Fairy Tail! Aratana Densetsu! escrita por Maya


Capítulo 51
Os Trigêmeos Nakamoto


Notas iniciais do capítulo

Yo pessoas!
Primeiramente, gostaria de agradecer ao diego armando pela recomendação. Obrigada mesmo *--*
Enfim, fiquem com o capítulo saindo do forno! Bom proveito ~~



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A neve lá fora continuava a cair, embora não fosse a mesma nevasca de horas atrás. Os poucos habitantes da vila localizada na base do Mt. Haboke andavam sempre muito agasalhadas, mas com muito bom humor. Das chaminés das poucas casas saía fumaça, indicando que seus moradores haviam acendido suas lareiras.

Dentro da pequena pensão que pertencia a uma senhora bondosa, Yume observava a paisagem pela janela, ao lado da cama sobre a qual Kazuo jazia inconsciente. Após o rapaz dizer que ele e seus irmãos precisavam morrer, ele não conseguiu dizer muita coisa antes de desmaiar novamente. Depois de Akane insistir que conseguia andar sozinha, Hiromi ajudou Willy a carregar Kazuo até a vila que o grupo avistara no caminho para a montanha. Demoraram horas, mesmo que não tenham se permitido descansar muito, até que finalmente chegaram. O povo da vila os recebeu com muita gentileza; logo uma senhora os convidou para passar o tempo que precisassem em sua pensão, de graça, um homem lhes trouxe casacos, e uma moça se ofereceu para examinar Kazuo. Afinal, o rapaz teve o corpo enfaixado até o pescoço, e o deixaram em sua cama sob alguns cobertores, com o pessoal do grupo 9 se reservando para observá-lo.

Em seu turno, Yume se sentou em uma cadeira ao lado da cama, tomando uma xícara de chocolate quente preparado pela anfitriã. Dois dias se passaram desde a luta no Mt. Haboke, e o fato de Kazuo não ter demonstrado nenhum sinal de vida que não fosse sua respiração lenta deixava a Dragon Slayer cada vez mais preocupada. Foi ela quem lhe desferira o ataque letal... Não conseguia ignorar a pontada de culpa, por mais que seus amigos insistissem que estava tudo bem, já que foi em legítima defesa.

De vez em quando, Yume se flagrava acariciando a cabeça de Kazuo, afastando uma mecha de cabelo de seus olhos ou segurando sua mão, e parava imediatamente. É só a culpa, repetia mentalmente. Nick é o único que eu amo...

– Ei, garota.

Yume não conseguiu evitar o gritinho de susto ao ouvir a voz do rapaz ao seu lado. Kazuo enfim acordara, e fixava a garota com seus olhos amarelos.

– Kazuo, até que enfim! Como você está?

– Sei lá – respondeu ele. – Não sei dizer ainda.

Ele virou o rosto para encarar o teto.

– Onde estamos?

– Numa vila na base do Mt. Haboke – respondeu Yume. – Estamos aqui há dois dias.

– Dois dias?! – Surpreendeu-se Kazuo, voltando a olhar para Yume. – E você...

– Hm? Não! Digo, eu e pessoal estamos nos reservando para vigiá-lo.

– Ah.

Para o alívio de Yume, alguém bateu na porta. O que menos queria agora era um momento às sós com o rapaz; ficar sozinha com ele acordado era totalmente diferente de quando ele estava inconsciente.

Hiromi entrou no quarto acompanhado de sua namorada, Akane. Os dias de descanso na vila serviram para a garota se recuperar. Estava menos pálido do que quando era vítima de Kazuo, e algumas cicatrizes ainda eram visíveis, mas os ferimentos restantes estavam sendo bem tratados. Além disso, ela já havia mostrado sua simpatia à Yume e Willy, e estava constantemente feliz. Porém, quando viu Kazuo acordado, ela agarrou o braço do namorado.

– Relaxa – disse o Dragon Slayer, ao perceber o estado da garota. – Não pretendo te machucar de novo.

Sempre que lhe perguntavam sobre o que acontecera quando ela era prisioneira, Akane respondia que não se lembrava de nada. Yume ainda se perguntava se ela só não queria falar tudo em voz alta, ou se o trauma fora tão grande que ela inconscientemente havia apagado da memória.

– Eu vou avisar aos outros que você acordou – disse Hiromi. – Yume, o café está na mesa.

– Obrigada, Hiromi. Pode ir na frente.

O rapaz olhou desconfiado de Yume para Kazuo, e vice versa. Enfim, se retirou do quarto ao lado da namorada.

A garota fixou o olhar na porta por um momento, até voltar-se para o garoto ao seu lado. Este a encarava. Yume ficou novamente envergonhada, mas o sentimento foi substituído por culpa quando Kazuo se sentou, revelando as faixas que o cobriam até o pescoço.

– Desculpe por ter feito isso com você – falou ela, em voz baixa.

– Não se incomode com isso. Você estava se defendendo. Eu era o vilão.

Yume tornou a se calar. Não importava que todos repetissem que era não tinha culpa, pois ela não tirava da cabeça que ferira seriamente uma pessoa. Era angustiante se lembrar disso toda a vez que olhava para Kazuo.

Desviando o olhar do rapaz, fez a perguntava que martelava em sua cabeça desde o final do primeiro dia do final.

– O que você quis dizer quando disse que você e seus irmãos precisam morrer?

Com o silêncio que se seguiu, a garota voltou a olhar para o rapaz. Kazuo tinha os olhos fixos nas mãos, e uma certa tristeza estava estampada em seu semblante.

– É melhor contar isso pro grupo inteiro de uma vez. Vá tomar café, e volte mais tarde o resto do pessoal. Eu juro que contarei tudo.

Atordoada, Yume assentiu, se levantou de sua cadeira e fechou a porta do quarto ao sair. Algo na voz de Kazuo a deixara preocupada e ainda mais curiosa.

Quando chegou ao primeiro andar, a maga viu seus colegas de grupo, Akane e a dona da pensão sentados à mesa, tomando o café da manhã enquanto conversavam. Deu um bom dia a todos e se sentou ao lado de Nyra.

De todos os membros do grupo, Yume simpatizara mais com Nyra. Quando era a vez de Hiromi ou Willy de vigiar Kazuo, as duas saíam para passear na vila ou simplesmente se sentavam na sala da pensão para conversar, conversando sobre assuntos diversos e contando histórias. Bem, Yume contava histórias. Se a Dragon Slayer perguntasse à amiga se a mesma tinha alguma história para contar, Nyra respondia que não tinha nada de muito interessante. Yume estranhava, mas não insistia.

Por outro lado, a Willy e Hiromi se tornaram praticamente rivais. Não se odiavam, contudo, discutiam por qualquer coisa e faziam de qualquer coisa uma competição. Quando saíam do controle, Nyra e Akane corriam para separá-los, e de alguma forma tudo virava uma grande piada.

Yume já estava gostando e fazer parte do grupo 9.

– Kazuo disse que nos explicaria tudo mais tarde – disse Yume.

– Já? Não deveríamos deixá-lo descansar um pouco antes? – Perguntou Nyra.

– Que nada! – Respondeu Willy de boca cheia. Hiromi lhe lançou um olhar de nojo. – Ele tá dormindo desde que a gente chegou! Já descansou o bastante.

– Ele estava em coma – corrigiu Akane. – Também acho que precisa de um tempo pra absorver tudo antes de contar qualquer história.

– Bem, a decisão foi dele – disse Hiromi tranquilamente. – Se ele quer contar agora, não vamos impedi-lo.

As garotas trocaram olhares surpresos.

– Hiromi e Willy... Concordaram em alguma coisa? – Debochou Nyra, com uma expressão claramente fingida de espanto. – E não é piração minha? É, o mundo vai acabar.

As garotas riram. Hiromi apenas esboçou um sorriso sarcástico.

– Não. O mundo vai acabar quando essa piada realmente tiver graça – revidou ele.

Todos começaram a rir. Nyra fuzilou o amigo com o olhar, mas se juntou às gargalhadas. A dona da pensão apenas observava a alegria dos jovens com um sorriso no rosto.

Quando os membros do grupo 9 e Akane entraram no quarto de Kazuo mais tarde, encontraram o rapaz sentado em sua cama, com o cobertor o cobrindo até a cintura. Ele olhava pela janela do quarto, fitando o horizonte. A neve agora caía um pouco mais forte do que antes.

– A dona da pensão fez isso para você – disse Yume, depositando uma xícara de chocolate quente no criado mudo ao lado da cama.

Havia no quarto duas cadeiras e uma poltrona que ficava ao lado de uma pequena estante de livros. Yume e Nyra se sentaram nas cadeiras e Akane ficou com a poltrona. Hiromi e Willy permaneceram de pé, com as costas encostadas na parede. Os cinco ficaram encarando Kazuo, esperando ele começar a falar.

O ferido ergueu os olhos para eles. Estava sério, com as sobrancelhas levemente franzidas. Yume imaginou se a história que estava prestes a contar o machucaria. Porém, quando ia falar algo para confortá-lo, Kazuo começou.

– Vou contar tudo de uma só vez, porque não quero mergulhar nessa lembrança por muito tempo, mas alguém teria que contar uma hora ou outra. Então tentem acompanhar.

Todos assentiram, e Kazuo deu início à história.

–--

Fiore, X837

Devia fazer mais ou menos dois dias desde que saíram de Clover Town. Por mais espertos que fossem os dois irmãos, já tinham perdido completamente o senso de direção e o de tempo. Ter sobrevivido até ali, porém, já era um grande feito considerando que os garotos tinham apenas seis anos.

Sempre que Kazuo olhava para o irmão minuto mais velho, Kouji, via o arrependimento de ter fugido da cidade pesando sobre ele. Mesmo sabendo que os moradores da cidade cuidariam deles, o medo falou mais alto e os gêmeos fugiram sem pensar duas vezes. Kazuo sabia que Kouji se sentia responsável por ele, mas não o culpava.

Eles pararam para descansar depois de Kazuo se queixar de dores na perna. Não sabiam onde estavam; a floresta parecia infinita. E para piorar, não tinham o que comer.

– Eu vou procurar algumas frutas – disse Kouji. – Não saia daqui. Eu volto logo.

Mas o pior de tudo era o estado de Kouji. Desde a morte dos pais, o garoto não sorria, não chorava e estava sempre sério. Era angustiante.

Kazuo obedeceu e permaneceu sentado ali enquanto o irmão buscava comida. Minutos se passaram, e nenhum sinal de Kouji... Então, viu um vulto. Kouji ergueu a cabeça, esperando ver o irmão, mas se enganou. Um bando de roedores rosados surgiram diante de si. Kazuo gritou, e os monstrinhos pularam em cima do menino.

Um dos Goblins atacou sua perna, fazendo o garoto chorar de dor. Ele segurou a perna e fechou os olhos, enquanto levava mais arranhões dos pequenos monstros...

– Fiquem longe!

Kazuo tornou a abrir os olhos, e viu Kouji balançando um galho para espantar os roedores. Eles se dispersaram por um breve momento antes de avançarem contra Kouji. Kazuo tentou se levantar para ajudá-lo, mas as dores nas pernas e a ferida o impediram.

Foi quando um raio de luz rosado atravessou o espaço entre os dois meninos, acertando os Goblins. Os pequenos monstros se levantaram e fugiram imediatamente.

De trás das árvores saiu um homem de cabelos negros e sujos, combinando com a barba malfeita. Usava um paletó negro amassado com uma marca no ombro, sem nenhuma camisa por baixo, uma calça bege encardida e sapatos que pediam uma graxa.

– Quem é você? – Perguntou Kouji, ainda com o galho na mão.

– Eu? Eu sou apenas uma viajante, que vaga por aí a procurar de prodígios. Me chamo Ethan. E vocês, garotos?

– Eu sou Kouji. E aquele é Kazuo.

O tal Ethan examinou as duas crianças atentamente. Por fim, voltou a encarar Kouji.

– Então, Kouji, Kazuo... Vocês estão sozinhos?

Ambos assentiram. Ethan sorriu.

– Bem, podem me chamar de anjo da guarda, então. Vocês têm algum pedido?

– Como assim? – Kouji estranhou.

– Façam um pedido. Qualquer um. Eu lhes atenderei. Em troca, terão que fazer um simples favor para mim. Que acham?

Kouji hesitou por um instante. Então, olhou de relance para o irmão e disse:

– Faço o que você quiser. Mas tem que realizar nossos pedidos agora!

Ethan levantou os braços.

– Sim, senhor chefe. O que você deseja?

– Quero que cure meu irmão – pediu Kouji. – Cure seus ferimentos e tire seu cansaço.

O homem levantou as sobrancelhas com a surpresa.

– Pode pedir qualquer coisa! Tem certeza de que quer gastar seu pedido com outra pessoa?

– Não é outra pessoa, é meu irmão! – Esbravejou o menino. – Dou a minha palavra que farei o que você quiser; apenas cure-o!

Ethan cedeu. Caminhou até Kazuo e ajoelhou-se em sua frente. Estendeu a mão, fazendo um círculo mágico surgir. Aos poucos, a ferida na perna e os arranhões de Kazuo, deixando-o completamente intacto.

– Obrigado, moço.

– Não foi nada. E qual é o seu pedido?

Kazuo já sabia o que pedir desde o dia em que os pais foram enterrados.

– Nos dê uma família.

Dessa vez, Ethan ergueu apenas uma sobrancelha.

– Sério? Uma família?

– Desde que nossos pais morreram, Kouji mal sorri. É difícil viver sem eles, e eu quero ver meu irmão sorrindo de novo. Por isso eu quero que a gente tenha uma família de novo.

O homem esboçou um pequeno sorriso e se levantou.

– Muito bem. Vocês terão uma família; eu cuidarei de vocês como se fossem meus filhos. Mas você jura que fará sua parte do acordo, Kazuo?

O menino assentiu e também se levantou. Kouji o olhou com surpresa e gratidão. Ethan acariciou a cabeça de Kazuo com uma mão e segurou o ombro de Kouji com outra, e os guiou para fora daquela floresta infernal.

–--

– E ele realmente nos tratou como filhos – disse Kazuo. – Nos deu seu sobrenome e nos tornamos a família Nakamoto.

– E o que isso tem a ver com...

– Paciência, Willy – interveio o Dragon Slayer. – Eu ainda não terminei.

Willy ficou calado, e Hiromi lançou um olhar de deboche para o rival.

Yume via o sofrimento no rosto de Kazuo. Ele parecia ficar um pouco mais triste a cada palavra; contudo, não conseguiu dizer qualquer palavra de consolo e nem dizer que podia parar um pouco. Queria ouvir a história até o fim. Queria entender o porquê de os supostos trigêmeos estarem fadados à morte.

– Nós vivemos na casa de Ethan, em Shirotsume. Eu e Kouji fomos felizes; não era a mesma coisa que viver com nossos pais, mas tínhamos uma família de novo. Então... Mais ou menos duas semanas depois de começarmos a viver com Ethan, tivemos que cumprir nossa parte do acordo: tornarmos Dragon Slayer da Quarta Geração.

Os membros do grupo 9 ergueram as sobrancelhas e se empertigaram, concentrando-se ainda mais nas palavras de Kazuo.

– Nunca me disseram para onde Kouji foi, mas eu fui enviado para o ponto mais alto do Mt. Haboke. Era lá que eu selaria o contrato.

– Contrato? – Estranhou Hiromi.

– Dragon Slayers de Quarta Geração não são criados por dragões, não têm Lacrimas, e muito menos treinados são por eles. Nós fazemos uma troca: entregamos nossas almas aos dragões e recebemos seu poder.

As garotas gemeram.

– Então... – Começou Nyra. – Sua alma...

Kazuo simplesmente balançou a cabeça. Deu um suspiro profundo e retornou à história.

–--

O frio era muito intenso. Kazuo sentia como se cada órgão de seu corpo estivesse congelando. Porém, tinha que fazer isso. Tinha que manter sua palavra e cumprir sua parte do acordo.

– Ó grande dragão Magnos, Lorde do paraíso congelado, senhor do frio! Eu, Kazuo Nakamoto, solicito sua presença!

Segundos angustiantes depois, a neve simplesmente parou no meio do ar, e rapidamente voltou a se mover. Todos os flocos de neve se juntaram para formar um furacão diante de Kazuo, que firmou os pés e protegeu o rosto com as mãos. Quando voltou a abrir os olhos, soltou um grito involuntário de surpresa.

No meio do furacão, a imagem de um dragão surgia. A neve se dispersou e o garoto pôde ver melhor: um dragão azul-claro, quase branco, o encarava com seus olhos amarelos penetrantes e intimidantes, e Kazuo sentiu os próprios olhos amarelos arderem. Suas garras eram muito brancas, sua cauda de espinhos era longa e havia uma camada de neve sobre suas escamas. Um ar de ferocidade e superioridade rondava o grande dragão.

– Por que me chama, jovem mortal?

Kazuo tremeu ao ouvir sua voz estrondosa.

– Eu... Eu vim aqui para jurar lealdade ao senhor, Lorde Magnus!

O dragão bufou e examinou o menino. Kazuo sentiu um formigamento passar por todo o seu corpo. Era como se Magnus estivesse tomando posse de cada pedaço do garoto...

– Seis anos? Incomum. Mas com essa idade, não será difícil de manipular...

Kazuo engoliu uma resposta. Ele e Kouji sempre foram maduros para a idade deles. Ouvir o dragão falando daquela forma, como se fosse um fraco por causa da idade, o deixava irritado.

– Muito bem, garoto. Você tem consciência de que entregará sua alma para mim quando fizermos o pacto de sangue?

O menino assentiu. Suas entranhas se contraíram; entregar a alma era uma ideia apavorante. Mesmo assim, não podia recuar. Era tarde demais. Quando aceitou o acordo de Ethan, só visava o seu bem e o de seu irmão. Não pensou que teria que fazer algo tão assustador.

Kazuo sentiu uma fisgada de dor que o fez gemer. Um fio de boca saiu de sua boca e voou até o dragão, que abriu a boca cheia de presas tão brancas quanto suas garras e o engoliu. Por um breve momento, um feixe de luz vermelha ligou o garoto ao dragão.

– Sua alma é minha agora, Kazuo Nakamoto. Em troca, concedo-lhe parte do meu poder.

Kazuo foi surpreendido por uma onda de energia que invadiu seu corpo, agitando suas roupas e cabelos como uma lufada de ar. Outro furacão de neve foi feito, e o dragão desapareceu.

O menino ficou parado ali, aturdido. Uma vontade louca e repentina de sorrir o invadiu, e um sorriso estranho brotou em seu rosto. Respirou profundamente; o ar gélido da montanha de repente o fazia bem. Kazuo tirou o casaco e as luvas. Não precisava mais deles. Não sentia mais frio. Ali, sentia-se ainda mais vivo.

Aquele era o seu território.

–--

– Naquele dia, me tornei o Dragon Slayer da Neve. E Kouji se tornou o Dragon Slayer da Luz. Ele estava tão estranho quanto eu.

– E onde entra Kenta na história? – Indagou Willy.

Kazuo encarou o colega de guilda por alguns segundos antes de responder.

– Ele apareceu algumas semanas depois. Ethan passou o dia inteiro fora, e quando chegou em casa trazia Kenta no colo. Ele estava desmaiado. Ethan nos disse para tratá-lo a partir desse dia como um irmão que sempre tinha convivido conosco, que agora éramos os trigêmeos Nakomoto e que ele era o Dragon Slayer do Inferno. Não explicou muita coisa, mas quando Kenta acordou no sofá da sala, obedecemos. Agimos como se ele simplesmente tivesse dormido o dia inteiro ali, e aos poucos Kenta foi se acostumando. Fez exatamente o que Ethan queria: admitiu que aquela era a vida que sempre teve. – Ele fez uma pausa. – Nós entramos na Pegasus naquele mesmo ano. Ethan era o mago mais forte da guilda, então fomos muito bem recebidos.

O silêncio predominou no quarto. Kazuo havia explicado como conheceram o tal Ethan, como se tornaram Dragon Slayers e que Kenta era um bastardo, e muito provavelmente seu nome verdadeiro era mesmo Hayato. Só não havia dito o motivo de eles precisarem morrer.

– Então você não tem alma? – Perguntou Nyra. – Parece normal para mim.

– Eu ainda tenho minha alma – respondeu Kazuo. – Só que eu a compartilho com Lorde Magnus. Ele a domina. Me deixa sobre o controle o tempo todo, mas quando precisa de mim, toma posse de minha alma sem nenhum aviso prévio. Quando isso acontece, ele controla todas as minhas ações e eu perco domínio sobre meu próprio corpo... Foi o que aconteceu quando eu os ataquei.

– Aconteceu alguma outra vez? – Indagou Yume.

Kazuo assentiu e olhou para Akane. A garota tremeu.

– Sinto muito por aquilo. Ethan queria nos mostrar o quanto era "natural" torturas as pessoas, e nos trouxe a pessoa mais vulnerável que encontrou... E a usou para demonstrar isso. Nós três relutamos, mas nossos dragões decidiram nos dominar. – Kazuo respirou fundo. – Quando eu soube que o grupo de Hiromi iria ao Mt. Haboke, levei Akane até lá para entregá-la. Só que o Lorde Magnus tomou posse de novo...

– Como sabia que ela me conhecia? – Perguntou Hiromi.

– Eu... Eu ouvi ela falar seu nome enquanto dormia.

O garoto da Eletro Magic corou e olhou para a namorada, tão corada quanto ele. Eles sorriram um para o outro.

– Enfim, é exatamente o fato de nós três termos entregue nossas almas que nos torna ameaças – continua Kazuo. – Esses três dragões... Magnus, da Neve, Rector, do Inferno, e Lucem, da luz... São conhecidos como os Três Dragões Demoníacos. Se a pessoa que quer jurar lealdade a algum deles, tal dragão decidirá se ela tem potencial para se tornar sua serva e, se aceitá-la, a manipula para realizar seus objetivos. Cada um tem seu próprio ideal, e nenhum deles é bom para nós.

O rapaz tomou alguns goles de seu chocolate quente antes de continuar.

– Lucem quer um mundo sem magos, principalmente sem Dragon Slayers; assim ele teria mais facilidade em conquistar a humanidade. Aposto que está manipulando Kouji a matar os magos e depois se matar. Magnus quer um mundo apenas de pessoas que considere fortes, por isso me fez atacá-los; ele os considera fracos. E Rector quer que todos os seres do planeta se o reverenciem e estejam sob o seu comando. Tentou controlar Kenta, mas... Ele é mais esperto do que nós dois juntos. Nunca confiou em Rector, e conseguiu resistir ao seu controle. O problema é que eu e Kouji fomos idiotas. Não o ouvimos quando ele tentou abrir os nossos olhos.

Ninguém abriu a boca enquanto Kazuo continuava a beber seu chocolate quente. Em seguida, ele depositou a xícara vazia no criado mudo e continuou a falar.

– Enquanto nós, os herdeiros dos Dragões Demoníacos, continuarmos vivos, todos nós estaremos em perigo. Entendem?

Yume balançou a cabeça.

– Se as ligações entre vocês e os dragões forem rompidas, não precisaremos matar ninguém.

– E como você acha que faríamos isso?

– Nem suspeito. Só sei que vocês definitivamente não vão morrer. Não assim.

Os dois se encararam, provavelmente por mais tempo do que deveriam. Yume esperava que sua expressão transmitisse alguma confiança. Kazuo, entretanto, estava ficando cada vez mais vermelho. Ela então percebeu que também sentia o rosto arder.

– B-bem... – Gaguejou ele. – Desculpe, pessoal. Eu preciso descansar um pouco.

Os cinco ouvintes assentiram. As garotas se levantaram e todos saíram do quarto. Antes de sair, Yume olhou para trás; Kazuo estava se deitando, com um braço sobre o rosto, como se quisesse esconder qualquer expressão de sofrimento.

–--

No dia seguinte, Yume se levantou antes de Nyra e Akane, suas companheiras de quarto. Foi ao banheiro e trocou o pijama pelo suéter marrom, calça azul e botas marrons que havia pegado emprestado ao chegar na vila. Abriu a porta silenciosamente para não acordar as garotas e saiu.

– Yume.

A garota abafou um gritinho de susto. Bem ao lado da porta estava Kazuo, com suas tradicionais roupas da Blue Pegasus. A garota estava prestes a perguntá-lo se não sentia frio usando roupas tão finas quando se lembrou: Kazuo se sentia ainda melhor no frio. Yume ainda achava a ideia meio bizarra.

– Eu só queria agradecer pelo que você disse ontem – disse ele. – Obrigado mesmo. Mas não tem jeito.

– Tem que ter!

– Não tem. Não dá para cortar nossas ligações com os dragões; estamos amarrados a eles por cordas invisíveis – insistiu o rapaz. – Eu também adoraria que tivesse. Um pena as coisas não serem assim, não é?

Yume se calou e baixou a cabeça. Atrás dela, Nyra e Akane saíam do quarto e passavam pelos dois em silêncio.

– Ethan.

O nome dele simplesmente apareceu em sua mente, e antes que a Dragon Slayer da Terra pudesse pensar nisso, falou em voz alta. Kazuo a encarou, confuso.

– Como assim?

– Ethan... Deve ter algo a ver com isso. Você mesmo disse que, quando ele os encontrou, falou que era um viajante "a procura de prodígios". E se os dragões aceitam como servos apenas aqueles em quem vê potencial...

– Então, você acha que Ethan tem algo a ver com os dragões?

Yume assentiu lentamente.

– E isso significaria que teremos que dar um jeito nele para cortar nossos laços, certo?

Ela assentiu mais uma vez.

– Por favor, esteja errada – murmurou Kazuo. – Eu não conseguiria machucar Ethan.

– Claro. Eu entendo – disse Yume. – É só um chute, não precisamos levar a sério.

Kazuo sorriu singelamente.

– De qualquer forma, obrigado por acreditar que eu e meus irmãos não precisamos morrer.

Yume devolveu o sorriso.

"Pessoal? Estão acordados?"

A voz de Yuri pegou os dois de surpresa. Ambos ficaram em total silêncio e olharam para cima, como se o amigo estivesse por ali.

Depois de Yuri, todos seus amigos começaram a falar ao mesmo tempo. Yume não conseguiu conter um sorriso. Era muito aconchegante ouvir a voz de todos novamente, mesmo que estivessem discutindo e fazendo uma bagunça.

Aliás, era exatamente isso o que tornava o momento tão bom.

"Hiromi, Willy! Cadê a Yume?"

Nick. Nossa, como era bom ouvi-lo de novo! A garota ainda considerava uma injustiça a missão começar logo depois de eles darem início ao namoro, mas ouvir sua voz já a animava. Contudo, tinha algo estranho em sua voz que a deixou preocupada...

– Nick! Graças a Deus! Como você está?

A vozes de seus amigos atrapalharam o discurso, mas Yume não ficou irritada; era ótimo saber que todos estavam bem o suficiente para fazer sua tradicional algazarra.

Ao seu lado, Kazuo suspirou e apoiou as costas na parede. Ambos ficaram em silêncio até Yuri cancelar a comunicação.

– Eles são muito barulhentos – murmurou ele.

– Bem, você é um de nós, então não deveria se surpreender tanto.

Kazuo voltou a olhar para ela.

– O quê?

– Ora, somos todos companheiros. Por que você seria uma exceção?

– Porque... Você sabe!

Yume riu de leve.

– Ninguém vai deixar de te apoiar por causa daquilo. Todos nós carregamos dores do passado, e sempre apoiamos uns aos outros. Não será diferente com você.

Kazuo ficou um tempo sem saber o que dizer. Por fim, apenas disse:

– Obrigado, Yume.


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Notas finais do capítulo

No próximo... (prévia narrada por Nick)
É muito bom finalmente reencontrar o pessoal.
É claro que não fui o único a passar por um momento marcante até chegar aqui. Mas... O que aconteceu com o pessoal? Embora seja compreensível que ninguém queira falar muito, ver a tristeza em seus rostos sem poder dizer nada para consolar é péssimo.
Eu espero que possamos superar tudo o que aconteceu nesses dias. De qualquer forma, temos que nos concentrar; a missão ainda não acabou.
Não perca o próximo!
"Entre os Dois Mundos"
Soreha, sayounará!



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