E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira


Capítulo 8
She never misses.


Notas iniciais do capítulo

É meio que a marca da Clove "Ela nunca perde" em inglês "She never misses"



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Espero ela sair e fico um tempo escondida. Quando quase saio alguém entra e quase me flagra. Tomo um susto enorme e tento controlar minha respiração acelerada.

-Sai daí, garota. - diz uma voz de longe. Me espremo mais ainda contra o sofá que dormi ao lado de Cato.

Não consigo me controlar, se eu for vista, que explicação terei pra dar?

A pessoa anda até chegar perto de mim, perto do sofá, me encolho pra que não me veja.

-Você fica muito fofa assim.

Essa voz... essa ironia... já sei quem é.

-O que você quer? - pergunto me levantando cara a cara com o garoto mais irritante de todos.

-Saber o que faz aqui. O que tá fazendo aqui, se meus pais te pegam...

-Eu vou embora, tá? Teve um problema...

-Que problema?

-Um problema que não é da sua conta!

-Para de mentir pra mim, Clove, me diz! - Cato não está brincando, dá pra ver. E ele está apertando meu braço com muita força que só percebo a dor agora.

-Cato... solta meu braço. - digo entre os dentes olhando com raiva pra ele.

-Me diz o que aconteceu.

-Não!

-Clove, não mente pro seu namorado!

-Namorado? Que porcaria é essa, Cato? Não tá na hora de brincar não!

-Então é algo sério?

-Não sei... - ele solta meu braço e vai andando até a saída.

-Você não confia em mim, não é?

-Não.

-Ótimo. Eu te dou um lugar pra dormir por ter brigado com seu pai e você me retribuiu mentindo pra mim? 

-O que queria que eu fizesse? Te idolatrasse.

-Seria bom, mas queria algo maior.

-Tipo? - ironizo.

-Sua confiança. - ele me olha pela última vez, completamente irritado, e sai do porão.

Espero um tempinho e logo depois saio, pouco ligando se alguém me ver. Olho pra janela onde dá pra ver Cato. Começa a chover. Ele me olha e depois vira o rosto e eu não consigo fazer mais nada.

Entro em casa na esperança de não ver meu pai, mas acabo vendo.

-Onde a senhorita estava? - ele me pergunta com uma faca na mão. Ponho a mão no bolso e sinto algo afiado, ótimo, minha faca reserva estava alí.

-Sabe aquele amigo meu o "Não"? Então ele vai se casar com a Te Interessa, os dois juntos forma uma frase pra você: NÃO TE INTERESSA.

-Olha os modos Clove! - ele estremece. - Você vai ser punida!

-Então pune logo! E pune essa coisa aí em baixo por estar dando volta no corpo de outra mulher sem ser minha mãe! - grito.

Minha mãe está logo atrás dele, um pouco longe, mas ela ouviu e ficou horrorizada.

-Clove...mas o que é isso? - ela pergunta. 

Meu pai está mais vermelho do que um tomate. Ele me olha chocado.

-QUE CALÚNIA! - ele berra e me taca contra a parede, saco minha faca imediatamente. - Quem você pensa que é pra me julgar assim?!

Não posso simplesmente dizer que eu vi e que eu sei que é a mãe do Cato, aliás, meu pai é bonito e a mãe do Cato também... não é a toa que os dois babacas se conheceram. Eu preciso deixar ele sofrer... só um pouquinho... ou muitão.

-Eu vi você e uma mulher lá fora! - isso foi o suficiente, não falo mais nada. Ele agora só está me segurando pelo pescoço contra a parede e eu com uma faca apontada na barriga dele. E daí que é meu pai, ele traiu a minha mãe e nunca me deu tanta atenção assim. Por mim eu o matava sem dó nem piedade.

-Você... está...de...castigo! - ele me solta e eu caio no chão, meu pescoço dói um pouco e meu tornozelo também nesse exato momento. Minha mãe está chorando. Ele se vira pra ela enquanto rastejo na direção do meu quarto.

-Atalla... eu não fiz isso, eu juro.

Os olhos azuis esverdeados da minha mãe estão cheios de lágrimas. Seu nariz está muito vermelho e ela não contêm o choro. Meu pai tenta abraçá-la mas ele não consegue pois ela se desvia e corre para o quarto, evitando a minha existência no corredor.

Não posso mais continuar alí.

Isso virou novela mexicana mas, é minha família. Meu pai traindo minha mãe com a mãe do Cato é tenebroso isso! E eu quero vingança. Ganhando algo ou não eu vou ter que me vingar, mas afinal quem sou eu pra perder? eu nunca percoe não vai ser agora que eu vou perder a oportunidade de torturá-los.

Tortura. Isso é prazeroso.

Saio de casa, mancando é claro. Meu tornozelo deve ter sido torcido... ai. Mas isso não é nada demais.

Alcanço a casa vizinha mais próxima. A de Leance, um amigo meu. É um amigo de infância. Leance é um dos palhaços do colégio, um ano mais velho que eu mas com a mentalidade de uma criança de 6 anos. Algumas garotas babam por ele, mas honestamente, não há nada de tão maravilhoso nele quanto no Cato... espera... o Cato não é maravilhoso ele é só bonito... e forte e... esquece. O Leance é só um garoto bonito mas é assim, garoto com cabelo castanho, olho azul e palhaço as meninas adoram, graças a Deus eu só o vejo como um grande amigo e o vizinho mais chato de todos ou seja, ele é aprovado.

Bato na porta de sua casa e a mãe dele atende, srta. Bew é uma mulher bem legal, amiga muito próxima da minha mãe, por causa dela que eu e Leance somos amigos.

-Oi Clove, como você está? - ela pergunta confortante. Me apoio na porta e faço uma cara de dor.

-Dolorida, posso entrar?

-Claro.... o que houve? - ela dá passagem e logo que me vê mancando, me ajuda e me repousa no sofá, Logo vejo Leance vindo se sentar ao meu lado.

-Uma briga simples com uma retardada.

-Ah, Clove, você precisa parar com isso! - ela diz.

-Não consigo... são irritantes.

-Tá... pare com isso menina! Vou pegar uns remédios, seu pescoço está vermelho.

Leance me fitou desconfiado.

-Agora me diz a verdade. - ele sussurrou.

-Meu pai me enforcou. - ele arregalou os olhos.

-Como... por que?!

-Eu falei pra ele que vi ele com outra mulher.

-E quem era?

Não sei se posso contar muito, eu confio no Leance mas ele não pode saber sobre o Cato... sei lá, não quero que ele fique me zoando.

-Não sei bem. Não quero tirar conclusões precipitadas.

-Pode me contar tá?

-É sério.

-Mas não tem nem ideia?

-Não.

Ele me fitou sério e eu olhava para meu tornozelo que estava repousado na mesa de centro da sala enquanto passava a mão devagar pelo pescoço, ardia um pouco e doía muito, eu estava fazendo muito esforço pra falar.

A chuva lá fora aumentava, não era hoje que eu sairia dalí, só se for pra voltar pra casa... mas eu não quero voltar. Estou sendo egoísta! Minha mãe deve estar lá sofrendo demais.

-Leance... minha mãe. - minha voz fllha mas eu não permito. Eu sou forte. 

-Quer que eu a busque?

-Não. Você não pode se intrometer nessa briga.

-Tá bom... 

-Muda de assunto, por favor, liga a televisão deve estar - minha garganta dói.

-O que foi?

-Minha garganta dói.

-Vou pegar um pano com água.

-Não Retardado! Vai piorar!

-Então um com álcool, caso eu precise te matar logo.

-Não se eu te matar primeiro. - sorrio pra ele e ele sorri de volta.

-Fique quieta aí, Mortífera.

Era assim, Leance me chamava de Mortífera e eu o chamava de Retardado, e assim nós somos grandes amigos.

A mãe dele me deu remédios pra dor passar. Leance roubou uma seringa com morfina, esterilizada é claro, produtos importados do distrito 6. A mãe dele é uma das principais médicas do distrito 2.

Fico até a noite onde posso ver a entrevista dos tributos com o Caesar Flickerman.

A garota do 1 é de dar nojo, com toda aquela "fofura" falsa dela, o garoto é hilário no terno azul ridículo, Jackie está impressionante, um terno preto, ele está com cara de poderoso e está sendo muito ameaçador na entrevista, abro um sorriso com orgulho de dizer que ele é meu amigo. Bianca está linda demais, o vestido laranja caiu bem nela, ela é misteriosa, ótima, perfeita! Não seguro um aplauso a ela, estava se saindo bem.

Mas como sempre o distrito 12 vem de sacanagem.

A garota do 12 faz a plateia rir com uns comentários, com uma cara de trouxa, a de sempre.

No final de sua entrevista ela dá uns giros fazendo o vestido pegar fogo, nós três na sala ficamos boquiabertos.

-Ela bem que podia pegar fogo e morrer logo. - comento.

-Ela me faz pegar fogo... - diz Leance. Eu e a srta. Bew olhamos pra ele com um olhar fuzilador. - Que foi? Ela é gata.

-Mas é do 12! - digo.

-Eu torço pra sua irmã, fica calma.

-Acho bom.

O garoto do 12 recebe elogios do Ceasar, todas as palavras dele são entediantes e para muitos agradáveis, mas não pra mim.

A única parte que me impressiono é:

-Por quê ela veio pra cá comigo.

QUE PORCARIA É ESSA DE ROMANCE?! Eu suspeitava mas agora toda Panem tem certeza, aplausos pra estratégia do mentor bebum mas como puderam fazer algo tão baixo?! É ridículo, os dois vão morrer mesmo! Eu mesmo os mataria se tivesse chance!

-Clove? - a voz de Leance me tira do transe, percebo que estou em frente a televisão quase a tacando longe.

De novo não, aquela televisão era minha. Essa não.

Me sento de novo e fico séria. Srta. Bew não está mais alí.

-Você tem que parar de se livrar dos problemas os destruindo.

-Como posso me livrar dos tributos do distrito 12?!

-Sei lá, evite!

-Não. Um dia eu vou matá-los.

Começo a imaginar os dois mortos, de mãos dadas num caixão em formato de coração escrito "Aqui jaz os amantes do distrito 12".

Ainda sito que minha faca está no bolso, poderia ir pra Capital agora se eu fosse insana.


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