Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 31
Capítulo 30 - Duas velas e uma surpresa


Notas iniciais do capítulo

Olá, como estão?

O próximo livro que vou indicar, vai ser ''Um dia''. Muitos já devem ter ouvido falar, e sim, tem o filme, mas aconselho a ler o livro porque é muito mais bonito e detalhado, sabe? E bem mais explicado. E vou avisando que não é só um romance, e sim um aprendizado de como a vida pode dar voltas e voltas.



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Naquele instante, eu tinha duas notícias, uma boa e uma ruim.

A boa era que Tereza não estava morta, e que ainda havia esperanças em salvá-la.

A ruim, era que essa esperança dependia de mim para salvá-la.

O silêncio predominou boa parte dos minutos seguintes, Will não demonstrou mais nenhuma reação, a não ser a raiva que sentia por eu tê-lo persuadido a falar, o deixando sem escolhas. Mas aonde ele estava com a cabeça de que, poderia resolver tudo isso sozinho? Eu tinha o direito de saber. Will saiu da minha frente e se sentou nas cadeiras, me deixando com a visão do vasto corredor frio e vazio. Então aquele sentimento de culpa veio com todas as forças até á mim, me deixando constrangida pelo show que havia dado. Eu estava exausta. Não um cansaço corporal, mas mental, de todas as coisas que caíram para cima de mim nessas vinte e quatro horas.

Girei num ângulo até ficar de frente para Will, que estava com a cabeça abaixa entre as mãos. Me sentei ao seu lado e envolvi seus ombros com os meus braços até aonde eu podia, por causa de sua musculatura.

–Me desculpe.

Ele não esboçou uma reação de imediato, mas deslizou suas mãos até as minhas e olhou para mim.

–A culpa é toda minha. Tudo isso começou por causa de um estúpido vídeo.

–Que vídeo?

–Você não se lembra? - balancei a cabeça - Quando George ordenou que eu matasse você. Se você não tivesse ouvido ou visto... Talvez nada disso...

–Não seja tão duro consigo mesmo, você sabe que a culpa não é sua, não sabe Will? Isso tudo é culpa de Robert e de como ele começou tudo, é culpa de Zachary por ter feito todas essas coisas ao longo dos anos... É hora de alguém pará-los. Nós, precisamos pará-los. - Não o deixei terminar a sua fala.

Apertei mais os nossos longos dedos, entrelaçando-os mais forte.

–Você tem razão. - afaguei o seu rosto e ele plantou um beijo nas minhas mãos. - Tentei rastrear os dois, mas parecem ter virado fantasmas, nenhum movimento sequer envolvendo o nome deles. Nem mesmo a minha mãe sabe, mas eu não quero envolvê-la nisso.

–Não é de se espantar, os dois são covardes.

Will levou a mão até o bolso da jaqueta e tirou um papel quadrado do tamanho da palma da minha mão, e me entregou.

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PROTOCOLO D
DANNA TERÁ QUE ENTREGAR SOZINHA
OU A RUIVA MORRE.

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Meu sangue ferveu de raiva ao ler o bilhete.

–Eu não posso esperar mais nenhum segundo. - me levantei num salto.

–Isso é uma armadilha! Eu não vou deixar você ir sozinha.

–Se eu não for, eles vão matar Tereza!

–Isso é um absurdo! Você sabe que é um absurdo não sabe? - De repente, o corredor deixou de ser solitário e algumas pessoas passaram com caras de espanto por causa da gritaria - Eu conheço os dois, suas táticas e estratégias, não há garantias de que Tereza volte viva, ou que você volte viva. - ele não elevou a voz, apenas tentou usar aquele tom que emanava persuasão.

–Se eu não for, irei me arrepender pelo resto da minha vida.

–Há outras maneiras.

–Não há! Você mais do que ninguém sabe que eles são capazes de fazer qualquer coisa, qualquer coisa!

–E é por isso que eu não posso deixar você ir! Se tudo der errado, a sua ruína será a minha também. - Naquela hora, ele já havia se levantado e eu nem tinha notado. - Eu. Não. Posso. Te. Perder. De novo.

–Eu não suportaria te perder também.

A luz vermelha atrás de mim se apagou e alguns cirurgiões saíram pela porta. O mesmo médico que havia falado comigo, se aproximou e deu as boas notícias.

–//-

Eu não sabia como iria dar as notícias para Eric. Mas ele ainda estava desacordado.

Eric estava inconsciente, e provavelmente estará em profundo sono até a sua dor diminuir, em alguns dias. Eu não queria sair de perto dele, e me recusava fazer qualquer coisa, mesmo para voltar pro galpão e me trocar, mesmo não estando ajudando na procura por Tereza. Will reunirá toda a nossa equipe tática para investigar, mas bem no fundo, sabíamos que era perde de tempo, não iríamos encontrá-la.

A única maneira que Will encontrou de me tirar daquele hospital, foi uma promessa de um longo treino. Um treino rápido, enquanto Hayden bancava de vigia no meu lugar.

Todos os dias, reunia paciência e força para prosseguir com o treinamento, e um dos pontos mais importantes, era a reação imediata. Quando eu estivesse numa situação que não me deixaria escolhas, eu teria que atirar para matar. Eu não gostava como a palavra ''matar'' soava, e por um longo tempo, usei armas não letais. Porém, eu teria que me por no lugar do meu inimigo, quem não teria misericórdia em atirar em mim, então eu também não poderia ter.

O nosso plano era bem simples, com um tanto de complicação. George e Zachary não sabiam sobre o Protocolo D ou do que era feito o seu material, então iríamos criar um chip o qual teria informações valiosas para eles, códigos e coordenadas de grupos de criminosos procurados pelo FBI, cujo o rosto está no banco de dados de seus sistemas, e o mais importante deles, um manual, vamos por assim dizer, de como montar uma arma nuclear extremamente perigosa. Essa arma terá na verdade uma peça falha, que não permitirá que ele funcione.

–E se eles descobrirem? - perguntei para Will depois que arquitetamos tudo, naquela tarde de terça.

–Se descobrirem, - ele olhou arduamente em meus olhos, como se garantisse que aquilo não iria acontecer - estaremos longe.

E eu coloquei fé no que ele havia dito, de uns tempos para cá, a minha chama da vingança e da raiva esteve um pouco apagada, aliás, enquanto eu não estiver na pele de Dianna Banister e sim de Danna Walker, talvez aquela chama nunca volte a acender tão fortemente, o que tem alienado um pouco minhas habilidades táticas.

Quando o chip estivesse pronto, alertaremos eles e levarei o chip até o local de entrega, a definir por parte deles. Eu iria desacompanhada, sem Will, sem ninguém. Somente dez minutos depois, a equipe de agentes chegaria e invadiria o local.

–Você nunca, jamais irá chutar o seu adversário com os pés nessa altura -Will segurou o meu tornozelo na altura de seu ombro. Era a manhã de quarta, com uma grande névoa no céu. Eu estava vestida com uma calça leg e uma regata, já Will vestia também uma regata branca e uma calça de moletom. - Pode causar a sua derrota, quando for chutar, procure estudar o seu oponente e procure o seu calcanhar de aquiles.

Uma luta corporal. Eu não era tão habilidosa quanto quando estava com uma arma nas mãos. Por isso que eu precisava treinar essa parte, ou estaria perdida quando estivesse encurralada. Eu posso ter derrotado Will duas vezes, mas nada poderia me garantir que me sairia bem em uma terceira vez.

–Danna, quando o seu oponente está te atacando, o que você faz? - então ele me atacou com um de seus punhos e automaticamente me curvei para trás, com seu punho passando bem acima de mim.

Antes de voltar a me equilibrar, segurei o seu braço pelo cotovelo e soquei o seu nariz.

–Au! - ele se desvencilhou de mim e cobriu o seu nariz com a palma da mão.

–Desculpe! Foi um reflexo - andei até á ele para o ajudar, mas quando pisquei pela segunda vez, ele já estava em cima de mim e me atacou para o chão.

–Por que você tem que ser tão puritana? Você tem que se lembrar que não está lutando comigo e sim com um cara que tem em mente enfiar uma bala na sua cabeça ou algo pior.

Senti raiva ao ouvir aquilo.

–Você sabe que eu não consigo fazer nada quando estou com você, Will. E... você não me quer com raiva.

–Ah, eu quero. - ele deu um sorriso ameaçador e se levantou, me puxando junto a ele.

Revirei os olhos. Por um momento, não pensava em Tereza. Eu não podia ficar deprimida e com raiva ao mesmo tempo e me sentar e não fazer nada, então Will era uma boa distração.

–Tente. - tirei a faixa branca que forrava a minha mão esquerda e a acariciei.

–Ok então. - Ele pegou uma barra de ferro bem alta, daquelas que pareciam tacos de golfe e também peguei uma que estava jogada no chão. - Bem, há algumas semanas atrás, no halloween, eu estava animado por finalmente estar numa festa com você. Não a melhor delas, mas pelo menos tinha gelo seco e eu podíamos conversar a sós.

Naquele momento, eu percebi o crepúsculo no alto das montanhas e uma noite fria se aproximando.

–Não vejo aonde isso vai dar. - comecei a girar o ferro na minha frente como se fosse um ventilador.

–Bem, então quando eu vi você saindo apressada no meio daquela fumaça toda, resolvi te seguir.

–Como sempre.

–A princípio, eu te perdi de vista, mas daí eu procurei por um tempo e te achei em cima do telhado, com aquele mala do Peter. E adivinha? Vocês estavam se beijando - ele praticamente cuspiu as palavras em deboche e apontou o dedo indicador para dentro da boca como se fosse vomitar. Nessa hora, seus músculos se contraíram.

Sim, eu estava começando a me irritar.

–Então eu resolvi me vingar.

–Como assim...?

–O única modo de afastar ele de você, era arrumando uma coisa importante para ele fazer, e adivinha? Consegui um emprego para ele no parque que invadimos. - Ele dissera ''invadindo'' como se estivesse comigo na hora do arrombamento. - Encomendei uma carta para ele no mesmo momento em que vi. Pelo menos ele arranjou uma coisa digna para fazer.

Tudo parecia se encaixar.

–Foi você!

–Sim - sorriu - Foi eu! - me provocou.

–Você não tinha o direito! Ele é apenas...

–Ele não devia ter beijado você, eu vi tudo.

–Eu não acredito que estamos perdendo tempo e discutindo sobre isso quando Tereza está lá fora em algum lugar, nas mãos de pessoas perigosas. - me virei com o intuito de acabar com aquilo e acabar com o treinamento do dia.

–Eu sei que você gostou, e vi como você retribuiu.

Meus punhos se cerraram e eu tive uma leve impressão de que parti para cima dele na mesma hora. Larguei a barra de ferro e ele também. Tentei atingir o seu rosto com os meus punhos, mas ele revidou segurando no meu braço e fiz um movimento giratório que me fez ter todo o controle de seu braço. Dobrei o meu joelho até atingir o seu abdômen e nesse breve intervalo, ele me deu uma pancada na cabeça com a própria cabeça. Perdi a consciência por alguns segundos, absorvendo aquela dor enjoada que se espalhava por todo o meu corpo, depois murrei o seu estômago e levei outro em troca, o que me fez ter uma súbita vontade de vomitar.

Aguentei firme até perceber os seus próximos movimentos. Encaixei o meu pé na sua coxa e subi no seu ombro até colocar a sua cabeça entre as minhas pernas.

–Eu posso quebrar o seu pescoço agora.

–Menos fala e mais ação. - ele dizia, tentando manter o oxigênio ao seu alcance - apesar de eu gostar dessa posição, prefiro meu rosto virado para o lado contrário.

–Eu vou quebrá-lo no três. Um, dois... três.

Ao invés de ter quebrado o seu pescoço e automaticamente tê-lo matado, desci das suas costas e suspirei. Will voltou com a sua respiração regular e tirou a sua regata ensopada de suor. Fiz o mesmo com a minha regata e limpei o suor da testa com a blusa.

–É disso que eu estou falando.

Quinta-feira não foi diferente, seguimos com aquela rotina temporária, um pequeno aquecimento para qualquer confronto que poderia chegar.

Na sexta, o chip já estava quase pronto e era aniversário de Will. Não era uma boa época para comemorar, e Eric ainda estava na sua cama do hospital.

Logo pela manhã, fiz o melhor que pude para não deixar que o dia passasse em branco. Um pequeno bolo improvisado do tamanho de dois cupcakes e duas velas azuis.

–Parabéns, você chegou na casa dos vinte - beijei-o com ternura. Will ficava no depósito comigo para que pudesse manter os olho em mim.

–Estou ficando velho - ele fez uma careta e foi impossível não rir. - Vinte anos de pura gostosura.

Posicionei o bolo em cima da bancada da pequena cozinha e coloquei as duas velas azuis em cima.

–Duas velas, representam o dois e nenhuma para representar o zero.

–Está perfeito. - ele pôs os braços na minha cintura e cantamos um pequeno parabéns.

Comemos o bolo em um tempo record. Zoey e Brittany que estavam em Nova Iorque, ligaram para ele para desejar o feliz aniversário, uma conversa rápida no celular.

Saímos para visitar Eric e dar um tempo para Hayden. Não iríamos treinar naquele dia. Will tinha um grande trabalho para fazer na agência, mesmo no dia do aniversário. O médico havia dito que Eric estava consciente e que podia ouvir o que dizíamos.

Lamentei por tudo e um pouco mais.

Ás nove e quarenta da noite, Hayden voltou para ficar de guarda.

–Como ele está? - perguntou.

–Consciente, mas ainda não consegue acordar.

Hayden e ele foram amigos.

Will passou no hospital ás dez da noite para me buscar e voltar para o nosso pequeno esconderijo, nossa moradia temporária. Nós meio que fizemos alguns planos para quando tudo acabar.

–Eu sei que não era assim que você queria passar o seu aniversário mas... - falei assim que descemos as escadas para chegar ao quarto e finalmente relaxar a cabeça para o que vinha no dia seguinte.

–Danna, do que você está falando? Você está aqui, eu não poderia passar com mais ninguém. - ele estava de frente para mim.

Enquanto Will trabalhava para tirar a sua gravata, afastei seus dedos com os meus.

–Deixe eu... - ele relaxou o braço. Usar ternos era bom para causar uma imagem respeitável. Seus olhos me encaravam enquanto eu puxava a gravata de sua blusa. Seu corpo tinha um cheiro próprio, ou talvez do sabonete que usava, mas tudo o que eu sabia era que cheirava bem. Então eu soube que aquele era o momento.

O momento de tirar a seca.

–Eu acho que há uma coisa pendente antes que passe das meia-noite. - Então Will foi se aproximando de mim sem que eu notasse, as suas mãos já estavam na minha cintura, sua testa encostada na minha como se fosse um desafio, mas eu não lutava contra ele. Eu lutava a seu favor. Seu corpo foi ficando cada vez mais perto do meu, até que o espaço foi preenchido e seus lábios se encaixaram nos meus, macios e doces.

Era incrivelmente sexy como ele podia transformar aquele momento sem ao menos dizer uma palavra. Levei as minhas mãos até o seu rosto, que estava liso, e o puxei mais para mim, me contorcendo embaixo dele enquanto seus braços e seu corpo me embalava.

Naquele momento, o calor já dominava cem por cento de mim, e deslizei as coisas que estavam em cima da mesa até o chão, Will me ergueu até eu me sentar em cima e a primeira coisa que voou pelo ar foi a minha blusa. Em seguida, enquanto nossas línguas ainda se entendiam dentro de nossas bocas, Will trabalhava no meu zíper e logo, sem quebrar o contato, jogou-as para o lado, e não muito tempo depois, sua calça também voou pelo ar.

Fazia tempo que esperava por aquele momento e sentia que ele também me esperava, mas naquela noite, tinha algo a mais. Nos tornamos pessoas diferentes desde a última vez e isso só tornava aquele momento mais quente. Suas mãos acariciavam as minhas coxas e seguiam uma linha até a minha barriga, depois subindo um pouco mais até que o sutiã também voou para algum lugar desconhecido.

Will começou a mordiscar a linha do meu pescoço, me fazendo jogar a cabeça para trás, sentindo o calafrio que fez todo o meu corpo ficar ereto. Ele me ergueu no seu colo e eu cruzei as minhas pernas na sua cintura. A cama ficava bem ali. Explorei o seu corpo o máximo que pude, começando pelos bíceps dos braços até o seu abdômen, que continha pedaços de músculos definidos, bem mais do que da última vez. Minhas mãos deslizaram para baixo e voaram até os seus glúteos.

Eu sentia toda a pressão dele contra o meu corpo, enquanto ele estava em cima de mim e vi aquele momento como uma lembrança que queria levar para toda a minha vida. Mordi o seu lábio inferior enquanto despia a última peça do seu corpo e não vi oportunidade melhor para lhe dizer:

–Eu te amo. - não me lembrava de como aquelas palavras soavam estranhas saindo de minha boca, mas me senti feliz ao pronunciá-las. Will parou por um momento por causa da surpresa e pudi sentir o seu sorriso contra o meu.

–Eu também te amo, Aurora.

–//-

Era hoje. Sábado.

Eu não precisei do sol para me dizer que era tarde. E me odiei por ter acordado feliz. O que há comigo? Por que você está feliz? Eu podia sentir o ar de sexo que ainda pairava ali no quarto. Porém, mais importante, eu sentia o ar do amor que fizemos. Essa era a coisa certa a se dizer pelo ocorrido de ontem. Além de tudo, foi romântico.

Minha felicidade passageira se foi no instante que tateei o meu lado da cama e tudo o que eu pude sentir foi um lençol. Will já estava acordado, então me levantei tonta da cama até ao banheiro. Meia hora depois, já estava vestida e um pouco sóbria. Meu corpo está com alguma coisa hoje, talvez preguiça? Talvez seja o choque térmico depois da seca receber um pouco de água.

Will estava na cozinha, vestido com roupas novas e um ar que brilhava.

–Hey, como você está? - perguntou.

–Um pouco confusa por não ter encontrado você ao meu lado, quando acordei.

–Desculpe, eu não consegui dormir direito. - ele preparava alguns ovos mexidos e bacon, o mesmo que preparara pra mim uma vez.

–Por quê?

–Danna, estou preocupado com o que pode acontecer hoje, de alguma forma, estou com um mau pressentimento.

Me aproximei dele e o abracei por trás, vendo as suas mãos fritarem o bacon.

–A gente nunca vai ter paz não é? -perguntei.

–A gente vai ter paz, Danna. - ele se virou e me deu um beijo na nuca. - Mas não agora. - ele se virou para os bacons novamente.

–Espero que dê tudo certo hoje.

–Eu também. - ele não demonstrava aquele ''eu também.'' Parecia que não confiava em nada do plano.

–Confie em mim.

–Eu já disse que confio em você. É deles que eu tenho receio, Danna. - Will desligou o fogão e dividiu a comida em dois pratos.

Comemos em silêncio.

–Vai ser ás duas e vinte em um galpão perto de Scottsdale.

–É daqui há... - olhei para o relógio, mas ele estava no chão, quebrado.

–Duas horas e meia, temos que nos apressar.

Concordei com a cabeça e logo após empilhar os pratos na pia, ainda sujas, seguimos para a Agência.

As portas se abriram na minha frente e me deparei com uma multidão eufórica, que se locomovia de um lado para o outro com escutas no ouvido e celulares na mão. Cerca de quinze por cento dos agentes estavam em posto para essa entrega e mais soldados armados chegavam do elevador.

Will logo se dispersou pela multidão e corri para um dos quartos a fim de me armar melhor. A minha velha roupa fora reconstruída por Austin e meu cinto de objetos mortais também. Vesti a calça e a blusa de gola U - de manga curta dessa vez - especial, á prova de balas. Troquei as minhas botas de cano baixo por outras de cor preta, aquelas que tinham em sua composição, amortecedores avançados. Eu podia pular de uma altura de cinco metros e ainda não sentiria o impacto. Por fim, coloquei a jaqueta preta que trouxera e amarrei os fios loiros para trás.

Minha blusa não era longa o bastante para cobrir o meu cinto, o que despertou a curiosidade de muitas pessoas ao passarem por mim. Porém agora, eu era a chefe deles e assim, demonstravam um respeito mútuo.

Liguei para o hospital para saber sobre Eric, ao mesmo tempo olhando para as imagens das câmeras instaladas ali. Ele ainda estava desacordado, essa demora toda estava me deixando preocupada. Logo Tereza estará livre, disse para mim mesma como um meio de conforto. Entrei na sala geral, oval, e notei mais algumas dezenas de soldados. Will estava lhes dando instruções, como um verdadeiro líder. Ele fazia aquilo muito bem e todos o respeitavam como um líder supremo, algo que não viam em mim. Essas coisas não combinavam comigo, não era a minha praia.

Logo, grupos pequenos foram levados para fora, notei que usavam uma escuta no ouvido como um objetivo de uma comunicação entre eles. Will me viu o encarando e caminhou para perto de mim.

–Temos que partir agora, você terá que ir na frente, como combinamos. - Will estava falando como um líder comigo também. Uma mulher negra com os cabelos penteados para trás, veio até nós e entregou uma maleta para ele, logo ela se foi e voltou ao seu posto em frente ao computador. Ela não precisou falar nada, eu já sabia do conteúdo que tinha dentro. - Aqui - Will estendeu-a para mim e a peguei com firmeza. Sua expressão era séria. - Vai ficar tudo bem, fique atenta no ambiente local e mantenha sempre isso - ele apontou para o meu ouvido, onde tinha um pequeno objeto de metal, bem discreto com o intuito de colocá-lo dentro da conversa entre George e Zachary. - no seu devido lugar.

Will não precisava me ensinar a como negociar, aquilo eu sabia mesmo sem um treinamento profissional, com os anos trabalhando naquela lanchonete chamada Cheese&Ham, aprendi as mais variadas formas de se negociar.

–Quando soltarem Tereza, eu quero que você a protege, entendeu? Will? - Larguei a mala no chão para segurar o seu rosto e encará-lo por um momento. Alguns flash backs da noite passada surgiram e eu não pude deixar de sorrir - Por favor, ela é quem importa, é ela quem deve sair o mais rápido possível daquele lugar, por favor prometa que você cuidará dela assim que a libertarem.

Will hesitou porque sabia o que aquilo queria dizer.

–Eu farei o meu melhor, - ele encaixou a sua palma na curva entre o meu pescoço e meu ombro. - mas não sairei de lá sem você. Nunca.

–Eu sei que não, mas fará por mim tudo bem? Na pior das hipóteses, você fará por mim, e por Tereza e por Eric que está desacordado numa cama de hospital. Você irá recuar Will, e se você estiver bem, então o mundo estará bem.

–//-

As estradas estavam um pouco mais movimentadas que o normal, todavia, chegaríamos a tempo. Eu não me daria ao luxo de chegar lá atrasada, então optei por trafegar em cima de uma moto. Seria mais rápido e despistaria a minha pessoa da visão de Will, que quase gritou comigo quando eu disse que estava tudo bem me abandonar caso algo de ruim aconteça. Só não tivemos uma briga por causa do público e isso era tudo. Ambos estávamos nervosos, ansiosos e raivosos, mas controlamos isso e em alguma hora do dia, descontaríamos em alguém.

Felizmente o capacete protegia a minha cabeça do sol, que dominava toda a área da estrada principal de Phoenix, sem nenhuma sombra. Will queria me perguntar sobre como eu aprendera a andar de moto, mas naquela altura do campeonato, surpresas já não surpreendiam mais. O motor de quase trezentos cavalos rugiu entre os carros e acelerei ainda mais. A placa provavelmente receberia uma multa.

Passei quarenta minutos desviando de carros e obstáculos, até chegar em Scottsdale. Em comparação com Phoenix, não havia diferença, a não ser que, eu não conhecia essas ruas como eu conhecia as de casa.

''Por que você está acelerando? Perdemos você de vista!'' Disse meio raivoso no meu ouvido.

''Eu só quero entrar no ritmo da adrenalina, não quero chegar atrasada.''

Cerca de setenta homens nos acompanhavam, alguns há um quilômetro de mim, alguns mais.. mas nunca na frente.

Entrei em uma rua que me levava para o deserto seco, com pouca área verde, ou qualquer tipo de vegetação, apenas algumas plantas deitadas em cima da areia. Em pouco tempo, o balcão já estava na minha visão, olhei para trás e nenhum sinal de Will. Será que Tereza estava bem? Será que iria me perdoar algum dia?

Parei a moto, acionando a sua terceira perna para equilibrá-la e puxei a maleta de trás do banco.

Ao meu redor, tudo parecia estar deserto.

''Já estou aqui, estou entrando.''

Puxei o capacete para fora e balancei a cabeça para afastar os fios de cabelo soltos. Tudo ali parecia normal, exceto aquele balcão de dez metros. Caminhei cautelosamente até a porta, toquei na barra de ferro e a empurrei.

Haviam três pessoas dentro.

Um homem alto e magro com a barba mal feita, estava vestido como um verdadeiro terrorista.

Outro homem com os ombros largos e bíceps por todo o corpo, matinha uma faca no pescoço de uma cabeleira vermelha, difícil de reconhecer.

Então lá estava Tereza, de cabeça abaixada, com os cabelos sujos e oleosos por falta de um banho, parecia estar inconsciente, as suas mãos estavam amarradas por algemas e as suas pernas também. Seu corpo, estava pálido, não tinha cor alguma, ela estava mais branca do que nunca e nesses últimos dias que se passaram, ela estava esquelética. Tereza era vaidosa demais para estar naquele estado.

Aquela imagem me fez querer dar um tiro na minha própria cabeça e a chorar, mas eu não o fiz. E o prêmio de pior amiga e companheira do mundo vai para...

Dei um passo para a frente, a porta de ferro rangia e mesmo assim, Tereza não estava acordando. O homem forte estufou o peito ao me ver e pareceu pressionar a faca ainda mais para dentro.

Mas é claro que George e Zachary não estariam aqui, eles não se colocariam em risco. Como eu pude sequer pensar que estariam?

–Deixa ela ir, vocês conseguiram, - ergui a maleta para cima - Vocês me derrotaram, agora deixe ela ir.

–Se acha muito esperta? - disse o terrorista, dando um sorriso sarcástico - Traga-nos o Protocolo D e podemos pensar no assunto.

''Não faça nenhuma estupidez.'' Will sussurrou no meu ouvido.

''Eles não estão aqui.'' Murmurei o mais baixo possível.

''O quê?'' Não respondi.

–Tudo bem. - ele indicou a mesa na frente da onde Tereza estava sentada, aquele era o único móvel do lugar, junto com a cadeira. Coloquei a mala cinza em cima da mesa.

–Vamos ser claros, se algo de estranho acontecer, ele - apontou para o grandão com a faca. - vai cortas todas as artérias do corpo da ruiva.

–Vocês não precisam fazer isso, o Protocolo D é de vocês. - ele apertou o olhar e fez um gesto com a mão para que eu me afastasse um pouco dali. Eu não tentaria nada, mesmo que esteja morrendo de vontade de matar os dois.

O terrorista tocou na mala como se soubesse só pelo toque, o que tinha dentro, e logo em seguida, destrancou ela num clic. Então ele começou a analisar.

–Um chip... Interessante. - seus dedos se moveram para pegar o pequeno objeto preto dentro da caixa. Ele parecia tenso e incerto, mas o grandão não. Eu não conseguia olhar para Tereza. - Sabe, há certas coisas que... - ele colocou o chip de volta na maleta - são predestinadas a acontecer sabe? Destino, você o conhece?

–Não estou entendendo. - De repente, Tereza levantou a cabeça e seus olhos tristes encontraram os meus. Sua boca estava com um pedaço de fita. - Deixem ela ir. - Dei alguns passos para a frente, eu queria reconfortá-la, abraçá-la e tirar aquela fita de sua boca. Porém o terrorista sacou a arma, mirando no meu peito.

–O sucesso. - Ele olhou para mim maliciosamente.

''Danna, eu não consigo te ouvir... Danna? Danna?'' O objeto começou a fazer um barulho irritante no meu ouvido e tirei o rapidamente dali.

–Destino, isso. Sabe meu bem, o que não fazemos para salvar aqueles que amamos? Você está aqui para comprovar isso - ele se posicionou na lateral da mesa e a empurrou com as duas mãos, para o lado. Embaixo dela, havia um dispositivo. Uma bomba. - Sabe por que fomos contratados?

A minha língua estava prestes a trabalhar, mas me contive pelo bem de Tereza. Ela não parecia estar sóbria, sua cabeça girava de um lado para o outro.

–Por quê?

–Porque nós somos os melhores. - o grandão sorriu, mostrando os dentes que estavam podres. - e agora, vamos fazer o seguinte, está vendo isso no chão? - minhas mãos subiam devagar pela minha coxa, se aproximado da minha cinta... - Está conectado com essa doçura - então a minha mão parou. Ele penteava os cabelos bagunçados de Tereza. - Se a movermos, você sabe, a bomba destruirá todo o terreno.

Então barulhos de motores estavam se aproximando e vários tiros distantes foram disparados.

–Olha só Dickson, nós temos companhia - eles retribuíram sorrisos. - Seria uma pena se todos morressem...

O pânico fluiu pelo meu corpo descontroladamente. Meu coração pulsava rápido, eu podia sentir, e uma repentina vontade de lhes lançar uma das minhas bolinhas explosivas veio á tona.

–Então é o seguinte: Você terá a oportunidade de desativar isso, é bem simples - então ele riu, maléfico. - Você terá que vir conosco.

–Como eu vou saber que isso não é mais uma mentira? O combinado era outro, vocês iriam entregá-la em troca do Proto...

–Você quer tentar a sorte?

Tiros atravessaram o galpão, deixando vários furos, autorizando um pequeno feixe de luz entrar. E então, uma explosão.

–O que está acontecendo? - perguntei.

–Provavelmente todos irão morrer lá fora, a não ser que você faça uma escolha. - Aquilo era impossível.

Peguei a arma na cintura de trás e apontei para ele. Tereza começou a urrar de dor.

–Vê? Você tem o controle da situação. Você pode salvar a sua amiga, é só dizer um sim ou um não.

Cadê você, Will?

–Por que vocês querem que eu vá? - então eu congelei. Tudo era uma armadilha para me pegar, eles queriam o Protocolo D, então queriam que eu o entregasse, agora tinham os dois. As duas coisas mais procuradas por eles. Mas aquele chip era falso, e eles não sabiam. As duas coisas mais procuradas juntos, em um só pacote.

–Porque essas foram as minhas ordens. Agora... - Tereza urrou mais uma vez, uma linha espessa de sangue borbulhou para fora de seu pescoço. Cerrei os punhos e os dentes ao mesmo tempo, seus olhos diziam ''não vá, se salve!''. - Sim ou não?

O barulho de tiro se tornou constante, alguns soldados apareceram no portão do galpão, mas foram detidos. Um pingo de suor se arrastou pelo meu rosto, caindo no chão.

A última coisa que lembro, era de um ''sim'' que saira de minha boca e um ''não'' gritante vindo do portão. Will corria para me alcançar, mas o chão se abriu como uma porta automática debaixo dos meus pés.

E então eu estava caindo, para algum lugar.


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Notas finais do capítulo

Vou dar 3 dicas:

—Um personagem que só apareceu uma vez nos dois Auroras, irá ressurgir no próximo capítulo. (Sim está quase no final).
—Um personagem que no nome tem as letras ''r'' e ''e'' irá morrer.
—A ''surpresa'' do título do capítulo não foi o que aconteceu nele e sim, uma consequência.

Como as aulas voltaram e eu quase não tenho tempo, devo postar o outro em umas duas semanas :) Obrigado.



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