Nem mesmo Hermione sabia dizer o que estava sentindo. Ela estava com muita raiva de sua mãe, mas admirou-se ao perceber que não estava ‘revoltada’. Mesmo sabendo que não era filha do seu pai, ela não se sentia diferente, continuava sendo filha dele, como ele mesmo disse. E ela não tinha realmente nenhum interesse em saber quem era esse amante da mãe. O que ela mais sentia era pena do pai, toda a humilhação pela qual ele deve ter passado, mas ainda assim ele amava Hermione e passou por tudo isso por ela. Parecia que até aquele momento ela nunca tinha percebido como tinha sorte de ser filha dele.

Era verdade que o Sr. Granger muitas vezes foi um pai ausente, sempre trabalhando, não demonstrava carinho, mas Hermione sempre se sentiu amada por ele. Ele sempre demonstrou mais preocupação com ela, sempre fez de tudo por ela. Quando era pequena, seus irmãos diziam que ela era a ‘queridinha do papai’. E seus irmãos? Será que eles já sabiam disso? Será que passariam a tratar Hermione diferente quando soubessem? Hermione ficou pensando nisso praticamente a noite toda.

Quando acordou no dia seguinte, estava muito cansada, mas não queria faltar da escola porque não queria ficar naquela casa com a mãe e a empregada.

- Nossa, amiga! Quer um corretivo? Você está com olheiras enormes. – disse Parvati, assim que Hermione entrou na sala de aula. Elas estavam se falando novamente, mas Hermione não confiava mais nela como antes, por isso não contou o que tinha acontecido. Só que ela precisava falar com alguém, mas não tinha com quem dividir o que estava sentindo. E durante a manhã toda essa angústia foi crescendo dentro dela e parecia prestes a explodir quando a aula terminou.

Foi só quando viu a moto de Ronald parando em sua frente na hora da saída que Hermione se lembrou que tinham combinado de conversar.

- Oi! – disse Ronald, sorrindo.

Hermione deu um sorrisinho em resposta. Não estava animada nem para conversar com ele.

- Que aconteceu? – perguntou Ronald, reparando na cara de Hermione. – Não está de ressaca outra vez, né? – ele riu, mas parou ao ver a tristeza de Hermione.

- Ronald, será que a gente pode conversar outro dia? – perguntou Hermione, querendo ir embora antes que começasse a chorar na frente dele.

- Claro. Mas o que aconteceu, eu posso te ajudar? – perguntou Ronald preocupado.

Hermione balançou a cabeça negativamente e não conseguiu mais segurar: as lágrimas começaram a cair contra a sua vontade. Ronald saiu da moto e foi até ela. Segurou Hermione pelos braços, tentando impedi-la de correr.

- Hermione, calma. – ele disse, ainda segurando a garota. As pessoas começaram a olhar. – Vamos sair daqui. – Ronald a conduziu até a moto, eles montaram e foram embora.

Durante todo o caminho, Hermione chorou silenciosamente agarrada as costas de Ronald. Quando a moto parou ela viu que estavam cercados de árvores. Hermione desceu da moto e olhou em volta: ela conhecia esse lugar. Era a cachoeira, o lugar onde ela e Ronald tinham se beijado pela primeira vez. Ultimamente ela pensava muito nesse lugar e achava que nunca mais o veria de novo. Mas lá estava ela. Ronald a observava. A pegou pela mão e os dois andaram em silêncio até o lugar onde a cachoeira caía.

Eles se sentaram em uma pedra na beira do rio e Ronald perguntou:

- Então, o que aconteceu? – ele pegou as mãos de Hermione.

Então ela começou a falar e chorar ao mesmo tempo. Contou tudo. Disse tudo que pensava, tudo que estava sentindo. Chorou mais um pouco e quando acabou percebeu que se sentia muito melhor. Ronald a ouviu com paciência sem dizer nada. Hermione ficou olhando a água da cachoeira que caía.

- Obrigada por me escutar. – disse ela, por fim. – Você não tinha obrigação nenhuma. Ainda mais depois do que eu te fiz.

- Eu sei. – ele disse apenas.

- Ronald, me fala o que eu tenho que fazer pra você me perdoar? Eu faço qualquer coisa! – disse Hermione de repente. – Olha, se serve de consolo, o Cormac me enganou e eu sofri muito. Ainda estou sofrendo por ter perdido você.

Mas Ronald continuou calado, sem olhar para Hermione.

- Você trouxe ela aqui? – perguntou Hermione de repente.

Ronald a olhou sem entender.

- A sua namorada. Você trouxe ela aqui? – insistiu Hermione. Nem ela sabia por que estava perguntando isso. Só de pensar que Ronald pudesse ter ido àquele lugar especial com outra pessoa era desesperadora. Antes que ele pudesse responder, porém, Hermione disse:

- Bom, também, você traz quem você quiser, eu não tenho nada com isso...

- Eu não trouxe ela aqui. – interrompeu Ronald. – Você foi a única. E eu não vou trazê-la aqui, porque ontem eu terminei com ela.

Hermione arregalou os olhos.

- Você terminou? Por que? – perguntou a garota.

Ronald deu uma risada desanimada.

- Porque eu não consegui esquecer você. Não consegui. E eu fiquei com muita raiva de você por isso. Mais raiva do que quando você me trocou por aquele idiota. Porque eu fiquei acabado e nunca ninguém tinha conseguido me deixar tão mal assim antes. Só você. Eu sabia que eu tava entrando na maior roubada me envolvendo com uma garota como você, que era questão de tempo até você se cansar de mim e voltar a procurar os riquinhos com que você sempre esteve acostumada. Mas mesmo assim eu não consegui ficar longe de você. E quando você terminou comigo eu não sabia se eu tinha mais ódio de você ou de mim. Porque eu sabia o tempo todo que era isso que ia acontecer.

- Ronald, eu não me cansei de você! Eu fui uma iludida, cega! Eu sabia que você era o melhor pra mim, mas eu me deixei enganar por uma fantasia que eu mesma criei na minha cabeça. – disse Hermione.

- Eu não quero passar por aquilo outra vez.

- Mas isso não vai acontecer. Porque eu não sou mais a mesma pessoa que eu era quando te conheci. Graças a você, eu acho que eu sou melhor hoje. Porque eu... t-te amo. – Hermione sentiu o rosto queimar ao dizer as últimas palavras e olhou rapidamente para o outro lado. Ela não planejava dizer aquilo. Ela simplesmente disse e sabia que era verdade. Quantas mil vezes ela afirmou a si mesma que amava Cormac? Mas agora ela viu como era burra. Ela nem sabia o que era amor naquela época! Mas agora ela sabia, tinha certeza que o que sentia por Ronald era amor. Era muito mais que gostar, era um sentimento que parecia ter nascido com ela, mas que só agora ela tinha descoberto. Por causa de Ronald.

Hermione olhou para Ronald e viu que ele sorria. Ela sorriu também. Então, Ronald se curvou para ela e a beijou. Ela não acreditava que isso estava acontecendo, mas não quis pensar em mais nada. Apenas se entregou àquele beijo que parecia estar salvando a sua vida.

Eles se soltaram e se olharam nos olhos.

- Eu também te amo. – disse Ronald antes de voltar a beija-la. Uma lágrima escorreu do olho de Hermione, mas desta vez era uma lágrima de felicidade.

Eles continuaram a se beijar cada vez mais. Hermione estava deitada na grama beijando Ronald e ela sabia o que ia acontecer. Mas ela não estava com medo, porque estava com Ronald e ela queria aquilo também. Percebeu que tudo que Parvati tinha lhe contado era mentira e que ela não precisava de champanhe nem de uma lingerie ridícula. Tudo que Hermione precisava estava ali. Ela tinha certeza de que amava Ronald e também tinha certeza de que ele a amava. Então ela deixou que aquilo acontecesse porque sabia que era a hora.