Tomei o máximo de cuidado que pude, torcendo para que ele não me visse. Não conhecia muito bem o caminho que ele percorria, porem, não estava com medo. Precisava descobrir o que estava acontecendo.

Depois de quase meia hora dirigindo, vejo Ariel parando a moto atrás de uma árvore, logo á frente tinha um depósito fechado. Um lugar estranho, mal iluminado, o que dificultava minha visão.

Ariel entrou no depósito abandonado.

Tirei os sapatos, qualquer barulho que fizesse podia denunciar que tinha alguém ali, meus pés tocavam a grama mal cortada.  Na parte lateral do depósito tinha uma janela quebrada, me abaixei ao lado dela e então pude ver que ele não estava sozinho.

O outro homem estava de costas.

-Pensei que não viesse mais – disse o homem por alguma razão. Aquela voz não me era estranha.

-Só quero acabar logo com isso – Ariel falou, sua voz era séria, mas ao mesmo tempo...

-Sabe que não vou voltar com você, não é? Eu encontrei a garota, uma descendente direta – disse o outro homem – bonita, inteligente, se eu não estivesse precisando dela...

-Fique. Longe. Dela – Ariel ameaçou – Se você fizer alguma coisa com ela, eu...

-O que? – provocou o homem – O que vai fazer comigo anjo?

“Anjo?”

E então o homem riu.

-Você se apaixonou por ela – disse o homem.

Senti um aperto no peito.

Ariel continuou calado.

-Um anjo apaixonado por uma humana. Que tragédia... Não queria estar na sua pele – debochou – Você sabe, certo?

Ariel não respondeu.

“Sabe o que?”

Ele continuava a dizer “anjo” como se estivesse chamando Ariel assim.

Respirei fundo, o ar passava por meus pulmões com dificuldade. E como se ele pudesse ler meus pensamentos, disse:

-Elizabeth O’brien.

Meu peito parecia que ia explodir. Eles estavam falando de mim.

“O que eu tinha a ver com aquilo?”

-Ela não tem nada a ver com essa história – Ariel respondeu, seu tom de voz passou de calmo para agressivo num segundo.

-Ah, qual é? Sei que você quer isso tanto quanto eu – gritou o homem – Quer ter sonhos, fazer planos, amar de verdade, quer ter uma vida!

-Nós temos uma vida – Ariel argumentou.

O homem riu novamente.

-Mesmo não tendo certeza do que pode acontecer, eu quero arriscar, e só ela pode me ajudar. – Ignorando o que Ariel havia falado, o homem que estava com ele disse, havia sofrimento em sua voz.

-Ela não sabe de nada.

-Vai negar que não quer ficar com ela? Não quer tentar?

Ariel não negou.

-Não tenho esse direito, não quero vê-la sofrer - disse – Eu a amo.

Sem perceber, andei até a porta do depósito e quando dei por mim já tinha entrado, eles pararam de falar, Ariel olhou para mim sem dizer nada.

-Quando ia me contar? Porque mentiu para mim esse tempo todo? – falei, não tinha mais o controle de mim mesma.

-Elizabeth – Ariel sussurrou.

-Anjo? Porque não me disse? Eu... Eu perguntei há você e... – lagrimas de raiva escorriam de meus olhos violentamente.

-Porque não acaba com isso logo? – disse o homem, ainda não conseguia ver o rosto dele.

-Fica fora disso – Ariel gritou. Assustei-me.

-Era tudo mentira, o tempo todo. Porque deixou que eu me envolvesse? Eu... Eu era o que menos importava para você, não é mesmo?

“Anjo.”

Não conseguia aceitar que tudo aquilo que ele tinha dito para mim era mentira. Todo o tempo que passamos juntos.

“Anjo.”

O tempo todo, ele queria apenas... virar humano.

“Anjo.”

Agora, tudo fazia sentido.

-Não queria que fosse desse jeito, se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente. Lizzie, eu...

-Mas não pode! Não pode reverter o que já está feito! – gritei em meio as lagrimas.

-Não acha que está na hora de contar a ela a verdade? – O que tinha mais para saber? – O homem misterioso finalmente entrou em meu campo de visão.

Kaliel.