Once Upon A December escrita por Dorothy Eaton


Capítulo 2
O Estranho de Púrpura


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 2, espero que gostem!



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Acordar é o mesmo tormento de sempre. Todo dia, exatamente às cinco horas, as irmãs batem de porta em porta acordando todas as garotas, para a missa matinal. Eu não dormi bem, como era de praxe, meu sono toda hora era presenteado com um pesadelo, me fazendo acordar assustada muitas vezes durante a madrugada. Ainda com sono, passo as mãos pelos olhos para espantar o sono. Pulo da cama, literalmente, tentando ser a primeira a chegar ao banheiro.

Imagine dividir o quarto com nove garotas diferentes, e você entenderá meu tormento. Não que seja de todo ruim, mas a privacidade se torna nula com nove pares de olhos bisbilhotando a sua vida diária. Como se os olhos das freiras não fossem o suficiente para descobrir cada segredo sombrio que seu coração tenta esconder. Graças à minha sorte, uma das meninas já está na minha frente e me dá língua ao deslizar com facilidade para dentro do banheiro. Suspiro e me apoio na parede, rezando silenciosamente para que minha colega de quarto não demore demais. Minha cota de atrasos já é bem grande sem a ajuda de ninguém.

Mau reparo quando Minie se enrosca nos meus pés. Ela é a gata da madre, grande e malhada, com o pelo fofo e cinzento. Tem listras amarelas por todo o corpo, e manchas pretas ao redor dos olhos que lembram dois tapa-olhos ou até mesmo um óculos redondo. Ela é uma “Vira-lata” já que ninguém conseguiu descobrir a que raça pertence. Ela é grande como um persa, mas tem um jeito siamês de ser, uma mistura adorável, na minha opinião. Distraidamente, acaricio atrás de suas orelhas em um gesto bastante comum entre nós.

– O que será que eu era antes de vir para cá? – indago olhando no fundo dos olhos da gata, e por um instante, quase acredito que ela vai responder. Depois dou uma risada incrédula, por causa da minha própria imaginação. “Não seja estúpida, Ana. O que uma gata pode saber sobre o seu passado?”, me repreendo mentalmente. Neste momento, irmã Larissa abre a porta com as mãos na cintura. – O que as senhoritas pensam que estão fazendo aqui paradas? O toque de levantar já soou! – sua voz é severa. – Não é nossa culpa – uma voz resmunga atrás de mim – Miranda não quer sair do banheiro!

Os olhos da freira perscrutam todo o quarto, olhando o rosto de cada uma das garotas ali, inclusive eu, procurando talvez por algum indício de mentira. Como não acha, fecha a porta com uma força surpreendente para uma mulher de meia idade e todas ouvimos seus passos soarem pelo chão de pedra do corredor. Como que aproveitando o caminho limpo, Miranda sai do banheiro enxugando o grande cabelo loiro, e mira seus olhos azuis na garota que a entregou para a irmã. – Agradeço pela consideração, Flor-de-Liz. – sem esperar pela resposta, entro no banheiro.

A primeira coisa que percebemos quando entramos no banheiro, é a incrível falta de espelhos. De acordo com as irmãs, na Bíblia está escrito que é pecado ser vaidosa então qualquer tipo de coisas que remetam a esse pecado, como maquiagem, espelhos, roupas demasiado curtas, revistas de moda e qualquer outra coisa que a mente das freiras possa pensar são proibidas. Por um lado é bom, já que não sou obrigada a encarar minha total falta de beleza toda vez que entro no banheiro, mas as outras meninas fazem questão de me lembrar disso todo dia. Eu tento não me importar, juro que tento, mas quando muita gente diz a mesma coisa por muito tempo, você acaba acreditando. Não demoro demais no banho, não posso me permitir esse luxo. Então logo passo minha vez para a próxima da fila, que é a própria Flor-de-Liz.

Ela tem uma beleza exótica, assim como seu nome. Grandes olhos verdes, uma pele bronzeada e um rosto redondo são as principais características da garota. Seus pais eram adeptos de um movimento “verde”, o que explica o seu nome. Ela foi a que teve mais sorte, já que suas irmãs se chamam Melodia Solar e Estrela Azul. Aceno para as garotas que restam na fila, sete ao total, e me dirijo para a missa. Meus passos são lentos, já que espero chegar apenas no final do evento matinal. Mas a sorte não resolve aparecer para mim, e Irmã Larissa está no corredor, de costas para mim, encostada na parede. Antes que eu me esconda, ela se vira e me vê parada no corredor. – O que está fazendo aqui, garota? Já para a missa, agora! Agora! – ela repete a última palavra para ter certeza de que eu entendi, e assim que me livro dela faço uma careta.

Antes que eu vá embora, ouço-a sussurrar alguma coisa com alguém e chego mais perto para tentar escutar. Minha mente me repreende, mas minha curiosidade é maior que minha consciência. – ...Ela não está pronta... – tento chegar mais perto. - ...A carta... – só mais um pouco – ...O colégio... – e piso em falso. Ela se vira para o lugar onde eu estava um segundo antes, e eu consigo ver um vislumbre da pessoa com quem ela estava falando. Prendo a respiração quando ela chega perto de mim, mas fora a roupa estranhamente púrpura, não consigo distinguir mais nada. Assim que se afastam, vou correndo para o salão onde acontecem as missas matinais.

Caminho vagarosamente até um dos bancos vazios, o que significa o segundo banco da fileira, mais perto da madre superiora do que seria saudável estar. – Onde você estava? – Miranda cochicha, do banco atrás de mim. Todas as meninas já estão ali, e todas estão curiosas esperando pela minha resposta. – Eu... – não consigo terminar. A madre olha em minha direção e coloca um de seus dedos nos lábios, pedindo silêncio. Dou de ombros, gesticulando para as garotas. “Conto depois” formo as palavras com os lábios, esperando que estendam.

Viro-me para a frente e lanço um olhar para a irmã Larissa que acaba de chegar. Durante toda a missa, minha mente fervilha de perguntas sobre a estranha figura que vi mais cedo. 


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