Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 17
Capítulo 16 - Egoísmo




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–É bem simples - disse Peter colocando o violão no meu colo pressionando meus dedos nas cordas.

Eram oito da noite e os The Rockers ainda estavam ensaiando no porão. Os quatro integrantes eram realmente bons no que faziam, a confiança e a liberdade que todos eles tinham permitia que tudo saísse bom e perfeito. De uma em uma hora, eles paravam para descansar e eu estava ali os observando e me divertindo. Afinal de contas, era divertido e interessante assistir aos arranjos e principalmente as brigas. Sempre em alguma parte do ensaio, alguém fazia caretas e se punha na frente para se destacar. Porém quando um dos integrantes cometiam erros, havia um ar de fúria entre eles.

–Eu não entendo nada de música, apenas o suficiente para cantar no chuveiro. - falei olhando para ele que estava sentado bem ao meu lado. O resto da banda estava ajeitando os instrumentos, Duck ajudava Patrick a colocar as peças no lugar da bateria e Donald passava o polegar nas cordas do baixo, aparentando analisar o som. Peter se mexia no lado rasgado do sofá e sorriu para mim fazendo aparecer rugas nas laterais dos olhos.

–Não dê bola para o que as pessoas dizem sobre tocar violão, elas assistem aos artistas tocando e acham que é só rolar os dedos pra cima e pra baixo. - Peter se aproximou mais de mim e senti a sua respiração contra a minha orelha - A primeira e a última corda, se chamam mi - seu polegar e dedo pegaram no meu polegar para efatizar o som da corda de cima - sexta corda - abaixou o meu polegar para baixo - última corda. Sente a diferença do som? As três primeiras são mais grossas e as três primeiras tem um som mais fino. Na ordem, mi, si, sol, ré, la, mi. - e consequentemente arrastou meu polegar por todas as cordas. - A teoria existe em tudo, e nesse caso, ela é sobre isso.

Ok, vou precisar de um tempo para processar tudo isso. - o violão estava em cima da minha perna direita e segurava seu braço com minha mão esquerda. Peter voltou para a sua posição inicial e clareou a voz antes de falar.

–Se quiser, posso ser seu professor por um tempo - meus dedos tocaram em um movimento horizontal nas cordas de aço, fazendo um barulho, mas que não era irritante. Era um belo instrumento.

–Eu não acho que tenho jeito para isso, quero dizer, meus dedos são pequenos - levantei meus olhos e prendi o violão entre o meu braço para erguer as mãos. Coloquei-a na nossa frente e balancei os dedos.

–Não Dianna, você tem dedos proporcionais, na verdade, estão mais para longos. - Peter olhou seus dedos por um instante e tocou nos meus, me lançando um pequeno raio até o meu coração o fazendo pulsar um pouco mais rápido. Seus dedos eram macios e também gelados. - sinto apenas ossos. - Peter estremeceu e os soltou.

–Onde aprendeu a tocar violão? - perguntei tirando o foco do momento estranho. Um barulho de prato de bateria soou na nossa frente e desviamos o olhar.

–Mais cinco minutos - disse Patrick se sentando de volta no lugar atrás da bateria - última apresentação.

–É porque caraaa, não queremos segurar mais vela, odeio isso, principalmente quando sua gata é gata - Duck retrucou fazendo um som no baixo enquanto falava.

–Ah qual é? Ela é a nossa convidada de hoje, dá para vocês relevarem? - questionou Peter - Ignora esses babacas. - disse se virando para me encarar outra vez - Bem é... onde nós paramos? Ah é... aprendi com um livro que ganhei da minha tia de Nashville, ela é bem cowboy para dizer a verdade e tem o sonho do meu sonho se tornar realidade.

–Garoto inteligente - sussurrei sorrindo para ele.

–Nada que qualquer um não possa fazer.

Passei rapidamente a alça para o pescoço de Peter e ele se levantou fazendo com que a almofada se enchesse novamente. Ao chegar no pequeno deque, Peter tirou o violão da grossa alça e colocou uma guitarra preta no lugar.

Antes da introdução, Patrick bateu com as duas baquetas no ar. A música começou a preencher o porão com o barulho da bateria e da guitarra, meu coração estava acompanhando a batida freneticamente. Duck se concentrava em mexer na parte eletrônica da música também e do lado de seu teclado, havia um notebook. Os primeiros versos da música chegaram ao meu ouvido e observei-os todos trabalhando como se estivessem em um palco de verdade.

''Thousand fahrenheit hot metal lights behind your eyes, invincible'' Peter arroncou com essa frase uma voz gritante e grossa.

Seus dedos hábeis desciam e mudavam de posição a cada segundo e seus pés acompanhavam-o com batidas. Donald era a segunda voz da música e soltava ecoos no refrão, mais para trás, Patrick levantava e batia com as baquetas sem parar, focado e balançando a careca para frente e pra trás.

''You're invincible, invincible, invincible, invincible'' As palavras finais foram cantadas pelos dois fazendo um som bom de ouvir mesmo que a música não seja calma, e por final, Patrick bateu sequentemente nos tambores e em mais um prato num som de ''trum''.

–Então...? - perguntou Duck virando a cabeça batendo no ombro para poder me ver.

–Incrível! - abri um sorriso para todos eles - Vocês são muito bons, essa música é muito boa! - bati com as mãos nas minhas coxas.

Invincible do Ok Go, esses caras que são os bons. - suspirou Donald.

–Agora que vocês terminaram... acho melhor eu ir, não? - perguntei me levantando.

–Está tentando se livrar da gente Dianna? Acabamos o ensaio mas isso não quer dizer que chega de farra por hoje. Estamos todos com uma fome do caramba não é? - Duck fez bico e olhou para os três.

–Certo - disse Donald logo após Duck.

–Nós podemos ir ao parque. - falou Peter com excitação na voz.

–Mas ele não está fechado? Pelo que eu saiba só abre nos fins de semana - franzi o cenho.

E na mesma hora que eu disse aquilo, me lembrei de que ainda éramos como adolescentes, e me lembrei do que eu fazia quando ainda estava no último ano do colegial. Rebeldias. Eles com certeza tinham algo em mente e o sorriso de Peter fez com que eu soubesse do que se tratava.

–Como nos velhos tempos - sorriu Duck com o canto da boca saindo de trás do teclado e parando em frente a escada.

–Problemas? Não acho certo vocês colocarem a garota nessa - argumentou Patrick saindo da cadeira.

–Estou com vocês - disse - Se é pra invadir o parque, que seja. - falei determinada olhando nos olhos dos quatro.

–Sério? - Duck arregalou os olhos - Quero dizer, você não vai ficar de piti ou amarelar na hora? - olhou para mim de relance - Isso pode dar problema com os tiras.

–Amarelar? Não, já invadi lugares antes, então não vai ser a primeira vez. E sobre a polícia, posso lidar com eles. - Eu estava em vantagem.

Fazer parte ou ter parte de uma comunidade que era mais poderosa que a polícia me trazia benefícios.

–Gostei dela - Duck apontou para mim com o dedão e olhou para Peter que, deu um tapa nas costas de sua cabeça.

–E você Potato? Vem com a gente ou prefere ficar em casa vivendo a boa vida de mocinho? - Donald colocou o baixo ao lado dos instrumentos como a guitarra e o violão, depois se pôs no pé da escada ao lado do companheiro.

Me juntei aos dois, e Peter veio atrás de mim, todos olhamos para Patrick que estava em pé próximo á bateria, com as mãos nos bolsos da frente do jeans e com um olhar rígido típico de um militar.

–Porque ainda estão parados aí? - ele sorriu e correu para a porta passando por nós e deixando a poeira para trás.

Nós quatro trocamos olhares por um instante e corremos pela escada no mesmo ritmo até saírmos pela porta principal. Aquele homem mordomo estava bem ao lado nos observando com os olhos arregalados e espantados, levantando a palma das mãos como se estivesse se rendendo. Sorri para ele imaginando no que ele estaria pensando de mim, talvez um ''Que menina sem modos'' ou ''O que que essas crianças estão aprontando?'', mas pela careta, parecia ser ''O que a senhora e o senhor vão pensar sobre isso? Vou perder meu emprego!''

–Dianna - Peter me pegou pelo braço e me fez chocar contra o seu tórax - Tem certeza que quer fazer isso? - murmurou.

–O quê? Invadir um parque? Sim. - sorri.

–É sério, eu não quero te colocar em problemas. - Peter parecia cauteloso ao dizer aquelas palavras.

–Hoje é pra ser divertido não é? Isso é divertido, não se preocupe - coloquei minhas mãos em seus ombros para confortá-lo - Você também entrará em problemas, aliás, nós cinco, então não se preocupe.

–Não tenho medo de ser pego, já tive tantos problemas com a polícia que já se cansaram de ver a minha cara na delegacia. - sorriu com o canto da boca.

–Eu também já tive problemas com a polícia, então vamos fazer isso. Aliás, não sou uma garota certinha.

–Vocês vem ou preferem ficar aí parados flertando? - Duck gritou já do banco passageiro do lado do motorista que estava ocupado por Patrick.

Caminhei em direção ao carro que estava exatamente em frente a porta de entrada, era um BMW azul escuro. Abri a porta de passageiro de trás e Donald se arrastou um pouco para a ponta, abaixei a cabeça e entrei dentro seguida pelo Peter. O carro era confortável mas isso não evitou que eu me sentisse um pouco esprimida. Patrick deu partida no carro e passou pelo lindo jardim até as grades, de lá, ele seguiu para o final da rua em direção ao leste de Phoenix.

–Então... - Duck se virou para trás e olhou para mim.

–Não comece Pato - disse Peter ao meu lado.

–Diga, o carro está muito parado. - falei me ajeitando no assento de couro.

–Qual é a sua história com os tiras garota má? - levantou três vezes as sombrancelhas.

–Eu também quero saber dessa - Donald se apoiou com com o punho e fixou seu olhar em mim.

–Tenho que confessar, também estou curioso - Patrick disse me olhando pelo retrovisor. - Quero dizer, você não tem cara de ser uma delinquente...

Então decidi revirar histórias antigas, voltando no tempo para dois anos atrás nas redondezas do prédio azul do meu antigo colegial. Eu sempre andava em grupo, com três garotos e quatro garotas, que eram meio marginais com fichas na polícia, algo que eu nunca me arrisquei a ter.

–Quando entrei para o primeiro ano do colegial, eu meio que fiz alguns vandalismos... - arrisquei a dizer olhando para a estrada á minha frente.

–Como... - disse Patrick.

–Pichações e destruição de propriedade pública? - falei juntando as sombrancelhas.

–Wowww! Pichação e destruição de propriedade? Irado! - Duck se agitou no banco da frente dando um tapa no meu braço. - Peter, você está quieto, não curtiu?

Olhei para o lado e vi que ele me observava sem emoção com os olhos um pouco arregalados.

–Estou apenas imaginando... - e sorriu. - Eu nunca fiz isso.

–Você quer comparar Phoenix com Nova Iorque? Assim não dá baby. - Donald revirou os olhos.

Oh Nova Iorque Nova Iorque... quanta falta me fazia... do ar de ansiedade das pessoas, da excitação que o calor humano causava... das luzes vindas das janelas há noite, as que deixavam a cidade bela todos os dias.

–Então está realmente disposta a invadir um parque? não vai amarelar? - Finalmente Duck se acertara com a cadeira e olhava em direção do parabrisas.

Estávamos no N Mill ave uma das pontes que fora construída em cima de um rio, cuja as águas eram esverdeadas com um tom de verde bem escuro. Era uma bela visão na parte do dia, porém o céu estava escuro o que fazia com que a água refletisse a sua solitária escuridão. Paralelo á essas duas pontes, havia outra ponta em cima do Tempe Town Lake que, aliás, eram um ponto turístico. Na direção em que o carro tomava, tudo o que eu via pela frente eram grandes montanhas acinzentadas com pouco verde e diversos cumes apontados para o céu.

O carro saiu da ponte e deu uma curva de noventa graus para a direita, onde de longe, já se via os brinquedos como a montanha russa e depois Patrick freeio. A rua estava totalmente deserta, e o grande portão de ferro vermelho chamava a atenção de qualquer um que passava. O parque se chamava ''Tempe Land'' que obviamente fora nomeada por causa do rio.

–É aqui. Fechado nos dias úteis e aberto nos fins de semana. - Patrick tirou a chave da ignição e abriu a porta, todos fizeram o mesmo.

–Esse bairro é cercado de restaurantes mexicanos, talvez a gente possa ir para um... algum dia... sei lá. - disse Peter segurando a porta para que eu pudesse sair.

–Obrigado, talvez... um dia - sorri para ele e o encarei. Automaticamente veio a sensação de querer abraçá-lo.

–Alicate? - Uma voz soou a poucos metros de nós. - Vamos quebrar a corrente. - Patrick segurava e analisava a corrente do portão.

O parque era cercado por grades e papelões foram grudados neles para que ninguém visse dentro.

–Deixa comigo. - falei indo em direção à ele - No velho modo feminino de se fazer.

Peguei um grampo atrás da minha nuca e o enfiei dentro da fechadura do grande cadeado. Não era como os filmes, grampos abriam fechaduras mas se for feito de modo certo. Robert havia me ensinado isso também, com grampos, clips e outros pequenos objetos.

–Isso vai funcionar? - Patrick suspirou em dúvida ao meu lado.

–Confie em mim - falei enquanto estava inclanada concentrada nas laterais da fechadura. Cada uma tinha diferentes escrituras diferentes.

Empurrei o grampo mais para frente nas profundezas daquele fecho e o ferro com o formato de U de cabeça para baixo fez um clic subindo e liberando as correntes.

–E Dianna nos surpreende mais uma vez com suas habilidades! - Duck fechou o punho e o colocou na altura do queixo como se fosse um microfone - Qual é a sua próxima habilidade? Voar? Pular? Consegue pular daqui até Marte?

–Eu não posso mostrar os meus próximos super poderes sem nada na barriga - sorri para ele e empurrei o portão que soltou um barulho ensurdedor de ferro arrastando no chão.

–O Tempe é todo nosso! - se entusiasmou Donald

Todos nós entramos e empurramos a porta para que ela se fechasse.

–Primeira parada, lanchonete! - Gritou Duck - vamos ver quem consegue chegar primeiro.

–Eu não sei onde é. - murmurei.

–Está vendo aquela casinha verde ali? - Peter chegou ao meu lado e apontou o dedo para a frente me mostrando uma casa com um Banner grande com uma foto de um cachorro-quente.

–Achei, obrigado.

–Um, dois, trê... - antes que Duck terminasse de contar, o próprio começou a correr em direção a lanchonete que ficava há trinta metros de onde estávamos.

Sem olhar para o lado, comecei a correr. O parque era grande, ventava bastante na hora por ser na beira de um rio, mas aquele vento era a resposta da minha velocidade. Alcancei Duck sem dificuldade mas meu maior rival no momento era Patrick. O bastardo era rápido, porém eu havia feito corridas por um ano e ficara craque nisso, não deixaria que ele me vencesse.

Diminuí a velocidade dando o um pouco de vantagem e acelerei em seguida o máximo que eu podia. Toquei na parede verde e milésimos depois, Patrick chegou.

–Você é rápida - sussurrou se encostando na porta da lanchonete.

–Ei! Não vale! - Duck acusou de cara feia andando em nossa direção - Não vale, vocês dois...

–Pra início de conversa, você roubou. - disse Patrick ainda com a respiração acelerada.

Me apoiei com as mãos na minha coxa e tentei regularizar o meu fluxo de ar.

–Mais um super poder - cruzou os braços.

–Não subestime uma pessoa com fome. - sorri com o canto da boca.

–Desistimos de correr quando vimos vocês dois - disse Peter.

Patrick se distanciou da porta e girou a maçaneta. Seguimos para dentro e alguém ligou o interruptor que iluminou o lugar. Era bem neon, a cozinha ocupava a maior parte do ambiente, duas máquinas de refrigerante iluminavam as paredes laterais, seguido por um balcão de mármore branco. Caminhei para o pequeno corredor de trabalho e avistei uma máquina de pipoca, de nachos e pretzels. Havia um buraco na parede que se conectava com a cozinha.

Cheese & Ham. Para todo o lugar que eu ia, as coisa do passado me seguiam.

–ATAQUEM! - Donald gritou e logo abriram a geladeira para pegar latas de refigerante.

–Tem hamburgers prontos congelados aqui! - Potato gritou.

–Cheddar! - gritou Duck enquanto pegava várias garrafas de soda.

–O mesmo! - Donald falou em seguida.

Abri a geladeira para pegar uma lata de suco e Peter chegou para perto de mim.

–Você quer um? tem batatas fritas, os daqui são os melhores - sorriu pegando uma lata também.

–Com fome, eu como qualquer coisa, escolha para mim. - fechei a geladeira.

–Não temos muito tempo, mas tem algo que eu quero que você experimente.

–Então me surpreenda. - sorri

Peter se virou e entrou para a cozinha. Sai da lanchonete e me sentei em uma das cadeiras em frente a casinha verde.

Uma marginal, era isso o que éramos agora. Invadir um parque estava totalmente fora dos meus planos, e o pior era que poderíamos ser pegos e presos. Eu estava preocupada com esses garotos pois eu acabara os influenciando a invadir, sendo eu, a culpada por ter aberto o cadeado. Mas por quantas loucuras eu já passei? Treinada para fazer o que eu faço, não era uma loucura? Ser forçada a sentar na cadeira elétrica não era loucura o suficiente? Fugir de casa aos 14 anos estava em que patamar de loucura?

Minha vida ultimamente estava sendo rodeada por uma única palavra: Loucura. Não era como ficar nu e se jogar no mar, era algo além disso.

A loucura tem os limites mais loucos da vida, o que estávamos fazendo era fora do limite da nossa idade. Por outro lado, quanto mais desafiávamos o limite, mas passávamos dele. Estar aqui era o meu modo mais complexo de fugir da realidade da minha vida. Invadir lugares já não era novidade para mim, na verdade, era o que eu fazia de melhor.

Meus pensamentos eram traiçoeiros, eles me levavam para outros completamente negativos e de um ponto de vista diferente. No início, a idéia de voltar para o ensino médio era insana para mim. Porém fora como sempre obrigada a entrar na idéia. No fim das contas, não era tão ruim como eu pensava que seria. Um dos grandes motivos para isto estar acontecendo é estar me sentindo em casa.

Todos os amigos que fizera nesse mês lembravam amigos que eu tinha. Duck por exemplo, me lembrava Tereza e Zoey, os três tinham algo faltando na cabeça, a semelhança no modo como agiam e falavam ás vezes me assustava. Patrick tem aspectos parecidos com os de Eric. Os dois são protetores e tinham essa essência. Donald por outro lado, me lembrava uma pessoa no segundo ano do meu verdadeiro colegial. Peter me lembrava Will. O jeito como os dois eram quando os conheci pela primeira vez... Era claro que ambos tinham as diferenças, eu via isso. Peter tem medo do que possa acontecer no futuro e ser como ele é ás vezes era um modo de proteção. Will era convencido e determinado o que sempre me atraiu a ele.

Mas os dois de algum modo olhavam para mim com o mesmo brilho nos olhos.

Em todo esse tempo, eu não percebera uma falha no meu plano de disfarce. Ficando ao lado de Peter e os outros integrantes, faria com que eles corressem um risco enorme de serem pegos se me descobrissem. George os pegaria e os torturaria para tirar informações de mim. Já o observei fazendo esse tipo de coisa e era doloroso demais pensar nessas pessoas sendo mal tratadas injustamente.

Algo me dizia para sair, deixar todo mundo e viver uma vida solitária. Mas o que seria de mim isolada em meu próprio mundo?

Pensamentos desse tipo me assombravam e eu precisava pensar rápido, em algo que resolva tudo isso. Todavia, meu avô era uma das peças chaves para isso. Eu ainda o investigava, sabia que estava em Phoenix, mas onde? E porque mentir para mim? Eu não era confiável? Será que descobrira sobre Will? Eu não duvidava disso, mas preferia descartar essa hipótese por um tempo.

O que seria se ele descobrisse? Eu o conhecia, era um homem reservado e com certeza guardaria tudo para si, como guardar mágoas do assassinato da minha avó. Coisas devem ser esclarecidas, mas precisava de ajuda. Pensei milhares de vezes em procurar o velho Xavier mas eu simplesmente não conseguia confiar em mais ninguém.

O que era o verdadeiro Protocolo D? Algo apontava em minha mente que a resposta dessa pergunta seria a resposta de todas as outras.

Peguei meu celular e disquei um velho e conhecido número com apenas alguns dígitos a mais.

Estava chamando. Minha barriga estava reclamando com o impacto dos sentimentos, eu estava com fome e ela já estava roncando, mas agora, eu estava com calafrios e meu coração saltitava fortemente. O tu do telefone soava mais alto como nunca e ouvia os batimentos do meu próprio coração com o sangue fluindo para a minha cabeça a deixando quente.

–Alô? - A voz soou no outro lado da linha - Alô? Tem alguém aí? - a voz de Tereza não mudara nada.

–Oi - disse torcendo a voz - é da padaria?

–An... não?! As padarias ficam abertas até a essa hora? - riu

Acabara me esquecendo que tinha uma diferença de horário. Meu coração começou a saltar mais e mais forte até meus olhos ficarem vermelhos, mas os limpei rapidamente e dei aquele suspiro duplo com o choro tentando me acalmar.

–Alô? Desculpe querida, não é da padaria, você ligou errado, boa madrugada - e sem dizer nada eu desliguei.

No que eu estava pensando? Ligar para ela era como estar vestida com luzes em um blecaute, chamaria muita atenção, era muito perigoso e não podia arriscar com ela.

Enfiei o celular para o fundo do bolso do meu jeans e cruzei as pernas esperando por Peter.

Corn dog – disse cinco minutos depois colocando uma bandeja com o espeto na minha frente - o melhor que você jamais irá provar. - Peter abriu um sorriso igual ao do gato risonho do país das maravilhas.

Eu já tivera a chance de provar muitos corn dogs antes, aliás era um dos pratos principais dos menus de fast-foods nova iorquinos, mas esse tinha uma estrutura diferente, estava mais torrado, o que fez meus olhos comê-lo pelo olhar. Por cima da massa, havia um zigue-zague de ketchup e maionese. Espiei Peter pelo canto dos olhos e o peguei olhando para mim. Com o meu estômago reclamando, coloquei o palito de madeira entre o polegar e o indicador, depois ergui a salsicha e dei uma grande mordida, espalhando os molhos pelos cantos da boca.

–Deixa que eu... - disse e me surpreendeu quando colocou o polegar no canto da minha boca tirando a sujeira.

–Obrigado - sorri sem graça - Esse negócio realmente é muito bom - falei dando outra mordida.

–Já tinha provado antes? - perguntou me encarando. Isso me deixava sem graça e com as bochechas vermelhas.

–Hum... não - menti.

–Que sorte a minha não? Te trouxe uma latinha de limonada - Peter colocou uma latinha na minha frente e deu uma mordida no seu corn dog. - Beba depois que engolir a salsicha e sinta.

Fiz o que ele sugeriu e automaticamente uma sensação inexplicavelmente boa tomou conta do meu organismo. A massa do corn dog estava crocante e era um pouco doce como a maioria deles, quando ele se misturou com a limonada adocicada, o meu paladar entrou em choque.

–Bom... muito bom - falei quando a limonada ainda estava na minha garganta e me engasguei fazendo a garganta arder. - Onde você descobre essas combinações?

–Quando se vive durante dezoito anos em uma cidade, você começa a saber até do que acontece entre quatro paredes. - sorriu e inclinou a lata para jorrar dentro da boca. - Ainda com fome?

Terminei meu último pedaço e neguei com a cabeça.

–Estou satisfeita, obrigado - limpei minha boca com um guardanapo e olhei em direção a ponte bem na minha frente, em direção ás estrelas.

–Temos duas opções de coisas para fazer agora. Primeira: Tem um lugar aqui no parque que nos permite ter uma visão mais privilegiada das estrelas. Segunda: Podemos ir em todos os brinquedos.

–Acabamos de comer, não acho que nos movimentar muito agora seria boa idéia. - coloquei as mãos sobre a barriga satisfeita.

–Tem razão.

–Onde estão os outros?

–Atacando o que há de melhor para comer. Vamos, - se levantou e me puxou junto - vamos trazer o parque á vida.

Peter agarrou minhas mãos e me conduziu para um lugar desconhecido do parque. Bem ao meu lado direito, na beira do rio, uma montanha russa exibia suas perigosas curvas, ao seu redor, as barraquinhas de pipoca, algodão doce, amendoim, estavam organizadas em fileiras. Eu não tinha uma visão clara das barracas de jogos por estarem fechadas com portas de ferro.

Continuamos a caminhar, de mãos dadas, e paramos em uma pequena cabine de tijolos alta de cor branca. Peter finalmente soltou as minhas mãos e abriu a porta da cabine.

–Olhe para trás - fiz o que ele pediu e com um barulho de impacto todas as luzes do parque foram acesas. Era um brilho muito bonito, daqueles que cegava, as lâmpadas de cor douradas iluminavam toda a área , o mais belo de se ver eram os piscas piscas de uma torre bem alta parecida com a torre eiffel.

–Uau. - falei admirando a vista das luzes com os olhos arregalados.

–Não terminamos senhorita. - e mais uma vez, Peter pegou a minha mão e me levou para dentro da cabine quadricular. Dentro, era tão menor quanto aparentava por fora, a parede lateral era totalmente preenchida por fuzíveis e na outra lateral, havia uma escada pequena para apenas uma pessoa. - Você primeiro. - Peter fez um gesto com as mãos para que eu fosse na frente.

A escada era feita por ferro e fazia um barulho chato toda vez que pisávamos nele, enquanto eu subia com as mãos no corrimão, Peter seguia silenciosamente. Após dez lances de escada, uma luz estava avista depois de um tempo na escuridão. A pequena parte de cima era espetaculamente bonita. Parecia um farol mas tinha um vidro panorâmico cobrindo toda a borda que era circular. Andei até as extremidades e a visão do parque todo iluminado me fez sorrir.

–E a melhor parte, - Peter sussurrou no meu ouvido me fazendo estremecer - está acima de nós.

Olhei para cima e tudo o que meus olhos enxergavam eram pontinhos de brilhos em um céu totalmente escuro. Meu sorriso se alargou um pouco mais com a beleza e abracei meus braços com as correntes de ar frias que começavam a passar lá no alto.

Encarei Peter. Olhei para as profundezas de seus olhos castanhos. O que esse garoto tentara a noite inteira? O calafrio que algumas de suas ações me causavam... já os sentira antes, mas esses eram... diferentes. Eu não sabia como, mas eram. Em um ato rápido, me choquei contra ele e o abracei, envolvi meus braços em sua cintura e apertei forte, refletindo tudo o que sentia no momento. Tudo estava forte.

Peter parecia exitar, mas retribuiu tão forte quanto o meu abraço. Encaixei minha cabeça na curvatura de seu ombro e sussurrei:

–Obrigado.

It's too cold outside, for angels to fly– cantou no meu ouvido, uma verdadeira voz de ninar.

Continuei a inalar o cheiro de seu perfume doce para mim.

Danna, não, você não pode, você não pode!

Se ao menos ele soubesse o quanto isso era perigoso... Minha mente e meu instinto estavam em conflito, ambos comandavam ações diferentes, mas eu fazia a minha vontade. E a de agora era de ficar abraçado à ele até o amanhecer, até o primeiro raio de sol.

Loucura! Você é louca!

Esse sentimento era estranho.

As estrelas piscavam acima de nós e das poucas que restavam no céu, formavam um violão. Me afastei de seu ombro e o beijei na bochecha me lembrando da ótima tarde que tive com ele.

Nossos rostos estavam bem próximos e minha respiração começou a falhar. Seus olhos seduziam com a sua beleza. Pela primeira vez, percebi o quanto Peter era bonito, era também a primeira vez que eu o estava notando. Seus lábios eram finos mas inchados avermelhados, suas sombrancelhas? Eram perfeitamente curvadas.

Mais alguns centímetros...

–Ei vocês dois! - alguém gritou lá em baixo. Peter e eu nos soltamos e fomos para a beirada ver quem era.

Porém, não era quem, era um grupo.

Will, James com outros dois jogadores do time, Lauren e mais dois pares de pés de galinhas.

–O que eles estão fazendo aqui? - perguntei fixada no grupo de sete pessoas.

–Eu não sei! - soltou meio irritado - Quem contou à eles que estávamos aqui? - soou mais irritado ainda.

–Acho que é melhor descermos para descobrir - olhei para Peter e ele parecia desapontado mas com raiva. Sem dizer uma palavra mais, voou para as escadas. Desci logo atrás dele e em um piscar de olhos, já estávamos em terra firme.

Os The Rockers também estavam com feições de surpresa ao lado do grupo.

–Porque vocês estão aqui? - perguntou Patrick durão.

–Qual é? Vocês não podiam se divertir sem a gente né? Por que não nos avisaram antes? - James deu um passo a frente abrindo os braços olhando para todos nós.

–Porque você não foi convidado?! Não é óbvio? - Duck franziu o cenho.

–Pato pato pato... - Lauren soltou.

–Scott para você - Duck sorriu falsamente e apertou o olhos.

–Nós só queremos nos divertir também, tá legal? - disse Will quebrando as linhas dos raios entre os olhos de todo mundo.

–Como vocês nos encontraram? Estão nos seguindo por acaso? - Peter perguntou chocando seu ombro contra o meu.

–Só... soubemos... - Lauren deu de ombros.

Oh, eu sabia exatamente como eles haviam parado no parque.

–Velhos tempos, qual é? Cadê aquele espírito? - James caminhou para a direita, em direção á pista de carrinhos bate-bate. Não nos mexemos, apenas o observamos caminhar e Lauren o seguiu quicando com os saltos na grama.

Um barulho alto de sirene começou a se aproximar dos meus ouvidos e imediatamente as luzes vermelha e azul se juntaram com as douradas do parque.

–Merda! - Donald arregalou seus olhos deixando-os ficar no tamanho de uma bola de ping-pong.

–CORRAM! PROS FUNDOS PROS FUNDOS! VAMOS VAMOS! - Patrick gritou e fez um movimento contra o vento para que todos corressemos para a saída dos fundos.

Sem pensar duas vezes, todos correram para o portão dos fundos, passando por barracas e bancos. Na frente, estava James, os dois jogadores, Patrick e Will. Sua cabeça girava para trás e seus olhos pairavam em mim, mas eu não o retribuía e continuava a correr ao lado de Peter e Duck. Donald vinha em seguida, e lá atrás, estava Lauren com as suas duas súditas. Com seus saltos extremamente altos, era impossível correr rápido.

–Meu Deus! Tirem os sapatos! - gritei tirando fios do meu cabelo da cara.

–Nunca! Não vamos sujar nossos pés! - Então que sejam pegas pela polícia.

O grupo da frente logo arrombou o pequeno portão que estava trancado com chaves e barras de ferro.

O ar da calçada era um ar totalmente diferente, há noite, não era tão húmido como de dia, estava fresco, mas também quente. Os ventos que batiam na nossa pele causavam um certo calafrio e o ar parecia mais leve para se respirar.

–Vamos! - Patrick fez novamente um gesto para que acompanhássemos ele.

Corremos que nem doidos pelas calçadas e não me atrevi a olhar para trás. A sirene da polícia estava se aproximando e a adrenalina só subia. Estávamos sériamente encrencados, mas estava sendo divertido. Soltei risos e olhei para o lado, para Peter, que de início não entendeu mas logo sorriu junto comigo.

As ruas estavam bem iluminadas, com o mesmo dourado do parque e algum de seus restaurantes ainda estavam abertos, mas nada de carros, atravessamos ruas e ruas correndo que nem doidos dobrando dois quarteirões.

Eu sabia que correr não nos salvaria, estávamos gastando fôlego.

Mas eu tinha dezessete anos. Eu não ligava.

–Uhuuu! - gritou Will.

–Maluco. - revirei os olhos e entramos em um beco.

Entre o calor e respiração acelerada, percebemos que Lauren não conseguira sobreviver. Pegas pega polícia? Ficamos encostados na parede e alguns se sentaram.

–Isso é doido. - murmurou James entre vários suspiros.

–Você está bem? - Peter olhou pra mim sorridente.

–Longa corrida, mas vou sobreviver. E você?

–Eu sou um sobrevivente, acredite.

A sensação de alguém estar olhando para mim me torturava e endirecionei meus olhos para ele. Lancei-lhe um olhar acusador. Se você não fosse tão tolo, não estaria aqui. Will deu de ombros e piscou para mim.

–Não podemos deixar Lauren com os tiras, precisamos resgatá-la - disse James.

–Isso virou um filme agora? Acha mesmo que vamos passar pelos tiras e ir sem nenhuma lesão? Se toca mano. - Duck estava sério.

–Sério bro, - James se pôs para fora do beco - ela é a minha namorada.

Não me surpreendia essa idéia.

–PARADOS! - um policial apareceu com uma arma de choque e mais outros dois vieram juntos.

–Ah cara... - todos se entreolharam e tivemos o mesmo pensamento, fizemos o que qualquer adolescente ciênte faria.

–//-

O ponteiro pequeno do relógio branco arredondado apontava para o número dois e o ponteiro maior, apontava para o cinco. Após os policiais nos pegarem no beco, fomos levados em carros separados até a delegacia local. Tínhamos idade o suficiente para estarmos presos em uma cela. Lauren e suas seguidoras foram as primeiras a serem detidas como era de se esperar, e se não fosse por James, tentando a salvar, estaríamos em nossos devidos lares.

Eu não os podia culpar. Will era o culpado.

A cela era de um tamando proporcional, sem janelas e da cor mais neutra possível. Ela tinha dois bancos retangulares compridos ocupando a parte de trás das grades e nelas, estavam sentados todo mundo, menos Will. Ele estava encostado na parede, pensativo e com a cabeça baixa. Eu queria sair dali, o mais rápido possível e tirar os outros, mas teria que ter um plano porque seria fácil demais ligar para Robert.

Com as mãos agarradas nas grades de ferro, bufei e fechei os olhos encostando a testa no metal gelado.

–Então é isso, vamos para a cadeia, que maravilha - disse James.

–Não reclama, não reclama que se não fosse por vocês, não estaríamos aqui, aliás, quem foi o idiota que chamou a polícia? - soltou Donald.

–Você acha que chamamos a polícia? - perguntou Lauren, ela e seu namorado estavam abraçados em um banco e os The Rockers estavam no outro. - Não somos idiotas, acha que queríamos estar aqui?

–Mas nos atrasaram na hora da fuga, se vocês tivessem ficado em casa com o traseira onde quer que ele estava, isso não iria acontecer. - retrucou Donald novamente com impaciência.

–Eu não me importo com vocês, eu só sei que estou ferrado - Peter ficara calado nesse espaço de tempo inteiro, e olhava para mim com um ar de desculpas.

–A questão é, como vocês nos encontraram, hã? Tenham a vergonha de nos dizer pelo menos isso - Patrick se levantou e se pôs de pé na frente dos seis. Os dois jogadores se levantaram empinando o nariz tentando parecer tão durões quanto Potato.

–Isso é uma ameaça? - James se levantou e ficou entre os dois com ar de irritação.

Quando os The Rockers se levantaram para se defenderem, corri em sua direção, distanciando-os com os meus braços.

–Vocês não querem brigar em uma delegacia, querem? - encarei-os

–Falou a menos brigona daqui - bufou Lauren.

–Não começa - cerrei o olhar para ela - eu vou tirar a gente daqui.

–Como? - a voz de Duck não tinha nenhuma pitada de esperança - Super poderes de novo?

–Pense assim - abaixei as minhas mãos e eles recuaram.

–Patéticos - Patrick selou a conversa com a palavra final.

Olhei para o Will encostado na parede nos observando com um sorriso de deboche. Esse não era o William Palmer que conhecia, ele era Mitchell. Caminhei em sua direção e me segurei para não lhe dar um tapa. Agarrei um de seus braços e o puxei para longe, perto das grades.

–O que você está fazendo?

–Eu não sei do que você está falando - zombou e a raiva dentro de mim crescia cada vez mais.

–Conversa de Danna para Will, esquece essa fantasia, o que é tudo isso? Fez aquilo de propósito?

–Agora você quer que eu esqueça? - cruzou os braços - eu não estava tentando fazer nada Danna. - tirou o sorriso da cara.

–Então por que ainda estamos aqui? - falei apressadamente arregalando os olhos para ele.

–Talvez seja um dos únicos modos de fazer com que estejamos juntos - sorriu outra vez.

–Isso é sobre isso? - franzi a testa - Você é louco.

–Louco por você. Tudo o que eu tenho feito, é por causa de você, não percebe isso? Danna, eu sinto que você está se afastando de mim, todos os dias, e hoje, acho que encontrei a razão de isso estar acontecendo - desviou os olhos para atrás de mim em direção ao Peter - Você gosta dele, não negue, ou vai estar enganando a si mesma.

Will estava sendo... Will?! O mesmo que conhecera há um ano atrás, seu tom e palavras eram os mesmos, parecia que eu havia voltado no tempo, talvez ele não tenha mudado tanto assim. O idiota conseguia ser romântico, chato e sincero ao mesmo tempo, uma atração fatal para mim.

–Seu avô está na cidade, deveria ligar para ele - murmurou cautelosamente.

–E por todo o meu plano em risco? Não, é muito perigoso.

–Por quê? - sua respiração quente ventilava os meus cabelos.

–Você, ele pode suspeitar que você possa saber sobre mim. Ele quer te matar, lembra disso?

–Você não iria deixar.

–E me mandou pessoalmente para cuidar de você. Por um tempo, eu quis... te matar.

–E não quer mais? - sorriu com o canto da boca.

–Agora? Se eu pudesse te dar uma bofetada na cara já seria satisfatório. Mas não vamos conversar sobre isso aqui. - Por um momento, esquecera que estávamos em uma cela - Eu te conheço, sei que só está nos segurando aqui e que pode muito bem nos tornar fantasmas como se nunca estivéssemos aqui.

–Esta conversa me satisfez. Eu não quero mais brincar de Lady Gaga, por que ainda está nessa?

–Não troque de assunto.

–Agora eu me pergunto, o que está tramando Walker? - esse sobrenome me dava calafrios.

–Não troque de assunto! - abaixei o tom de voz - Eu disse que você está nisso porque você quer e...

–É por você! - Will também falava baixo para que ninguém ouvisse - Tenho metade da empresa mais cara do mundo para administrar, virou minha responsabilidade por meses, mas eu não posso fazer isso sem você, não posso fazer isso quando sei que aquilo tudo pertence a você! Danna me escute,

–Pare, eu não quero mais ouvir, não quero conversar sobre isso aqui, por favor, só... tira todo mundo daqui. Se é conversar o que você quer, então vamos conversar!

Will girou a cabeça para o lado e assobiou para o guarda mais próximo.

–Pode nos soltar. - disse e o guarda concordou com a cabeça.

–Esse tempo todo... era você por trás disso tudo! Ah, você não tem noção do ódio que estou sentindo agora!

O guarda magrelo abriu a porta da cela com uma das chaves que carregava no cinto e Will foi o primeiro a sair.

–O quê? Estamos livres? É isso? - perguntou Duck bocejando.

–Sim, vão pra casa, tenho uns assuntos para resolver... vejo vocês no colégio. - dei um último aceno para eles e me retirei da cela, caminhando para a porta da delegacia.

–As meninas super poderosas existem! - exclamou Duck ainda bocejando.

–Espere - alguém disse agarrando o meu braço. - Desculpe por colocar você nessa situação - lamentou Peter - O que houve lá? Do que você e o Palmer estavam discutindo? Como...? - eram perguntas muito perigosas e curiosas. Peter não podia suspeitar, mas não queria o enrolar agora.

–Conversamos depois - sorri e sai pela porta sem olhar para trás novamente.

Apressei meus passos dobrando a esquina para um telefone público, não tivera tempo de resgatar meu celular e Will passara totalmente dos limites. Senti um carro se aproximando por trás de mim, ele dirigia a menos de 40 km/h e infelizmente reduziu a velocidade quando me alcançou.

–Sobre aquela conversa... por favor? - murmurou abaixando os vidros totalmente escuros. O carro era um santana de cor preta, deduzi que não era seu.

Eu precisava conversar com ele sobre muitas coisas mas não sabia se era realmente um momento bom. O estresse estava sob controle do meu corpo e não me sentia totalmente confortável com a idéia de estar no mesmo ambiente que ele. Porém era preciso. Dei meia volta no carro e puxei a porta observando em volta para ver se alguém nos vigiava.

Me inclinei para dentro e puxei-a novamente para fechar. O ar condicionado do carro estava ligado, o que me deixava um pouco zonza por conta do cheiro. Will estava com as mãos nos volantes e depois de um momento, voltou seu olhar para mim.

–Estamos ficando sem tempo.

–Seu pai está vindo, estou certa? - arfei

–Sim, no halloween, que significa daqui há...

–Uma semana e meia - interrompi-o - E o que você quer que eu faça?

–Estou preocupado com o que você poderá fazer.

–Está com medo que eu mate seu pai? - cruzei os braços girando meu corpo em sua direção.

–Não, mas que você se ponha em perigo. Você sabe que eu não ligaria se George morresse, ele virá, mas não sozinho. Talvez venha preparado para começar uma guerra pois sabe que estou em terras inimigas. Se ele descobrir sobre você... não terá sossêgo. - disse sériamente. Como alguém não ligaria para o pai desse jeito?

–Eu o enfrentaria, mas meu avô disse que não tenho forças o sufiente para me defender... Na verdade, não sei o que estou enfrentando. - admiti.

–Eu sei exatamente do que precisamos fazer. Mas para isso terá que confiar em mim.

–Confiar em você? Uma vez que se perde a confiança, terá que conquistá-la. Eu quero vingar todo o mal que tem acontecido na minha vida, mas preciso ir devagar, conhecer os inimigos...

–Mas eu estou do seu lado Danna, você me tem ao seu lado e quero que tudo isso termine o mais rápido possível. Tenhos planos mas para isso vou precisar da sua confiança.

–Eu ainda estou com o meu avô, lembra disso? O que você está pedindo... eu não iria conseguir traí-lo. Ele é a única família que me restou, o que torna isso tudo em um equilíbrio, não quero nada disso para mim Will, não quero virar CEO de uma empresa desse tipo, eu quero uma vida normal. Quanto maior isso for, mas os riscos são.

–Então comece a repensar no que você quer. Suas próprias batalhas lembra? Você nunca terá uma vida normal com tudo isso rolando.

–Eu sei disso! Mas... - abaixei os meus olhos para baixo pensando nas consequências que isso tudo traria. Destruir as bases uma por uma era um plano no início, mas refletindo de um outro modo, levaria tempo para fazer isso e não traria nenhuma vingança, por minha parte. Era o que eu temia, meu avô estar me usando para fazer o trabalho sujo, me mostrando que dessa forma as coisas se resolveriam... eu devia ter aceitado a oferta de sair disso antes de ser tarde demais.

–Confie em mim por favor, é tudo o que eu te peço, uma segunda chance.

Perdoá-lo, era o que ele queria. Eu ainda estava com raiva por ter tramado a prisão, mas isso era maior, vidas estavam entrando em risco.

–O que você quer que eu faça? - perguntei.

–Estou disposto a te ensinar tudo o que eu sei.

[EXTRA] P.O.V. PETER

Chegei para perto dela cautelosamente, observando-a admirar a vista iluminada do parque, sorrindo e mostrando a fileiras de dentes mais alinhados que já vira.

–E a melhor parte, - arrisquei soltar perto de seu ouvido, como tivera arriscado muitas coisas essa noite. Meu coração saltava para fora da minha camisa e engoli um seco antes de continuar a falar - está acima de nós.

Minhas mãos começaram a suar, Dianna levantou o olhar para o céu e seu sorriso se iluminou mais ainda. Ela se abraçou, provavelmente por causa do frio e antes que eu pudesse perguntar se ela queria voltar para baixo, seus olhos esverdeados encararam os meus me fazendo congelar, porém sempre mantinha a pose por fora, não demonstrando que estava gelando por dentro.

Dianna me olhava como se tentasse encontrar o mais profundo dos meus segredos, como se estivesse tentando entender alguma coisa. Ela parecia estar com frio, os pelos dos seus braços estavam se arrepiando com os calafrios que devia estar sentindo. Ela era tão linda quando estava frágil... e não aquela garota durona que conhecera no final do verão. Potato sempre me dizia ''Bem playboy, talvez ela não seja a rainha do gelo como todos imaginávamos.''

Ela não era, não para mim.

Para a minha surpresa e felicidade, Dianna se chocou contra mim e apoiou sua cabeça em meu ombro, que se encaixava perfeitamente nela. Meus pelos do corpo inteiro se arrepiaram e minhas mãos começaram a suar mais ainda. Meu coração já não aguentava mais ficar preso dentro do meu pulmão, ele queria pular para fora e demonstrar o quanto estava feliz. Dianna estava com as mãos em volta do meu quadril e o apertava fortemente, com carinho, e retribuí sem questionar.

–Obrigado - sussurrou no meu ouvido lançando ainda mais calafrios pelo meu corpo. Dianna era eletrizante, sempre de algum modo, conseguia mexer comigo. Foi nesse momento que me lembrara de uma música.

It's too cold outside, for angels to fly– cantei de volta para o seu ouvido e ela suspirou.

Eu realmente queria beijá-la. Mas estaria indo rápido demais. Queria que o momento fosse perfeito, mas estar debaixo das estrelas não era romântico o suficiente? Não. Havia algo faltando, eu não iria jogar todas as minhas investidas no lixo. O dia inteiro, venho tentando agradá-la, e parecia dar certo. Talvez eu realmente poderia começar a aceitar o conselho dos outros e a ser eu mesmo. Não tente ser outra pessoa. Eu conhecia garotas, mas não Dianna Banister. Então começara a agir do modo que sabia que garotas gostavam. Com todas as garotas que já tive, aprendi que elas gostam de surpresas e imprevistos. Elas não irão te pedir para segurar suas mãos, você terá que fazer isso sozinho, para demonstrar para ela o tipo de homem que você pode ser.

Sabe, quando dizem que duas pessoas apaixonadas podem mudar uma a outra, eu não acredito nisso. O amor só faz com que você olhe em uma outra perspectiva para o mundo. Sua visão muda completamente.

Dianna parecia pensativa, a excitação que o choque de nossas peles causavam era indescritível. Eu queria poder ficar com ela abraçada desse jeito, até cansarmos. Porém ela se afastou, antes de soltar o suspiro da decepção, Dianna beijou a minha bochecha. Naquele momento, eu conseguia ouvir os batimentos do meu coração sem a ajuda de algum equipamento. Meu corpo todo estava quente.

Nossos rostos estavam muito próximos, não sabia se iria conseguir aguentar por muito tempo. Eu tinha um desejo incondicional de sentir seu gosto, mas o meu maior medo era estragar. Todavia seu olhar a entregava que também queria, seus olhos eram os mais bonitos que já havia visto na face da Terra, e não me cansaria de elogiá-la. Seus lábios eram delicados, de um rosa pêssego e os traços do seu nariz me lembrava traços de princesas francesas.

Uma voz masculina soou abaixo de nós e terminou com o nosso clima. Nos separamos e fomos checar o desgraçado. Era Mitchell Palmer, o desgraçado do Palmer. Esse mané aparecia sempre na hora errada. Eu não ia muito com a cara dele e muito menos agora que estava com vontade de lhe dar um soco.



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Notas finais do capítulo

1 minuto se silêncio para mim por favor...

Desculpe pela demora, desculpe mesmo! Eu estou com pouco tempo para ficar no pc essas semanas, por conta das volta ás aulas e entre outras coisas pessoais.

Mas então, espero que tenham gostado do capítulo porque escrevi ele com pressa, acho que vocês perceberam, não é o melhor deles, mas queria tanto chegar a essa cena do parque *-* para parar de enrolar e colocar tudo em prática logo...

Pois bem, eu apenas escrevi há noite, que é quando tenho as minhas inspirações... então postarei o mais rápido possível.

Obrigado por ainda estarem aqui, significa muito para mim.

Ah e não se esqueçam de mandar seus reviews, por favor!

xx



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