E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira


Capítulo 15
Coisas ruins




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- Eu preciso de um tempo. Pra pensar, entende? - olho pra ele.

- De alguma forma eu entendo. - ele me olha meio triste. - Vou sentir falta de te irritar. - ele sorriu e eu não contive um sorriso, adoro quando ele me irrita.

- E eu de te esnobar.

- Por incrível que pareça, vou sentir falta disso.

Os sorrisos desaparecem e eu começo a fitar meus pés. Não sei o que fazer sem o Cato, ele guarda todos os meus segredos e é o único que sabe pelo que eu estou passado, o único que vivenciou isso tudo comigo, literalmente ao meu lado. Percebo o quanto vai ser difícil ficar longe dele pra resolver tudo isso e então o abraço de uma forma suave e rápida, ouço um grito baixo de dor vindo dele mas ignoro ao sentir que os braços dele me cercaram.

- Se isso tudo me fizer ficar em perigo, eu vou me salvar pra poder ficar com você.

- Eu vou te salvar. E estarei te esperando. 

- Cato é tão difícil te deixar, você me irrita, eu te odeio mas te...

Perdi o foco de tudo, agora eu o abraçava com mais intensidade.

- Me... ?

- Eu te...

- É difícil, não?

Assinto mesmo que ele não possa ver muito bem, mas ele sentiu meu queixo encostando em seu ombro.

- Eu entendi.

- Não. Eu preciso falar. É difícil porque eu não vou tirar isso da cabeça e...

- Clove. 

Afasto a cabeça e vejo que seus olhos estão brilhando, ele está dolorido eu sei, mas seus olhos brilham de alegria.

- Você pode demonstrar seus sentimentos, não precisa ser tão durona o tempo todo.

- Mas essa sou eu.

- Tente esquecer sua personalidade um pouco, como eu fiz. Você me defenderia sealguém me chamasse de nervosinho, sem coração ou de pegador não é?

- Sim.

- Então siga meu exemplo. - ele se ajeita na cama e se senta nela para que possa ficar cara a cara comigo.

Cato e eu estamos fazendo um esforço pra não gritarmos e desabarmos, tudo é difícil pra nós dois. Pelo menos a mãe dele não foi morta pelo pai dele...

- Melhor eu ir. - Cato faz uma cara meio triste e assenti.

- Ok, tchau.

- Tchau. - digo.

Me levanto e ando na direção da porta, quando estou quase saindo, passos fortes passam por trás de mim e a porta é empurrada e trancada, me viro e vejo Cato apoiando os dois braços na porta me impedindo de me mover.

- Acha que eu iria dizer apenas um "tchau"?

- Esperava algo mais.

Cato se aproximou de mim com rapidez, parecia uma pessoa desidratada indo beber água. Eu era o que Cato precisava, e ele é o que eu preciso. Posso ser fria, mas como ele disse: estou seguindo o exemplo dele. O beijo roubado foi de tirar o fôlego, ele ia com rapidez e eu o seguia. Joguei as mãos para o pescoço dele e ele me cercou pela cintura. Ele parecia estar realmente apaixonada, mas não demonstrava... não tenho certeza, Cato não é o tipo que se apaixona e ... espera um pensamento vem na minha cabeça, um flashback inseperado. Me lembro de Shal e Cato no dia em que ela descobriu o Coisa.

"Não fala nada dela, coitada, vai ser mais humilhada do que já é"

"Não, Cato!" era voz de Shal "Ela é uma baixinha irritante, ela me furou!"

"Mas eu te ajudei"

"Nada feito."

"O que eu preciso fazer pra te convencer?" até eu responderia essa.

"Nada, eu vou entregar a nanica pro prefeito" fiquei de olhos esbulhados, assustou o pássaro mas ele continuou "falando".

"Por favor, olha, o que você vai ganhar? Não vai poder mais humilhá-la, não quer ver ela sofrer? Eu posso fazer isso."

Era isso! Cato não me ama de verdade, ele só está fingindo pra ajudar a Shal! Muito bem bolado o plano, mas eu não quero cair nessa armadilha... e o pior é que eu já caí, Cato agora faz tudo pra me seduzir, mesmo com as costelas quebradas, ele ás vezes para de me beijar e vai devagar mas ele me enche de beijos na nuca, na boca e acaricia meus cabelos... o babaca me conseguiu de uma forma fácil. Percebo que estou sentada na cama dele e então dou um empurrão nele.

- Para! - eu digo um pouco alto.

- Porque? Estávamos indo tão bem...

- Idiota... babaca... imbecil... safado! - eu digo e me levanto pondo as mãos na cabeça e evitando olhar pra ele.

- O que?

- Você só está se vingando pela Shal! Você falou com ela perto da cerca no dia em que eu furei o braço dela! E o pássaro me contou!

- O pássaro te contou? Hã?

- Um gaio tagarela.

- Ah... Clove, em relação a isso...

- CALA A BOCA SEU MERDA! - berro e me viro pra ele, seu rosto está aparentando estar confuso mas sei que ele não está. Meus olhos estão cheios de lágrimas. - Se você acha que eu vou deixar você me conquistar e depois me dar uma rasteira, fique sabendo que eu não caio! Eu nunca perco! E saiba que eu nunca te amei e não vou deixar que me engane! Você não me enganou e eu nunca senti nada por você!

- Clove, eu tenho uma explicação! - ele aumenta a voz.

- E qual é?  - cruzo os braços e faço uma cara irônica.

- Porque nunca mais viu a Shal e as amigas dela na escola? 

Nunca mais as vi, mesmo.

- A mãe de Shal veio do distrito 7, Shal é residente daqui. Acha que eu não iria te proteger? Eu denunciei a mãe de Shal aos Pacificadores com algumas provas que eu tinha, graças a mim, Shal voltou a terra natal da mãe e as amigas dela ficaram tão decepcionadas que foram junto.

Agora fazia sentido... acho que eu falei demais sem saber de tudo.

- Ah... Cato...eu... me desculpa, não quis dizer....

- Que não me ama? Que não sente nada por mim? - ele levantou uma sobrancelha. - Clove, eu me arrisquei muitas vezes por você, eliminei a garota que você mais odeia no mundo e o que eu ganho? Eu só queria sua confiança, e logo depois: você. Mas não precisa dizer nada, só sai daqui que minha costela está doendo.

- Mas...

- Sai, por favor. - ele disse friamente.

As lágrimas descem sem eu impedir, saio do quarto dele e bato a porta. Me jogo no chão e choro muito... logo depois percebo que é a casa dele. Desco as escadas e saio de lá, correndo pra minha casa.

Eu estraguei tudo! Eu poderia estar agora beijando ele e aproveitando os últimos minutos que eu passaria com ele mas nãããão eu tenho que sempre estragar tudo! Eu o perdi e eu preciso dele, agora, amanhã, sempre.

Entro na minha casa e corro para meu quarto, me tranco lá e choro no chão com a cabeça contra a porta.

"Por que tudo isso está acontecendo comigo?" penso. "Não é justo!" 

Percebo que a única forma de extravasar é com o Coisa. Pego-o que está muito bem guardado e começo a escrever.

Minha vida é uma droga.

Minha irmã foi para os Jogos e já perdi as esperanças nela, meu pai morreu e minha mãe que fez isso, falei coisas que não devia pro Cato e estou tão arrependida que faria qualquer coisa pra ele me perdoar... mas não farei isso, sou forte, sairei dessa sem me humilhar. Cato me ama, ele deixa isso transparecer. E eu acho que não fiz isso do modo certo.

Abro a porta e saio do quarto, minha mãe me olha com uma cara de psicopata.

- Tá tudo bem, mãe?

- Ou sou eu ou é você. - ela tem uns tiques nervosos.

- O que?

- Tarde demais, Clove, você terá que ficar com seu pai.

Antes que eu pudesse fazer alguma coisa, tudo ficou preto ao sentir uma injeção em meu braço e cair. Tudo absolutamente preto.

CATO

Foi muito difícil ouvir tudo aquilo que a Clove me disse, foi horrível ver o modo em que ela gritou e como ela chorou... mas é quando estamos com raiva que soltamos a verdade.

Me deitei, totalmente dolorido por causa da costela, e pensei. Pensei no que eu farei a partir de agora. Não tenho rumo e dessa vez eu me preocupo com isso.

Uma dor forte atinge minha costela... na verdade foi mais pra dentro, dói muito... me levanto e caminho até encontrar Sahsa lá em baixo, me apoio no corrimão e a chamo.

- Sasha, pega o remédio pra dor pra mim aê.

- A Clove te machucou?

Sim. Essa resposta ecoa na minha cabeça mas não sei se é isso mesmo... a dor incomoda mais ainda.

- Não, não, é a costela... vai logo, tô no quarto.

Vou pro meu quarto e ligo a televisão, está transmitindo os Jogos e atualmente um ninho de teleguiadas caiu sobre os Carreiristas. A Carreirista gata do distrito 1 não consegue correr, puf! Que bobeira! Alguns se salvam. O amante desafortunado do distrito 12 está ajudando a Garota Quente, que ridículo! Ele foi bem espero em trair os Carreiristas, mas se fosse comigo eu o mataria.

Fico vendo os Jogos e me perco lá, começo a ver minha imagem nos Jogos... o pensamento ocorre por um segundo mas logo depois esqueço.

Sinto uma sensação ruim muito forte, algo ruim aconteceu... não sei o que... mas algo ruim aconteceu.


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Notas finais do capítulo

Galera quem tiver uma fanfic Clato sem ser dos Jogos, pode me indicar? Vou ler e deixar reviews se eu gostar e não se importem se eu demorar pra ler, só leio quando tô com vontade pra não achar a leitura chata.
Deixem reviews e digam o que acharam, beijinhos flutuantes :*