Hermione Granger - Reencontrando os Pais escrita por ro1000son


Capítulo 12
Capítulo 12: O Vilarejo Abandonado




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— O quê? Você tem certeza? Não pode ser... – perguntou Rony, ainda sentado na cama ao lado de Hermione, assim que ela contou o que viu no sonho: o senhor e senhora Weasley sequestrados e presos juntamente com os pais dela.

— Tenho sim, Ron. Não faz sentido, eu sei, mas eu vi. Não foi só um sonho, foi algo... quase palpável, se é que é possível – respondeu ela, ainda tentando acalmar a respiração.

— Mione, isso está me lembrando... – começou dizendo Harry um tanto sem jeito. A garota olhou pra ele e certamente o amigo estava com a mesma ideia que tinha acabado de se formar na cabeça dela. – Está parecendo... hum... aquelas minhas visões com Voldemort.

— É, eu também pensei nisso, Harry – concluiu Hermione, coçando o lado esquerdo da espessa cabeleira. – Não faz nenhum sentido mesmo. Nunca imaginei que aconteceria algo assim comigo, mas sei o que vi. Só que meus pais são trouxas, nenhum deles possuem poder bruxo, então, como explicar isso não sei, mas... – ela contou sobre o sonho que teve na casa dos Donnwall e disse que, embora não tenha visto ninguém no sonho, tinha alguma semelhança com este último, pois só agora que percebeu que os animais que viu pareciam mais reais que em outros sonhos que tivera antes, ou seja, ela ainda se lembrava vivamente dos detalhes, e depois completou: - E ontem achava que sonhei com aquilo porque tinha ficado impressionada com algumas coisas que o Sr. Donnwall me contou, sobre um animal mágico muito perigoso daqui. Mas vejo que esses sonhos devem ter alguma ligação, acho, de alguma forma, só não sei qual é.

— Mas isso ainda não explica porque meus pais estariam envolvidos... - exclamou Rony.

— Hermione, os gêmeos... - disse Harry, interrompendo o amigo.

— O quê?

— Eles estão na outra barraca...

— Provavelmente ouvindo nossa conversa e o que estamos pensando - concluiu a garota. Ela viu algo diferente nos olhos do amigo, uma mescla de desconfiança e dúvida. De repente, ele exclamou:

— Ah, que se dane! Mione, não sei se faz sentido, mas... e se eles mesmos estiverem nos levando pra essa armadilha de propósito?

— Como assim, Harry?

— É, também estou pensando nisso - disse Rony, como se estivesse acordando de um devaneio.

— Harry, eles nos receberam na casa deles, porque iriam fazer isso? - perguntou ela, balançando a cabeça.

— Não sei. Mas parece que eles sabem mais do que contam, disso eu tenho certeza.

— É, e não precisa necessariamente que eles estejam envolvidos com os bruxos que pegaram seus pais, Mione - explicou Rony, trazendo uma teoria diferente. A princípio, ele balançou a cabeça, como se soubesse que acabara de dizer um absurdo e ia dizendo “esquece”, mas Hermione o silenciou com um dedo. Uma lembrança surgiu na mente dela.

— A conversa do senhor Donnwall com o ex-ministro...

— Como? - perguntaram Harry e Rony, juntos.

— Ontem de manhã, se lembram? Pouco antes de eu entrar no quarto onde vocês dormiram, quando ouvi o senhor Donnwall conversando com alguém... Eu estava justamente indo me encontrar com vocês, mas tinha que passar por cima da escada, e dava pra ouvir claramente o que eles diziam lá embaixo – e então explicou novamente para eles o pouco que ouviu, desta vez destacando as palavras que foram ditas. Quando terminou de contar, concluiu: - Parecia que o senhor Donnwall estava sendo pressionado por resultados.

— Que resultados? - perguntou Harry. - Quero dizer, será que eles queriam que já estivéssemos com seus pais? Qual seria o interesse deles nisso?

A garota pensou um pouco e deu um muxoxo de impaciência; a verdade era que Hermione não sabia responder. Talvez tivesse alguma ideia se tivesse ouvido mais do que o ex-ministro dizia naquele caldeirão comunicador. Porém se lembrou, era suficiente: lembrando de umas palavras que não se encaixaram no momento, ela disse, o olhar vago para o moreno, com uma ideia estranha.

— Evitar um incidente internacional, é claro.

Harry e Rony não entenderam bem o que ela quis dizer, mas Hermione explicou que o ministério bruxo australiano não é como o governo na Austrália dos trouxas, onde há subordinação à Família Real Britânica. O Ministério Australiano foi fundado logo pelos primeiros bruxos que migraram para a Austrália e se organizaram de forma independente dos bruxos ingleses. Disse ainda que, embora não soubesse o porquê, seria bem provável que o fato de dois trouxas sequestrados, e os pais de Rony, se for confirmado, possa ser um problema entre os ministérios pelo fato de haver envolvimento deles três, Harry, Rony e Hermione, cuja história da vitória sobre o regime de Voldemort corre o mundo nas comunidades bruxas e seria um fator atenuante para o caso, se tornando um desagrado para a política entre os dois ministérios.

— Então agora estou começando a achar que foi um completo erro termos vindo, só está piorando... – finalizou a garota angustiada.

— Não, não foi – corrigiu Harry. – Acha que seria diferente se outras pessoas viessem para buscar seus pais? Suponho que, se nós não tivéssemos vindo, eles dariam um jeito de nos atrair para cá.

— Não se forem somente bruxos australianos – disse Rony.

— Não, Ron. Não vejo motivos para que bruxos australianos queiram fazer algo contra a gente. Como alguns deles saberiam tudo sobre a gente? O que haveriam de querer algo conosco, ou então, como saberiam que nós três viríamos para Austrália e como saberiam quais trouxas estaríamos procurando? São bruxos ingleses, provavelmente alguns inimigos nossos, ajudados por bruxos australianos.

— Alguns de nossos inimigos... - repetiu Harry que parecia fazer força para ter alguma ideia. - Mas então quem?

— Por enquanto não tem como saber, Harry - respondeu Hermione. - Não há tempo pra voltar para a Inglaterra e investigar, procurar saber quem ainda está foragido. Precisamos seguir em frente, antes que eles façam alguma coisa com nossos pais.

— O casarão primeiro, então – disse Harry, abatido.

— O casarão primeiro – repetiram Hermione e Rony, juntos.

Depois de um breve silêncio, os três concluíram que não havia muito que discutir no momento. Os dois rapazes saíram da barraca para que Hermione pudesse se arrumar dizendo que precisava de determinados cuidados a que ela chamava “coisas de menina” - eles riram muito quando ela disse isso. A barraca que os gêmeos deixaram para os três era menor e mais simples daquela que eles usaram em outros tempos, mas serviu bem e Hermione encontrou tudo que precisava para se arrumar.

— Hey, muito frio à noite? – perguntou Eric sorrindo, quando a garota saiu da barraca para o sol que já inundava o deserto.

— Ah, bem, na verdade, sabe que nem notei – respondeu ela. E era verdade mesmo, ela não percebeu se houve ou não frio durante a noite. Chease, que estava ao lado dos gêmeos, riu-se dizendo que a sopa que preparara para todos na noite anterior ajudou a manter a temperatura do corpo agradável o suficiente para suportar o frio do deserto.

Com uma olhada ao redor, Hermione reparou que o chão ainda mantinha um ar frio proveniente da noite, mas que logo o sol já teria esquentado. Também viu que os garotos estavam esperando por ela para o café da manhã. Estavam assando peixes pequenos, que comiam com batatas fritas, e também havia salsichas e bacon acompanhados por suco de laranja com eucalipto que Harry e Rony gostaram. Ela se sentou entre o namorado e Harry, acompanhando-os, comendo um pouco; estava mais querendo prestar atenção nos gêmeos à espera de alguma indicação do quanto eles ouviram dos pensamentos dela e dos garotos mais cedo, mas Eric e Téo, se ouviram alguma coisa, agiram como se nada tivesse acontecido. Os dois cuidavam de preparar e servir aquele pequeno banquete, fazendo algumas piadinhas para deixar o clima descontraído, e Chease estava ao lado deles fazendo anotações em um mapa e comendo ao mesmo tempo. Hermione tentou disfarçar quando notou que o rapaz rabiscava no mapa e, ao mesmo tempo, os gêmeos olhavam para ele concordando ou discordando com acenos. No momento em que ela pensou em perguntar sobre isso, Eric rapidamente respondeu:

— Ele está nos mostrando alguns pontos importantes do deserto. Úteis no caso de a gente precisar. Chease conhece muito bem esse lugar, melhor do que muita gente. Meu irmão e eu, por exemplo, só viemos duas vezes nesse deserto e há muitos lugares por aqui que não visitamos ainda.

— 'TG' é um deles - observou Harry.

— Isso, 'TG' é um deles - respondeu o gêmeo.

Depois de alimentados, Eric e Téo sugeriram a todos levarem somente o que fosse realmente necessário nas mochilas. Sozinhos, eles arrumaram toda a bagunça da noite. Durante essa organização, algo chamou a atenção de Hermione e, na realidade, de todos à volta dos gêmeos; Eric e Téo, que estavam distantes alguns metros um do outro, ficaram alertas de repente e olharam para uma mesma direção, para o nordeste, mais ou menos na direção que iriam seguir em pouco tempo. Harry, que estava mais próximo dele, perguntou o que seria. Eric apenas respondeu, sem muita convicção:

— Ah, nada de importante. Meu irmão pensou ter ouvido os ecos de alguns animais, nada mais.

O gêmeo esboçou um sorriso para disfarçar, mas não enganou muito, embora ninguém tenha perguntado nada a respeito naquele momento. Hermione ainda o fitava com desconfiança e teve que voltar a atenção para a própria mochila quando Eric devolveu-lhe o olhar.

Os gêmeos guardaram quase tudo na caminhonete, deixando apenas as duas barracas no lugar. Eric disse que seria bom deixá-las armadas caso tenha alguma necessidade. Disse ainda que seria melhor saírem bem cedo, antes que o sol deixasse o ambiente realmente quente para a caminhada que, segundo ele, seria realmente longa. Perguntado sobre o porquê da caminhada, ele respondeu que não seria bom irem com a caminhonete.

— Por dois motivos – explicou ele. – Primeiro porque daqui pra frente há trechos muito arenosos, seria fácil encalharmos com a caminhonete, e isso pode nos atrasar. Segundo porque pode haver um ou outro vigiando a região. Seguindo a pé podemos nos esconder mais facilmente de algum perigo.

Pouco depois das oito da manhã, com as mochilas nas costas, eles seguiram em direção ao nordeste, rumo ao povoado abandonado. Em certo momento da caminhada, teriam que virar para o norte para chegar lá, conforme o caminho indicado por Chease, que seguia na frente junto a Téo. Eric, Harry, Rony e Hermione seguiram pouco atrás, praticamente fazendo os mesmos passos em uma fila mal feita.

Havia trechos onde o chão era terra com mato seco a algumas pequenas árvores espaçadas e outros onde era somente areia. Nesses trechos arenosos, os pés deles deixavam marcas e Rony achava engraçado quando ele forçava para afundar o dele. Harry enchia Eric com perguntas sobre o lugar, mas o gêmeo não demonstrava chatear-se; pelo contrário, achava bom e ainda pontuava com algumas piadinhas. Hermione às vezes era chamada à conversa, mas ela pouco se interessava; estava mais preocupada em chegar logo ao casarão. Eles pareciam entender a preocupação dela e não ficavam insistindo para que conversasse com eles, e ela logo ficou grata por isso.

Já tinham caminhado bastante, há pelo menos três horas, e ainda teriam muito pela frente. Andavam a passos moderados para não se cansarem tanto e, porém, que não fosse devagar demais para que demorassem a chegar. O sol já estava quente o suficiente para cansar qualquer pessoa, mas Hermione não sentia tanto o efeito porque Eric escolheu para ela um chapéu que cobria bem o rosto e pescoço. Os garotos preferiram bonés e protetor solar, coisa que Hermione só precisou para passar nos braços. Ela bebia muita água, de tempos em tempos, mas ainda lhe dava a impressão de que não ajudava muito, pois em poucos minutos sentia sede novamente e, pelo que podia ver de Harry e Rony, os dois também se sentiam da mesma forma. Como nunca havia viajado com os gêmeos e Chease, não sabia dizer se eles agiam normalmente neste deserto, como qualquer outro viajante habituado àquela situação. De qualquer forma, era uma caminhada estafante, com poucas paradas, em um ambiente desolador e ela já estava preocupada em como fariam para voltar. Antes mesmo que pudesse colocar esse pensamento em palavras, Eric olhou para ela para dizer que ele e o irmão já estavam com tudo preparado, até mesmo para a volta. E Hermione concordou quando ele disse que a dúvida seria o que encontrar quando chegassem em ‘TG’.

Teve um momento de descontração durante a caminhada. Eric havia proposto aos três um jogo de adivinhação em que ele daria pistas sobre personalidades famosas e os garotos teriam que adivinhar.

— O único problema é que eu não posso adivinhar por que, talvez tenham notado, vou saber em quem estão pensando antes mesmo que façam a primeira pista.

— Bem lembrado – agradeceu Rony.

— Certo, então eu começo - disse o gêmeo. Logo, começou a dar pistas que indicavam alguém importante no mundo bruxo. Mas Hermione também não prestou muita atenção. Ela adivinhou os dois primeiros que Eric propôs, mas depois se aquietou nos próprios pensamentos dela.

De repente, ao passar próximo a uma pequena duna, Eric parou e olhou à frente, onde o irmão estava com Chease, fazendo com que Harry, Rony e Hermione parassem também. Téo estava parado, com a mão direita no ombro esquerdo de Chease e olhava para todos os lados parecendo procurar por algo. Nada parecia diferente na paisagem desde que eles começaram a caminhada, mas a garota suspeitou que uns dos dois à frente tivessem encontrado algo. Eric foi quem confirmou depois de alguns segundos.

— Chease encontrou pegadas, e parecem recentes.

— Alguém está por aqui? – perguntou Harry. Rony também já estava olhando para os lados.

— Não, ninguém mais além de nós. Era isso que meu irmão estava procurando. Mas, embora não tenha ninguém por perto, as pegadas estão estranhas.

— Como assim? – questionou Rony.

— Vamos ver – respondeu o gêmeo, fazendo todos se agruparem ao lado de Téo e Chease, que já estavam olhando para baixo, seguindo as pegadas.

— Seguem para aquele lado – disse Chease, apontando mais para o norte. – Há um padrão de pegadas indicando que houve uma perseguição que veio até aqui. Uma ou duas pessoas corriam atrás da outra.

— Parece mesmo – concordou Harry. – As pegadas se confundem.

Andaram mais um pouco, seguindo Chease, que mostrava a eles as pegadas. Hermione sentia que seu coração queria sair pela garganta, apreensiva com o que poderia encontrar.

— Estão vendo? – perguntou ele. – A trilha termina logo ali naquele matagal bastante remexido.

Seguiram até o matagal que ele apontou. Aos olhos de Hermione, havia muita bagunça no terreno arenoso e no meio do mato, mas não teria certeza do que estava vendo se Chease não dissesse o que era. Os gêmeos olhavam tudo atentamente, prestando atenção como verdadeiros cães de caça prontos para atacar a qualquer comando. Chease ficava mostrando a todos por onde os desconhecidos passaram, o que podem ter feito, e mostrou um local por onde a terra estava remexida, indicando que houve uma briga.

— Certo, estou vendo, mas que relação isso tem com a gente? – perguntou Rony. Logo que ele fez essa pergunta, a garota sentiu já saber a resposta. Chease e os gêmeos olharam para ele e pareciam avaliar algum absurdo na pergunta. Por alguns segundos nada responderam, decerto esperando que ele concluísse por si só. Harry, talvez para apoiar o amigo, também disse que não entendeu o motivo de estarem olhando essas pegadas.

— Eram bruxos – começou Eric a responder. – Logo ali, por onde passamos, podemos ver marcas de que uma barraca estava armada durante algum tempo. Os trouxas não escolheriam um lugar tão aberto como este para acampar. Está vendo ao redor? Não tem árvores. E, em geral, os trouxas sempre esquecem algo para trás, os bruxos não. Estavam acampando aqui para algum apoio ou então vigília.

— Com certeza – disse Chease. – Arrisco dizer que, talvez, até dois dias atrás.

— Mas as marcas sumiriam com o tempo, não? – perguntou Hermione. Chease respondeu antes de qualquer outro.

— Nem tanto – respondeu Chease. - Nessa parte do deserto não venta muito, isso faz com que algumas marcas demorem a sumir. Pode comparar as pegadas que vimos com nossas próprias.

A garota olhou para o chão onde estava pisando. De fato, não havia muita diferença entre as pegadas que ela deixou na terra com aquelas que eles seguiram, exceto pelo tipo de calçado usado. As pegadas que estavam olhando pareciam ser de botas de viagem, enquanto que eles estavam usando tênis. Enquanto ela verificava isso, Chease e Téo se afastaram, parecendo que encontraram algo.

— Que houve? – perguntou Harry.

— Acharam um pouco de terra revirada. Alguém foi enterrado ali.

Não era uma suposição; era uma certeza e Hermione sentiu isso nas palavras de Eric. Todos se aproximaram de Téo e Chease, que verificavam o local. Havia algo perturbador nos olhares deles.

— Isso mesmo, com certeza. Alguém foi enterrado aqui – dizia Chease, se agachando na terra, parecendo dizer mais para si mesmo do que para os outros. - Teremos que chamar o Ministério...

— Não, por enquanto – interrompeu-o Eric. – Se quem está enterrado aí é quem eu penso, teremos que chamar as autoridades dos trouxas.

— Como assim? – perguntou Chease, surpreso. Os gêmeos se entreolharam, certamente compartilhando um pensamento em comum. Hermione nada dizia; só queria que ninguém chegasse à conclusão que tomava volume na mente dela. E sem esperar, Eric olhou para ela.

— Não se preocupe, estou certo de que não são seus pais. A terra está remexida, mas indica que apenas uma pessoa foi enterrada. Acho que quem está aqui é o taxista de quem falamos antes.

— Taxista? Que taxista? – perguntou novamente o amigo dos gêmeos, olhando de Eric para Téo, enquanto esperava uma resposta, se levantando num salto. – Eu pensava que era um caminhante, ou quem sabe algum traficante...

— Chease, não precisa se preocupar... – começou dizendo Eric.

— Como não? Você disse que era apenas verificar se os pais dela estavam em ‘TG’, mas, pelo que entendi, tem gente morrendo. Tem mesmo? Isso tem relação com quem está enterrado aqui? Tem mais alguma coisa que você não me contou, Eric?

— Certo, Chease, se acalme – disse Eric, levantando as mãos num gesto de paz. – Eu lhe contei tudo que precisava saber. Sei que você é uma pessoa boa e que nos ajudaria de qualquer forma. Não contei sobre o taxista porque não parecia importante, ok?

— Tudo bem, não parecia importante, mas acho que devo me preocupar se corro risco de morrer ou não – disse Chease, em um tom exasperado.

— Chease, se há algum risco de morte, todos nós corremos também, lembre-se disso – Eric tentou encerrar a conversa. O amigo dos gêmeos não ficou muito animado, mas concordou em seguir como estavam fazendo antes, conforme o combinado. 

Algumas horas mais caminhando e pararam para preparar o almoço, que ficou a cargo de Chease e dos gêmeos. Por alguns momentos, Hermione queria ajudar, mas Eric insistia que eles eram visitantes, e a hospitalidade manda que os anfitriões preparem tudo. Durante o almoço, que foi carne com batatas, não houve muita conversa. Apenas as piadinhas de Eric, que tentava trazer alguma animação. Passado algum tempo, juntaram as coisas e voltaram a caminhar. Chease e Téo na frente novamente e Eric atrás com Hermione, Rony e Harry.

Depois de algum tempo de caminhada, avistaram o vilarejo abandonado. Os feitiços de proteção que tinham colocado sobre o lugar funcionavam mais ou menos da mesma forma que em Hogwarts: davam visão apenas a bruxos; aos trouxas que passassem pelo local veriam apenas mais uma parte do deserto. Logo que aproximaram do vilarejo, Chease anunciou:

— E aqui chegamos. ‘TG’.

Hermione sentiu o coração bater mais forte e teve vontade de correr para dentro do vilarejo. Harry e Rony emparelharam com ela, um de cada lado. Entreolharam-se e se entenderam. Seguiram andando para dentro do vilarejo, mas a garota sentiu faltar algo. Parou e olhou para trás. Os gêmeos continuavam no mesmo lugar, discutindo em voz baixa com o amigo deles. Aparentemente, Eric tentava fazer com que Chease continuasse o caminho, mas o rapaz estava resoluto; aquele era o limite que ele havia dito.

— Será que devemos tentar ajudar? – perguntou ela para Harry e Rony.

— Não sei. Não os conhecemos bem para intervir – respondeu Rony.

— Vamos esperar – resolveu Harry.

Os três não estavam muito distantes dos gêmeos e Chease, por isso puderam ouvir algo da conversa deles.

— Então pode continuar aqui, para o caso de precisarmos de você? – perguntou Eric, querendo encerrar o assunto. O amigo deles parecia estar pensando a respeito.

— Não sei se sou de muita ajuda, mas vou esperar aqui, se te deixa satisfeito.

Téo estava resignado e Eric acenava com a cabeça concordando que era o melhor que podiam esperar. Eles se viraram e se uniram a Hermione, Rony e Harry para caminharem para dentro do vilarejo.

Quando diziam que o vilarejo estava abandonado estavam realmente falando a verdade. Tudo que havia nele estava destruído pelo tempo, ou, de alguma forma, por bruxos responsáveis por algum vandalismo aqui ou ali. O que restou das casas estava em ruínas e tomado pelo mato rasteiro, assim como o mato que estava em todo lugar. Contudo, pela quantidade de casas que eles podiam reconhecer aquele, outrora, fora um lugar bastante povoado. Eric informava a cada vez que passavam por um poço utilizado na época, e que agora estava enterrado.

— Não tínhamos vindo aqui antes – respondeu ele à pergunta mental de alguém. – Mas pudemos ler o bastante sobre esse lugar. Há três livros lá em casa sobre ‘TG’. Estão vendo aquela caveira ali? – apontou ele para o alto de um teto semi destruído. Hermione teve a impressão de que, embora aquela casa estivesse destruída, a caveira tinha sido perfeitamente entalhada na pedra. – Os bruxos que viviam aqui, todos eles, eram de uma mesma família, de bruxos das trevas, e faziam sacrifícios de aborígenes. Lembram do nome que falei que os aborígenes deram a esse lugar?

Harry fez cara de quem queria se lembrar, mas Rony arriscou a responder, meio sem jeito.

— Alguma coisa da “pedra quebrada”?

— Pedra da cabeça quebrada – respondeu Hermione.

— Exatamente. Acho que daqui a pouco vamos encontrar o buraco que ficou da grande pedra onde faziam os sacrifícios.

Passaram por mais daquelas árvores baixas e mato rasteiro, em meio aos escombros. Em um ou outro canto havia pedaços de madeira do que algum dia foram carroças ou provavelmente móveis antigos. Entre um canto e outro haviam poços e mais poços que foram danificados com o tempo. Eram os poços que os moradores usavam para abastecer as casas, que foram envenenados quando todos morreram, como Eric dizia.

— Deve ter sido muito sinistro naquela época – observou Rony.

Assim como informado, não demorou muito para que encontrassem o lugar dos sacrifícios. Parecia uma praça, com as ruínas das casas em volta e com um buraco enorme no meio.

— Aqui eram realizados os sacrifícios. Dizem que a pedra era enorme, do tamanho de uma cama de casal, e era praticamente toda enterrada no chão, estando somente a parte de cima entalhada e adornada com pedras preciosas para a matança dos aborígenes.

— Quando realizavam os sacrifícios? - quis saber Harry.

— Contam que eram realizados quando uma casa nova era construída, quando um membro da grande família se casaria e teria sua própria habitação. Por isso, havia caveiras em cada uma das casas. E uma vez por ano acontecia um sacrifício especial, para celebrar mais um ano de existência do vilarejo.

— E a caveira desse sacrifício especial ia para onde? - perguntou Rony.

— Para o casarão, que é para onde vamos agora.

Caminharam mais para dentro do vilarejo e não demorou para que todos pudessem ver o casarão. Lá estava ele à frente, parecia crescer à medida em que chegavam perto dele. Em nada se parecia com aquele que Hermione sonhou, mas lembrava um pouco daquele desenho estranho que ela viu na mensagem. Todo construído com pedras fortes e madeira, com uma aparência medonha. Parecia ser a única casa que não virou ruína, se não fossem alguns buracos nas madeiras, toda a sujeira em volta e as partes gastas das janelas que davam para se ver. Da altura de um prédio de três andares, havia duas portas enormes na fachada, lacradas com madeiras para que ninguém precisasse entrar. Algo indicava que havia também portas nos lados direito e esquerdo, que seriam confirmados logo mais, e talvez devesse ter uma na parte de trás, mas nem Hermione e nem ninguém perguntou a Eric. Na frente, colunas grossas sustentavam uma grande área na parte de cima, onde certamente os bruxos que ali viviam tinham uma vista privilegiada do vilarejo. Aquilo, outrora, devia ter sido um casarão bastante imponente, indicando que uma família muito rica vivia ali.

Hermione notou que os gêmeos já estavam com as varinhas em punho, e logo tratou de pegar a própria, recomendando a Harry e Rony para fazerem o mesmo. Eric nada dizia, mas ele e o irmão andavam olhando de um lado para o outro, certamente procurando algo de estranho, além, é claro, do lugar onde estavam.

— Será que temos que entrar no casarão? - perguntou ela.

— Só se tivermos muito azar - respondeu Rony, com Harry concordando.

— Na verdade, pode haver necessidade de entrar - Eric ponderou. - Mas vamos deixar como última opção. Vamos olhar em volta primeiro.

Téo foi à frente para o lado direito do casarão, virado para o norte, onde perto havia algumas casas que estavam em melhor estado, menos acabadas que as outras. Os gêmeos olhavam em volta, entravam nas ruínas e voltavam sem novidade alguma. Andaram mais um pouco e avistaram a porta do lado norte, enorme como a da frente e, como tal, com bloqueio feito com um madeiramento simples, mas que ainda parecia ser forte o bastante para não romper facilmente. Hermione perguntou a si mesma se havia algum feitiço neles para que não se partissem, mas deixou para lá.

Seguiram para a parte de trás do casarão e nada viram de novo. A não ser que a porta de lá estava metade aberta. Na verdade, quem notou isso foi Rony, que fez sinal para que Hermione e Harry olhassem. Os gêmeos estavam um pouco distantes, verificando as ruínas de outra casa próxima.

— Vamos ver? - perguntou Harry.

— Não sei, devemos falar com os gêmeos? - quis saber Rony.

— Vamos só na porta. Só ver o que tem - disse Hermione.

Os três seguiram para a porta e viram que lá dentro parecia pairar uma escuridão bastante sinistra, embora do lado de fora houvesse um sol claro e quente. De onde estavam, dava para ver os gêmeos verificando o casebre em ruínas, por isso Hermione não se preocupou em entrar. Tudo estava abandonado mesmo, qualquer coisa era só chamar por eles ou sair de lá. Ao passar pela porta, Rony teve um calafrio.

— Não estou gostando disso - disse ele. Nem Hermione e nem Harry nada disseram. Apenas entraram e acenderam as varinhas com o feitiço “lumus”. Mas assim que Hermione o fez, instintivamente, olhou para trás e viu Téo correndo em direção a ela, como se estivesse chamando para que saísse, mas a voz que ela ouviu foi de Eric, embora ele não estivesse visível.

— NÃÃÃÃO!

E logo depois, a porta se fechando atrás dela, de Rony e de Harry.


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Notas finais do capítulo

Sei que demorei muuuito. Peço desculpas. Adversidades acontecem que não merecem destaque aqui. Agradeço a todos que comentaram nos capítulos anteriores e que (ainda) acompanham. Falta pouco para terminar e o farei, em respeito aos meus leitores.
Obrigado a todos.



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