Passaram-se exatos cinco dias e as interações entre Camila e eu não são consideradas as melhores. Só abrimos a boca para falar um com outro quando vamos comer. Passa isso passa aquilo... Eu acho que o clima entre nós está meio pesado, depois da morte de Scott e Lea. Mas não podemos fazer nada a respeito. Eles se foram. Para Sempre. Sei que é meio frio da minha parte, mas estou apenas falando a verdade. Nossa comida está acabando. Temos apenas muitas armas. Incluindo minhas diversas facas, um arco e uma aljava cheia de flechas, os dois machados de Lea. A zarabatana com dardos envenenados foi levada pelos Carreiristas. Em questão de armas estamos bem. Mas em questão de comida... Temos apenas um esquilo e alguns pães de queijo. Temos água também, que é utilizada muitas vezes para enganar a fome. Alguma hora nosso estômago necessitará de algo mais. Sugiro para irmos caçar e Camila topa na hora.

Estamos andando cautelosamente para não espantarmos os animais que futuramente serão nossos alimentos. Estou com medo de encontrar algum dos Carreiristas. Peraí... Medo? Isso não é de mim! Acorde Jonathan Tomphson, você é corajoso e já matou três Tributos. Tá bom, a última parte não precisava ser mencionada. Avisto um peru selvagem e indico para Camila atirar. Ela o abate com facilidade. Ótimo, temos um peru rechonchudo para o jantar. Abatemos mais um coelho e três esquilos. Estamos reabastecidos em nosso estoque de comida. Andamos tranquilamente em direção do rio para pegarmos água, e lá estão ninguém mais ninguém menos que Sarah, do Distrito 8 e Alex, do Distrito 4. Sarah tem quinze anos e Alex tem quinze também. Sarah tem aparência de inocente, mas em suas mãos existe um punhal bem pontudo. Ela lança a arma em minha direção. Desvio por pouco. Alex corre para perto de mim me atacando com uma lança. Eles são realmente habilidosos, Alex até entendo, vem do Distrito 4 onde os Tributos são treinados. Mas Sarah é do 8, lá eles não recebem nenhum tipo de treinamento. Eles são aliados. Camila corre atacando Alex com sua flecha. Estão rolando no chão. Sarah está me imobilizando. Atiro uma flecha em seu braço fazendo com que ela solte um urro de dor. Camila e Alex ainda estão brigando, e parece que ele está com vantagem sobre ela. Penso na vez em que Camila salvou minha vida quando Patrick estava quase me matando. Terei que matar Alex. Não quero usar armas. Mas como vou matar sem armas? De repente lembro-me de quando eu estava assistindo a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes. Clove, a garota do Distrito 2, estava prestes à matar Katniss, ela estava zombando da aliada de Katniss, Rue, que foi morta por Marvel. Ao ouvir esses comentários maldosos a repeito de Rue, Thresh, o Tributo masculino do Distrito 11, arranca Clove de cima de Katniss. Pega uma pedra mais ou menos do tamanho de um pão e arremessa na têmpora de Clove, causando sua morte.

É isso! Penso. Estou procurando uma pedra grande o bastante para matar. Encontrei uma perfeita. Corro em direção de Camila e Alex, que estão lutando incessantemente e agarro Alex pelo braço, dou uma rasteira nele e arremesso a pedra em sua têmpora direita. Não está saindo muito sangue, mas sei que ele está morto porque acabei de ouvir um canhão. Ajudo Camila a se levantar e olhamos para o local em busca de Sarah. Ela deu no pé quando foi possível. Deixamos então pra lá. Provavelmente ela será morta pelos Carreiristas ou por um daqueles Bestantes que nos atacaram quando estávamos indo em direção do acampamento dos Carreiristas. Pegamos um pouco de água e voltamos para o nosso novo esconderijo. Fazemos uma fogueira que não ficou muito bom, mas dava para o gasto. Assamos o peru selvagem, que estava muito saboroso e suculento. Bebemos água no exato momento que o hino começa. Hoje tivemos apenas um morto, Alex Pucket do Distrito 4, que aliás foi morto por mim. Senti-me a pior pessoa existente na face da terra, por tirar a vida de um adolescente da mesma idade que eu. Lembro que fiz a coisa certa. Por que se não tivesse matado ele, Camila provavelmente estaria morta.

Obrigada. Comenta ela.

Não precisa me agradecer. Começo. Você salvou minha vida uma vez, já era hora de retribuir não é?

Acho que sim. Responde Camila sorrindo. É tão bom estar ao seu lado, com você me sinto segura.

Para uma garota menor que eu, também me sinto seguro ao seu lado. Digo sorrindo.

Ela me lança um sorriso, se deita e adormece lentamente. Faço o mesmo e durmo tranquilamente. Preparado para os desafios que os Idealizadores nos lançarão amanhã.