Crescer escrita por Mariana


Capítulo 6
Capítulo 6




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Os anos seguintes desapareceram entre meus dedos. Foi ótimo viver nos Estados Unidos, principalmente depois que meu inglês engrenou e eu passei a entender bem as pessoas. Além do trabalho conheci diversas pessoas que me levaram para vários lugares diferentes de tudo que eu tinha imaginado. 

O hospital que eu trabalhava era em Chicago, mas uma enfermeira louca que conheci me levou para passar uma semana em Nova York, no apartamento de uma irmã dela. Em todos os lugares que eu ia, comprava presentes e mandava fotos para Clara e Joana. Não falava tanto com elas quanto prometi, nem tanto quanto gostaria, mas acho que elas entendiam. 

Quando meus dois primeiros anos tinham acabado em nem acreditava que estava a tanto tempo longe do Brasil, longe de casa, longe de Clara. Elas queiram que eu voltasse para o final do ano, Natal essas coisas, mas eu tinha de me mudar. Tinha que juntar minhas coisas em Chicago e iniciar minha nova jornada em Londres e eu não via a hora. 

Então eu continuei nessa viagem pelo mundo, trabalhando muito, mas também vivendo tudo aquilo que eu lia nos livros, via nos filmes e conversava com Clara.

* * *

Foi logo quando eu cheguei na Austrália que tudo mudou. Estava nessa transição de países e fiquei meio incomunicável por umas duas semanas. Quando vi as mensagens de Clara era tarde demais. 

Eu queria correr desesperado para o Brasil, nadar, fazer qualquer coisa. O primeiro voo saía em algumas horas; mesmo assim, eu só chegaria no dia seguinte.

Seria mais um dia que Clara estaria sem mim. Mais um dia que ela estaria sozinha. Tentei ligar para casa para todos os números que eu tinha e não a achava em lugar nenhum. Eu corria de um lado para o outro. Não sabia o que fazer, não sabia o que fazer mesmo. Como eu pude ser tão inconsequente? Como eu viajo para o outro lado do mundo e deixo a Clara? 

E eu estava na pior situação que poderia acontecer. Preso em um aeroporto, do outro lado do mundo, tinha acabado de saber por e-mails que Joana tinha morrido e Clara estava sozinha.

Meu Deus, ela está sozinha e essa merda desse avião vai demorar até amanhã para chegar no Brasil!

Eu não tinha a quem recorrer, meu pais tinham falecido há algum tempo, Joana não tinha nenhum parente e quase nenhum amigo próximo que eu me lembrasse. Eu simplesmente não sabia o que fazer.

Assim que entrei no avião, tomei um calmante forte para não enlouquecer durante o vôo. E, chegando no Brasil, eu lembrei que não sabia exatamente para onde ir. Ela não estava em casa já que não atendia ao telefone. Então pensei em ir até a escola dela, mas ela não estudava mais lá. Tinha ido para outra escola fazer o colegial, e obviamente não sabiam onde. 

Fui até a empresa de Joana e por sorte encontrei a secretária dela lá. Ela me explicou que tudo estava correndo bem na empresa que o inventário estava sendo acertado.

Porra. Eu não queria saber da merda do dinheiro, eu queria saber de Clara. 

― Right, right, eu tenho certeza que Joana deixou tudo em boas mãos, depois a gente vê isso. Eu preciso saber onde está Clara ― disse segurando a secretária pelos ombros.

―Hum...Ela ficou na casa de uma amiga do colégio, mas eu não lembro o nome.

― Ok, what´s the name of the school? ― eu estava tão nervoso que já não sabia mais onde estava, que língua tinha que falar. 

― É aqui perto, o nosso motorista pode te levar lá agora. 

Fui até a escola, por sorte meu nome estava listado como pai de Clara, e eles a chamaram. Fazia tanto tempo que eu não a via que nem sabia como seria o nosso encontro. 

Ela estava uma menina linda. Quase dezoito anos, se parecia muito com a mãe. Principalmente agora, com aquele olhar meio triste, meio distante, reprovador. Eu não sabia o que dizer. 

― Eu demorei muito, desculpe. 

Ela só me abraçou e chorou. Voltamos para casa naquele dia e não falamos mais nenhuma palavra. 


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Notas finais do capítulo

Não fique bravos comigo!Isso tinha que acontecer, e aqui está o penúltimo capítulo.