E Se Não Tivéssemos Ido Para Os Jogos? escrita por Bia Vieira


Capítulo 14
Uma escolha, muitos atingidos.




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- Sra. Ludwig! O que está acontecendo?

- Há, não é óbvio? - eu olhei para o diretor. - Ela é louca!

- Louca é você por ter matado o próprio pai! - Lynx disse entre os dentes.

Murmúrios, fofocas... pessoas sem o que fazer e sem vida amorosa que tomam conta da dos outros.

- Diretor? - olho pra ele entre ele e a multidão contra a Lynx. Estou praticamente no meio.

- Srta. Fuhrman, diretoria. - ele se virou pra multidão. - Voltem para suas salas ou eu suspendo todos! - ele berrou causando um estrondo e todos foram. Lynx me deu um empurrão com o ombro e saiu da escola. Fui pra diretoria.

As paredes brancas com detalhes dourados e marrons, cores que lembram o distrito 2. Uma bandeira com o símbolo da Capital está ao lado direito da mesa e ao esquerdo tem uma bandeira com o símbolo do distrito 2. Há um quadro com a foto do presidente Coriolanus Snow sorrindo, coisa que não o vejo fazer há anos.

- Clove? - ele me olha e eu volto ao foco, me endireito na cadeira e o olho nos olhos.

- O que?

- Sei que... pode ser difícil tudo isso que está acontecendo.

- E o que está acontecendo?

- A morte do seu pai. Não está sabendo de nada?

Balanço a cabeça negativamente.

- Pois bem. - ele suspira e pisa os olhos. - Vazou por aí que seu pai está morto e a culpa foi sua.

- Mas não foi.

- Não estou dizendo que foi sua culpa - ele levantou as mãos. - só estou dizendo que são boatos. - agora as abaixou.

- Não me importo com boatos, sei que sou inocente.

- Acredito em você. Clove, você é a única aluna que conseguiu ameaçar a escola inteira em um dia. Lembra do seu primeiro dia de aula quando passou para o ensino médio?

Lembro muito bem. Brisa fresca, dia cinzento. Eu não falava com ninguém, apenas apontava o lápis para ele ficar o mais afiado possível. Foi nesse dia que eu cortei um garoto com uma régua quebrada... coitado, ele chegou a levar pontos.

- Sim, me lembro.

- Então, por isso que aumenta suspeitas mas fique tranquila, a escola está ao seu lado.

- Mas a sorte não.

- Talvez esteja, talvez não esteja. Saiba que nós todos estamos do seu lado.

- Mentira! Quero ver o primeiro que vai fazer uma revolta por uma adolescente revoltada! Dúvido.

- Clove, estou tentando te acalmar.

- Não precisa, vai me iludindo que há alguém do meu lado nesse boato. Não me iluda, diretor, o hino do distrito 2 nos ensina muito bem isso.

A frase que menciona ilusão veio em minha cabeça.

"Não vos iludiremos, por nosso distrito batalharemos!"

Sem ilusões. 

Saio da sala e vou pra casa ignorando o último tempo. Acabo indo pra casa no caminho em que vejo a casa de Cato. Parece que Lynx não está lá, ótimo.

Bato na porta e quem atende é a irmãzinha dele, Sasha.

- Ah oi, Clove!

Ela é uma menina que puxou os traços do pai. Cabelos ruivos e olhos escuros. Adorável, muito diferente da família.

- Oi Sasha, o Cato está?

- Sim, entra. Ele tá machucado então nada de beijos...

- Não vou beijá-lo. - ri.

- Não foi o que ele diz enquanto dorme.

Tá explicado como Lynx soube de tanta coisa.

Caminho até o quarto de Cato. Um quarto normal de garoto, totalmente bagunçado com fotos dele e os amigos, família, fotos dos vencedores antigos dos Jogos e etc... computador, armário. Bagunça geral. Me sento na cama dele e o observo. Ele está enfaixado e não engessado, Lynx exagerou muito! Ele está com as mãos sobre o tórax e respira com força. Ao entrar ele sorriu pra mim.

- Não te esperava aqui.

- Não sabia que eu ia vir aqui.

Sasha fecha a porta do quarto e ficamos a sós.

- O que houve? Sua cara não indica coisa boa.

- Sua mãe foi na escola hoje e fez um tumulto.

- Não acredito. - ele revirou os olhos. - Ela é tão idiota!

- Você brigou com ela?

- Ela brigou comigo. Ela ficou com raiva por eu ter chegado tarde em casa naquele dia e suspeitou de tudo, ficou dizendo que a culpa é sua mas isso é bobeira.

Cato tenta se levantar mas e o ajudo a se sentar apenas. Foi um esforço e tanto pra ele.

- Como você está? Todo enfaixado... - digo triste. 

- Você se importa. Que meigo! - ele brinca.

- Estou tentando ser gentil. - digo corada.

- Tá bom... bem estou dolorido, quebrei uns ossos mas eu fico bom rápido. Logo, logo vou poder pular edifícios com você, de novo.

Nós rimos e ele tosse, passo a mão pelo seu ombro e digo meio chateada.

- Não queria que você ficasse assim.

- Nem eu queria ficar assim, mas né... 

- Vamos ter que ficar afastados por um tempo.

- Porque?

- Porquê sua mãe me odeia e de alguma forma, todos estão dizendo que eu matei meu pai.

- Ah isso não é bom...

- Não mesmo.

- Não vamos nos afastar, é agora que precisamos ficar juntos. Você precisa de mim.

- Não, Cato, eu preciso é pensar! - me levanto e ponho as mãos na cabeça. - Isso é complicado, como vou explicar que enterrei meu pai? Com certeza os Pacificadores encontrarão o corpo e eu vou ser julgada! Cato eu não quero isso...

E aconteceu o que eu não esperava, eu chorei um pouco. Me sentei ao lado de Cato e com um imenso esforço pra não sentir dor, ele me abraçou.

- Vamos sair dessa. 

- Cato eu não quero ser Pacificadora nem Avox!

- Não vai ser, se você for eu juro que viro um também, pra fica junto de você.

- Para com as brincadeiras, isso é sério! O que eu faço?

- Você vai ter que responder por tudo isso sozinha.

Me afasto e fito seus olhos.

- Como assim?

- Você sabe como.

Parei pra pensar e cheguei a uma conclusão.

- Não está sugerindo que eu...

- Sim. Você terá que escolher entre salvar sua pele, ou salvar sua mãe.

E com toda certeza... eu não sabia o que fazer.


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Notas finais do capítulo

Ficou fraquinho, mas eu postei 2 em um dia pra compensar os dias perdidos.