Acordei com o sol frio da manhã batendo na minha cara. Empurei a janela. Tentei dormir de novo, mas meu cérebro estava bem acordado. Suspirei e levantei, bocejando.

Ao entrar na cozinha, coloquei água pra ferver. Peguei o jornal que ficava na caixinha de correio da porta de entrada e voltei. Despejei  café em pó e ao deixa-lo pronto, coloquei na minha caneca favorita.

Sentei na mesa da cozinha e procurei no jornal a única parte que me interessava: os classificados. Precisava arranjar um trabalho logo e ali era um bom lugar pra começar a procurar.

Vasculhei entre os avisos "procura-se mecânico", "vende-se porcelana chinesa autêntica", "entrega-se sushi" e outros... Dois me chamaram atenção: procura-se assistente bibliotecário e ajudante em loja de animais. Pensei em ser assistente, mas eles deviam dar dicas de livros o tempo todo e eu não era bom nisso... marquei a loja de animas Louis Petshop, anotei o endereço e tomei o último gole do meu café.

***

Ao chegar na lojinha, fiquei encantado. A entrada era pintada de azul com uma vitrine grande, mostrando vários brinquedinhos para cães, fotos de gatos, coelhos e pássaros. Uma tv mostrando algum documentário e um cachorrinho de pelúcia muito fofo convidava as pessoas para entrar.

Empurrei a porta e o sininho fez barulho, anunciando minha chegada. Rações, mordedores, aquários, casinhas, brinquedos... Tudo o que se podia imaginar tinha na loja. Havia alguns cartazes de cachorros desaparecidos e no alto uma faixa bem grande com "Proteja os animais!"

Já me sentia perdido dentro daquele mundo quando um cara loiro do cabelo curto, olhos azuis e uma camisa "I love my fish" saiu de dentro da loja. Virei-me e ajeitei a roupa, tentando não parecer o bobalhão que eu me sentia. Ele levantou uma sobranchelha, mas a expressão era amigável.

- Posso ajudá-lo? - perguntou.

- S-Sim - respondi mostrando o pedaço do jornal onde estava o classificado - eu vim me candidatar.

Ele sorriu, pegando o papel da minha mão. Apesar do nervosismo, me senti melhor. 

- Meu nome é Bob - começou - estamos procurando alguém para trabalhar de segunda à sexta de manhã à tarde com pausa para o almoço e aos sábados pela manhã. Você é?

- Frank.

- Ok Frank, se estiver interessado pode começar agora mesmo. Garanto que pago bem - ele riu - e aqui é um lugar adorável, não é? Da pra perceber que sou louco por bichos.

- Estou - dei um sorrisinho - por onde é que eu começo?

O sorriso dele aumentou. Realmente o cara era de bem com a vida, invejei-o por ser tão alegre.

- Primeiro pegue esse avental ali - apontou para o que estava empidurado numa escada em enfrente a uma estante - e você pode começar limpando essas latinhas de comida pra gatos que estão cheias de poeira. Bom trabalho, pode deixar que eu tomo conta do caixa.

Peguei o avental e o espanador, passando superficialmente pelas estantes. Depois, com um pano úmido limpei latinha por latinha, rearrumando-as em ordem de sabor. Quando acabei, percebi que a estante ao lado estava precisando de uma limpeza também, apressei-me a limpá-las antes que algum cliente as notasse.

Bob mostrou gostar do meu trabalho pois me deu alguns tapinhas ao examinar as latas. Passou correndo pro caixa quando um homem de idade barrigudo usando um suéter marrom e jeans entrou na loja.

- Olá sr. Holt! - disse animado.

- Bob - respondeu o homem - como vai?

- Vou ótimo, obrigado. Ração para o Saladin?

- Ah sim, aquele gato fica muito ranzinza quando a comida acaba - sr. Holt fez uma careta.

- Frank, pegue aquele balde cinza lá nos fundos e encha com aquele saco de ração laranja ali, por favor.

- Finalmente arranjou alguém hein - observou sr.Holt - ja tava na hora. O caixa ficava desprotegido com você indo pegar coisas no fundo da loja.

Bob concordou com a cabeça e eu fui em minha missão.

Não deu trabalho pra achar o balde, ele estava em uma pilha de sacos fechados. Peguei-o e voltei para a loja, enxendo-o com a ração que cheirava a salmão. Entreguei ao Bob que colocou numa sacola especial e entregou ao sr. Holt. Ele lhe pagou com uma nota de 10 e saiu acenando para mim e para o Bob.

- Então... - começou ele - de onde você vem?

- Moro em NY há 3 anos. Vim de Wisconsing - respondi com um sorriso sem graça. Fiquei com medo dele me achar um caipira.

- Hmm, interessante. Acho que vamos nos dar bem.

Concordei com a cabeça. Pelo menos ele era um patrão melhor que o John.