Maiko escrita por AngieB


Capítulo 2
Batendo os calcanhares




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2. Batendo os calcanhares



Wilson e House estavam sentados em um banco, no corredor, na frente da sua sala de diagnósticos.  


- Quer mais amendoim?

- Não... Quer? – House ofereceu o pote grande de pipocas que carregava.

- Já enjoei...

- Quer dublar mais uma vez o Chase e o candidato? – House olhou com uma cara divertida.

- Cansei também... Por que você não entre lá? Você não está cansado de olhar tudo aqui por fora?

- Você está maluco? E me arriscar a ter que dar uma aula? A Cuddy sabe que é pior que a Clinica para mim...  


Eles podiam ver muito bem Chase e o entrevistado de perfil, este sentado na ponta da mesa e aquele ao seu lado.


- O que você acha deste?

- Entediante.

- Estou vendo que você não vai perdoar nenhum... Cuddy te deu até o final da semana, House..

- Pois, não estou nem preocupado.

- Eu acho que você deveria...

- Fazemos disso uma aposta?

- Até o final da semana, você consegue não contratar ninguém e Cuddy não te enterrar vivo? Certo.

- Um “Big Ben”?

- Já aviso que você vai perder...- e Wilson riu com alegria pensando em embolsar os 100 dólares do amigos tão fácil.

- Até parece!

- Ah...e a ‘blond shell’ que veio na parte da manhã e todos disseram que o Chase gaguejou para falar com ela?

- Até eu gaguejaria. Na verdade não gaguejei...

- Então?

- Interessante... normal...

- House?

- Rasa... Oca por dentro... Nada interessante. Sem possibilidades.

- Você é difícil mesmo...


Eles testemunharam Chase apertar a mão do entrevistado com energia e se despedirem.


- Parece que o Dr. Chase gostou desse...

- Ele gosta de todos. Qualquer um que faça o serviço burocrático para ele e que tire a Cuddy do seu rabo. Para dizer a verdade, o Chase gosta de todo mundo e fala o que todos querem ouvir para ele ficar bem com todo mundo.

-  House, você não está sendo justo...

- Talvez, mas gosto disso. Quero ver até onde ele agüenta sendo assim.


O entrevistado estava bem próximo de House com um sorriso amplo.


- Dr. House, eu admiro muito o seu trabalho e ..

- Você quer um autógrafo?

- Não...

- Então, cai fora.


Depois de um tempo, Wilson completou.


- Você não precisava ser tão direto com o rapaz.

- Não suporto quando eles me reconhecem.

- Eu não te entendo...


Wilson, olhou para o relógio.


- O próximo candidato vem agora?

- Pela cópia que  fiz na agenda do Chase, sim...

- Qual é o nome?

- Hum...- House procura- ...uma médica....Dra. Allison Cameron...

- Ok.




House olha pro final do corredor e vê uma mulher jovem, não mais que 30 anos, pele alva e pouca maquiagem. O cabelo era castanho, castanho escuro talvez, preso numa trança comprida. Era uma figura elegante, mas lutava desajeitadamente com algo na bolsa. Ela parou e desligou o celular. Jogou o aparelho para dentro novamente. Passou a mão pelo cabelo para ajeitar alguma mecha rebelde e alisou a blusa. Segurou a pasta que trazia. Tinha tinha uma beleza fresca, original e... Significante.


Pelas roupas e a preocupação, concluiu que só poderia ser a próxima candidata.


A médica pegou uma folha de papel na pasta, leu e guardou. E olhou para o número das salas. Parou na frente da sala que se lia “Dr. Gregory House’. Por um relance, percebeu a presença dos dois homens do outro lado do corredor. Um mais jovem com jaleco, simpático, que a cumprimentou com a cabeça. Ela respondeu o gesto com um sorriso. O outro era mais velho, charmoso e a observava com maldosos olhos azuis. Ela não conseguia processar o que fazer.


Sabia quem ele era. Já o tinha visto antes. E ela apenas abaixou a cabeça envergonhada e entrou na sala.


House pensou na reação daquela médica. Lembrou da maneira como caminhou pelo corredor, como se moldou até a porta da sala dele, como sorriu para Wilson. E depois como responder o olhar que ele direcionava a ela. Como o olhou. Como baixou a cabeça sem corar, mas ele podia ver nos olhos dela que ela teve vergonha daquela troca de olhares. E junto um certo orgulho. Significante.


Ele lembrou-se de algo. Ele já tinha tido aquela sensação antes.


Procurou em suas memórias e lembrou-se do impacto que uma mulher em Kioto tinha lhe provocado. Ele era jovem. E ficou deslumbrado com aquela figura mágica e sublime. Como andava flutuando, olhava com graça, se portava majestosamente e provocava sem provocar.


Seu pai havia lhe levado ao famoso bairro de gueixas de Gion., a música, as risadas, o cheiro de chá e comida, tudo se misturava com as sombrinhas de papel nas ruas e as várias daquelas bonecas de luxo vivas que coloriam a paisagem.


Mas era uma em especial que ele lembrava. Uma Maiko, uma aprendiz, que havia lhe encantado. E seu pai notou e lhe explicou:

- Greg, elas são como obras de arte. Belas para serem vistas, não tocadas. Servem para reacender a paixão dos homens, mas presas a qualquer um deles, serão rouxinóis em douradas gaiolas de ouro. Morrerão e você morrerá de culpa por isso.


O dr. House lembrou-se daquilo. Daquela sensação e quis saber porque agora aquela médica lhe trazia de volta o seu passado. Aquela sensação tão bem guardada e esquecida.


- Wilson, segura isso...-e entregou a pipoca-.. Vou ajudar o Chase dessa vez...

- House, ela é bonita... Mas e as aulas?

- Não se preocupe, tenho tudo sobre controle dessa vez...


Wilson apenas se encostou melhor no banco e comeu mais pipoca. Vamos ver qual seria o show da tarde. Ele sempre se divertia com House. E seu próximo paciente ainda ia demorar. Tudo sobre controle.



Parado do seu escritório, House conseguia ouvir a eloqüência que a jovem medica defendia seu ponto de vista para Chase. Definitivamente, ela tinha paixão pelo que fazia. Ou simplesmente, não tinha trabalhado o bastante na área para deixar de acreditar na profissão. Depois ele escolheria a resposta.


Chase parecia encantado por ela, e como a mesma se encontrava de costas para entrada da sala de diagnósticos, nenhum dos dois notou a presença dele logo.


- E se o seu paciente não quisesse receber este tratamento?


Ambos olharam para House.


Cameron ficou nervosa com a presença dele e não conseguiu responder nada. Nem contemplá-lo por muito tempo. Não sabia explicar porque ele fazia isso com ela. Ele a amedrontava. De uma boa forma.

Ele se juntou aos outros médicos na mesa, sentando-se ao lado de Chase. E puxando a pasta com as informações da médica.


- Nada mal...


Cameron ainda mordia os lábios.


- Mas então, o gato comeu sua língua?

- House, você sabe que eu... eu tenho que avisar a Cuddy que você está aqui...

- Ela falou que  não deveria “prejudicar”a entrevista...

- E você jura que não irá prejudicá-la?

- Hum...Fazendo uma pergunta filosófica assim... Fiquei na dúvida...

- Então, deixe-me terminar a entrevista com a Dra. Cameron, por favor...

- Chase, melhor ainda, faremos assim...- e ele pegou a carteira no bolso-.... Pegue 20 dólares e vá comprar um sanduíche para mim, leve uns 30 minutos nisso e pode ficar com o troco. A cada 30 minutos adicionais, você leva mais 20, fácil assim.

- Mas imagine se...

- Não, você não entendeu...Você não ganha nada, me enrolando 30 minutos AQUI... O dinheiro conta com você fora da sala... Cai fora agora...


Dr. Chase suspirou e pegou o dinheiro. Olhou para Dra. Cameron, a qual via tudo aquilo com certo sorriso de diversão.


- Foi um prazer te conhecer, e este dialogo ilustra bem o que você vai encontrar neste emprego.

- Corta o drama, estrangeiro. Você tem sorte de eu renovar sua licença por estas terras, mais uma e eu te mando para junto dos aborígenes!


Sozinhos na sala, o médico olhou fortemente para sua entrevistada, pensando no motivo de tanta atração por aquela estranha.Cameron estava com alguma dificuldade de ordenar os pensamentos e sua postura diante daquele médico, quem admirava há tantos anos e desejava tanto trabalhar com.


Parece que em algo ambos concordavam: existia algo diferente ali. Algo único e novo para ambos os envolvidos. O médico pensava em como reiniciar a conversa, sentindo-se bem incomodado por estar incomodado. Ela lhe deixava incomodado em algo.


- Então...

- O senhor quer que responda a pergunta que me fez antes? – Cameron falou em um fôlego.

- Era isso que eu ia dizer...- ele se divertiu porque não tinha a mínima ideia do que tinha perguntado antes- ...Mas se você não quer que eu te empregue apenas para te demitir, corta a do “senhor”...

- Desculpe-me.... Ah...eu.. -ela brincava com um botão de sua roupa para conter o nervosismo- ... Se meu paciente não aceitasse o tratamento, sempre poderia haver a opção de um tratamento alternativo...

- Se não existisse?

- Eu conversaria com o paciente para saber qual seria sua preocupação ou medo, e isso é muito efetivo...- ela falava com autoridade.

- Ahhh....- House girou os olhos-....Conversar com o paciente... Nops... Não é uma opção aqui...

- Por que?

- Pessoas não são confiáveis, não podemos perder tempo. Você tem qur ir lá e mostrar que isso irá ser feito de qualquer jeito, e se mesmo assim, ele não concordar. Você irá lá e aplica o tratamento adequado...


Cameron se absteu da réplica. House sentiu o desconforto causado.


- Você tem algum problema com isso?- ele perguntou interessado.

-....Hum... Eu acredito no consentimento informado...

- E se eu te disser que esta vaga irá ser preenchida por alguém, que demonstre menos apego as baboseiras bioeticas, que andam inventando por ai...- ele jogou a isca.

-A vontade do paciente vale para mim mais que este emprego...- ela falou em voz tímida.


Ele olhou para ela com mais atenção. Com certeza, a pescaria seria memorável.


- Digamos que a vontade do seu paciente é morrer. E se ele te pedir para terminar com a vida dele?

- Eu fiz um juramento...

- Não me venha com saídas à francesa agora...Você disse que a vontade do seu paciente é significativa. Tanto para não mentir para me agradar aqui. A vontade dele é por fim ao sofrimento dele, mas ele não pode fazer isso, por “x” razões. E te pede no leito de “quase” morte para você ajudá-lo como sua médica... O que você faria?

- Eu...- e ela se sentiu ainda mais intimidada por aqueles olhos azuis-....Eu...

- Fale... prometo não contar para Cuddy....a chefe...você sabe, a maldita bruxa do Leste?

- Dr. House... Não era do Oeste?

- Não, eu gosto mesmo daquela que a casa cai em cima.... Ótimos sapatos...


A jovem não sabia se ria ou se assustava. Ele era definitivamente desafiante. Poderia bater os calcanhares a qualquer tempo para ele.


- Não o faria. Não posso concordar, isso interfere nas minhas escolhas...

- Bem, você ficaria surpresa como o mundo dá voltas...

- Não, não sobre isso...

- Algum suicida na sua família? Alguém próximo?

- Não...-ela pos uma cara de ofendida-...E creio que isso não interessa aqui...

- Eu defino o que me interessa aqui. Você sempre usa o cabelo preso?

- O que isso tem haver com o meu trabalho com o senh... você?

- Tentarei mais uma vez, mas saiba que você perdeu uma estrelinha com isso: “eu defino o que me interessa aqui. Você sempre usa o cabelo preso?”

- Não, gosto do meu cabelo solto...

- Muito bom! Eu também...-falou instantaneamente e depois ficou sem graça- Você sabe? Mulheres com o cabelo sempre preso escondem algo. Estão presas a algo...

- Sim, muito cientifico da s..- e ela se calou-...Desculpe-me...

- Não, isso é bom. Você está entendendo o clima...- ele a olhou com mais intensidade- Talvez você tenha solução...


Ela engoliu a seco o comentário, não tanto pelas palavras, mas como ela a olhava. Ele continuou.


- Estou cansado das pessoas virem trabalhar comigo e “se ofenderem” por qualquer coisa. Tudo para o lado pessoal, inacreditável. Nenhum traço de vida inteligente neste planeta ou algum senso de humor. Tudo como se houvesse regras tão estritas politicamente corretas que não se ajustar a isso é causar um abalo sísmico social. É impressionante o quanto...


O médico se calou. Ele nunca falara tanto com um candidato, na realidade nunca um candidato sobrevivera tanto a uma entrevista com ele.


Aquela mulher o incomodava. A maneira como ela o olhava, se portava, declinava a voz. Ele não se sentia no controle perto dela. Isso o incomodava enormemente. E mesmo assim, como quando na ponta do abismo, ele não cansava de contemplá-la. Uma força o atraia. Ao fundo do abismo... A ela.


- Eu percebo....-disse apenas e House a olhou com medo que ela tivesse lido seus últimos pensamentos-...Sei que muitos se ofendem com o que o senh...você fala... Mas..

- Como você sabe? De onde você me conhece? – olhou-a com um sorriso sacana.

- Bem, vim a uma palestra sua, aqui em Princenton, ainda na faculdade...

- Entendo, você não conseguiu me esquecer...


Cameron ficou pálida, e agora a pergunta era dela se ele podia ler pensamentos.


- Desculpe-me... Eu não queria lhe ofender, Dra... –tinha uma cara de genuíno remorso-... Continue...

- Era só isso... Testemunhei alguns incidentes de pessoas que não o compreenderam... Eu lhe perguntei sobre o tratamento experimental contra TB e a controvérsia em Michigan, e fiquei fascinada com a sua resposta.

- Ahh... A controvérsia de Michigan. Não pense que fiz muitas, perdi uma aposta, e a Cuddy se aproveitou como sempre. Os incidentes... Um aluno fanho e outro caipira, não podiam localizar nem Michigan no mapa, muito fácil tira-los do prumo. Bons tempos. Eu me recordo desta pergunta que você mencionou... Mas não me lembro de ter sido sua.. –ele ficou pensativo-... A moça em questão tinha... –colocou as mãos generosamente sobre o próprio peito-... Ela era... Tinha certa vantagem... Definitivamente “C cup”... Não que você não seja adorável, eu digo... – ele fechou os olhos- ... Oh boy...


Por que ele se importava se poderia ofende-la? Algo estava muito errado aqui.


- Não, não fui eu – ela disse antes que aquilo ficasse mais embaraçoso, e ela começasse a rir-... A pergunta era minha, mas pedi para uma amiga fazê-la para mim...

- Por que? –olhou cuidadoso.

- Eu... - ela mexeu na ponta da trança, tentando achar as palavras, ficando apenas com as bochechas rubras.

- Dra. Cameron, você tem uma queda por homens mais velhos?


Ela tinha ouvido bem?


- Dr. House, eu... –olhou alarmada-... Não! Claro que não!

- Ok, não minta para mim... Mas prometa-me não dar em cima de mim na segunda... -ele se fez de donzela- ..Isso pode trazer problemas para nos dois, que estou disposto a enfrentar, mas o Wilson é ciumento, até ele não casar de novo, sou o único que agüenta ele...


E ele se levantou tomando o rumo da porta principal


- Segunda? – ela se levantou e o acompanhou.

- Sim, ou você adere a algum movimento subdesenvolvido que começa a trabalhar na terça?

- O emprego é meu? – ela nem podia crer.

- Olha, estou reavaliando minha decisão...

- Não, eu...- e ela quase o abraçou, se segurando no ultimo segundo e estendendo a mão somente-...Obrigada, Dr. House.


Ele olhou para aquela cena. Os olhos dela estavam realmente agradecidos e exultantes. Ela tinha um lindo sorriso.


- Você sempre aperta a mão quando fecha um negócio?

- Sempre. E isso não é um negócio...

- Certo...-ele aceitou o aperto de mão com um olhar divertido.


Nenhum dos dois estava preparado para aquele toque. Permaneceram nele mais que o aceitável. Era como se a qualquer momento, aquele aperto de mão iniciasse algo mais. Ele pressentiu o medo dela daquilo. “Ainda mais que ele?” foi o que ele conseguiu pensar.




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