A semana foi passando e Ronald não ligou mais. Hermione não ia dar o braço a torcer, era orgulhosa e estava muito acostumada as pessoas correrem atrás dela. Mesmo assim, ela se sentia muito triste, não gostava de ficar sem falar com ele, de saber que ele talvez estivesse com raiva dela. Ela pensou muito sobre aquela briga que, na verdade, nem tinha sido uma briga. Não acreditava que uma besteira daquelas pudesse ter deixado Ronald tão chateado. Várias vezes ela pegou o telefone, pensando em ligar para ele para resolver a situação, mas não teve coragem.

– Mione, se isso tá te fazendo tanto mal assim, liga pra ele e pronto! – disse Parvati na hora do intervalo na escola.

– Eu não vou ligar! – respondeu Hermione. – Quando foi que você me viu correr atrás de alguém, Parvati? Não vai ser agora que eu vou começar. Não vou me humilhar.

– Mas isso não é se humilhar! Se você gosta dele, tem que lutar por ele.

– Quer saber? Você tá me irritando também com essas frases de novela mexicana. – disse Hermione rispidamente, levantando-se e deixando Parvati sozinha.

Mas quando chegou o sábado à noite, Hermione não aguentava mais. Já tinha brigado com metade do mundo e seu mau humor só piorava. Ia ter que fazer alguma coisa, não podia suportar isso. Ao mesmo tempo em que queria ligar para Ronald, estava morrendo de raiva dele por tortura-la desse jeito. Pegou o celular com as mãos trêmulas e ligou.

– Oi. – disse a voz de Ronald do outro lado da linha.

– Oi. – respondeu Hermione. Após alguns segundos de um silêncio constrangedor, ela perguntou: - Tudo bem com você?

– Tudo ótimo. – respondeu Ronald. Se ele estava querendo parecer seco, estava conseguindo.

– Que bom. Comigo também está tudo ótimo, obrigada por perguntar. – A irritação de Hermione recomeçou a aumentar. Ronald continuou calado.

– Olha, se você não queria falar comigo, devia ter inventado uma desculpa pelo menos ou nem ter atendido o telefone. – disse Hermione.

– Não, eu não sou de inventar mentiras. – respondeu Ronald.

– Tá querendo dizer o que com isso? Que eu sou mentirosa, é isso? – Hermione alteou a voz.

– Isso é você que está dizendo. – respondeu Ronald, simplesmente.

– Quer saber? Eu não devia nem ter ligado. Eu não fiz nada de errado, não sei por que você ficou bravinho de repente...

– Eu não fiquei “bravinho”! – interrompeu-a Ronald. – Eu fiquei foi de saco de cheio de tentar demonstrar o quanto você é importante pra mim e receber indiferença em troca. Cansei de ficar que nem um idiota do seu lado enquanto você pensa em outro cara!

Hermione não sabia o que responder.

– Chega disso. Eu não vou ficar lavando roupa suja pelo telefone. A gente precisa conversar de verdade, então se você quiser parar de se esconder e resolver isso logo... – começou Hermione.

– Ótimo! Pede pro seu queridinho te trazer aqui amanhã e a gente conversa. – respondeu Ronald.

– Não, eu prefiro que você venha me buscar! – disse Hermione que já tinha passado do seu nível de irritação máxima.

– Desculpa, mas você sabe que eu não sou bem-vindo na sua casa.

– Antes você não se importava com isso.

– Agora me importo. Não vou a um lugar onde não me querem, não preciso disso.

– Tá bom! – berrou Hermione. – Muito obrigada pela consideração! Amanhã eu dou um jeito de ir aí na sua santa residência então. Tchau. – Hermione desligou antes que ele desligasse na cara dela.

Jogou o telefone do outro lado do quarto e afundou o rosto no travesseiro para abafar o grito que estava preso em sua garganta. Que ódio! Ela tinha ligado pra ele querendo resolver as coisas, com a melhor das intenções e ele trata ela desse jeito? Se fosse outra pessoa, Hermione com certeza a desprezaria, mas não podia fazer isso com Ronald, mesmo que quisesse. Apesar de toda raiva que estava sentindo, ela sabia que só iria ficar bem depois que falasse com ele.

Cormac aceitou leva-la aquela tarde. Hermione não tinha contado a ele que estava brigada com Ronald, por algum motivo desconhecido, ela não queria que ele soubesse.

Bateu na porta. Logo Ronald apareceu e Hermione entrou com o nariz em pé, uma postura que ela usava quando não queria demonstrar o que sentia.

– Posso sentar? – perguntou a garota.

– Pode. – respondeu Ronald. Os dois ficaram em silêncio, sem se olhar.

– Então... – começou Hermione. – Fala logo.

– Falar o que? Foi você que quis vir aqui. – respondeu Ronald. Hermione respirou fundo, querendo se livrar de toda raiva que estava sentindo e se levantou antes de dizer:

– Pois é. Acho que eu nem precisava ter vindo aqui. Você está deixando bem claro que não faz mais questão de olhar na minha cara. Fala de uma vez que quer terminar tudo e acaba com esse sofrimento! – Hermione não queria chorar, mas conforme foi falando não pôde impedir que as lágrimas escorressem por seu rosto.

Ronald olhou para ela pela primeira vez, parecendo um pouco surpreso.

– Que foi? Se você queria me deixar mal, parabéns, você conseguiu! – continuou Hermione, enquanto Ronald apenas olhava para ela. – Você disse que eu te trato com indiferença, mas se isso fosse verdade, eu não estaria aqui me humilhando na sua frente. Mas se você quer indiferença é isso que você vai ter. – disse ela, limpando as lágrimas com a mão e se encaminhando para a porta.

– Hermione, espera! – disse Ronald, finalmente, segurando o braço da garota. – Desculpa se eu fui muito grosso com você... Mas parece que eu só tenho parte de você comigo, enquanto a outra parte fica sofrendo por causa de outro. Isso é insuportável, você não imagina como.

– Tudo bem. Você tem razão, eu sei que deve ser difícil pra você, mas pra mim também é! Eu gosto dele desde que eu nasci, eu nunca conheci nada diferente. Mas eu estou conhecendo agora com você e eu estou me esforçando muito, porque eu quero que isso dê certo. Mas eu também sei que não posso te obrigar a aguentar isso, então eu entendo que você não queira mais ficar perto de mim. Infelizmente.

– Não. Eu quero ficar perto de você! Você já me mostrou que está sendo sincera... Eu vou correr o risco. – Ronald se inclinou e beijou Hermione, que sentiu todo aquele peso e aquela angústia finalmente irem embora assim que seus lábios tocaram os dele.