Crescer escrita por Mariana


Capítulo 3
Capítulo 3




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Meus pais são engraçados. São o verdadeiro tipo trabalhador. Que você tem de respeitar e tudo mais, mas não dá para conversar com eles.

Simplesmente não tem assunto. Não venha me dizer que é uma questão de diferença de gerações porque não é só isso.

Eu já conversei com várias pessoas bem legais da idade deles. São eles, as referências deles e as minhas simplesmente não batem, a gente não tem o quê falar. Por isso para mim é tão difícil ficar em casa. Eu gosto deles, mas não tenho a menor paciência. Quando Joana apareceu na minha porta com essa oportunidade maluca, sei lá, pareceu uma forma de juntar minhas coisas e fugir para outro lugar.

Não via a hora de fazer isso.

É claro que eu estava apavorado com a idéia de ter de cuidar de uma criança. Nunca fiz isso. Mas esperava que o tal instinto paterno me ajudasse em alguma coisa, afinal, eu sou o pai de Clara, de uma forma ou outra. Sabe, antes de sair de casa não eram as partes nojentas de cuidar de um bebê que mais me preocupavam. A maioria dos caras se preocupa com isso, mas pra mim tudo bem.

Meu pai era encanador e quando ele queria me pôr de castigo, me levava para trabalhar com ele e... bem, garanto que nada é mais nojento do que aquilo. O que me preocupava era o fato de ter de ficar atento o dia todo e que um pequeno erro, qualquer cochilada que eu desse, o bebê poderia fazer algo perigoso, se machucar ou sei lá o quê. Eles são tão pequenos e frágeis.

Mas logo eu aprendi que não era bem assim e realmente era mais fácil do que parecia. Principalmente quando você fica em uma casa toda equipada com direito a empregada, cozinheira e tudo mais. 

O fato é que Joana era rica.

Muito cedo ela tinha assumido as empresas do pai, algo relacionado à venda de motores e soube fazer os negócios prosperarem muito. O que eu vim a descobrir mais tarde é que os pais dela e toda a família estavam em um jato particular e iam passar o fim de semana em alguma ilha. Ela foi a única que não viajou porque precisava terminar uns contratos.

O resto você imagina.

O avião caiu, só ela sobrou e sem a família, as únicas pessoas que ela confiava. Ela entrou numa onda de cigarros e bebidas que a levou até mim, até Clara. 

Quando ela descobriu que tinha engravidado tudo mudou na vida dela. Ela se “reconectou”, encontrou seu caminho de volta. Tirou a poeira do seu mundo, parou de beber e todos tiveram que admitir que ela continuava uma grande empresária e os negócios nunca foram melhores. 

Eu fui descobrindo isso aos pouco enquanto morava com ela. Na verdade aprendi muitas, coisas com Clara e Joana. Mesmo cuidando do bebê eu tinha muito tempo livre pra ver filmes, ouvir músicas e ler livros. Melhor do que isso, à noite, quando Joana voltava, eu podia conversar com ela sobre coisas interessantes. É óbvio que ela queria saber tudo que Clara fez durante o dia, mas passado esse momento, podíamos falar de qualquer coisa e ela era realmente uma pessoa interessante. 


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