Marcas Da Morte escrita por Cavaleiro Branco


Capítulo 17
Primavera Obscura


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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2 de Abril

Eu odiava aquela sala.

Aquele pedaço fechado e frio de pedras negras e gélidas não melhoravam o humor de ninguém. Não importava se lá fora estivesse o dia mais feliz e quente do mundo, aquela sala sempre dava um jeito de transformar a pessoa mais sorridente de todas em um ser triste e enfiado em suas roupas.

Até que ouvi o ranger das duas grandes portas da sala.

–Entre – dizia uma voz lá dentro.

Eu realmente não achava a sala dele melhor. A única diferença era uma mesa grande de madeira escura, uns pedestais de madeira ao lado e umas pinturas antigas.

Isso sem falar do ser que vivia atrás da mesa escura.

–Porque a feliz visita hoje? – ele dizia “feliz” como se aquilo fosse a pior coisa que já aconteceu na vida dele.

–Andei descobrindo coisas bem interessantes, mestre – disse.

–Hum... Que tipo de coisas?

Aquele olhar gelado e encapuzado de preto cortava até pedras. Já convivia a tempos com ele, mas ele sempre dava um jeito de continuar me assustando com esse olhar.

–Descobri uns fatos interessantes “deles”... Parece que os Brancos estão pela América também.

Ele pareceu ficar nervoso, eu acho. Não se via muitas emoções naquela escuridão.

–Depois de tantos e tantos anos eles finalmente estão mostrando a cara de novo por aqui... Mas me diga: O que descobriu?

–Me parece que aqueles três Brancos europeus “despertaram” a aura, mestre.

–Não... impossível... isso não existe faz quatro séculos!

–Três, na verdade.

–Não piore a situação, lacaio... Em qual intensidade foi?

–Média... mas não vai continuar assim por muito tempo.

–Droga... Aqueles Europeus filhos da mãe...

–Desculpe-me, mestre, mas não vai ficar adiantando ficar aqui reclamando.

Sabia que ele ia me lançar aquele olhar gélido de novo, mas não podia negar.

–Está certo... Mas vai ser bom...

–Como assim, mestre?

–Esses Brancos safados se enfiaram no Velho Mundo desde sempre... não temos algo assim a eras e eras.

–O que quer que eu faça, mestre?

Ele demorou um pouco para responder.

–Não podemos sair para um ataque frontal... com certeza... Se aproxime deles, de um modo que nem notem quem é de verdade. Conquiste a confiança deles. E quando for o momento certo, teremos uma vantagem observável.

–Sim Mestre. Farei o possível pela nossa Irmandade.

–Agora vá. Faça-os cair diante de nós mais uma vez na história.


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Dois dias depois...


–É incrível como não conseguimos nada nesses últimos meses...

Nem mesmo o macio sol da tarde clareava o rosto de Kevin, encoberto pelas sombras do capuz de sua blusa branca. Mas seus colegas nem precisavam vê-lo para notar que ele olhava pensativo para o chão verde do campo do colégio. Sentado no gramado, parecia ainda mais pensativo.

–Como assim “Nada”?! Tudo aquilo não foi nada?

Kevin levanta o olhar a seu amigo, agora encostado em uma árvore e em pé.

–Claro que foi alguma coisa, Felipe. Me refiro a missão.

–Ah sim...

–Kevin tem razão, Felipe – Heloísa tirava o capuz da cabeça – apesar de tudo o que vimos nos últimos dois meses, estamos aqui em missão. Mandaram-nos aqui para um propósito.

–Uhum... – Kevin acenava com a cabeça encapuzada em resposta – depois daquela vez na ponte em Fevereiro, tudo ficou silencioso demais. Não demos nem mais um passo...

–E por onde sugere começar? – pergunta Heloísa.

–Luca – diz ele – ele fala que estamos trabalhando juntos, mas ele está mais afastado da gente do que afirma. Vamos dar uma palavra com ele esta tarde mesmo.

–No final do dia faremos isso então – dizia Felipe – temos ainda aquelas tarefas de casa chatas de matemática pra fazer.

Um mal humor recaio sobre o trio. De todas as matérias que eram “forçados” a aprender, matemática era a pior. Além do gosto pela matéria não ser bom, ambos iam indo muito “legal” nela.

–É verdade... – dizia Kevin, com mau humor – OK, faremos isso então. Nos encontramos as 18 aqui mesmo. E com Luca junto.


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Aquilo era realmente fascinante.

Kevin havia nascido com aquilo, mas ainda parecia arte aos olhos dele. A Marca de Nascença no seu antebraço esquerdo tinha cada detalhe em preto puro que era impossível não olhar por pouco tempo.

Kevin fazia isso no ar empoeirado e mofado da biblioteca da escola. Enfiado em uma mesa no fundo do aposento vazio, ele estava praticamente a vontade. Tinha três montanhas de livros tapando a vista de qualquer bisbilhoteiro. E apenas uma pequena janela, que dava para o campo lá em baixo, iluminado pelo sol da tarde.

Cada linha preta daquela marca parecia mais atraente para Kevin naquele ambiente do que qualquer outro. Viera ali para fazer a tal tarefa, mas logo a simples ideia de fazer aqueles trocentos números virar um mero 3 fez ele perder toda a esperança.

Mas era impressão de Kevin, ou a marca estava... maior? Com mais linhas?

–Quem está aí?

Nem analisou se a voz era feminina, masculina, próxima ou distante. Puxou a manga esquerda para cima imediatamente, tapando a marca com a manga branca da blusa. Rapidamente coloca o capuz na cabeça e abre um livro em uma página qualquer.

–Não é meio estranho ler de capuz na biblioteca, Kevin?

Assim que reconheceu a voz, não perdeu tempo em levantar a cabeça.

–Giovanna? O que faz por aqui?

–Te pergunto a mesma coisa.

–Fazendo aquela tarefa de matemática. E você?

–Eu tava... procurando um livro!

–Já achou?

–Não, ainda não!

Kevin fechou aquele livro. Não ia aguentar ficar mais um minuto ali.

–Quer que eu ajude? Devem ter umas centenas aqui.

Era impressão de Kevin, ou ela corou?

–Obrigado!

Depois de dar a tarefa mais umas vezes, Kevin começou a se aproximar mais de Giovanna. Ela não era só uma boa amiga, engraçada e inteligente, mas também deixava Kevin copiar a lição. O que, naqueles tempos de “crise de notas”, era uma salvação.

–Como é o nome mesmo?

–Arte da Vida. Não tá na prateleira de cima não?

–Deixe-me ver... É esse?

–É sim! Obrigado, Kevin! Você ajudou bastante!

–De nada!

Enquanto corria até a saída da biblioteca, Giovanna nem poderia imaginar.

Em semanas, talvez meses, Kevin abre um sorriso. Mas não um sorriso malicioso, de vingança, humor.

Um sorriso que seja, talvez, de pura felicidade.


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–Você tem sua razão, Kevin.

Luca, Kevin, Heloísa e Felipe se encaravam sob a bela luz alaranjada de um por do sol mais belo ainda, que se estendia pelo campo da escola. Ambos usavam roupas simples, como jeans e camisetas com mangas curtas e de diversas cores e desenhos. Para qualquer um que passasse, não se passavam de um mero grupinho qualquer conversando.

–Então pensamos – dizia Heloísa – você saí tanto por aí tentando adquirir informações. Deveria ter uma que possa ajudar na situação.

–Olha só quem fala – Luca muda o tom de voz – vocês também andaram bem sumidos nessas últimas semanas.

Heloísa e Felipe se encararam.

–Estávamos treinando, oras – responde Felipe – estamos sem ação recentemente, mas isso não quer dizer que temos que ficar parados bobeando.

–Bem... tem razão... – reflete Luca.

–Nós não tivemos nenhum progresso desde aqueles dias... Queríamos saber de você.

O trio logo percebeu que Luca não estava de mãos vazias, pois ajeitou um pouco a posição das pernas.

–Receio que tive algo... Andei andando por aí e descobri que, depois do nosso “caso” na ponte, os ataques sumiram. Por isso que não estamos encontrando nada.

–Só isso descobriu?

Luca encarou Felipe.

–A Irmandade não tem um numero enorme de membros por aqui, como existem na Europa. Temos apenas uma base pra 25 estados do Oeste apenas. Enquanto vocês tem uma a cada 5 quilômetros. Estamos em numero bem limitado. Por isso o progresso por aqui é limitado também.

–Tudo bem... Entendemos – retribuía Felipe

–Mas o que encontramos na ponte é uma peça muito importante. Andei pensando no que poderíamos fazer...

–E seria...? – Kevin estava ansioso pra fazer algo que não seja sentar e estudar coisas inúteis.

–Melhor vocês consultarem direto a Irmandade, ou algo assim. Vocês não receberam aquele aparelho?

–Claro – lembra Heloísa.

–Então. Falem um pouco com seus Mestres.

–E enquanto a você?

–Recebi uma mensagem hoje mesmo. Eles querem que eu vá checar uma coisa na nossa Base Assassina, em Nevada.

–Nevada? – Heloísa fica surpresa.

–Não falei que tínhamos uma coisa só pra todo o Oeste Americano? Pois bem, é essa.

–Vai ficar muito tempo fora?

–Não sei do que se trata. Se tudo der certo, uma semana. Mas me manterei em contato com vocês. Qualquer mudança, eu aviso.

–Tudo bem – afirmaram juntos.



–Acreditaram nele? Eu não.

–Não acho que ele mentiria pra gente, Felipe. – respondia Kevin – não conseguimos quase nada juntos...

–Mas ele nos propôs uma coisa sensata a se fazer. – lembrava Heloísa, enquanto ambos caminhavam pelo campo da escola, que escurecia mais a cada minuto.

–Verdade. Seria bom a gente atualizar a Irmandade dos acontecimentos recentes. – Lembra Kevin.

–Aposto que os Mestres vão ficar bem... interessados no que rolou ultimamente... – dizia Felipe

Uma ponta de duvida surgiu em Heloísa.

–A gente conta pra eles... vocês sabem... “daquilo”?

–Melhor esperarmos – refletia Kevin – minha mãe ia ter um piri-paque se descobrisse que eu pratico magia...



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Notas finais do capítulo

Darth Dorfo



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