabem meu ponto fraco.”

Bem, o que eu posso fazer? O amor é uma coisa que jamais o ser humano vai entender. Não há uma definição certa ou algo lógico quando se trata de sentimentos, principalmente se ele for o amor.

- Tá, vamos embora. – digo pegando em sua mão e o puxando para fora da caverna. A chuva ainda não havia cessado e parecia que não iria parar tão cedo.

Andávamos como se nada importasse a não ser nós dois. Eu adorava a sensação de dividi o guarda-chuva com ele. Ok. Sei que isso é algo extremamente idiota e meloso, mas eu sou romântico. O que posso fazer?

Sinto um mau pressentimento de uma hora para outra.  Paro de repente e aperto a mão de Tsurugi. O mesmo pareceu surpreso com minha atitude.

- O que houve Tenma? – pergunta preocupado.

- Algo de ruim vai acontecer. Eu tenho certeza.

- Como assim?

- Eu sinto Tsurugi. Eu estou pressentindo que algo de muito ruim vai acontecer. Eu preciso falar com Kirino ou Shindou.

- Hãn? Mas agora?

 

- Sim. Vamos. - digo puxando sua mão. Saímos correndo em direção à casa de Shindou. Não faço a menor ideia do que pode acontecer, mas preciso evitar que as coisas saiam do controle.

✻

 

POV Ranmaru Kirino

 

- O que aconteceu?

Aqui estamos nós. Abraçados, molhados e com os sentimentos a flor da pele. Eu não sei como contar a Shindou a verdade, mas eu preciso. Olho para Shindou e começo a falar.

- Shindou, antes de tudo quero lhe dizer algo muito importante.

- Você está me deixando preocupado.

- Bem, confesso que é assustador e vergonhoso dizer isso, mas você me conhece como ninguém. Sabe meus pontos fracos, me acalmar quando estou com medo, enfim, me sinto seguro com você.  Quando estou com você vejo que meu amor é incrivelmente intenso. Com você eu sinto que meus sonhos podem ser realidade. Eu não entendia antigamente.  Era incrível como estar com você me fazia estar fora do normal. Não que aquele sentimento fosse ruim, mas era diferente de tudo o que eu sentia ou já cheguei a sentir. – dou uma pausa e me viro para Shindou. O mesmo parecia surpreso com minhas palavras. Resolvo continuar. – É com você que aprendi a sentir a verdadeira dor da saudade. Sem você, sou apenas aquela metade que fica sem ter razão para nada. Toda vez que olho em seus olhos, meu coração grita alto e claro. É como se dissesse: “Hey, vocês tem tudo para dá certo. O amor de vocês é mais forte que tudo, apenas aguente tudo, pois você o tem. Ele é quem você realmente ama. Ele é sua vida.”.  Suponho que pense que isso é totalmente estranho e sem noção, mas é o que eu sinto.

- Muito pelo o contrário. Eu sinto exatamente o que você disse. Eu te amo e nada nesse mundo fará que meu amor por você deixe de existir. – responde com os olhos brilhando. Shindou estava com um lindo sorriso e isso quebrava mais ainda meu coração. Como eu poderia lhe contar algo com ele me olhando daquele jeito e me falando coisas lindas?

Aproximo-me mais ainda e o beijo. Sem pensar muito no que aconteceria depois. Eu sei que o fim está próximo e isso dói tanto. Não quero deixá-lo, não quero desistir dele. O que eu devo fazer? “Que pergunta mais tola. Eu não tenho escolhas. Devo fazer de tudo para protegê-lo.”.

Nosso beijo, antes romântico, se torna selvagem e intenso. Tento lhe transmitir todas as minhas emoções. Era como se aquele fosse nosso último beijo. Eu sabia que essa decisão seria a mais difícil da minha vida, mas quanto mais o fim se aproxima, mais difícil se torna.

Aperto mais ainda seu pescoço. Nosso beijo debaixo de chuva seria perfeito se meu peito não doesse tão. Não é fácil dizer adeus, mas é preciso. Sinto minhas lágrimas descendo pelo o meu rosto. Shindou se afasta e me olha preocupado ao perceber que eu estou chorando.

- Kirino, o que... – antes que o mesmo falasse algo, lhe beijo mais uma vez.

É incrível como nossas bocas se completam. Esse beijo é muito mais que amor. É uma paixão que parece vim à tona depois de anos. Não que isso nunca tivesse acontecido antes, até porque todo beijo nosso é diferente e único. Shindou parece sentir que não estou bem. Ele me aperta mais ainda – se é que isso ainda é possível –. Poder senti seu cheiro, seu toque, seus beijos é algo prazeroso. Poder tocar tua pele macia com certeza é a melhor sensação de todas. Nesse momento não existe raiva, magoa, confusão de sentimentos ou ódio. Apenas e unicamente nosso belo e puro amor. Com ele é como se eu voltasse a ser uma criança inocente tendo seu maior pedido de natal sendo realizado. Eu o abraço desejando, apenas, sentir teu calor.

Separamos-nos mais uma vez. O aperto com força. Não quero revelar meu segredo a ele.  Sempre sonhei em tê-lo para mim. Esperei tanto para que meu coração fosse correspondido. Por que a vida e o destino são tão injustos? Por que não posso ser feliz ao lado de Shindou?  Sei que estou sendo egoísta, mas não consigo evitar, mesmo sabendo que no final, terei que partir.

- Kirino, por que está agindo assim?  - vejo Shindou me perguntar com os olhos preocupados.

- Nada demais. – respondo dando-lhe um sorriso falso.

- Por que não quer me contar? – pergunta irritado.

- Isso é coisa da sua cabeça. Apenas esqueça isso. Eu estou bem. – falo sem dá mais detalhes.

- Kirino, por favor, confie em mim. Não esconde nada de mim. Se estiver com problemas é só me falar. Você não está sozinho. Eu quero participar da sua vida. Quero poder ser seu porto seguro, seu pilar principal. Só me diz o que está acontecendo. – implora Shindou. Ouvindo isso, começo a chorar. Como posso lhe contar meu segredo Shindou? Como posso magoá-lo? Você é tão puro, tão belo e gentil.

- Por favor, não fala isso. – peço chorando desesperadamente.

- Por que não me diz?

- Shindou, eu te imploro. Não fala isso. Não me ame, não diga coisas gentis, não faça meu coração se apaixonar mais ainda por você. Eu te imploro. Não me beije com carinho, não seja tão atencioso comigo. Por favor. – digo e o mesmo parece surpreso.

- O QUE HÁ DE ERRADO COM VOCÊ? COMO PODE ME PEDIR PARA EU NÃO TE AMAR, NÃO DIZER O QUE EU SINTO POR VOCÊ, PARA NÃO LHE BEIJAR QUANDO ISSO JÁ SE TORNOU UM VICIO PARA MIM? EU QUERO LHE DÁ TODA A ATENÇÃO DO MUNDO, POR ISSO NÃO ME PEÇA O IMPOSSIVEL. EU JÁ LHE DISSE ISSO UMA VEZ E VOLTO A REPITIR. EU TE AMO E NADA NESSE MUNDO PODE MUDAR ISSO. NADA NEM NINGUÉM FARÁ MEU AMOR DEIXAR DE EXITIR. ENTENDA. – grita Shindou desesperado. Isso só faz com que eu chore mais ainda.

Eu não quero dizer adeus. Ver nosso mundo entristecer, que deixará de existir, me faz tão mal. Pareço está jogando fora a sorte de amar Shindou. Isso tudo está tão errado, tão confuso.  Antes de vê-lo eu tinha certeza que a minha escolha era a certa, mas agora estou inseguro. Eu estou sendo um covarde.

Sinto os braços de Shindou me envolverem em um forte abraço. Tento resistir, mas não consigo por muito tempo. Acabo correspondendo ao abraço.

- Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. – sussurra em meu ouvido. - Mesmo que você queira, eu não te deixarei. Eu sempre estarei ao seu lado. Não importa o que aconteça, meu coração sempre será seu.  Somente seu.

Não sei por que, mas sinto que a opinião de Shindou mudará ao descobrir meu segredo.  Bem, prefiro esquecer isso no momento e aproveitar as ultimas lembranças que ainda poderei ter com ele. Odeio pensar assim, mas sei que o nosso fim está próximo e não há nada que eu possa fazer.

✻