Não entendi o que ele quis dizer, mas corei. Seguimos em direção a uma pequena cafeteria que ficava próxima ao parque. Entramos e uma jovem loira, sorridente nos ofereceu uma mesa. Acabamos por escolher uma que ficava próxima a parede e nos sentamos.

- Então, qual é o pedido? - perguntou ela.

- Café normal. - respondeu Gerard. Olhei pra ele, me encarava curioso. O olhar expectativo.

- Capuccino pra mim. - falei por fim.

Ela saiu e o silêncio reinou. Fiquei o tempo todo olhando pro açúcar que ficava na mesa, sem coragem de encara-lo. Tinha muitas coisas em meu olhar que eu temia que ele visse. Não falamos nada até a moça chegar com os cafés. Ela parecia não entender o fato de estarmos tão distantes e quietos. Dava para perceber seu nervosismo porque saiu rapidamente sem perguntar mais nada. Parecia desconfiada de alguma coisa.

Gerard ainda não falava nada. Pegou a xícara, assoprou com cuidado o café quente e o levou à boca, provando-o. Fechou os olhos calmamente, sentindo o sabor. Parecia ser do seu agrado.

- Muito bom - disse, abrindo os olhos - devia tomar o seu.

Tinha quase me esquecido de meu capuccino. Eu não queria admitir que era fascinante vê-lo beber café. Era algo que eu observaria por horas. Ele é um homem muito profundo, sempre marcado por suas expressões e observações. Ele é um mistério, um mistério que eu estava louco pra desvendar.

Tentei tirar isso da cabeça. Ele era apenas um desconhecido, pensei comigo mesmo. Peguei meu capuccino e tomei, estava ótimo.

- Tem razão - falei - muito bom.

Ele sorriu, animado. Voltou a tomar seu café, mas dessa vez não tirou os olhos de mim. Nervoso, dei outro gole no meu, esperando.

- Frank, vejo em seu rosto a dor que carrega.

Ele despejou mesmo isso? Não entendi o porquê daquilo. Ele só me conhecia havia alguns minutos, por que estava tão interessado nos meus problemas, dores e etc? E ele que parecia tão individualista, confiante de si mesmo e afastado das pessoas.... Por que iria se preocupar com um nada como eu?

- Eu vejo toda a sombra da solidão e das frustações pesarem sobre você.

- Por que esta me dizendo isso? - perguntei com a voz fraca. Meus olhos ardiam. Engoli as lágrimas ridículas e voltei a encara-lo.

Ele não respondeu de imediato. Deu um longo gole em seu café e me olhou, sério. Parecia olhar dentro de mim, ver todo o meu passado, todas as dores, todas as noites sem dormir, tudo.

- Porque você precisa de mim.