Hermione Granger - Reencontrando os Pais escrita por ro1000son


Capítulo 7
Capítulo 7: O Rancho Cardinia


Notas iniciais do capítulo

Os personagens principais pertencem a J.K.Rowling.



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Hermione acordou com um sacolejo que não era da caminhonete, apesar de esta também estar sacolejando. Era Harry que chamava a ela e Rony, pois em poucos minutos chegariam à casa dos gêmeos. Com uma olhada rápida, ela observou que os gêmeos estavam em silêncio e atentos ao caminho que tinha alguns desvios e buracos, que explicavam o porquê de sacolejar tanto.

— Ah, minha nossa... Acho que dormi demais.

— Hermione... Está pronta?

— Pronta para quê, Harry? - perguntou a moça ao moreno, passando a mão pelo rosto e cabelos. Logo ela percebeu que ainda estava encostada a Rony, que também acordava naquele momento, com um bocejo pra lá de preguiçoso. O ruivo olhou para ela, com um sorriso tímido, e ela logo tratou de se recompor. - Me desculpe.

— Tudo bem - disse Rony, se mostrando gentil.

— Harry, do que você estava falando... - ela parou quando o rapaz apenas apontou para fora da cabine. Mais de dez cangurus estavam acompanhando a caminhonete, com pulos que pareciam ser mais uma espécie de saudação; não dava para contar direito porque, além de pular no mesmo ritmo da caminhonete, eles mudavam de lugar como se estivessem numa dança bastante alegre e bagunçada. Nunca vira animais tão vivos assim na vida, e se sentia viva enquanto olhava para eles; com certeza, não era a mesma coisa de olhar em livros ou de ver em um zoológico. Ficou observando por uns cinco minutos e percebeu que Rony também olhava para eles com muita admiração, contudo ele dava voz ao que sentia ao ver os cangurus do lado de fora.

— Uau... Que beleza. Olha lá... - apontou ele para dois cangurus que pareciam ter se abraçado em meio aos pulos.

— Todos se impressionam quando os veem pela primeira vez - disse Eric, se voltando ao trio.

Aquele grupo de cangurus transmitia uma paz incomum para a garota. Notou que havia cangurus grandes e pequenos e imaginava que fossem de uma mesma família. Harry suspirou e voltou o olhar para os amigos. O sorriso que Hermione viu nele dizia que a beleza daqueles animais parecia cativar quem quer que olhasse para eles.

— Eu sabia que você ia gostar – disse ele, olhando o sorriso de encantamento de Hermione. Ela se manteve muda por um bom tempo, admirando os animais ao redor.

— Já estamos chegando. Depois do rio já estaremos na nossa propriedade e em pouco tempo chegaremos em casa - informou Eric, apontando para uma ponte de madeira em meio ao mato rasteiro.

Estava quente o bastante naquela hora. O sol já estava baixo e dava a impressão de que não deveria estar fazendo tanto calor, mas estava. Os gêmeos deviam estar acostumados, pois viviam ali mesmo. Mas Harry e Rony tinham olhos mesmo era para o bando de cangurus, portanto não estavam ligando para esse fato. Por vezes, Hermione notava que Harry e Rony estavam passando a mão no rosto para limpar o suor, e ela tinha que fazer o mesmo com o próprio – o que ela pensou que fosse pelo fato de serem visitantes não acostumados com o clima australiano. Mas tinha que admitir que aquele balé do lado de fora compensava qualquer incômodo.

Quando a caminhonete foi atravessar a ponte, os cangurus se dispersaram. Alguns pararam próximo ao rio, parecendo observar a água que corria, enquanto outros foram para outros lugares. Três deles seguiram pulando atrás da caminhonete e continuaram chamando a atenção dos garotos. Depois de algum tempo, Hermione voltou as atenções aos amigos.

— Descansou um pouco, Harry?

— É... Um pouco. Fiquei conversando com Eric por algum tempo. Ele me contou coisas interessantes sobre o poder deles. É realmente interessante o que eles fazem, e medonho também. Acho que não conheceremos pessoas assim nunca mais. Depois dormi até eles entrarem nessa estradinha de terra. Foi quando acordei, vi os cangurus e chamei vocês.

— Puxa, então eu devo ter dormido bastante... Nem percebi onde estávamos – disse, Rony, meio envergonhado. Harry sorriu para ele e disse.

— Liga não, cara. Achei incrível você não ter roncado.

— Ah, sim. Estou bastante animado com você falando assim.

— E você, Rony. Como se sente? - perguntou Hermione.

— Acho que estou bem - respondeu ele, enquanto alongava o pescoço – Nunca é bom tirar uma soneca em um banco como esse, mas acho que vou sobreviver.

— Melhor do que viajar de avião?

— Nem me lembre disso, Harry.

Os três se voltaram para frente e viram Eric olhando para eles com um sorriso que parecia nostálgico, enquanto que Téo continuava dirigindo e, uma vez ou outra, ainda espiava pelo retrovisor. Depois de passar pela ponte, a estrada estava mais plana e a caminhonete não se mexia como antes. Mas Hermione notou que se aproximavam de uma quantidade crescente de árvores.

— Desculpe-me tomar a liberdade, mas tenho que dizer que admiro a amizade de vocês. Sabem, por causa do que podemos fazer, meu irmão e eu não temos muitos amigos.

— Não vejo problemas com isso – disse Harry. Hermione concordou com o garoto, acenando a cabeça.

— É, mas vocês estão nos conhecendo agora. Quem nos conhece há mais tempo tem medo da gente.

— Até os bruxos?

— Principalmente os bruxos, Rony.

— É compreensível. Vocês ficariam sabendo de qualquer coisa sobre as pessoas, só de estar perto delas... – falou Hermione, tentando não parecer rude.

— Eles não ficam entrando ou procurando na mente das pessoas, Hermione – disse Harry. – Sabe, como se faz com uma legilimência.

— É. Só percebemos o que a pessoa pensa, ou seja, só ouvimos o que se passa na cabeça da pessoa no momento em que ela pensa – respondeu Eric. – É como se a gente fosse antenas para captar as ondas das mentes das pessoas.

— Quer dizer que qualquer coisa que eu pensar quando estou por perto, vocês ficariam sabendo? – quis saber Rony.

— Isso mesmo. Como tudo na vida, tem suas vantagens e desvantagens. Alguns entendem, outros nem tanto. Sendo assim, preferimos o isolamento. Quando éramos crianças era muito difícil ignorar ou controlar. Só aprendemos por volta dos seis aos sete anos, isso graças ao nosso pai. Ele viu que ficávamos mais calmos quando estávamos no rancho, isso fez com que ele resolvesse morar aqui conosco. Com a paciência dele aprendemos que isso não é um bicho de sete cabeças.

— Mesmo assim. Qualquer um ficaria intimidado perto de vocês por conta disso. Concorda Eric?

— Verdade. Isso trouxe problemas para nós desde que éramos crianças, que refletem até hoje nas nossas vidas. Mas desde que aprendemos a controlar, algumas pessoas têm mais paciência conosco. Não somos mais as “aberrações monstruosas” que éramos antes - disse ele fazendo uma parca imitação de um zumbi. - Aberrações sim, mas não monstruosas. Um exemplo disso é essa nossa conversa. Meu irmão e eu estamos ouvindo os pensamentos de vocês nesse exato momento, mas estamos ignorando completamente.

— É... Fico feliz com isso... - disse, Rony. – Às vezes a gente pensa coisas que os outros não devem saber.

— O tempo todo. Sei como é isso – destacou Eric. – Mas mudando de assunto, já estamos chegando no rancho. Na verdade é uma pequena fazenda. Meu pai conta que mamãe achava melhor chamar de rancho.

No caminho que seguiam ainda havia uma vegetação rasteira que aos poucos era substituída por árvores de médio porte. Hermione até suspeitou que não fossem árvores nativas da região. Até esperava uma resposta automática de Eric para essa questão, mas como disse antes, ele deveria estar ignorando os pensamentos, ao mesmo tempo em que conversava com Rony e Harry. Em poucos minutos se encontravam em uma verdadeira floresta com árvores enormes, mas elas ficavam distantes uma das outras o suficiente para que ainda percebesse a luz incidente do sol.

— Não disse isso antes, mas nós somos fabricantes de varinhas – disse Eric, depois de algum tempo.

— Então, é por isso que tem tanta árvore por aqui? – perguntou Rony.

— Isso mesmo. Meu avô era um fabricante de varinhas na Irlanda. Veio para cá há muitos e muitos anos. Então o ofício passou para meu pai e depois para nós.

— Do jeito que você falou do rancho, eu achei que fossem fazendeiros – disse Harry.

— É... A bem da verdade, fazemos muitas coisas – disse ele, tentando não parecer presunçoso. - Para os trouxas o rancho passa por isso mesmo. Apenas uma fazenda leiteira que é rodeada de centenas de árvores. A gente recebe visitas de trouxas viajantes em alguns períodos do ano. É até interessante. Alguns pensam que nossa casa é mal assombrada, mas por algum motivo estranho não falam nisso. Mas podem ficar tranquilos que não ouvirão correntes sendo arrastadas pelos corredores.

Téo ainda conduzia a caminhonete por um longo caminho enquanto Harry e Rony continuavam conversando com Eric sobre o rancho do pai dele. Hermione tentava disfarçar o desinteresse fazendo de conta que estava ouvindo a conversa dos rapazes. Aos poucos, as árvores pareciam mais dispersas e algum tempo depois avistaram o que parecia uma pequena vila com apenas oito casas – uma delas bem grande. À frente delas podia-se ver um poste que sustentava uma placa: “Nossas Boas Vindas ao Rancho Cardinia”.

— É a nossa casa – informou Eric. – As outras são das famílias de descendentes de aborígenes que vivem conosco desde os tempos do meu avô.

Não havia nada de especial naquelas casas. Eram até parecidas com aquelas que viram em Canberra – um pouco mais rústicas. Mas tranquilidade era o que não faltava ali. Era visível que formavam uma pequena comunidade onde trabalhavam uns pelos outros.

Téo parou a caminhonete a poucos metros da casa grande, onde se via um homem sentado em uma cadeira e acompanhado por cinco crianças que pareciam animadas ao verem os visitantes que os gêmeos traziam. Estava claro que esperavam por eles. Antes de saírem da caminhonete, Hermione viu os gêmeos rindo de alguma coisa. No momento em que ela pensou em perguntar, Eric já explicava o que acontecia.

— Téo viu aqueles garotos quando a gente entrou pela ponte e, enquanto fazíamos a volta na estrada, eles correram até meu pai para avisar da nossa chegada.

— Mas então qual é a graça?

— Ficaram parecidos com os cangurus que nós vimos antes, Hermione.

A garota ainda não entendeu a graça na comparação e pareceu que Harry e Rony entenderam tanto quanto ela, pois não esboçaram reação alguma, exceto se olharem uns para os outros.

— Antes de descermos, posso pedir uma coisa para vocês?

— Claro – os três concordaram com Eric.

— Papai perdeu as pernas com um ataque de um crocodilo, há dois anos. Mas ele não gosta de conversar sobre isso como se fosse algo a lamentar, como se fosse obrigatório sentirem pena dele. Então, é só manter a normalidade perto dele. Certo?

Os três concordaram com Eric e saíram da caminhonete para a grande casa no meio das outras. Hermione ainda notava que Téo continuava a lançar a ela e a Rony e Harry olhares de curiosidade.

— Não liguem para o Téo. Ele é atento como um cão de caça, mas é mansinho - disse Eric, querendo manter a tranquilidade dos visitantes. - Pelo menos, não tem muita coisa pra falar. Ops... ele não fala mesmo!

— Em compensação, o irmão dele fala por um batalhão inteiro... – disse o homem, sorrindo, enquanto as crianças ao redor dele se dispersaram. Harry, Rony e Hermione subiam a pequena escada à frente para cumprimentar o pai dos gêmeos. Devia ser um homem de grande altura, quando tinha as pernas no lugar – mais alto que os gêmeos, e outrora parecido com eles. Mesmo assim, sentado na cadeira de rodas, demonstrava excelente saúde.

— Shan Michael Donnwall, à disposição de vocês. E você é Harry Potter - disse já apertando a mão de Harry. O moreno apertou a mão do homem, mas não parecia que se tratava de apenas um fã; Havia um olhar diferente de admiração no rosto do senhor Donnwall.

— Muito prazer, senhor Donnwall. E obrigado por nos receber em sua casa. Espero que não sejamos um incômodo para o senhor.

— Incômodo coisa nenhuma. É uma honra receber verdadeiros heróis como vocês.

Hermione sentiu a própria face ruborizar, sabia que acontecia o mesmo com Harry e Rony. Aquele homem deveria saber muito do que eles fizeram na guerra contra Voldemort.

— Hermione Granger, presumo – disse ele, ao apertar a mão da garota.

— Sim, senhor - respondeu ela.

— E por último, e não menos importante, Ronald Weasley - disse ao se virar para o ruivo.

— O próprio, senhor.

As orelhas dele queimavam de tão vermelhas que estavam, mas ele manteve a pose despreocupada ao cumprimentar o dono da casa. Claro que não enganava os gêmeos, pois eles estavam dando risadinhas atrás de Rony. Certamente, os dois estavam curtindo uma piada interna, da fazenda.

— Não liguem para as minhas pernas, ou a falta delas – disse o homem, vendo que o trio tentava disfarçar o olhar que lançavam para o que restou das pernas dele. Com ele ficou somente uma parte pouco acima do joelho de cada uma – Já estive bem pior, e hoje me acostumei tanto a essa cadeira que às vezes penso que estou bem confortável. Em pior situação ficou o crocodilo que fez isso. É só dar uma olhada para ele – apontou para um cercado próximo que trazia uma caveira enorme de um crocodilo e alguns ossos do bicho. Hermione sentiu uma aversão ao ver as ossadas, mas não disse nada.

— Papai não é favorável a matar animais, mas, em situações como estas, somos obrigados – disse Eric, com seriedade, provavelmente por ler mais um pensamento da garota.

— Verdade – voltou a dizer o homem. – Aquele bicho já havia consumido com alguns dos nossos bezerros e precisávamos resolver o problema. Mas isso é história para contar outra hora. Vamos entrar de uma vez. Já vai anoitecer e a nossa querida Úrsula já está providenciando o jantar. Meus filhos vão guardar seus pertences lá em cima.

Conduzidos pelo senhor Donnwall, Harry, Rony e Hermione entraram naquela casa que poderia ser confundida com um daqueles casarões de filmes antigos, com amplas salas com muitos móveis antigos e suntuosos, o que poderia ser um contraste enorme com a simplicidade da parte de fora. Contudo havia uma decoração diferente em meio àqueles móveis; máscaras aborígenes, lanças pontudas e vários objetos artesanais compunham o ambiente daquela sala. Enquanto isso, os gêmeos subiram uma escada para os quartos levando as mochilas dos garotos e as flores de Hermione, conforme ela pôde acompanhar com o olhar, mas eles voltaram tão rápido quando subiram.

O homem falava sobre o que havia na fazenda e na casa a fim de deixar os garotos à vontade, mas Hermione percebeu uma excitação crescente na voz dele. Olhou para Eric e Téo, mas eles não demonstraram nada que houvessem percebido. Ele fez muitas perguntas sobre a viagem; quis saber como estavam as coisas na Inglaterra bruxa pós-guerra contra Voldemort, como tinha sido chegada no aeroporto e como foram cuidados pelos filhos dele. Rony contou, a contragosto, sobre a inconveniência de se viajar em um avião, fazendo os gêmeos rirem, possivelmente por terem lido as lembranças de Rony sobre a viagem no momento que ele contava.

— Eles foram muito gentis conosco, senhor Donnwall, seus filhos. É uma bela casa que o senhor tem. Achei magnífica – observou Harry.

— Obrigado. Foi construída pelo meu pai, logo quando chegou aqui. Já faz muito tempo, mas ainda mantenho muita coisa dele. Sabe, senhor Potter...

— Pode me chamar de Harry, senhor.

— Ora, obrigado pela consideração, Harry. Admiro muito pessoas como vocês três. Combater bruxos das trevas na idade de vocês é raro. Eu tinha 18 quando me juntei ao meu pai e ao meu tio na briga com bruxos das trevas, levando a Becky conosco. Tinha insistido em nos ajudar, e pelo que podia fazer, meu pai achou que seria muito bom tê-la conosco. Becky era minha esposa, mãe desses dois engraçadinhos aqui, claro que não na época; Me casei com ela depois disso. Foram tempos difíceis. Os trouxas estavam em guerra – a Segunda Grande Guerra – e os bruxos que mandavam no ministério, descobrimos depois, tramavam para tomar toda a Austrália e fazer dela um continente só de bruxos. Não seria de todo ruim – havia muitos simpatizantes a essa ideia, na época, mas estavam assassinando trouxas e alguns bruxos importantes da época e não havia ninguém que pudesse tomar alguma atitude. Também queriam tornar escravos todos os aborígenes que encontrassem.

Hermione tinha razão; o dono da casa era um tipo de fã diferente. Até então ela havia visto muita gente que admirava Harry Potter, mas que tinha combatido forças das trevas era somente na Ordem da Fênix, ou na Armada de Dumbledore, mais recentemente – aqueles mais conhecidos. Esse homem viveu algo parecido, bem longe da Inglaterra, no tempo dele. Mas, ao que parece, Harry se interessou pelo homem, uma vez que não era só mais um querendo autógrafos e fotografias, mas sim alguém que gostaria de partilhar experiências.

— Isso é tão mal quanto o que queria Voldemort. O que aconteceu, senhor?

— Começou com o desaparecimento de pessoas importantes, autoridades dos trouxas, e o autoritarismo do Ministério Australiano. Meu tio era um auror, na época. Quando desapareceram alguns deles, meu tio deixou o Ministério e empreendeu sozinho uma investigação. Como não podia confiar em ninguém, contava ao meu pai o que ocorria. Eu o via chegar. Vinha por alguns dias, depois desaparecia e voltava dois ou três meses depois. Meu pai viu que não tinha jeito mesmo quando o Ministério queria regular as varinhas fabricadas por ele.

— E nunca desconfiaram do seu pai por ser irmão de um auror desertor? – interrompeu Harry.

— Papai dizia que um fabricante de varinhas deve dar toda atenção possível ao ofício. Depois daqueles tempos sombrios é que fui entender o valor dessas palavras. A discrição dele manteve a ele e a nós livre de qualquer suspeita ou investida das pessoas que controlavam o Ministério na época. Mas, no fim, as convicções falaram mais alto e, depois de meu tio tanto insistir, papai resolveu ajudá-lo. Nós três seguimos pela Austrália atrás de pessoas dispostas a ajudar. Encontramos muitas pessoas insatisfeitas e desconfiadas, mas que não sabiam o que fazer.

De repente, uma mulher entra na sala, sorrindo para Hermione, Rony e Harry, para dizer alguma coisa para o dono da casa.

— Minha nossa! Mas já? Também pudera, já estamos conversando há quase duas horas – disse ao olhar um relógio na parede atrás dos garotos. – Obrigado, Úrsula. Vamos servir o jantar em alguns minutos. Vocês preferem um banho antes? Imagino que estejam querendo...

— Sim. Seria bom, senhor – respondeu Hermione, aliviada por finalmente poder se limpar da viagem. O senhor Donnwall se virou para os filhos, aparentemente para dar uma ordem que eles já sabiam, porque Eric respondeu assim que viu o pai se virar para eles.

— Sim senhor, já vamos – disse ele, empurrando o irmão pelos ombros.

— O que foi, senhor Donnwall?

— Ah, não é nada, senhorita. É que o Martim, nosso caseiro, precisou procurar alguns bezerros que se desgarraram do rebanho. Agora alguém precisa deixar a ração das galinhas no lugar.

— Acho que posso ajudar. Lá em casa tem galinhas e sou eu quem coloca a comida delas – ergueu-se Rony. Os gêmeos olharam para ele espantados e o senhor Donnwall, surpreso, concordou.

— Acho que vou com vocês. Para garantir que Rony não faça nenhuma besteira... – disse Harry, sob o olhar carrancudo do ruivo.

— Então vamos. Se não tiver ração para as galinhas na hora certa, nós é que viraremos ração para alguém – brincou Eric, e Harry e Rony sorriram. Hermione também, mesmo sem entender a piada.

— Seu quarto é o primeiro à direita, depois da escada, senhorita. Sinta-se como em sua casa – disse o senhor Donnwall para Hermione, que ao se virar para ele, avistou uma porta aberta com algo que muito a interessava no dia-a-dia.

— Certo, obrigado, senhor. Mas se importa se eu der uma olhada naquela sala antes? – apontou para a porta que vira. – É uma biblioteca?

— Não considero uma biblioteca. É só uma sala com muitos livros – brincou o homem. – Pode olhar à vontade.

Hermione agradeceu e seguiu para a pequena biblioteca, que parecia ter mais livros do que ela achava. Haviam estantes cheias de livros em três paredes da sala; na quarta parede havia duas poltronas com uma pequena mesa no meio delas em frente a uma janela enorme que, durante o dia, deve fazer uma ótima iluminação. Ela reconheceu os livros de Lockart e de vários bruxos que lera em Hogwarts. Outros que ela não reconheceu lhe pareceram interessantes, mas não perguntou por eles. A garota se surpreendeu quando notou que o senhor Donnwall seguia atrás dela.

— Foi minha mulher que arrumou esse cantinho. Ela era uma devoradora de livros. Sempre tinha uma centena deles, e ainda ficava trocando ou doando os que já tinha lido. Quando nos casamos, ela quis um lugar onde faria as leituras que gostava, embora só vínhamos para cá nos finais de semana. Morávamos em Adelaide, no sul – disse antes que Hermione perguntasse. – Só me mudei com os meninos, depois que descobri que as árvores ajudavam os dois.

— Depois que sua esposa...

— Sim. Depois que ela faleceu. Eles contaram, não foi?

— Não disseram muita coisa. Só que ela morreu depois que eles nasceram.

— É verdade. Quando ela morreu, eu achei que tinha perdido tudo, suspeitava até que os meninos não sobrevivessem, não significa que eu não os quisesse. Mas nunca soube de alguém que amasse uma pessoa tanto quanto eu amava a minha mulher. Se não achar ruim eu dizer, senhorita, eu lhe acho muito parecida com ela, a minha esposa. Não em aparência, mas em comportamento. Ela também queria aprender tudo que pudesse, tudo que estava ao alcance dela.

— Obrigada, senhor. Posso ver que ela foi muito importante para o senhor.

— Tem razão - suspirou o homem, que depois de uma pequena pausa, voltou a falar da garota que estava na frente dele - Me desculpe se eu parecer bajulador, mas há dois dias eu li uma reportagem sobre vocês três e havia uma entrevista de um colega seu da escola. Tem algum problema se eu falar sobre isso?

— Não, nenhum - respondeu Hermione, imaginando o que viria a seguir.

— O rapaz disse que admirava mais a você porque, nas palavras dele, 'ela não se escondeu com a família em um lugar seguro e ajudou os amigos quando mais precisaram dela, além de ter ajudado a salvar o mundo bruxo'. Ele tinha razão, senhorita?

Hermione precisou de alguns segundos, olhando para o nada, para absorver o que ouvira.

— Não sei quem falou isso, mas ele não está totalmente correto. Certamente não me conhece. Eu não poderia simplesmente deixar meus amigos e fugir com meus pais. Harry precisava de mim e Rony então, mesmo que não quisesse, eu iria com ele até onde precisasse - disse com a cabeça baixa, depois se virou para o senhor Donnwall. - Eles viriam atrás de nós de qualquer jeito, senhor, os Comensais da Morte. Para eles, Harry era mais que um problema, era um prêmio. Era alguém que, se fosse derrotado, mostraria ao mundo o quanto eles eram fortes e invencíveis e que podiam fazer o que quisessem. Eu não conseguiria viver em um mundo assim e, por ser amiga de Harry, seria caçada mais por esse fato do que por ser nascida trouxa.

— Entendo. Vocês precisavam escolher lutar ou fugir. E escolheram o que foi preciso. Muito louvável.

— Mas quanto aos meus pais, agora que estou aqui, não estou muito segura de ter feito a coisa certa. Penso que, mesmo colocando os dois longe da guerra e sem memória, eles ainda ficaram em perigo. O senhor teria feito o mesmo, senhor Donnwall?

— Certamente. Na época de meu pai, ele fez de tudo para proteger minha mãe e minha irmã e queria que eu estivesse junto delas. Eu insisti que o acompanhasse, porque sabia que podia ajudar. Por fim, ele me aceitou e lançou todos os feitiços de ocultamento e proteção ao redor do rancho, porque vivíamos aqui na época. O que eu estou querendo dizer, senhorita, é que você teve que fazer suas escolhas e escolheu aquelas mais necessárias, as mais corretas. Suas intenções eram claras e sinceras, portanto acho que você fez mais bem do que mal ao mandar seus pais para a Austrália para protegê-los. Tenho certeza que eles ficarão orgulhosos de você, quando souberem. Eu ficaria, se meus filhos fizessem algo assim para me proteger - ele fez uma pausa, onde Hermione ficou pensando no que acabara de ouvir. Depois, trocou de assunto. - Quer ver uma coisa?

Com duas palmadas de mãos, o homem mostrou os outros livros da pequena biblioteca. Cada parte das estantes de onde estavam os livros se virou revelando o outro lado, que guardavam livros que, Hermione reparou, não tinham nada a ver com o mundo bruxo. Nomes de autores como Edgar Allan Poe, Victor Hugo, Anne Rice, Ítalo Calvino, Ernest Hemingway, Isaac Asimov, Oscar Wilde, Shakespeare, Arthur Conan Doyle e muitos outros que Hermione só ouvira falar ou não conhecia estavam gravados nos vários livros por onde a garota corria os olhos admirada.

— Que ótimo. Livros escritos por trouxas. Eu adorava lê-los antes de saber que eu era bruxa. Quer dizer, ainda adoro, mas não leio tanto quanto antes. Nunca vi tantos livros assim em uma casa - maravilhou-se ela. - Eu até estou lendo um, de um autor brasileiro, acho. Interrompi quando chegamos à Austrália.

— Qual livro?

— “O Guarani” de José de Alencar.

O homem fez um floreio com a varinha e fez um livro voar de uma das estantes até a mão dele. Tinha a capa igual àquele outro que Hermione trazia na mochila e estivera lendo na viagem.

— Como este aqui?

— Exatamente, senhor - disse tomando o livro nas mãos.

— Acho que é bem raro hoje em dia, esse livro. Também já o li. É lindo. Em que parte você está?

— Estou na parte em que Peri conta a Dom Antônio sobre o sacrifício que ele ia fazer para salvar Ceci e a família. A parte que fala do veneno e o plano que ele tinha.

— É uma das passagens mais belas, que enfatiza o heroísmo do índio. Você está quase terminando, mas ainda não chegou na melhor parte - constatou o senhor Donnwall.

Hermione correu os olhos novamente pelos livros enquanto colocava o exemplar de “O Guarani” de volta ao lugar.

— Parabéns pelos livros, senhor Donnwall. Seria bom se mais pessoas se interessassem por leitura. Os trouxas estão mais interessados em computadores e entre os bruxos que conheço não sei de muitos que se interessem o bastante. Gostei de ver que vocês ainda conservaram os livros de sua esposa.

— Estes são os livros de trouxas que minha esposa adorava ler. Agora são os meus filhos que gostam. Eles também adoram ler; isso deixa a mente deles ocupada.

— O senhor não lê muito?

— Muito pouco. Só quando sobra tempo que eu leio algum.

Mas entre as estantes, havia uma porta que Hermione não deu atenção, até ver mais de perto. Pelo pouco que deu para ver entre a estreita abertura da porta, parecia ser uma espécie de laboratório.

— Senhor, será que eu posso ver?

— Mas é claro. A sala de pesquisas dos meus filhos. Eles gostam de pesquisar animais e fazer experimentos. Às vezes saem coisas bem malucas - disse, seguindo atrás de Hermione, enquanto ela entrava na sala, onde no meio de tantas estantes com caixas de vidros contendo baratas, formigas e moscas de várias espécies, além de outros insetos, e no meio havia um grande terrário com aranhas que simulava um ambiente perfeito para elas.

— Incrível. Mas o Rony não pode entrar aqui - disse Hermione, rindo ao pensar no namorado estando à frente daqueles insetos.

— Ele não gosta?

— Mais ou menos - disse a garota sorrindo discretamente. O senhor Donnwall não perguntou por maiores detalhes, mas, quando ele meneou a cabeça, Hermione supôs que ele entendeu sobre Rony sentir medo de aranhas.

— Eles fazem de tudo nesse lugar. Olha só pra essa bagunça - ele informou quando chegou perto de uma escrivaninha atulhada de papéis, tinteiros, recortes de jornais e alguns livros que Hermione reconheceu ter lido na escola. Na parede, à frente da escrivaninha, ela viu fotos, e algumas delas chamaram a atenção da garota.

— Que fotos são essas, senhor Donnwall?

— Ah, são fotos de alguns animais que meus filhos encontraram nas andanças deles. Ali na esquerda, você pode ver o crocodilo que me atacou. Foi quando a gente começou a procurá-lo.

— Tem muita coisa estranha aqui. Aqueles são diabretes? - apontou ela para uma foto que estava embaixo das outras.

— É sim, foi quando eles fugiram quando estavam sendo levados para um dos viveiros de animais no Ministério, há pouco mais de um ano. Deu um trabalho e tanto para capturá-los.

— E esse aqui, desta foto? - disse a garota, desta vez apontando para uma meio escondida.

— Ah, esse é o mais perigoso de todos que se podem encontrar por aí. Acho difícil encontrar um desses, mas se encontrar é melhor correr, e correr bem rápido.

— Mas que bicho é esse? Li sobre vários animais fantásticos e mitológicos, mas nunca vi nenhum como esse.

— E nem poderia. Esse é o bunyip, ou o “demônio”, como chamavam os aborígenes antigamente. Como você pode ver, ele lembra uma morsa, ou um leão-marinho, mas tem cabeça de cachorro e dentes vazando da boca. Não existem muitos estudos sobre ele, porque é muito perigoso de alguém chegar perto. E para os trouxas, só sobrou como lenda. Esse aí apareceu em um billabong aqui perto, há pouco mais de duas semanas.

— Billabong, senhor?

— É uma poça d'água, como chamamos aqui - explicou rapidamente o senhor Donnwall. - Ouvia falar nesse monstro por muitas vezes, senhorita, mas ver de perto é aterrador.

— O que ele tem de tão perigoso?

— Acredite se quiser: o grito - respondeu ele, olhando nos olhos de Hermione. - Um grito desse animal faz seu sangue coagular e você morre em segundos. Acredita-se que seja porque o grito é tão forte que, se estiver perto o suficiente, destrói todos os ossos do ouvido.

— E vocês capturaram esse aqui?

— Sim, meus filhos e alguns agregados capturaram. Deu um trabalho danado, o bicho é muito escorregadio. Vê as patas dele, como nadadeiras? Não se engane. As presas dele se agarram ao chão e o ajudam a correr como se fosse um cavalo. Eu senti medo quando o vi, senhorita. Ele estava adormecido, parecia bem inofensivo porque eles usaram dardos tranquilizantes suficientes para três touros, mas ainda assim eu senti medo.

— Como fizeram para adormecê-lo, senhor? Se não podiam chegar perto...

— Ah, o Martim é um caçador preparado, no maior estilo trouxa que já se viu. Ele sempre tem armas de caça prontas quando se precisa. Então, tudo que ele precisava era a boa mira dele. Tentaram muita coisa para pegar o bicho; grades, redes, feitiços, nada podia atingi-lo porque ou ele conseguia fugir ou não era suficiente. O couro do bunyip é tão duro quanto de um dragão, senhorita. Então só sobrou atirar com os dardos na boca do bicho. Assim, diretamente na boca - o homem gesticulou como se ele estivesse com uma espingarda nas mãos e atirando naquele momento.

Hermione ficou imaginando quanto trabalho esse monstro deu para ser capturado. Para um bicho desses abrir a boca com um monte de gente por perto, ela não precisava perguntar como, era só gritando. Um frio correu pela espinha da garota e ela resolveu terminar a conversa com o dono da casa.

— Se não se importa, senhor, vou me arrumar.

— Fique à vontade. Eu insisto - respondeu ele com um sorriso.

Ela passou pela cadeira de rodas do senhor Donnwall, seguindo para a pequena biblioteca e, depois, para a sala de estar que estavam quando chegaram. No momento em que começava a subir a escada, um barulho na porta chamou-lhe a atenção. Era Rony que apareceu sujo de ração de galinha e terra da cabeça aos pés, acompanhado de Harry e dos gêmeos Donnwall, mas com um sorriso de orelha a orelha.

— Hermione, você não vai acreditar. As galinhas daqui são enormes, maiores que perus.


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Notas finais do capítulo

Gente vocês não vão acreditar, mas eu fiquei preso a este capítulo por causa de uma piada. Uma piada! Mas consegui. Não vou dizer qual é... Adivinhem. (há há há - risada malvada!) Mas escrevendo aqui e ali, percebi que o capítulo ficou grande demais, então dividi e já vou terminar o próximo. Obrigado a todos que deixaram reviews e que estão acompanhando a história. Queria ter colocado na semana passada, em comemoração às 3000 fanfics de Harry Potter que colocaram no Nyah. Parabéns a todos. Hoje, só vai faltar ver a primeira parte do filme "Harry Potter e as Relíquias da Morte". Espero que seja bom, muito bom. :)



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