Passadas algumas semanas trabalhando pro Bob, percebi como ele podia ser uma pessoa meio maluca. Todo dia acontecia alguma coisa estranha com ele e eu me limitava apenas a rir. Certo dia ele disse que todos os animais da loja deveriam ter um crachá, indicando seus números e serem chamados por eles. Infelizmente não deu muito certo com a cobra 32 nem com a Iguana 19.

Bem, é sexta-feira e eu resolvi tirar o dia de folga. Fazia bastante tempo que eu não caminhava olhando as lojas e comprando bugigangas sem utilidades, mas preciosas pra mim. Estava ensolarado apesar do vento frio. O sol brilhava firme e forte apesar das nuvens em sua volta. Cheguei até a suar quando resolvi entrar numa livraria.

Era a que eu tinha pensado em me canditar como assistente, mas infelizmente, não tenho talento pra vender ou/e comprar livros. Pensei em dar uma olhada em quem tinha tomado meu lugar e talvez, escolher algum livro pra ler. Empurrei a porta e meus olhos varreram o lugar quando focalizaram numa pessoa e o resto foi esquecido.

Gerard Way sentava atrás do balcão com um grosso livro em mãos, balançava a cabeça e parecia bastante interessado no conteúdo que tinha em mãos. Não deixei de perceber o modo como molhava os lábios e colocava o cabelo pra trás da orelha enquanto lia. A pele pálida e os olhos verdes não mudaram, mas o cabelo tinha crescido um pouco.

Não ousei me aproximar, não estava preparado. Tinha o mandado embora sim, mas aquele estranho ainda me intrigava. Pensei em sair por onde entrei, correr e nunca mais voltar ali, mas eu não o tinha do quê fugir. Dei um passo a frente e os olhos dele deixaram o papel e olharam pra mim.

- Deseja alguma coisa senhor? – disse. O tom formal me assustou, mas a lembrança de sua voz era demasiada boa demais pra isso e me incomodei.

- Nada eu só... – parecia ridículo tentar explicar afinal eu era um cliente embora não pudesse esconder o incômodo – só estava pensando em dar uma olhada. Faz tempo que não leio um bom livro.

Ele pensou um pouco e colocou o livro sobre o balcão, pra meu pânico ele veio em minha direção e eu fiquei parado sem reação.

- Bem, nesse caso... – começou colocando a mão no queixo pensativo – deveria ler As Crônicas de Gelo e Fogo - A Guerra dos Tronos: livro um.

- É que...

- É um livro grande admito, mas é incrívelmente perculiar a forma como é criada as histórias! Até me sinto nas florestas geladas do norte, Céus! Se fosse você, lia antes de assistir a série. Que também é um máximo! Incrívelmente pelo menos isto os homens fizeram direito. – riu ao recuperar o fôlego e só depois percebeu minha cara de quem não entendia nada e suspirou – desculpe, acho que me empolguei – sorriu – há quanto tempo Frank.

Dei um aceno de cabeça, apesar de estar meio sem graça e lembrar cada detalhe da última conversa que tive com ele, admito que era bom vê-lo.

-  Gerard...

- Sei que falei coisas estranhas na ultima vez que nos vimos, mas se me der uma noite juro que conserto tudo, juro. Apenas  uma noite.

- E se não?

- Então prometo não importuná-lo mais. Tratarei-o como um estranho assim como faço como os outros. Sabe, não é facil pra mim ser eu mesmo com as pessoas, mas você conseguiu tão rápido...

- Devo sentir-me honrado então? – falei irritado.

- Não provavelmente não – fez uma careta triste.

- Aceito então.

Ele sorriu.

- Então próximo sábado à noite, você será meu.