Hermione Granger - Reencontrando os Pais escrita por ro1000son


Capítulo 6
Capítulo 6: Os Gêmeos Donnwall


Notas iniciais do capítulo

Os personagens principais pertencem a J.K. Rowling.



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— Puxa vida, mal posso acreditar no que estou vendo. Harry Potter, Hermione Granger e Rony Weasley, os mais novos heróis do mundo bruxo da Inglaterra bem aqui, na Austrália, pertinho da minha casa. Quem diria...

Em outros tempos Hermione, Harry e Rony entenderiam isso como uma malvada ironia. Mas o rapaz, que era todo sorrisos, parecia entusiasmado demais para querer rivalizar com eles. De fato, Hermione pensou que, naquele momento, se algo de ruim tivesse que acontecer, já estaria acontecendo. Entrementes, a garota não encontrava palavras para exprimir a confusão que estava na cabeça dela. Olhava de um lado ao outro, estupefata, e parecia que Harry e Rony estavam entendendo tanto quanto ela. Afinal de contas, quem eram aqueles dois estranhos de cabelos tão desarrumados que pareciam com os de Harry? Não havia dúvida de que eram bruxos, mas não sabia por que eles estavam ali. Se eram amigos ou inimigos precisaria ser explicado.

— Desculpe se os assustamos. É que estava um tanto difícil encontrar com vocês – disse o loiro que apareceu por último.

— Acredite... – Harry respondeu rispidamente a ele. – Já fomos surpreendidos outras vezes, então já estamos acostumados. Só não esperávamos que fosse...

— Aqui na Austrália - completou Hermione. Ela observou que o primeiro rapaz que apareceu não falava; somente o segundo, que acenava com a cabeça positivamente.

— Entendo. Não acreditavam que fossem reconhecidos. Mas, a essa altura, acho que já sabem que estão em praticamente todos os jornais bruxos conhecidos. Bem, mudando de assunto, pode parecer estranho para vocês agora, mas tenho que lhes informar que meu irmão não fala. Por isso não liguem se ele não abrir a boca para responder... – o garoto fez uma pausa para uma risada. - Ele nasceu sem voz. Mas se serve de consolo, ele ouve perfeitamente.

Surpresos com esta resposta a uma pergunta que ninguém fez, Hermione, Rony e Harry se viraram para o primeiro rapaz. O olhar que ele lançou aos três foi amistoso e indicava que ele já havia passado por isso antes.

— Melhor assim, é menos um para atazanar vocês com piadinhas. A propósito, não nos apresentamos. Eu sou Eric Donnwall e meu irmão é o Theodore Donnwall, mas podem nos chamar de Eric e Téo – disse o rapaz, passando para ficar ao lado do irmão. Não parecia haver nada que fizesse com que os gêmeos se diferenciassem. Os dois usavam os mesmos modelos de roupas, com as mesmas cores, são da mesma altura, pouco mais altos que Rony, e os dois possuem os olhos com o mesmo tom de azul. Hermione até pensou que eles lembravam os gêmeos Weasley – Jorge e o falecido Fred - no comportamento. Com uma rapidez incomum, Téo se abaixou e rapidamente se levantou revelando um grande ramalhete de flores e levando na direção de Hermione.

— É isso aí, Téo. Senhores e... Madame – disse Eric, esboçando uma reverência. - Esse é o nosso jeito de desejar boas vindas.

— Téo... Er... Obrigada - disse Hermione ao receber as flores das mãos do rapaz. Rony se remexeu um pouco inconformado com essa gentileza.

— Isso mesmo, flores para a mocinha e um aperto de mão para os rapazes.

Os dois irmãos cumprimentaram formalmente, com um aperto de mão, Harry e Rony, que devolveram a cortesia amistosamente. Rony estava com o mesmo comportamento tímido de sempre, mas Harry se mostrava desconfiado e curioso com relação aos dois estranhos. Depois dos cumprimentos, Téo se virou novamente para Hermione e apontava para os ramos de flores tentando mostrar alguma coisa. Ela tentou entender o que ele queria dizer, mas Eric foi mais rápido.

— Há um presente no meio das flores. Espero que goste.

A garota fez uma nota mental: teria que aprender a linguagem dos sinais em algum curso, e bem rápido, porque viria bem a calhar numa hora dessas. Com a mão livre, Hermione começou a remexer no meio daqueles ramos desajeitadamente e, para surpresa dela, encontrou algo macio, precisamente um bichinho de pelúcia. Quando puxou, ela se derreteu com o presente.

— Que lindo! Adorei. Obrigada aos dois.

— Não há de quê - respondeu Eric, e Téo com um aceno de cabeça.

— Mas o que é isso? Um castor com bico de pato? - quis saber Rony, enciumado pela gentileza.

— É um ornitorrinco - respondeu Hermione, uma resposta automática, ela pensou.

— Um dos animais símbolos da Austrália, e é um dos bichos que mais gosto de observar... quer dizer, meu irmão e eu - completou Eric, quando o outro olhou para ele. Depois, olhando para Rony, dando uma piscadela, disse. - Não se preocupe conosco, colega. Como eu disse antes, é só nosso jeito de dizer boas vindas.

Rony pareceu se conformar, pelo menos por enquanto, com esta resposta. Mas Hermione pensou que havia algo mais estranho com os dois irmãos. Havia um quê naqueles gêmeos que parecia intimidar os outros. Harry, no entanto, estava a fim de respostas mais urgentes.

— Ok. Agradecemos pelas boas vindas, mas ainda não sabemos muito sobre vocês. Porque estavam atrás da gente? Não sei se vocês notaram, mas nós três queremos evitar justamente o que estamos conseguindo aqui; estamos chamando a atenção.

Com uma olhada rápida ao redor, os garotos notaram os poucos trouxas ao longe, que andavam de um lado a outro, no estacionamento, olhando para eles.

— Ah, bom. Tem razão, senhor Potter. Mas para esta conversa, devo pedir que nos acompanhem até nossa picape.

— Picape? Agora sim, estou me lembrando de vocês - observou Hermione, acrescentando ao olhar de um para o outro. - Ou seria, um de vocês...

— Ah, sim. Foi o bobo do meu irmão aqui – interrompeu Eric, dando um empurrão no ombro de Téo. - Ele ficou esperando na saída do aeroporto enquanto eu procurava por vocês no saguão. Achou que deveria segurar vocês, entrando na frente do táxi, mas eu disse que não fizesse.

— Você disse que estava no saguão, nos procurando?

— Bom, meu irmão e eu temos uma maneira particular de comunicação, senhor Potter. Mas eu insisto em ir até nossa picape para que expliquemos tudo.

— Como podemos confiar em vocês? – quis saber Harry.

Os gêmeos se entreolharam, talvez tentando achar um motivo para convencer o trio.

— Bem, nós fomos “convidados” a sermos os guias de vocês aqui na Austrália. Se ajudar, temos uma mensagem do ministro da magia da Inglaterra. Só que está na picape.

Harry e Rony olharam para Hermione, deixando a decisão para a garota. Depois de um suspiro, ela assentiu e disse.

— Tudo bem, vamos com vocês.

— Mas vocês dois vão na frente – disse Harry, ainda com suspeitas.

— Está bem. Mas devo avisar que, no nosso caso, isso não seria de muita ajuda - disse Eric, se virando com o irmão para ir onde a picape estava. - Ah, e nós não estamos tentando imitar o penteado de Harry Potter - informou, olhando para Hermione.



Em poucos minutos Hermione, Rony e Harry atravessaram, em silêncio, na companhia dos irmãos Donnwall, o estacionamento do mercado até chegarem à picape deles. Era uma picape muito gasta, certamente com centenas de quilômetros rodados. Na parte de trás da carroceria podia se ver a lataria desgastada pelas ferrugens; a própria pintura azul da picape estava toda desgastada, mas os pneus estavam impecavelmente inteiros. Assim que a viu, Hermione teve certeza de que era a mesma picape de cabine dupla que vira na saída do aeroporto. Téo se dirigia para o lado do motorista enquanto Eric entrava pelo lado do passageiro e procurava por algo no porta-luvas.

— Entrem aí, por favor – recomendou ele à Harry, Rony e Hermione.

Hesitantes, os três se acomodaram nos assentos de trás da picape, ajeitando as mochilas - Hermione no meio dos dois rapazes. Ao contrário da parte de fora, dentro da cabine estava limpo e com tudo no lugar, embora ainda parecesse um veículo bem velho. Enquanto Téo, ao volante, aguardava por algo, olhando para eles pelo retrovisor, Eric se virou para os três, entregando para Hermione um envelope de um papel bastante conhecido, dizendo “Está aqui”.

— É, acho que estão certos... É o mesmo envelope usado pelo ministério. Tem até o mesmo selo.

— E a letra é mesmo de Kingsley – confirmou Harry.

Hermione abriu o envelope e retirou a carta. Foi escrita pelo próprio Kingsley, certamente para dar veracidade ao que os gêmeos informaram. Na carta eles puderam ler:

 

Queridos amigos Hermione, Harry e Rony,

 

Ao saber que viajariam até a Austrália para buscar seus pais, Hermione, pensei que poderiam precisar de alguma ajuda. Por isso, embora vocês não aprovassem, solicitei aos meus amigos no Ministério Australiano que conseguissem um guia para vocês. Me informaram que esses dois jovens seriam as melhores companhias que poderiam arrumar para lhes ajudar. Acredito que vocês possam mesmo precisar deles.

 

Esperando que estejam bem,

Kingsley Shacklebolt

Ministro Interino da Magia

Ministério da Magia, Londres, Inglaterra.

 

Hermione terminou de ler, mas ainda ficou segurando a carta para que Rony e Harry terminassem. Ela não precisou pensar muito para chegar à conclusão de que acabaria precisando de ajuda local. Quando notou que Rony acabara de ler, se virou para ele e sussurrou:

— Senhora Weasley? - o garoto sorriu dando de ombros e dizendo “Talvez”. Era mesmo provável que a mãe dele tivesse convencido Kingsley a procurar conhecidos na Austrália. Ela se virou novamente para os gêmeos para conversar.

— Muito bem, acho que sabem por que estamos aqui - questionou a garota para Eric.

— Sim. Estão aqui para encontrar seus pais, senhorita Granger.

— Bem, acho que podem nos chamar pelos primeiros nomes. Vai ficar mais fácil assim – informou Harry. Antes que Eric perguntasse algo para confirmar, Hermione completou.

— É verdade. Podem nos chamar pelos nossos nomes.

— Bom, nos sentimos honrados – respondeu Eric, tendo Téo confirmando com um sorriso. Harry sentiu a necessidade de saber mais sobre os gêmeos.

— Então, conte-nos a história de vocês.

Os dois irmãos se entreolharam com um sorriso malicioso. Hermione ainda achava que havia algo mais com os dois irmãos, e que acabariam sabendo o que era.

— Bom, como viram, fomos chamados para ajudar vocês nessa viagem. Não sabíamos em qual voo vocês vieram, por isso esperamos no aeroporto, com base nas informações que sabíamos de vocês quando saíram da Inglaterra. Deveríamos nos encontrar no aeroporto, mas como sabem, nos desencontramos. Quando meu irmão me avisou que estavam saindo, eu corri até ele e saímos logo atrás, na mesma direção, porque só nos restaria seguir o táxi

— Espera um pouco – interrompeu Hermione. – Mas, como assim, 'meu irmão me avisou'? Eu me lembro de ter olhado para ele dentro da caminhonete; ele não estava usando nada que servisse para comunicação.

— É... Pode ser estranho, mas acho melhor explicar isso depois - disse Eric e os três assentiram com a cabeça. - O importante é que estamos aqui para ajudar; por agora, respondendo às perguntas de vocês.

— Como nos encontraram aqui, no estacionamento? - Harry perguntou novamente. Os gêmeos se olharam novamente, desta vez sorrindo jocosamente.

— Acho que meu irmão previu isso. Perdemos a pista do táxi; não vimos por onde ele queria ir...

— Mas vocês nos acharam... Vocês sabiam aonde iríamos? – interrompeu Rony.

— Sim. Er, senhorita Grang... Quer dizer, Hermione. Não fique brava, mas quando o ministro da Inglaterra entrou em contato com o nosso ministério, nossos aurores procuraram por seus pais, para acompanhar o caso. A ideia deles era não interferir, a não ser que houvesse necessidade. Eles verificaram nos registros dos trouxas e acharam seus pais, mas eles já tinham viajado. Uma pena. Pelo menos eles descobriram onde mora Adja Bergins.

— E o que tem ela a ver com isso? - perguntou Hermione, rapidamente. Logo percebeu uma estranha confusão nos olhos dos gêmeos.

— Como? Mas vocês se encontraram com ela...

— Isso sim. Nos encontramos com ela. Mas ela não fazia ideia de que dois inquilinos tivessem algo a ver com bruxos.

— Ah, por um momento você nos enganou... - disse Eric. Hermione não entendeu o que ele quis dizer, mas deixou passar. - Bom, acho que deve saber que há mais chances de um trouxa se encontrar com um bruxo aqui na Austrália do que na Inglaterra. Vai descobrir que há muito do mundo bruxo misturado com o dos trouxas por aqui.

— Mas a senhora Bergins não é uma bruxa...

— Exato. A maioria dos desperdiçados está misturada com os trouxas. No caso da senhora Bergins é mais complexo... Mas voltando ao assunto, sabíamos que vocês iriam se encontrar com ela, mas nós não sabemos onde é a casa dela...

— Não disse que os aurores descobriram? - interrompeu Harry.

— Os aurores sim, mas nós não estávamos com eles. Entendam, então em vez de sair para procurar, e correr o risco de perder ainda mais a pista de onde vocês estavam, meu irmão teve a ideia de esperar porque achava que vocês voltariam por aqui. E ele estava certo. Finalmente ele marca algum ponto...

Hermione se sentiu novamente uma idiota. Como era possível que as ações dela fossem previsíveis para qualquer um, menos para ela? Na guerra contra Voldemort, nos dias em que ela viajava com Harry e Rony, ela conseguia ser racional. O que estaria acontecendo agora? Seria uma situação diferente deixando-a mais vulnerável? Seria por causa dos pais dela? Mas em se tratando desses gêmeos, a garota pensou que não se tratava exatamente de uns bruxos quaisquer. Ela tentou organizar os pensamentos enquanto perguntava para Eric.

— Mas, não era só uma questão de procurar os aurores...

— Não exatamente. Até lá, vocês já estariam em algum hotel, ou em outro lugar. Aí teríamos que fazer uma busca pela cidade. Já pensou no cartaz: ‘Procuram-se três famosos bruxos ingleses perdidos em Canberra. Quem souber de algo, avise ao bruxo mais próximo’ - Respondeu o garoto, rindo com piadinha. Hermione, Harry e Rony também riram timidamente.

— Bom, já que vão nos ajudar. Talvez possam indicar um hotel para nós...

— Acho que não. Se não se importa, Hermione, meu pai mandou que convidássemos os três para ficarem na nossa casa, pelo tempo que precisarem.

— Não queremos incomodar – observou Harry. De repente os três viram os irmãos sorrindo abertamente.

— É brincadeira? Meu pai está doido pra conhecê-los, principalmente a você, Harry.

Houve um momento de deja-vu naquela conversa. Parecia muito com os primeiros dias em que Hermione e Rony começaram a acompanhar 'o menino que sobreviveu' na saga dele. Hermione olhou para os olhos tímidos de Harry e achou que a melhor companhia na Austrália era a companhia de bruxos; já que estavam sendo reconhecidos mesmo.

— Tudo bem. Vamos com vocês. Onde fica a casa do seu pai?

— Ah... Fica no Rancho Cardinia, há uns cem quilômetros a oeste. Vamos, Téo.

Téo, que até o momento só acompanhava a conversa, ligou a ignição e imediatamente partiu em direção à saída do estacionamento. O barulho da caminhonete não foi suficiente para tirar de Eric a atenção do trio; Rony se recostava ao banco, bocejando preguiçosamente.

— Sono? - Rony somente confirmou com a cabeça para ele. - Fique à vontade, colega. O fuso horário faz isso mesmo... Bagunça nosso corpo.

Hermione até então não atribuiu o cansaço que estava sentindo ao fuso horário; achava que era apenas a longa viagem ou o peso da mochila. Mas teve que concordar com Rony. Parecia que os gêmeos deixaram um ar de conforto dentro da cabine e que dava até para tirar um cochilo.

Mas antes mesmo de que pudessem sair do estacionamento, algo perturbou a paz do momento. Na avenida para onde estavam indo, um caminhão avançou sobre a pequena praça no meio da rua, fazendo um estrondo ao bater em uma espécie de obelisco, chamando a atenção de todos. Téo parou com a caminhonete e os dois gêmeos saíram rapidamente para ver o que aconteceu.

— Fiquem aqui – disse Eric ao sair da caminhonete. Os dois correram para o local enquanto Hermione, Harry e Rony olhavam tudo atentamente. Se era verdade o que Eric disse sobre bruxos andarem misturados aos trouxas na Austrália, então deveria ser normal bruxos interferirem em coisas de trouxas, como acidentes de carros. Mas onde ficava o Tratado de Sigilo nesse caso? Enquanto pensava nisso, os gêmeos já estavam voltando; os dois com expressões indecifráveis.

— Nada para se preocupar. Ninguém se feriu - disse Eric ao entrar na cabine, sem olhar para eles. Téo deu a partida novamente e passou pelo local do acidente, já na avenida para sair de Conder. Olhando de longe, dava pra notar que o motorista trouxa estava consciente e bem e estava sendo amparado pelas pessoas próximas.

— Er... Eric, se não se importa que eu pergunte... - começou a perguntar Hermione.

— A resposta é não. Não nos revelamos para os trouxas, assim como na Inglaterra ou em outros países - respondeu, meio que interrompendo a pergunta da garota. Ela notou que ambos estavam aborrecidos com algo e no momento que formulava mentalmente a pergunta de como ele sabia o que ela ia perguntar, ele se adiantou, para o espanto dos três:

— Eu sabia o que você ia perguntar.

— Como? - perguntaram os três ao mesmo tempo.

Eric suspirou e trocou um olhar suspeito com o irmão que dirigia rápido demais para um trânsito calmo. O rapaz se virou para o trio e sorriu como se estivesse escolhendo as palavras certas a dizer.

— Mais uma vez, vai parecer estranho e... Não há um modo melhor de dizer isso... Nós dois somos telepatas, meu irmão e eu.

— Como assim, telepatas? O que é isso? - perguntou Rony, que ainda não estava muito acostumado a termos trouxas.

— Telepata é alguém que consegue ler as mentes dos outros – Hermione respondeu, tendo os dois irmãos concordado com ela.

— De fato, essa é a melhor definição para o caso. Mas nós dois descobrimos que podemos fazer algumas coisas a mais, talvez porque somos bruxos ou porque herdamos isso de nossa mãe.

Hermione, Harry e Rony se entreolharam, tentando entender o que acabara de ouvir. “algo mais” significaria que eles poderiam fazer algo além do que já é conhecido. Agora Hermione entendia porque pensava que havia algo estranho com os dois. A garota notou que Téo olhava a todo o momento pelo retrovisor para eles, enquanto trafegava pela avenida, parecendo querer estudar as expressões deles.

— E sua mãe... Também é bruxa? - quis saber Harry.

— Sim, ela era bruxa. Mamãe faleceu depois que deu a luz a nós.

— Eu sinto muito – disse Hermione aos dois irmãos.

— Tudo bem. Foi há bastante tempo... Ela não era exatamente uma telepata. Ela era uma sensitiva diferente. Ela sabia determinar o que as pessoas sentiam, e podia sentir isso até mesmo muito longe delas. Mas meu pai conta melhor essas coisas.

Hermione entendeu que ele queria encerrar o assunto sobre a mãe dele. Ao que parece, Rony e Harry pensaram o mesmo, porque Rony olhou para fora, vendo o ambiente, e Harry baixou a cabeça, talvez, se lembrando da família que perdeu ainda criança. Ela resolveu mudar de assunto para que o silêncio não demorasse muito tempo.

— Eric, há alguma coisa que você queira nos contar? Sobre o acidente de agora há pouco?

— Não, acho que não. Nada com que se preocupar - disse ele, sorrindo gentilmente. – Se importam se a gente apressar um pouco as coisas? Ir um pouco mais rápido?

Antes que alguém respondesse, Rony se adiantou animado.

— O quê... Vai me dizer que esse carro voa?

Harry e Hermione olharam para o ruivo imediatamente. Eric e Téo pareceram não entender.

— Voar? - começou a perguntar Eric, que, quase ao mesmo tempo, parecia pensativo enquanto olhava para Rony e logo fez uma cara de quem descobria algo imensamente interessante. - Ah, puxa vida. Vocês possuem um carro que voa.

— É do meu pai... Ficou um tempo perdido em Hogwarts, mas ele voltou. Papai ficou muito alegre, mas mamãe não ligou muito. Ela não é muito chegada a coisas de trouxas...

— Interessante. Seu pai deve ter tido muito trabalho em fazer um feitiço para um carro de trouxas voar. Mas a nossa picape não. Ainda não chegamos nesse estágio – disse o rapaz, sorrindo do jeito de quem gostou do assunto.

Hermione olhou severamente para Rony, tentando repreendê-lo, mas o ruivo nem dava bola. Como ele poderia tocar num assunto medíocre desses? Só mesmo o Rony. Eric resolveu voltar para o assunto.

— O negócio é que bruxos normais só conseguem desaparatar com o que carregam ou junto de uma ou duas pessoas. Meu irmão e eu podemos desaparatar com o que estiver ao nosso redor, apenas nos concentrando.

— Com o que estiver ao redor? Isso quer dizer com a caminhonete e tudo que estiver nela? - perguntou Rony, interessado.

— Isso mesmo. Talvez até mais algumas coisas, mas não ficamos tentando... Então, podemos?

— Claro que podemos – animou-se Rony. Mas Hermione não ficou muito confortável com a proposta. Harry, no entanto, ficou curioso.

— Vamos ver como é isso...

Por fim, a garota concordou com os dois.

— Bem, nesse caso... – dizia Eric, enquanto se virava para o irmão. – Quando você vir que está ok, Téo.

Téo acenou com a cabeça, respondendo ao irmão. Hermione entendeu que precisavam estar em um lugar fora das vistas dos trouxas. Enquanto não estavam prontos, Harry resolveu perguntar algumas coisas.

— E essa coisa de vocês... Essa de ler a mente. Uma oclumência bloqueia isso?

— Não – respondeu Eric. – Não é algo que se resolva com magia. É difícil explicar, não há muitos estudos sobre isso. Os trouxas têm as teorias e ideias deles, mas nada comprovado realmente. Se eles nos conhecessem então...

— E você sabe de mais alguém como vocês?

— Não, Harry. Diziam que nós dois somos uma raridade no mundo. E que nós tivemos sorte em sermos bruxos, por que se nascêssemos com trouxas talvez fosse diferente. Já estamos prontos.

— Prontos para desaparatar? – quis saber Rony.

— Isso mesmo. Deixem conosco, não precisam pensar em nada.

Pensar em nada? Como fazer isso? Dezenas de perguntas passaram pela cabeça de Hermione, mas ela não fez nenhuma, porque naquele momento Eric começou uma contagem regressiva.

— Três, dois, um... Agora.

A sensação de compressão foi semelhante à aparatação normal que a garota fazia. Mas a diferença é que, ao invés de sentir que entrava por um tubo apertado, ela viu que tudo e todos pareciam querer se espremer ao redor dela. Menos de um segundo depois, a cabine com todos os ocupantes voltou ao normal, mas em um lugar diferente. Sabia disso porque havia menos casas e não havia nenhum carro à vista na rua. O bairro que encantou a garota ficou para trás.

— Uau... Que irado! – exclamou Rony, ao olhar ao redor dele. Harry fazia uma cara admirada, porém nada falou.

— É isso. Aparatação sem traumas... – observou Eric. – Fazemos o possível para não deixar nada para trás. Uma vez, um dos pneus se soltou. Papai levou o maior susto com o barulho que fez.

— Posso imaginar – disse Hermione.

A caminhonete avançava rápido para um cenário sem casas e com cada vez mais vegetação. Eric estava comentando que logo poderiam se ver alguns animais, certamente cangurus, porque já estavam se aproximando de um dos muitos parques nacionais destinados à preservação da fauna e flora australiana. Rony pareceu lembrar que estava com sono e fechou os olhos, se recostando no banco. Logo, Hermione se aconchegou a ele, meio desajeitada com a mochila e os ramos de flores para também descansar a mente. Não estava interessada na conversa que Harry empreendeu com Eric, por isso nem notou o que conversavam. Mas de vez em quando, sentia que os olhares dos gêmeos recaíam sobre ela. Tirou isso da mente e fechou os olhos. Até que não pensar em nada era uma boa ideia nesse momento, isto até ter que pensar no que fazer mais tarde.


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Notas finais do capítulo

Demorei mas cheguei. Tenho que reconhecer que esse capítulo estava difícil, porque ainda discutia comigo mesmo em como ele deveria atuar na história. Mas acho que fiz um bom trabalho, modestamente falando. O próximo não demora.Abraços a quem acompanha e um mais forte a quem deixou review.