Fairy Tail! Aratana Densetsu! escrita por Maya


Capítulo 74
Os Garotos Perdidos


Notas iniciais do capítulo

Yo people
Antes de começarem a leitura, sentem-se aqui. Tia Maya quer falar com vocês.
Vocês sabem que eu amo essa fanfic do fundo do coração. Já falei isso uma trezentas vezes aqui. Mas por mais que um autor ame sua história, a falta de comentários dificulta muito o trabalho. A frequência de reviews está caindo cada vez mais. Pra vocês terem uma ideia, o último capítulo foi postado no começo do mês e até agora não recebeu nenhum comentário. Mas, olhem que engraçado, teve 30 visualizações.
Gente, assim complica. Visualização não é feedback. Visualização não me diz no que devo melhorar, não diz o que o leitor está achando. Se tem algo na fanfic que vocês não estão gostando, por favor, digam. Eu aceito qualquer crítica construtiva que vocês tiverem e vou usá-las. Mas vocês têm que mostrar que ainda estão aqui.
É um fato: leitores fantasmas matam autores.
Não estou dizendo que vou desistir da fanfic se ninguém comentar. Eu já teria desistido se fosse assim. Eu amo demais cada elemento dessa história para largá-la. Mas o blog... Talvez ele não resista.
Pessoas, eu criei o blog para e por vocês. Queria que ele fosse um espaço em que pudéssemos interagir mais, em que vocês pudessem ter mais participação. Enquanto fazia as fichas dos personagens, eu pensei muito antes de escolher as músicas temas para cada um, e ficava pensando "Será que o autor dele vai aprovar a escolha da música? Será que os leitores vão identificar o personagem na letra tanto quanto eu?". Esperava que vocês dissessem essas coisas. Mas pelo jeito, vocês nem se deram ao trabalho de ouvir o que eu selecionei. Eu estava tentando me manter firme até agora, mas não vejo mais nenhum sentido em postar no blog. É como falar com as paredes.
Repito que a fanfic não vai morrer. Mas não posso garantir nada quanto à frequência. Não posso garantir que tentarei postar os capítulos o mais rápido possível para vocês não terem que esperar tanto, até porque, às vezes parece que esse "vocês" nem existe.
Preciso agradecer ao uchiha angel, que, apesar de tudo, permaneceu fiel nos comentários. Mesmo quando demora, ele se justifica. É legal ver leitores que se importam, entendem? Esse tipo de leitor pode contar comigo. Se ele pedisse nos comentários desse capítulo para que eu divulgasse uma de suas histórias, eu imediatamente editaria essas notas e colocaria seu link. Divulgaria aqui, no grupo do facebook, para cada fã da categoria que eu conheço. E eu faria a mesma coisa pela Laura chan, que mesmo tendo perdido a conta no Nyah, continuou dando seu feedback pelo facebook. Essa é a boa e velha parceira autor-leitor. E eu quero ter isso com todos. Então pessoal, por favor, eu suplico, deixem seus comentários. Se não podem comentar com frequência por algum motivo, se justifiquem. Eu preciso saber se vocês ainda estão aqui.
E não custa nada repetir: a fanfic vai até o fim. Não se preocupem quanto a isso.
Fiquem com o capítulo.



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“O demônio Mirajane”. Mortis já tinha ouvido esse apelido antes e sabia que era merecido. Mas enfrentá-la agora a fazia sentir algo além de respeito por aquele título: a fazia sentir medo.

Desde o começo da luta, não houve um momento em que Mira não estivesse a socando. A torrente interminável de socos fazia os braços de Mortis, usados para protegê-la, sentirem vontade de se desprender de seu corpo. Ela nem os sentia mais. Também não sabia como sua forma Blood Queen, ativa antes mesmo da luta começar, ainda aguentava o bombardeio. Mortis sabia bem que Mirajane estava fazendo aquilo de propósito: podia tê-la arremessado no chão quando quisesse.

E ela ainda só estava na Satan Soul.

Finalmente a veterana resolveu dar fim ao sofrimento da garota. Parou de socá-la, segurou os braços de Mortis, girou-a e a jogou no chão. Mortis sentiu a dor nas costas, mas tinha de admitir que assim era bem melhor.

– Você vai morrer porque quer defender essa magia estúpida – disse Mirajane. – Ainda acha que ela é uma benção?

Mortis bufou e se ergueu. Levantou a cabeça para Mira.

– Ainda com esse papo? Já te disseram que você é muito irritante?

Mira fez uma careta.

– Não? É a primeira vez? – Continuou Mortis.

– Cale a boca!

A veterana abriu ainda mais as asas e as bateu, disparando como um foguete para cima de Mortis. A garota sabia que isso aconteceria. Saiu do caminho no último momento e esticou o braço para pegar a perna de Mirajane. Sucesso. A puxou pelo membro inferior e a segurou com a outra mão também. Desta mão saíram linhas vermelhas que percorreram a perna de Mira e se enroscaram nela. Mortis enfim a soltou, porém as linhas ganharam forma física e continuaram unidas aos seus dedos. No chão, Mira se virou para tentar tirá-las de si.

– Não adianta. Seu sangue já eu meu.

A moça olhou para ela.

– E o que você pretende fazer com ele?

– Você vai ver. – Mortis puxou os fios. – Bloody Doll.

A ideia original era que a garota conseguisse dominar seu sangue e controlar a veterana. Porém Mira não moveu um músculo.

– Ei...

– Eu posso ser irritante – disse ela. – Mas você é uma idiota.

Foi a vez de Mortis fazer uma careta.

A Strauss tomou impulso com as mãos para se erguer e acertou um pontapé bem no queixo da oponente. Mortis recuou, tonta. Mirajane continuou se impulsionando, dando uma mortal para ficar de pé. E com apenas um movimento se soltou dos fios vermelhos.

– Espero que assim você consiga entender – Mira juntou as mãos e uma esfera negra começou a crescer entre elas – a enorme diferença que existe entre nossas forças.

Mortis se forçou e ficar estável. Deu mais um passo para trás enquanto a inimiga, sem hesitar, carregava ainda mais sua magia. E ficou ali. Observando, esperando. E percebeu que Mira estava errada.

Quando ela disparou o raio, Mortis alçou voo para não ser pega. Mirajane nem teve tempo de redirecionar o disparo. Ela cancelou a magia, mas já era tarde demais. Mortis já tinha travado a mira.

Blood Cannon.

Com as mãos juntas e os dedos abertos em garras, a garota disparou o próprio raio: dessa vez, um potente raio vermelho-sangue, com feixes mais escuros e agitados nas “beiradas”. Não tem como ela fugir, pensou Mortis. Acabou.

Quando o raio atingiu seu alvo, uma grande explosão vermelha se fez. Mortis não saiu do lugar, e por isso foi manchada de sangue quando a onda a pegou. Lá embaixo estava ainda pior: toda a área estava coberta do líquido vermelho. E a veterana bem ali no meio, caída, em sua forma normal. A cor do sangue se contrastava com a coloração preta e branca que preenchia todo o seu corpo. Mortis suspirou e deu um sorriso vitorioso antes de voltar à superfície. Relaxada, dispensou sua forma Blood Queen.

Não devia ter feito isso.

No momento em que Mortis voltou ao normal, Mirajane se levantou. Assim, instantaneamente. Até mesmo macabro. E então, ainda de olhos fechados e suja de sangue, começou a se transformar: asas brancas cresceram em suas costas, assim como os chifres, um em cada lado da cabeça. Seu vestido foi trocado por uma vestimenta preta de listras brancas com decote que deixavam também sua barriga exposta. As ombreiras tinham o mesmo estilo. As pernas e os braços ganharam algumas escamas e se expandiram, desenvolvendo ainda garras. Isso sem falar na cauda que ela adquiriu.

Mortis engoliu em seco. Mira atacou no meio desse ato tão curto: desapareceu de sua vista e reapareceu já com o punho em sua bochecha. Mortis sentiu como se uma bala de canhão a atingisse e foi lançada em alta velocidade para o chão. Mal tocou neste e Mirajane avançou de novo, agarrou suas pernas, girou e a lançou no ar.

No meio de seu voo forçado, Mortis se transformou num ponto de luz enquanto se transformava mais uma vez. Dessa vez, seus cabelos ficaram mais volumosos e ela ganhou asas ainda maiores e marrons, seus pés cresceram de forma monstruosa e suas unhas se transformaram em garras, cobertos por camadas de pelo que iam até perto dos joelhos. Suas mãos também adquiriram garras e pelos, estes subindo até se aproximar dos cotovelos. Seu tronco era vestido por uma túnica cinza com um decote em V. Lá do alto, gritou:

Take Over: Hainu!

Mortis mergulhou. Assim que seu pé direito tocou o chão, uma nuvem de neve se levantou com o impacto causado. Ela correu, cada passo causando um novo estrondo, e não hesitou em colidir novamente com a Mira na forma Halphas. Pelo que pareceram horas, as duas se confrontaram apenas pelos olhares.

E então Mortis abriu bem a boca, exibindo os caninos desenvolvidos, e literalmente latiu. O latido causou um estrondo extremamente maior do que seria normal, com uma potência tão grande que tirou Mirajane de sua vista. Só o que ouviu em seguida foi o barulho oco da adversária caindo ao longe. O movimento ainda criou uma cratera em todo caminho diante de Mortis, que aos poucos começou a ser preenchido novamente.

Mortis deu um suspiro profundo. Voltou ao normal. Sabia que era cedo demais para relaxar, mas estava exausta. “Será que os cachorros ficam cansados assim depois de latirem?”, pensou. Certamente que não. Pelo menos, não desse jeito.

Ela estava tão cansada que, quando viu o círculo mágico enorme crescendo ao fundo, não levantou guarda nem se transformou para esquivar. Apenas caiu sentada no chão, bufou e olhou para um arbusto a alguns metros dali.

– Se não for muito incômodo – gritou –, será que você poderia sair do seu esconderijo e dar uma força?

Deu certo. Na mesma fora a folhagem se mexeu, um volto pulou de trás do arbusto e correu para frente de Mortis, conjurando um círculo mágico tão grande quanto o raio que vinha em sua direção. Seu círculo o absorveu totalmente. Quando toda a magia de Mirajane desapareceu, a figura olhou para a companheira.

– Demorei muito?

– Vá se catar, Caíque.

– Desculpe. – Estava claro que ele não se sentia culpado. – Estava esperando o momento da minha entrada triunfal.

– Tá, tanto faz. – Mortis sorriu. – Seja bem vindo à ação.

Caíque sorriu. Se virou e ajudou a velha amiga a se levantar.

– Com muito prazer.

Foi quando Mirajane irrompeu atrás dele, seguida por uma explosão de vento que fez os cabelos e roupas dos jovens balançarem violentamente.

E ainda assim, Caíque não se intimidou. Mortis ficou observando o amigo sacar a espada negra, a girar na direção de Mira com força e fazer uma rajada cortante de trevas derrubar a inimiga; um movimento tão rápido que qualquer um poderia ficar estonteado.

Mas Mortis não ficou. Mesmo sendo a primeira vez que ela viu esse golpe, conseguiu acompanhá-lo sem problemas. Talvez porque o conhecesse desde pequena, talvez porque já esperasse que ele fosse capaz de algo assim.

Isso não importava agora.

– Não consegue se virar sozinha, hein? – Provou Mirajane. – É tão lamentável ver alguém dependendo dos outros...

A Jeevis deu um passo a frente.

– De quem você está falando? Se não fosse por seus irmãos, você seria apenas mais uma solitária perdida no mundo. Acho que isso significa que você também dependeu deles.

Mira fez outra careta.

– Já disse para você parar de falar essas coisas!

– É tão lamentável ver alguém que não aceita a verdade...

A raiva chegava a transbordar dos olhos da Strauss. Caíque se afastou dela e se pôs ao lado de Mortis.

– É melhor pegar leve – sussurrou em seu ouvido. – Nunca se deve irritar um espírito maligno.

– Vamos, quantos espíritos malignos você conhece?

Mortis notou o quanto o amigo ficou tenso com essa pergunta. Mas então ele suavizou e respondeu:

– Nenhum, mas acontece que é um conhecimento universal, entende?

A garota voltou a olhar para Mirajane. Ela se aproximava em passos lentos e ameaçadores, a aura assassina ficando tão forte que Mortis quase podia vê-la.

– Também é um fato universal que pessoas iradas são pessoas irracionais – retrucou. – Vamos usar isso contra ela.

Caíque também olhou para a adversária e pensou sobre a proposta. Mira já erguia as garras quando ele concluiu:

– Espero que você tenha um bom plano.

– Eu tenho algo.

Mortis avançou, sob os protestos do amigo. Foi novamente sem hesitar na direção de Mirajane, que já se preparava para atacá-la quando a garota se aproximasse mais, porém desta vez Mortis se abaixou e deu uma rasteira por baixo de suas pernas. Mira atacou o nada e acabou tropeçando. Do outro lado, se levantou depressa e invocou sua foice. Atacou mirando bem no meio das costas da oponente.

E Mirajane girou, cortou o cabo da arma com as garras de uma mão e fincou as da outra em Mortis.

Silêncio.

– Mortis...?

A voz de Caíque tremia. Quando tinha sido a última vez que Mortis o ouvira falar desse jeito? Nunca, concluiu. E concluiu também que preferiria nunca ter ouvido.

Mortis baixou a cabeça e viu o sangue escorrendo logo abaixo de seu peito. A dor era lancinante. Ela sentia seu corpo tremer. Começou a suar frio, o que piorou muito a situação. Sentiu algo quente em sua boca e não precisou vê-lo pingar na camisa para saber que era sangue.

Caiu. Mirajane a observou com frieza. Mortis viu Caíque abrindo a boca, mas o grito não saiu – ou ela simplesmente não ouviu. E ficou ali, caída e zonza, apenas observando enquanto Caíque lançava um olhar assassino para Mirajane e se lançava contra ela.

Mesmo em seu estado de semiconsciência, a Jeevis se espantou com a brutalidade de Caíque. O rapaz golpeou as costas da inimiga com força. Quando a moça se virou para contra-atacar, Caíque segurou seu punho com firmeza e a socou no rosto. Havia um ar frio e cruel em seus olhos que Mortis nunca vira antes. Também preferiria nunca ter visto isso.

Mas aquele momento talvez tenha sido necessário. Porque foi ali que Mortis viu que aquele dia havia tido uma repercussão enorme para todos os lados envolvidos, e que ela não tinha sido a única a mudar. Caíque também mudou. Ele agora tinha aquele lado violento que a garota nunca pensou que conheceria. Lutava para matar. E mesmo assim, Mortis o entendia.

–--

– Vocês querem entrar para a Lost Boys?

Mortis assentiu. A garotinha ao seu lado também.

– Por favor, Caíque. Você tem poucos membros e nós somos todos amigos. Também queremos sentir como é fazer parte de uma guilda.

Caíque revirou os olhos e se virou para dentro da cabana.

– Kaio! A Mortis e a Megan querem entrar para nossa guilda. Deixo ou não?

– Não! Kaio é um bobo! Ele não vai deixar – reclamou a garota menor, Megan.

O tal Kaio apareceu na porta.

– Só porque você começou a choramingar, eu não vou deixar. – E mostrou a língua.

Mortis, aos onze anos, fez uma careta para o amigo um ano mais velho. Caíque deu de ombros.

– Ele manda.

Kaio, que aparentava ter a mesma idade de Megan – seis anos – sorriu com orgulho. Tinha cabelos castanhos e os olhos cinzentos um pouco mais claros que os do irmão. Por sua vez, Megan era quase idêntica à irmã mais velha. Parecia que a única coisa que as diferenciava era o corte de cabelo: o de Megan sempre fora mais curto que o de Mortis.

– E boba é você, Megan – provocou Kaio. – Só garotos podem entrar na Lost Boys. É nossa regra.

– Então deviam mudar essa regra, porque desse jeito ninguém quer entrar para sua guilda idiota! – Exclamou Megan.

– Megan, não fale assim – Mortis a repreendeu, acariciando sua cabeça quando a menina ficou cabisbaixa. – Mas isso é verdade. Ninguém parece muito interessado em entrar para sua guilda desse jeito.

Caíque abriu a boca para falar, mas desistiu. Ele e Kaio se entreolharam. Pensaram um pouco antes do mais velho dizer:

– É, talvez vocês tenham alguma razão. Vamos deixar vocês duas entraram como teste. Mas – ele apontou para as garotas –, se mais garotos quiserem entrar na guilda, vocês duas saem. Combinado?

As irmãs sorriram e assentiram juntas.

– Sim!

4 anos depois...

– Mas por que eu não posso entrar na guilda?!

– Eu já disse um milhão de vezes para um milhão de pessoas: a Lost Boys é uma guilda de família!

O jovem visitante abanou os braços e gritou um enraivecido “Deixa pra lá!” enquanto se virava para ir embora. No caminho esbarrou com Mortis, que por pouco conseguiu impedir que um dos sanduíches feitos por sua mãe caísse da cesta. Ela se aproximou de Caíque. Este permanecia totalmente relaxado, sentado na escadinha que levava à sua cabana de madeira, as costas apoiadas nos degraus superiores.

– Expulsou mais um? – Ela perguntou.

– Sim. Um desses caras podia fazer o favor de espalhar na vila que nós não estamos aceitando novos membros. É cansativo ficar dizendo a mesma coisa sempre que alguém chega aqui.

– Você tem que admitir que esse papo de “guilda de família” é meio bobo.

– Não é, não! A marca da Lost Boys é a união da família Koityro com a família Jeevis. Se eu deixasse outra pessoa se juntar à nós, a marca estaria destruída – retrucou Caíque.

Mortis levantou o braço livre e subiu os degraus.

– Você é quem sabe, “Mestre”.

Caíque sorriu. Não tinha visto a amiga fazer aspas com os dedos.

– Acho que sou como o Mestre mesmo, não sou?

Mortis achou graça. O deixou falando sozinho e entrou na pequena sede de sua pequena guilda.

Dentro da cabana, Megan e Kaio estavam sentados um de frente para o outro no chão, jogando alguma coisa com cartas. A garota sorriu levemente – era raro eles conseguirem brincar juntos sem acabarem discutindo – e se dirigiu à mesa, onde colocou a cesta de sanduíches.

– Trouxe o lanche, crianças!

Os pequenos levantaram as cabeças imediatamente. Largaram as cartas no chão e correram para ver quem chegava à mesa primeiro. Kaio venceu depois de empurrar Megan.

– Isso não vale! – Reclamou a menina. – Eu teria vencido se você não tivesse me empurrado!

– Tá, até parece.

– Teria sim! – Megan olhou para a irmã em busca de apoio. – Mortis, você viu que eu ia vencer, não viu?

Mortis não entrou na discussão. Apenas afagou as cabecinhas dos dois.

– Já chega. Eu vou chamar o Caíque, e quando voltar, quero ver os dois sentados e comportados. Pode ser?

Eles concordaram, emburrados. Não teve como não rir de suas carinhas.

Mortis chamou Caíque – que tinha acabado de enxotar mais um interessado na guilda – e o rapaz pulou para dentro de casa. Os mais velhos encontraram seus irmãos sentados à mesa, mas discutindo sobre quem iria pegar o sanduíche maior. Megan dizia que devia ser ela porque tinha sido feito por sua mãe. Kaio defendia seu lado porque ele tinha entrado na guilda primeiro. Caíque e Mortis trocaram risadas, deram tapas nas cabeças dos pequenos e se sentaram para iniciar o lanche.

Aquele foi um dos momentos em que Mortis mais viu sua pequena guilda com os mesmos olhos que Caíque: como uma só família que não podia sofrer alterações. E se sentiu extremamente bem por fazer parte dela.

Naquela noite, todos dormiram na guilda após uma costumeira sessão de história de terror. Já devia ser de madrugada quando Mortis acordou com o calor. O primeiro cheiro que sentiu foi o de fumaça.

Pulou de seu colchonete e viu que Caíque, Megan e Kaio também estavam acordando. Caíque saiu correndo da cabana, que já era invadida pelas chamas. Os outros três o seguiram. Se já estavam assustados antes, sair de seu refúgio os deixou desesperados.

A vila inteira estava em chamas. Não se via sequer uma alma perdida além dos quatro garotos perdidos.

– Mãe...? – Choramingou Kaio. – Mãe! Pai!

Foi quando ele cometeu o grande erro de sair correndo na direção da vila em plena destruição. Caíque seguiu seu exemplo e correu para segurar o irmão. Megan também fez menção de ir, mas Mortis a empurrou para trás. Esse foi seu erro.

Porque nesse momento a cabana desabou e com Megan no lugar errado e na hora errada.

– Megan!

As vigas de madeira, ainda com brasas, soterraram o frágil corpo da menina. Mortis desabou de joelhos e começou a puxar as vigas frenética e inutilmente em busca da irmã. No fundo ela sabia que não podia fazer mais nada, mas acontece que pessoas esperanças também podem ser irracionais às vezes.

A garota só parou quando viu sua mão manchada de sangue. Virou o rosto e vomitou na grama morta. Depois, se levantou tremendo e olhou em volta. Quem tinha feito aquilo? Por quê?

Ouviu um grito. Se virou para trás e procurou sua origem, mas não conseguiu encontrar. A ideia de que fosse de um dos Koityro aumentou ainda mais seu desespero. E então ela viu: um homem vestido de preto, com o rosto coberto por uma máscara. A tristeza deu lugar à raiva. Foi ele, pensou. E correu atrás do suspeito.

O alcançou por pouco. Instintivamente agarrou seu braço e o puxou. A primeira coisa que viu foi o símbolo do castelo negro tatuado em seu cotovelo.

O homem puxou o braço e deu uma cotovelada no rosto de Mortis para afastá-la de si. A jovem caiu no chão com as duas mãos sobre o nariz. Não se levantou. Deixou o sujeito escapar enquanto se debulhava em lágrimas.

–--

Agora, Mortis imaginava o que tinha acontecido a Caíque e Kaio naquela noite. Só então imaginou que, se os dois tivessem escapado, Caíque com certeza teria chegado à cidade com o irmãozinho. A terrível constatação acrescentou em sua dor.

Pensou também que ela tinha achado um novo lar naquele mesmo ano, quando chegou à Fairy Tail. Caíque tinha demorado três anos para se estabelecer numa guilda. Três anos vagando solitário à procura de outros sobreviventes. Não foi capaz de imaginar o que tinha acontecido a ele durante esse tempo, como a dor e a solidão o tinham influenciado.

Bem, uma coisa era certa: ele tinha desenvolvido uma segunda personalidade. Só que Mortis odiava ver o amigo de infância lutando com tanta brutalidade.

Sem conseguir falar alto o suficiente, tentou se levantar. Caíque estava virado de costas enquanto trocava golpes violentos num mano a mano com Mirajane. Caiu novamente. Tentou mais uma vez.

Durante sua terceira tentativa, Caíque carregou uma esfera elétrica na mão e com ela disparou um raio brilhante em Mira. Ela caiu se arrastando no chão e com faíscas percorrendo seu corpo. Porém ela conseguiu levantar e partiu para cima do rapaz com ainda mais fúria. Mortis cambaleou até o amigo com a mão sobre seu ferimento. Caíque disparou mais um raio – dessa vez de trevas – antes de Mirajane se aproximar mais. Foi uma vantagem para ela: Mirajane deixou o disparo chegar mais perto, levantou a mão e o deixou bater nela. Uma esfera invisível rodeou sua mão e refletiu o raio de Caíque para todos os lados.

Mortis se defendeu inutilmente com o braço livre quando viu um dos feixes ir a sua direção. Não precisou disso. O Koityro já estava postado a sua frente.

– Caíque! Você está bem?

– Estaria melhor se você não se metesse! – Ele gritou. Mas aquela voz não era a sua: esta era mais grave, com um quê de maldade. – Dê o fora. Você só vai atrapalhar.

– Como assim? O que deu em você?

Caíque se voltou para ela. Seus olhos, originalmente cinzentos, estavam vermelhos.

– Dê o fora!

– Não! Não vou sair daqui até você me devolver o meu Caíque!

Mirajane reapareceu. Já tinha se transformado de novo: agora os chifres eram menores, os cabelos estavam mais volumosos. Agora tinha uma capa e um sobretudo que, junto das botas e luvas, cobria todo o seu corpo. Sitri.

Mortis tentou se transformar também. Seu Take Over durou poucos segundos. Caíque a afastou com um braço e levou o outro à adversária. Mas Mirajane o golpeou com mais força e o braço do rapaz se voltou contra ele mesmo. Continuou avançando. Seu alvo era Mortis.

– Você deveria estar morta!

Mortis recuou. Por sua vez, Caíque agarrou Mira pela cintura e a empurrou com toda a sua força.

– Deixe ela em paz!

Mirajane cravou as garras em suas costas. Caíque grunhiu, mas não a soltou. Mortis nunca se sentiu tão inútil. Tinha que haver algum jeito de ajudar. Qualquer coisa...

Como se lesse seus pensamentos, Caíque ergueu a cabeça e gritou para a amiga.

– Pode deixar comigo! Apenas fique em segurança!

Sua voz tinha voltado ao normal. Era Caíque de novo.

– Eu já voltei – ele confirmou. – Agora você pode dar o fora, Mortis. Por favor. Ela quer te matar.

Mirajane fincou ainda mais as grandes unhas nas costas do oponente. Caíque gritou de verdade dessa vez. E ainda assim, não vacilou. Mortis não podia permitir que ele se sacrificasse tanto por ela.

Precisou canalizar muita energia e esforço, mas enfim conseguiu transformar sua mão. Ela agora tinha os dedos mais longos e estava dividida nas cores preto e branco. Na palma da mão tinha desenhado um símbolo de alquimia. Foi dele que saiu um único e esforçado disparo giratório, que se revezava nas duas cores estampadas em sua mão.

A esfera de energia explodiu na cabeça de Mirajane e a mão de Mortis voltou ao normal. Ela ofegou. O cansaço valera a pena; Mira soltou Caíque e o rapaz conseguiu derrubá-la. Depois, deu dois passos para trás e empunhou firmemente sua espada com as duas mãos.

– Ó claridade que permeia o dia, ó escuridão que permeia a noite, ó trovões enfurecidos da tempestade! Eu sou seu senhor! Venham até mim! – A espada de Caíque foi envolta por furiosas ondas de luz, trevas e trovões ao mesmo tempo. Mortis teve a impressão de que a lâmia tinha ficado mais comprida para abrigar esses três elementos. – Ten no Kotei!

Ele agitou a espada na direção de Mira, mas Mortis não pôde ver o que aconteceu depois. O brilho foi grande demais e a forçou a tampar os olhos. Quando conseguiu reabri-los, Caíque estava ofegante no chão e Mirajane jazia inconsciente no fundo de um buraco enorme. Mortis ficou boquiaberta.

– De onde você tirou todo esse poder?!

Seu amigo virou-se para ela e correu em sua direção.

– Caramba, eu estava me esquecendo de você! Como você está?

É engraçado com a dor muitas vezes só volta quando nos lembramos dela. A maga de repente sentiu como se estivessem lhe enfiando facas. Caíque a segurou antes que caísse.

– Eu vou te ajudar. Fique calma... Meu Deus, você está muito pálida.

Mortis tremia. A mão que cobria o buraco em seu corpo estava totalmente vermelha. Não se sentia tão mal assim desde aquela noite fatídica.

– Está tudo bem. Eu estou aqui.

Mas ela mal conseguia distinguir Caíque agora. Sua visão ficava cada vez mais borrada. E finalmente, caiu inconsciente nos braços mais seguros que conhecia.


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Notas finais do capítulo

No próximo... (narrado por Dante)
Dois contra um, é? Isso não é muito justo, mas podem mandar ver.
Elfman e Lisaana são bem mais fortes do que parecem. E lutar preocupado não ajuda em nada. Marry foi levada por algum vulto estranho. Ammy foi travar sua batalha com Wendy. Eu me sinto responsável demais pelas duas para conseguir me focar totalmente.
Não... Pare com isso, Dante. Não adianta nada ficar pensando nelas se isso te fizer perder. Vá lá e vença. Você ainda tem uma promessa a cumprir.
Não perca o próximo!
"Cure-se ou se Envenene"
Soreha, sayounará!



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