A Hospedeira - Antes e Depois da Chuva escrita por Rain


Capítulo 11
Capítulo 11 - Intensos e Confusos


Notas iniciais do capítulo

Olá, flores! Já que vocês curtiram tanto a amizade de Mel e Ian, resolvi dedicar um capítulo só para eles dois. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/234933/chapter/11

E foi assim que mais um item foi adicionado à minha rotina sem Peg: manter-me vivo, proteger o tanque, esperar e... Cuidar do Pequeno Sol. Era assim que eu a chamava, pois não sabia seu nome e ela não era mais Pet. Ainda não era Peg, tampouco. Será que os olhos dela se abririam para trazer de volta a consciência de uma criança inocente no corpo de uma adolescente? Seria uma complicação e tanto!

— Tracy? Você tem cara de Tracy – disse Mel, mais uma vez tentando acordá-la.

Nós dois nos dedicávamos integralmente a essa tarefa. E todos os amigos de Peg vinham ajudar a manter o corpo saudável e hidratado. Tínhamos até uma escala. E todos os cuidados que tinham sido tomados com o corpo de Jodi estavam sendo repetidos com Sol.

— Pamela, então? Pam? Você está aí? – insistia Mel, repetindo os esforços de Peg com Candy. – Você se lembra de Pet? Sente falta dela? Ela está bem, mas agora você está livre e já pode acordar. Abra os olhos se estiver aí...

— É inútil, Mel. Tudo isso é inútil. Só estamos pondo o corpo de Sol em perigo.

— Sol?

— Sim, é assim que eu a chamo – respondi sem graça.

— Por quê?

— Porque ela é... luminosa.

Mel me olhava com uma expressão ao mesmo tempo terna e curiosa.

— Você já gosta dela, não é? Já consegue enxergar Peg nela.

— Desde o início.

— Mas ela é tão diferente! De mim, eu quero dizer. Você se apaixonou por Peg quando ela tinha a minha aparência – disse Mel, com uma expressão no rosto que só podia ser...

— Ciúmes, Srta. Stryder? Você está com ciúmes? De mim?

— Ah, não seja tonto, Ian! Você sabe que eu amo Jared. Aliás, se ele estivesse aqui, ficaria furioso com você por dizer isso.

— Não, Mel. Ele ficaria furioso é com você! Porque você está com c-i-ú-m-e-s de mim – provoquei, soletrando a palavra que a irritava tanto.

— Você está particularmente irracional hoje!

— E você está particularmente humana hoje, então estamos quites!

Mel acabou rindo da discussão boba que estávamos tendo e o riso a desarmou.

— Fique sabendo de uma coisa: se você falar desta conversa com Jared ou com Peg ou com quem quer que seja, eu te esfolo vivo, entendeu? Mas eu acho que tive um pouco de ciúme, sim. Você acabou se tornando muito importante para mim, na verdade.

Eu queria dizer: “você não teria coragem de esfolar meu lindo courinho”, mas a sinceridade dela desmontou minha piada. Subitamente, a conversa se tornou intensa demais para ser desviada com brincadeiras. Uma das coisas que sempre me ajudou com as mulheres foi saber quando essa hora chegava.

— É, eu sei. Você também é importante para mim. É estranho, né?

— Sim, muito estranho. Quando acordei, depois que a Peg nos deixou, eu senti sua falta. E tive muito medo de que você me odiasse.

— Eu não te odiei. Nem por um segundo. Mas eu não sabia como me sentir em relação a você. Para falar a verdade, ainda não sei muito bem. Só sei que gosto que você esteja perto de mim.

— Eu também me sinto assim – ela admitiu.

Mel estava completamente vulnerável agora. E eu também. Estávamos mesmo precisando organizar nossos sentimentos um pelo outro. Ela hesitou um pouco, mas depois de uns segundos perguntou:

— Você tem ciúmes de Jared?

Eu não respondi imediatamente porque não sabia o que dizer. Tentei imaginar como eu me sentia quando via Jared tocando o corpo dela. Eu tinha andado tão ocupado com toda sorte de sentimentos desconcertantes ultimamente, que não tinha tido tempo de me concentrar em algo tão simples.

— Não. Pensando bem, acho que não.

— Isso é bom – respondeu Mel, meio decepcionada, mas bastante aliviada. – Eu também não acho que sentiria ciúmes de você com Peg. Quer dizer, eu senti um pouco de ciúmes de você achar Sol bonita, mas é porque ela ainda não é Peg.

— Isso é bom – repeti, espelhando também a expressão mista dela – Então acho que nós somos amigos mesmo, não é? Às vezes a gente sente ciúmes dos amigos. Eu acho.

— É. Acho que sim. A gente nunca vai entender exatamente o que acontece entre nós, pelo jeito. É tudo intenso e confuso demais.

— Pode apostar! Intenso e confuso é meu sobrenome, ultimamente.

— Ian O’Shea Intenso e Confuso? Nã... Não fica bonito, não. Quem sabe se você colocar um hífen? – brincou Mel, descontraindo de novo.

Nós rimos, mas tinha ainda uma ponta solta em nossa conversa.

— Você sabe que os sentimentos de Peg por Jared também são intensos e confusos, não é? Eu tenho medo do que pode acontecer quando ela acordar – disse eu, admitindo isso em voz alta pela primeira vez.

— Eu não. Eu conheço Peg como ninguém e sei que ela te ama. Mas os sentimentos que ela tem por ele me incomodam bastante. Quem sabe em outro corpo eles desapareçam?

— Pelo menos você sabe que Jared só ama você. Ele nunca sentiu nada por Peg.

— Sim, eu sei que ele me ama. Mas se você estivesse presente nos últimos minutos de Peg, talvez reconsiderasse o “nunca”.

— Como é que é? – perguntei, já sentindo meu rosto se avermelhar de raiva. Será que haveria um dia sem ao menos um acesso de fúria meu contra Jared?

— Ele estava muito... tocado pelo que ela estava fazendo ao me libertar. A despedida deles foi... intensa...e... confusa. Você não precisa saber o quanto.

— Ah, nem ouse fazer isso comigo. Começou agora termina!

— Eles se beijaram. Pronto. Falei.

— Eu vou quebrar a cara do seu namorado! Como eles puderam? Sorte da Peg que ela está no tanque! – me exaltei, deixando o tanque de lado por um momento.

— Viu? Melhores amigos, eu acho. Ainda bem que você está aqui para dividir a raiva comigo.

— Aaahhh! – gritei, chutando um tanque vazio que foi parar do outro lado do hospital. – E ainda bem que você não se encolhe de medo quando eu fico irado!

Mel riu da minha fúria que não tinha para onde ser dirigida.

— Você sempre pode contar comigo para sentir raiva dos outros! – continuou ela, ainda rindo e chutando um tanque ela mesma.

Nós rimos mais um pouco, muito mais de raiva do que realmente se estivéssemos achando algo engraçado. Quando nos acalmamos e nos sentamos lado a lado no catre vizinho ao de Sol, Melanie continuou:

— Mas sério agora, Jared não sabe que eu estava presente naquele momento, mas eu estava. Só não interferi e nem disse nada a ele depois que acordei, porque ele fez a coisa certa. Por pior que tenha sido para mim, Peg precisava muito daquilo. Ela estava tão amedrontada, Ian. Você não faz ideia!

Eu podia tê-la consolado!

— Podia nada, Ian. Você sabe que é o seu ciúme falando. Você jamais teria permitido que ela fizesse o que fez. Portanto, não poderia consolá-la nem ser cúmplice dela naquele momento.

— É, tem razão. Mas sabe de uma coisa? Apesar de todo o sofrimento que essa atitude dela me causou, neste exato momento eu fico feliz que ela não tenha me ouvido. Por que agora eu tenho você. Eu só queria poder trazê-la de volta logo.

Mel segurou minha mão, o gesto estranho e ao mesmo tempo familiar não foi nada desconfortável desta vez.

— Eu também. Esta espera está me matando!

— Você também?

— Sim.

— E como vamos fazer se ela acordar e ainda estiver apaixonada por Jared?

— Isso não vai acontecer. Acredite em mim. Ela te ama, eu sei. É um dos motivos pelo qual eu gosto tanto de você.

— Certo. Eu vou acreditar em você. Sabe de uma coisa, Melanie? Eu nunca confessei a ninguém quando me sentia inseguro. É legal que eu não tenha vergonha de fazer isso com você.

— É mesmo. Eu também não sou do tipo que gosta de falar de sentimentos. Já faz muitos anos que eu não tenho amigos. Nem me lembrava mais como era.

— Nem eu. Também nunca tive um amigo com quem conversasse sobre essas coisas.

— Pois agora tem – disse ela, acariciando minha mão que ainda estava agarrada à dela.

— Então eu vou te confessar mais uma coisa.

— O quê? Não abusa! – brincou Mel.

— Não, não. Pode deixar que o momento sensibilidade já vai acabar. É só que, mesmo se Peg preferisse o Jared, ainda assim eu ia querer trazê-la de volta. Não quero que a Sol acorde. É uma coisa horrível de se dizer, mas eu espero que ela tenha sido suprimida.

— Eu também, Ian. Também ia querê-la de volta de qualquer jeito. E também me envergonho de não querer que a Sol acorde. Mas nós temos que continuar tentando.

— É. Vamos tentar mais um pouquinho.

E ambos nos levantamos sem vontade e fomos cuidar de nossa missão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Espero que tenham gostado. Reviews continuam sendo bem-vindas. Recomendações também ;)