Always Attract escrita por Lena Portela


Capítulo 8
Interlúdio


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que a história está M-U-I-T-O diferente da primeira versão. E vocês nem imaginam como ainda vai mudar. Estou tomando cuidado com os acontecimentos para que não se choque com "Catch me". Mas o que posso dizer? Gosto mais dessa versão aqui. Há uma coisa, no entanto; o sentido da história nunca mudou. Embora eu esteja tentada a mudar o titulo da história, no fim ainda vai significar a mesma coisa. Fica a dica. E o Interlúdio de hoje é de um casal que eu amo. Adivinhem?

ps: a banda e, consequentemente, a música citada no trecho são realmente muito boas. Apesar de Almost Lover ser triste de doer, ainda sim, indico para quem gosta de vozes femininas suaves e músicas bem escritas.



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I n t e r l ú d i o

“Adeus, meu quase amante / adeus, meu sonho sem esperança / estou tentando não pensar em você / você não pode apenas me deixar? / até logo, meu romance sem sorte / virei minhas costas para você / eu deveria saber que você me traria dor? / quase amantes sempre trazem. ”

Almost Lover, A Fine Frenzy.




Se havia uma coisa que aprendera era que o tempo era tempo em qualquer parte do mundo. Embora só recentemente tenha necessitado distinguir o que era passado do que era presente. Confundiam-se às vezes, Douglas deu de ombros enquanto jogava seu corpo no sofá e fechava os olhos desejando ter comprado mais cigarros. Não é como se estivesse saudável, todavia. Achava que depois de tudo pelo que sua mente teve de passar, todas as coisas sujas e todos os pecados proibidos, e sonhos e anseios e memórias viciosas, era um milagre que ao menos pudesse diferenciar algo.

Eu te amo. – ela disse. Era como um dia de hoje á noite. Era como se estivesse realmente lá. Sentia o cheiro, o gosto e o sentimento. Sentia até as ondulações no ar que se arremetia contra o vento invisível. Pequenas partículas de poeira que dançavam a luz do abajur. A cabeça dela em seu peito, os dedos dela escrevendo seus nomes em sua pele.

Parecia que realmente havia ficado lá. Cravado, tatuado, rasgado para sempre. Mas quando ele passava a mão sobre a pele só sentia maciez e calor. O rude roce de seus dedos nunca poderia ser comparado aos dela. Eram suaves, mas não por vaidade, era só por ser realmente. Era a pele dela, composta por seu próprio gene. Único.

Oh, claro que havia demorado algum tempo para ele se dar conta disso. Mas até lá vários tons de louro já preencheram suas mãos, varias variedades de maciez já haviam se esfregado em sua pele. Bocas vermelhas tinham estado na sua. Olhos perfeitamente marcados por rímel já haviam borrado por sua recusa. Mas se havia uma coisa que ele nunca tinha conseguido encontrar, que havia o frustrado como inferno, foi aquela nuance de azul. Era azul céu limpo como a casa dos arcanjos. Azul provocante. Azul dominante. Azul doloroso. Azul por Azul. Azul de perda. Azul de dor. Azul que tingia a sua vida de pesares e pesadelos, que o fazia ser quem não era. Não era culpa dela. Não, não, era realmente, realmente tudo culpa dela. Dafne era culpada.

Diabos. Tudo isso o fizera lembrar a irmã. A pirralha tinha cuspido na cara dele o que ninguém mais teve coragem de lhe dizer. Se bem que isso era bem a cara dela, embora, na maior parte do tempo,  o fizesse suave e docemente. O momento que percebeu o que estava acontecendo, o quanto a tinha machucado, foi doloroso. Apegou-se a imagens da infância. Felizes e descomplicadas. Sorriu com as lembranças da pequena garota sempre o idolatrando. Não era papai, era ele. Era ele quem era o seu herói. Desde pequena tinha aquela coisa com ele. Buscando-o com suas mãozinhas se ele fosse muito longe. Sorrindo sorrisos inocentes se ele estava triste. Irmãzinhas têm esse tipo de dom de fazer com que você se sinta meio pai e meio irmão.

O pior foi o olhar de decepção. Suspirou sentindo-se cansado. Se sentido como um homem velho. Onde ela possivelmente tinha ido? O relógio marcava uma hora muito tarde para ser aceitável. Imaginava o pior, estava a ponto de partir em uma busca cega quando a porta abriu de rompante. Mamãe já estava dormindo, afogada em sua depressão. Só poderia ser Suzanna.

Douglas foi caminhou de encontro a porta só para vê-la passar por ele como um furacão. Não olhou em seu rosto. Parecia tão perdida que dava dó. Ele ficou olhando a escada que ela tinha subido tão rápida e perigosamente. Correu suas mãos pelo cabelo. Não se lembrava muito do que fazer com adolescentes problemáticos. Deus, ele era a droga de um! Não deveria estar pensando em formas de lidar com o comportamento de sua irmã de quase 17 anos. Mas quem mais iria senão ele? A mamãe, depressiva e triste? Ou o papai, do mesmo modo, só que com mais a  adição de centenas de quilômetros distante?

Tinha que ser ele.

- Ela vai precisar de um pouco de espaço agora. – disse a voz rouca e feminina de seus pensamentos e desejos mais profundos. Não precisaria olhar para saber, mas o fez assim mesmo. Cabelo louro e a boca vermelha de Afrodite, os olhos perfeitamente marcados de negro, cílios infinitos, olhos de paraíso. Seu coração guinou, querendo ser notado por ela. Deus, a amava. Era uma merda, mas a amava. Não iria fazê-lo por mais ninguém. Não era uma paixonite. Não era atração. Era amor doloroso, que marcava e matava. Que o comia por dentro. Amava-a. Amava-a. Amava-a. E doía tanto. – Você terá que ser paciente. Ela está procurando pessoas que a cosumam, você entende? Ela vai começar a fazer escolhas erradas para evitar a dor.

Entendia isso. Cara, disso tinha todo o conhecimento. – Qual é a história?

Dafne coçou os olhos, como se cansada. O gelo tinha sumido de seus olhos, de sua pose, de sua alma. Com ele era assim. Não era nada sobre alta conta sobre si mesmo, era sobre eles serem perfeitos um para outro. Era sobre conhecê-la tão bem. Todos os aspectos por dentro e por fora de sua redoma de gelo. – Ela está saindo com Kaio.

Hm. Isso o trouxe para o centro da questão novamente. Kaio era seu colega de faculdade, parceiro de “erros”, por assim dizer. O cara era um problema ambulante. Certo que era um bom amigo, mas não um bom cunhado. Não bom o bastante para a sua irmã. Nem de perto. – Ele não é o cara para ela.

- Eu sei. – ela balançou a cabeça em concordância. – Você tem uma boa garota aí.

Seus lábios se ergueram. – Eu sei.

Fez-se um silêncio até que, enfim, ela levantou os olhos azuis para encará-lo. Realmente, realmente encará-lo. Ela sabia o que aconteceria. Ele sabia o que aconteceria. O mesmo de sempre. Amor à milionésima potencia. Saudade mais forte ainda. Sexo. Palavras ditas e não ditas. O desejo dela era o mesmo que o dele, ele sabia. E ela também. Mas sempre havia algo por parte dela, uma fuga, uma desistência. Ela brincava com as batidas de seu coração por nenhum motivo sequer. Porque ele era dela. Era todo e uma parte gigante tirada de todos os lugares possíveis. Homem, era dela. Era-o, não negava. Já havia admitido, amava-a como não amava nenhuma outra mulher. Mas sabia que deveria deixar essa dependência para trás. E consegui-lo-ia porque era forte a tal ponto. Porque depois de tantas quedas a dor se tornava familiar. Iria aprender a conviver com ela. Aliás, já vinha aprendendo dia após dia.

Viu a chance ali, naquele ponto. Viu a partida do desespero. Viu tudo. Douglas aproveitou o momento. Quando a teria sozinha para si outra vez? Olhou para o teto. Olhou para as paredes. Encarou-a. – Deixe-me te segurar, Dafne.

Ela negou. Os olhos arregalados de medo. Passos para trás. Sempre para longe dele.

– Deixe-me, por favor.

Negou-se outra vez.

– Por favor. – implorou para ela.

Balançou a cabeça em uma negativa tão forte que os cabelos soltavam e voavam com o ar. – Não. – disse com a voz de quem quer chorar. Mas não iria fazer. Porque ela era forte. Ela era de ferro e gelo. De diamante.

Ele caminhava encurtando o espaço enquanto ela se afastava. Aproximava-se. Empurrava. – Por favor, por favor, por favor. Só hoje. Por favor. – Implorou. Insistiu.

Venceu-a pelo cansaço.

Dafne abaixou a cabeça e abraçou-se como se esperasse por um golpe. Encolhida ali parecia tão frágil, tão quebradiça que quis voltar atrás. Mas insistiu em si mesmo dessa vez. Puxou-a com força. Abraçando-a, esmagando-a. O cheiro dela chegou até ele como um tapa. Foi tão bom. O calor, a maciez, a sensação de estar em casa. Seu corpo todo relaxou e voltou a vida.

Paraíso. Era isso.

Não resistiu a mais contato e segurou seus cabelos para moldá-la para sua boca. Ela quis se negar, dizer não mais uma vez. Ele não deixou. Empurrou seus lábios nos dela e obrigou-a a senti-lo. Seu suspiro foi de puro prazer. Ela mesma o segurou, puxou, arranhou para chegar mais perto. Bebendo dele com sede e saudade. Ele chorou. Ela não. As lágrimas dele estavam naquele beijo. Servindo de memória para o sofrimento. Ponto de partida para a porta de saída. Quis Inalá-la. Quis trazê-la para dentro de sua pele e fazê-la parte dele como ela era sem nem ser possível. Quis se fundir a ela.

Quis ser o coração dela, como ela era o seu.  Deus, quis tanta coisa que se perdeu no meio caminho do gosto, do cheiro, da marca sangrenta e acabou chorando mais que beijando-a. – Pare, - ela pediu. Limpando as lágrimas dele para longe de suas bochechas. Como se fazer isso tornasse menos real.

Ele olhou para ela uma vez mais. Beijou seus lábios suavemente.

- Vá para casa, Dafne.

Ele não precisou pedir duas vezes.

Douglas olhou o caminho de saída da garota que amava, o ponto central de sofrimento. Depois lançou seus olhos para a casa vazia e triste, a escada por onde sua Irmã havia subido. Respirou fundo.

Era hora de crescer.   


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Notas finais do capítulo

Vocês têm algo a me dizer sobre isso?



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