Amor À Toda Prova escrita por Mereço Um Castelo


Capítulo 8
Capítulo 8 - Adeus


Notas iniciais do capítulo

Lenços de papel são bem vindos nesse capítulo, ok?



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Foi difícil para todos naquela sala, a notícia da morte de Maria não era fácil de aceitar nem para quem já sabia antes daquelas palavras serem ditas ali.

Alec tentou acudir a irmã, que começou a chorar incessantemente. Mas, não houve meios de se fazer isso, e logo ela estava correndo para os braços do pai.

Lucy, que agora estava ao lado do sobrinho, abraçou Alec, que embora tentasse não chorar tanto quanto a irmã, não conseguiu segurar suas lágrimas por muito tempo.

Não era fácil para ninguém aceitar que Maria não voltaria mais para aquela casa, ainda mais para seus filhos.

Edward deixou a sala por alguns minutos. Infelizmente, sua cota de avisos fúnebres ainda não havia acabado. Ele precisava comunicar a sua secretaria, Kelly, sobre o ocorrido para que ela avisasse aos demais da empresa e decretasse o luto por eles.

Kelly prontamente se encarregou de cuidar de todos os outros detalhes do velório. Ela podia imaginar o quanto a morte da prima havia abalado seu chefe.

Edward verdadeiramente não teria mais cabeça para fazer nada, e mesmo que quisesse ir embora para sofrer por si só, não poderia deixar seu amigo e os sobrinhos naquela noite sozinhos.

A noite custou muito a passar, para todos eles. Lucy e Edward não deixaram a casa de Jasper. Ela levou Jane para o quarto e tentou fazê-la dormir um pouco, enquanto Edward tentava fazer o mesmo por Alec.

Jasper não teve coragem de entrar em seu próprio quarto e limitou-se a ficar na sala. Ele achava que não conseguiria aguentar ficar no local sem Maria.

Na manhã seguinte, após uma noite nada dormida pelos cinco, o clima era fúnebre na casa, tal qual o humor de todos. Nenhum deles tinha força de esconder o quanto havia chorado na noite passada e o como estavam abatidos.

Lucy separou um vestido muito bonito e lindas joias para os funcionários do velório, que passariam logo pela manhã para vestir Maria. Ela ainda ajudou os sobrinhos, pegando suas roupas para sair de casa, enquanto Edward entrou no quarto de Jasper para pegar a roupa de seu amigo. Ele entendia o quanto era doloroso para ele entrar ali e respeitou seu pedido.

* * *

Ninguém sabia o que fazer ao certo. A única certeza que acompanhava a todos naquele momento era a de que Maria era uma pessoa jovem, vivida, com uma vida tão bela e cheia de felicidade pela gente.

Mas nem tudo é como a gente quer. Nada é como Jasper ou seus filhos queriam que fosse. Tudo era diferente, e se encaixa única e simplesmente nos planos de Deus. E Ele a queria lá em cima, com os anjos.

Apesar de Jasper ter dito poucas e boas palavras contra o Homem lá no céu, Ele sabia que era a dor se manifestando. Era aquilo que movia Jasper: a dor. Sim, porque, às vezes, a dor é a única coisa que nos faz mantermos firmes e continuar com essa nossa vida hipócrita e tão injusta.

E era isso o que Jasper tanto murmurava sentado com a cabeça abaixada. Ele dizia o quanto sua vida tinha mudado de rumo tão rapidamente, e como tudo estava sendo tão injusto.

Sua mulher era jovem, e ainda tinha um futuro brilhante no Direito. Ela não merecia ter partido assim, daquela maneira, em um acidente tão assustador, mas ao mesmo tempo inocente.

Afinal de contas, quantas pessoas falam ao celular todos os dias e nunca se metem em algum acidente? Por que agora, justo agora, quando tudo ia tão bem, que sua mulher deveria ir embora? Por que justo ela? Sete bilhões de pessoas no mundo e justo Maria teria de partir.

Teria não. Ela já partiu.

Mas Jasper não conseguia engolir essa verdade, era algo intragável. Ele sequer gostava de pensar nisso. De ouvir então... Ele podia jurar que sairia dando socos naqueles que dissessem algo assim para ele.

E ouvir bobagens foi o que ele mais ouviu. Nem tudo o que ele ouviu realmente servia como apoio ou ajuda. Na maior parte das vezes, era somente os desejos de “meus sentimentos”, “meus pêsames” ou “você precisa ser forte”.

Ninguém realmente quer ouvir certas coisas em velórios... E a primeira coisa que Jasper havia aprendido era que ouvir “você precisa ser forte” não era algo tão bom assim, afinal, ele precisava sim ser forte, por seus filhos... Mas ele realmente não precisava ouvir algo tão óbvio.

Em um bom tempo de velório, de todos aqueles que chegavam e o cumprimentavam, ele pode ter apenas uma certeza: ninguém sabia o que dizer. E só por isso ele perdoava aquele monte de frases feitas.

Ele mesmo, que por sinal não sabia nem como iniciar uma conversa com seus filhos, não sabia o que dizer. Não sabia nem mesmo o que responder quando as pessoas conversavam com ele.

Mas ele era forte. Ou tinha noção do mínimo que precisava ser para que seus filhos continuassem a ter uma vida boa. Ou, no mais básico de tudo, uma vida plena.

Edward, que sempre ajudou muito Jasper, havia se mostrado um imenso irmão camarada. Não só a prima que ele perdera, era como se ele visse o próprio amigo morto. Ou em pedaços.

Lucy, que havia chorado tanto nas primeiras horas, deixava alguma lágrima escorrer fugitivamente somente em alguns momentos. No entanto, ela pensava em Jasper da melhor forma na qual ele poderia ser descrito: como um vaso. Como um vaso qualquer que cai no chão e fica em centenas de pedacinhos. Ele pode ser concertado, juntar os pedaços, mas nunca mais seria o mesmo vaso, tão completo e tão harmonioso.

Para a infelicidade de Jasper, todos os familiares, amigos, companheiros de trabalhos pensavam o mesmo – de formas diferentes. Eles temiam o novo Jasper. Eles temiam o momento em que ele precisaria voltar ao mundo real, e só então percebesse o quanto a Maria lhe fazia falta. E, o pior, eles temiam que isso acontecesse quando não estivessem por perto.

No entanto, não era o que Jasper pensava. Para ele, sentado lá naquela sala cheia de pessoas chorando copiosamente, a única coisa que ele queria era que todos saíssem, fossem embora. Ele queria ficar um tempo a sós com sua mulher, mas... Como?

E quanto mais ele desejava que as pessoas fossem embora, mais elas chegavam. Naquele momento, um padre adentrou no salão velatório. Com toda aquela calma e pesar pelo o ocorrido, ele se dirigiu à única pessoa que parecia estar morta junto: Jasper.

Ele se agachou, ficou à mesma altura dos olhos do viúvo, e então tentou dar-lhe um pouco de paz. Em vão.

- Eu sei que você está pensando que o mundo é cruel, injusto e nem um pouco humano. Mas acidentes acontecem, foi uma fatalidade.

O sermão do padre, como Jasper bem sabia, estava mais atrapalhando do que ajudando. E assim como os demais, ele tinha a certeza de que o padre devia dizer aquela frase feita para todos os familiares de todos os velórios que ele aparecia para rezar.

Mas Jasper não estava para briga. Não mais. Brigar com o médico, no fim das contas, não tinha lógica. Ele fez o que pode, apesar de fazer o possível e o impossível ainda ser pouco, visto que aquela era a mulher da vida de Jasper.

- Eu sei que foi um acidente, foi... uma tragédia.

- Sim, não tem palavra melhor do que isso. Ela era jovem, tinha uma boa e longa vida ainda pela frente. Me perdoe o ocorrido, mas Deus sabe o que faz. Agora o que resta aos vivos é continuar com a vida, e aos poucos juntar os nossos pedaços quebrados. É assim que funcionamos.

- Eu sei.

- Nós nascemos, crescemos, decidimos ter uma vida e viver as consequências. Mas, para que a gente possa realmente fazer isso, acontece que precisamos de outras pessoas. E, a partir do ponto que nos prendemos a algo real, humano e, portanto, mortal, corremos sempre o risco de perder. É o curso natural da vida.

- Eu sei.

- Eu sei que a dor que você sente é terrível, chega a ser desumana, mas você precisa ser forte.

Naquele momento, Jasper olhou o padre desacreditado. Ele também? Jasper jurava que ouviria algo melhor vindo de um sacerdote do Senhor.

- Obrigado pelas palavras, padre.

- Conte comigo com o que necessitar, meu filho. Tudo você pode naquele que lhe fortalece! Lembre-se disso. Nunca deixe de ter fé de que um dia a sua vida poderá melhorar. Aliás, que começamos a ter fé desde já, sua vida ficará melhor. É só ter fé e vontade.

- Vou ver o que posso fazer... – ele se limitou a dizer, pois realmente havia achado algo interessante nas falas do padre. “Finalmente, algo, não?!”, ele ainda acrescentou irônico.

- Aliás, muita vontade, porque você precisará ter por você e seus dois filhos. Que Deus a tenha, sua mulher. Ela vai protegê-los de lá do céu. Lá, ela está melhor.

Jasper, mais uma vez, pensou em retrucar e questionar o padre. Ele queria saber o motivo de tanta gente dizer que ela estava melhor morta do que viva. Aquilo realmente o fez pensar se as pessoas gostavam mesmo dela quando ela estava viva, ou se tudo não se passava de um teatrinho.

Mas, como já dito, ele não queria ir contra. Estava cansado demais para isso. Entregue, ele apenas concordou com o padre, que lhe deu um beijo na testa e um abraço forte. Ele sabia que as palavras nem sempre são carregadas da verdade, mas é muito difícil mentir um abraço sentimental. E contato físico, um ombro amigo era tudo o que Jasper precisava.

Como se Edward lesse mentes, ele se aproximou de Jasper e se sentou ao seu lado. Ele sabia que o amigo não havia se alimentado, ou bebido sequer água. Também não havia dormido. E o que ele mais temia era que, quando ele fosse se levantar, passasse mal e tivesse de ser internado.

O que ele menos queria era confusão, e permitir que o amigo perdesse o velório e o enterro de sua própria mulher. Apesar de achar que aquilo seria melhor, por ele não ver a sua mulher ser enterrada a sete palmos abaixo da terra, ele sabia que era necessário.

Um dos pontos necessários para que uma pessoa superar a perda de outra e se livre do luto é ver tudo o que ocorreu. Só assim ela consegue absorver tudo o que houve e deixar com que a “ficha caia” com o tempo.

Preocupado, lá ele ficou. Enquanto o padre rezava em voz alta, e fazia com que um coro de homens e mulheres ecoassem por todo o conjunto velatório, Jasper olhava para as suas próprias mãos. Às vezes – somente às vezes – tinha coragem de olhar para seus filhos.

Jane e Alec estavam sentados conversando, enquanto Lucy acompanhava a reza. E a única coisa que vinha à mente de Jasper era: “pelo menos eles estão se dando bem e não estão brigando hoje. Pelo menos hoje!”.

E era só isso o que tinha de positivo naquele dia tão cinzento e chuvoso na vida de Jasper.

E como quem perde a noção do tempo, entre uma conversa e outra, entre pêsames e rezas, Jasper viu dois homens entrarem na sala. Os dois vestiam ternos escuros, o que lhe fez lembrar imediatamente dos Homens de Preto.

Só que, desta vez, ele não estava realmente feliz ao vê-los. Hoje era um dia triste.

- Viemos buscar o caixão. Aqueles que quiserem dar um último adeus, por favor, se aproximem. Vamos levar o caixão para o cemitério.

Os que estavam sentados, se levantaram. Os que estavam de pé, se aproximaram. Os que conversaram, se aquietaram. Os que riam, emudeceram. Os que choravam, limparam as últimas lágrimas, deixando o caminho livre para que várias outras novas surgissem sujando a face novamente.

Quando a maioria já havia dado seu último adeus, Jasper viu que várias pessoas o encaravam. No entanto, ele não sabia realmente se queria fechar os olhos à noite e lembrar de ter visto a sua mulher deitada tão tranquilamente e serena naquele caixão.

No entanto, o único apoio que teve, foi aquele que ele levou em consideração.

- Eu te ajudo... – Edward segurou nas mãos de Jasper, e naquele momento ele soube que da mesma forma que teve coragem ao ir falar com Maria pela primeira vez, ele precisava ter coragem para vê-la pela última vez.

Até mesmo seus filhos já tinham dado um beijo na mãe. Jasper não poderia deixar em branco.

No entanto, aquilo não era tarefa fácil. Assim que resolveu se apoiar em Edward para levantar, percebeu o quão fraco estava. Mesmo assim, teimou em se levantar. Com Edward ao seu lado, ele parou ao lado do caixão de madeira branca e ficou encarando aquela que ele jurou amor eterno.

Ele não a imaginava morrendo, com o coração sem bater, com o sangue estacionado nas veias. Ele não a imaginava com os olhos fechados para nunca mais abrir. O que ele via ali era a sua mulher dormindo, assim como todos os dias em que ele acordava mais cedo e lhe dava um beijinho na testa.

E assim ele o quis fazer. Com as mãos nas mãos dela, ele foi dar um beijinho na testa. No entanto, muito diferente daqueles dias em que ela estava dormindo, ela não se assustou com o toque e se moveu lentamente, como quem ainda está dormindo.

Aquilo o fez sentir dor. Uma dor fora do normal. Mas não era uma dor física, que doesse em um único lugar, uma dor que pudesse ser controlada com remédio. Era um simples aperto no peito, mas que ele sabia ser emocional. Ele sabia disso porque somente naquele momento ele tinha tido a certeza de que pudesse ocorrer o que quisesse no mundo, até mesmo uma nova Guerra Mundial, que ela nunca mais teria noção daquilo. Ela não saberia do futuro do mundo. Ou dos próximos dias, que seja...

Ele se mostrou pronto para abraçá-la, quando os homens voltaram. E anunciaram com voz grave.

- Precisamos de três homens de cada lado.

Imediatamente, Jasper se postou no lado esquerdo, assim como sempre fora desde o casamento até mesmo na hora de dividir a cama. Edward resolveu se postar do lado direito, assim se o amigo passasse mal com a força aplicada, não ficaria peso demais em um só lado.

E assim foram, três homens de cada lado – marido, primos e amigo de longa data – e a Maria. Os sete passaram pela porta e deixaram o caixão no carro funerário. Em seguida, aqueles homens os cumprimentaram e pediram para que os acompanhassem, cada um em seus respectivos transportes.

Jasper se moveu rapidamente recolhendo os filhos e seguindo Edward até o carro. Assim que o carro preto da funerária saiu, Edward estava atrás. E foi assim em todo o percurso.

Chegando no cemitério, o mesmo., três homens de cada lado, e seguiram em direção ao tumulo recém comprado por Kelly, com as ordens de Edward.

Chegando lá, a cova funda e marrom no meio de um monte de grama verde parecia mais como uma cena de filme do que vida real. Na verdade, tudo ainda tinha um “quê” de surrealidade para Jasper.

Em todo caso, ali, parado, ele ouviu novamente o padre dando sermões. Após algumas palavras bonitas e sentimentais, ele depositou a primeira rosa vermelha no caixão. Seu ato foi seguido por Jane, Alec, Edward, Lucy, entre outros.

Então, após abaixar completamente, os coveiros começaram a jogar as pás cheias de terras. E, terra por terra, ele deixou de ver aquele caixão. Aquele pedaço de madeira tão bem revestido de tamanho valor para a sua vida sumiu de vista, e ele não sabia o que fazer novamente.

Ele viu todos saírem de perto, um a um, e então se viu apenas com os amigos mais próximos. Edward colocou sua mão no ombro de Jasper, como consolo e forma de instigá-lo a sair dali. Ele sabia que a última alternativa era bem mais difícil de acontecer, mas ele precisava tentar.

Mas nada aconteceu. Jasper se limitou em responder com palavras objetivas.

- Leve as crianças para sua casa. No caminho, se der, passe em alguma lanchonete e compre algo para eles comerem. Eles devem estar famintos. Depois eu te pago.

- Não precisa, eu me encarrego de tudo. Mas, e você? O que quer comer?

- Eu vou ficar mais um pouco.

- Você precisa comer, tanto quanto as crianças.

- Leve-os daqui. Eu fico.

- Mas... Jasper, tem certeza?

- Tenho.

Edward não tinha tanta certeza assim do que deveria fazer, pois sabia que o amigo precisava de sua ajuda, mas também sentia muita pena ao ver os dois pré adolescentes ali parados sem saber o que fazer na próxima hora.

Se para eles, adultos, estava sendo difícil, imagina como era para dois adolescentes? Ou, como Jasper ainda os chamava, crianças?

Edward fez o que Jasper pediu, e saiu com Jane e Alec. Lucy foi junto. E Jasper ficou. Ele se sentou em um canto assim que os coveiros terminaram e partiram. Ali, sozinho, ele encarou aquele monte de terra ainda úmida. E aí aconteceu o que devia acontecer: a vida seguiu.

Ou assim, pelo menos, Edward gostava de pensar que estava acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Gente esse capítulo finaliza um ciclo de tristezas, do nove para frente não vamos mais fazer vocês choraraem tanto, ok?
Amaria saber de vocês quais são as teorias para esses futuros casais se conhecerem, hein? E também se alguém tem alguma sugestão de par romantico para a Lucy. :)
beijinhos!