Ronald mal dormiu aquela noite. Não conseguia parar de pensar no que aconteceria no dia seguinte: iria visitar a fábrica do pai de Hermione. Estava ansioso, nervoso, feliz e preocupado. Esta era a oportunidade que ele tinha para mostrar ao Sr. Granger que era uma boa pessoa, e convencê-lo de uma vez por todas de que ele era bom o suficiente para Hermione. Infelizmente, Hermione não iria com eles porque tinha que ir na escola, e isso deixava Ronald mais nervoso ainda: seria só ele e o sogro.

Ele tinha combinado de se encontrar com o Sr. Granger as 8 da manhã na frente da fábrica. Assim que o celular despertou, Ronald pulou da cama e logo estava pronto para ir. Quando estava montado na moto, pronto para dar a partida, seu celular tocou: era uma mensagem de Hermione. Ronald sorriu ao ler: “Vai dar tudo certo! Não fique nervoso. Te amo.”

Ainda faltavam 20 para as 8 quando Ronald parou a moto no estacionamento da fábrica. Ele esperou um pouco e logo viu o carro do Sr. Granger entrando. Quando a porta do carro se abriu, Ronald teve uma surpresa desagradável: Cormac também estava lá.

- Bom dia! – cumprimentou alegremente o Sr. Granger. – Faz muito tempo que você está esperando, Ronald?

- Não! – respondeu o rapaz. – Cheguei há uns 10 minutos.

- Você conhece o Cormac aqui, não é? – perguntou o Sr. Granger fazendo um gesto em direção a Cormac que acenou arrogantemente com a cabeça. – Ele normalmente fica no escritório que é em outro lugar, mas ele insistiu muito para me acompanhar até a fábrica hoje... – houve um breve silêncio desconfortável antes do Sr. Granger voltar a falar: - Vamos entrando, então.

Ronald acompanhou o Sr. Granger e Cormac até a entrada. Conforme eles foram andando por todo o local, o Sr. Granger explicava e mostrava a Ronald todos os processos. O rapaz ficou maravilhado com tudo que via, já que sempre foi interessado por essas coisas. Cormac andava atrás deles como uma sombra, sem dizer uma palavra. Parecia estar vigiando cada passo de Ronald.

Já haviam percorrido grande parte da fábrica quando um homem chamou o Sr. Granger. Cormac aproveitou a oportunidade e se dirigiu a Ronald pela primeira vez:

- E aí, está gostando? – perguntou com desdém.

- Muito. – respondeu Ronald seco.

- Se eu fosse você, não me sentiria “em casa” tão cedo. – continuou Cormac, de olho no Sr. Granger que conversava com o funcionário a uma certa distância.

- Pelo que a Hermione me conta, é você que se sente em casa demais. – disse Ronald.

Cormac riu e disse:

- Eu sou praticamente um dos herdeiros de tudo isso.

Ronald ergueu as sobrancelhas.

- Você é ainda mais imbecil do que eu pensava.

Cormac abriu a boca para responder, mas o Sr. Granger voltava para os dois, então ele ficou quieto e apenas lançou um olhar de ódio a Ronald.

Eles continuaram a andar pela fábrica. Ronald e o Sr. Granger estavam entretidos, conversando. Eles se entendiam muito bem e logo Ronald nem se lembrava mais do nervosismo que tinha sentido antes. O Sr. Granger se mostrou maravilhado com os conhecimentos em mecânica de Ronald. Depois de terem visto toda a fábrica, o Sr. Granger o levou até a sua sala. Eles se sentaram e o Sr. Granger encarou Ronald por um segundo antes de falar:

- E então, o que você achou, Ronald?

- Nossa, eu não tenho nem palavras. Eu simplesmente adorei, nunca pensei que um dia eu pudesse entrar em uma fábrica desse porte e ver todos esses processos ao vivo.

O Sr. Granger sorriu para ele.

- Que bom que você gostou. Sabe, desde aquela nossa primeira conversa na minha casa aquele dia, eu estive pensando em uma ideia que eu tive. O que você acha de vir trabalhar aqui?

Ronald arregalou os olhos. Não estava esperando por isso. Perdeu até a fala, enquanto Cormac se engasgava.

- Sabe, eu sempre quis passar meus conhecimentos de mecânica para os meus filhos, mas eles só se interessam mesmo pela administração. E você se mostrou muito interessado e tem muito domínio sobre o assunto. Eu preciso de uma pessoa aqui para ajudar a coordenar os processos. No começo você seria apenas um assistente, mas depois que adquirir bastante conhecimento podemos até pensar em um cargo de maior importância. E se você tiver interesse, a empresa pode te pagar a faculdade de Engenharia Mecânica. Não foi isso que você disse que queria fazer?

Ronald estava muito emocionado. Continuava olhando para o Sr. Granger sem saber o que dizer. Nunca sonhou que isso poderia acontecer.

- E então, o que você me diz? – insistiu o Sr. Granger.

- Sim, eu aceito! – respondeu Ronald por fim. – É claro que eu aceito!

- Ah, que bom! Vou te dar mais esta semana pra você acertar as coisas com o seu patrão da oficina e na próxima segunda você começa.

Neste momento, a secretária entrou na sala:

- Sr. Granger, a reunião no setor 3 já vai começar.

- Claro, já estou indo. – ele se levantou. – Cormac, peça para o motorista te levar ao escritório, tem muito trabalho por lá. Ronald, até mais. – e ele saiu.

- Parabéns. – disse Cormac pela primeira vez desde que tinham entrado na sala. Ronald até se assustou, tinha esquecido que ele estava ali. – Mas eu já vou te avisar que esse seu emprego não vai durar muito.

Ronald se levantou e ficou de frente para Cormac, encarando-o.

– E por quê?

- Simplesmente porque esse seu namoro com a Hermione não vai durar. Eu a conheço melhor que ninguém e eu sei que logo ela vai se cansar de você. Ela sempre foi assim com tudo: fazia de tudo até conseguir um brinquedo, e depois que conseguia não demorava muito a se cansar e deixar de lado. E você é só mais um brinquedinho dela. E esse seu emprego só vai durar até ela terminar com você.

- Cala essa boca. – disse Ronald, sem paciência. Ele saiu da sala antes que ele se descontrolasse e desse mais um soco na cara de Cormac. Já era hora do almoço e ele ia buscar Hermione na escola.

No caminho, montado em sua moto, a cabeça de Ronald estava a mil. Se sentia muito feliz com a proposta do Sr. Granger e não via a hora de contar tudo para Hermione. Mas as provocações de Cormac também latejavam em sua mente. Hermione já o tinha trocado por Cormac uma vez, o que a impediria de fazer isso de novo? E se Cormac estivesse certo? Hermione era uma menina mimada, e se ela logo se cansasse de Ronald? Ele sacudiu a cabeça tentando afastar esses pensamentos. Hermione não era mais a mesma, muitas coisas tinham acontecido.

Quando Ronald parou a moto na frente da escola e viu Hermione ir correndo em sua direção com um sorriso enorme no rosto, sentiu-se culpado por ter pensando aquilo dela e por ter deixado que Cormac o envenenasse. Quando ela jogou os braços em volta do pescoço dele e o beijou, Ronald sentiu que podia confiar nela. Ele sim a conhecia, não Cormac.