As Memórias De Meminger escrita por LondonNW8
Havia um menino, seu nome era Oliver Kempt, tinha olhos azuis, mas o cabelo negro-judeu, seu irmão mais velho se chamava Fritz Kempt, esse já tinha os cabelos castanhos mel, bem mais “alemães” que os do irmão. Ambos eram filhos de um barbeiro viúvo e triste, Sr. Kempt, tinha feridas de um homem valente, mas no fundo só foram causadas pela navalha, parecia um perfeito alemão, os vizinhos ainda antiquados falavam pelas costas dele “ Tão branco, tão belo, tão puro, com filhos tão diferentes dele e ainda por cima viúvo! Viúvo! Só queria saber quem foi a judiazinha imunda que lhe deu esse filho imundinho! Qual mesmo o nome dele?” Oliver. O nome dele era Oliver.
Fritz Kempt era bem mais robusto que o irmão mais novo, vivia de namorico com Gretl Strauss, uma ruivinha sardenta, mas ainda bonita, nunca a assumia ou dava as mãos a menina em público, ficava sentado na calçada de casa a tarde toda assobiando para as mocinhas que passavam na rua, segurava uma garrafa de whisky vazia com a mão direita e com a esquerda um charuto que roubava da bolsa que o pai trazia das noites de jogatina.
Oliver trabalhava entregando jornais de bicicleta, pegava as gorjetas e pedalava olhando para o chão em busca de moedas, quase nunca olhava para frente, só o fazia quando ouvia o barulho de carros, de outras bicicletas ou nesse caso de gritos de menininhas. Oliver freou a bicicleta com tanta força que quase se lançou contra a menina que acabara de atropelar. Era uma loira como toda a maioria alemã, mas por entre olhos meio abertos via olhos castanhos não muito alemães, era de estatura média mas ainda sim tão magrela que parecia miúda, a menina abriu os olhos inteiros, encarou o menino espantado em cima da velharia de metal, levantou-se meio tonta e a expressão de quem havia acabado de acordar desaparecera de sua face e em seu lugar fora colocada uma cara de espanto.
– Você roubou meu Mein Kampf seu babaca! – disse Liesel e deu um tapa no braço do menino.
– Eu te atropelei! E ainda haviam outros livros na pilha ... mas por quê a filha do prefeito estaria roubando um livro? E o que faria com um livro roubado?
– Mas o livro é mais importante e eu queria aquele! O que mais eu faria? Ler, seu... – pensou em Max ao pronunciar aquela palavra – Judeuzinho.
– Eu não sou judeuzinho! E se fosse nunca ao diminutivo, ou nunca vivo e respirando! Sou muito magro para sobreviver... Odeia tanto os judeus assim?
– Não, não mesmo.
– Então por quê “judeuzinho”?
– Porque eu tinha um judeu em especial.
– Mas eu não sou judeu mocinha, sou Oliver Kempt.
– Eu não sou mocinha, sou Liesel Meminger.
– E roubadora de livros.
– Assim como você. – Foi nesse momento Oliver quebrou o momento de caras carrancudas com um sorriso e os lábios de Liesel queriam sorrir vendo aquilo, mas a menina não queria se permitir.
– Cansei de roubar seus livros Liesel, – disse o menino – posso te roubar um beijo?
O rosto de Liesel que ameaçava sorrir voltou a se fechar, fechar com tanta força que ameaçou quebrar ou derreter, enrugar como o de uma criança que queria chorar.
–Só para lembrar você-
O último e único beijo que Liesel Meminger deu foi com seu alemão puro porém Jesse Owens, de lábios empoeirados, Rudy Steiner. Liesel queria ter com quem encostar os lábios novamente e tremia ao pensar que beijou quem não tinha mais vida, mas jamais teve coragem de pousar os lábios em outros novamente.
– Não, não pode! – e então desembestou a correr a caminho de casa ou para qualquer que fosse o lugar desde que não ficasse ali com Oliver. Deixou o menino imóvel na bicicleta repetindo na cabeça a palavra “judeuzinho”.
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