Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 4
Capítulo 3 - Reencontro Fugaz


Notas iniciais do capítulo

exatamente no dia! Bem, esperem de gostem, e até o próximo domingo! (ah, talvez eu entre de férias, então vou ter beeeem mais tempo pra escrever. Quem sabe não posto com mais frequência?)



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Lucy só largou do piano após a terceira música consecutiva. Adorava o instrumento, e tinha prazer em tocar para quem quer que quisesse ouvir. Estudara-o desde pequena, e era muito eficiente no seu manejo. Tinha como principal espectadora Susanna, que parava até as mais importantes atividades apenas para desfrutar de alguns minutos de música clássica. Era também a única coisa que lhe acalmava certas vezes, quando apenas as palavras da prima não eram o suficiente.

No entanto, não eram todas as moradoras da casa que sabiam como apreciar uma música, ou mesmo respeitar quem a estava executando.

– Lucy, Susanna, descem para o almoço! – a voz um tanto esganiçada de Isobel, se comparada às notas musicais, soou no andar de baixo, bem entre o final de uma música e o que seria o início de outra, se não houvesse interrupção.

– Isobel. – bufou Susanna – Nunca te deixa tocar. – exclamou Susanna, consternada.

– Eu toco depois, se você quiser. – Lucy respondeu, com a calma e paciência de sempre, enquanto as duas moças seguiam escada abaixo.

– Não será necessário. – respondeu Susanna, já adentrando a sala de jantar. - Vou sair depois do almoço.

Na mesa exageradamente grande, se sentava Isobel, na cabeceira da própria. Susanna tinha que admitir que a tia fosse ágil para alguém de sua idade. Como de costume, Lucy tomou um dos lugares ao lado de sua mãe, enquanto Susanna se sentava defronte Lucy. A mesa de dez lugares pareceu aterradoramente vazia aos olhos de Susanna, apesar de ter sido sempre assim desde que chegara ali.

– Aonde vai? – perguntou Isobel para Susanna.

A moça, com o olhar perdido na extensão da toalha de mesa incomumente branca, demorou para raciocinar a que a tia estava se referindo.

– Aonde vou? – Susanna olhou para tia, e depois respondeu. – Ao mesmo lugar que sempre vou.

– Aquele Parque? – a tia perguntou, mas não carregava o tom rude de sempre na voz. Parecia ligeiramente seco, apenas.

– Sim. – Susanna se limitou a usar um monossílabo, enquanto ocupava as mãos tirando a comida para seu prato. Tudo fora devidamente trazido pelas moças que trabalhavam na casa, o que Susanna achava que era um desperdício de dinheiro, embora fosse a fonte de renda daquelas mulheres. Talvez, se Isobel fizesse doações para instituições de ensino ao invés de pagar o salário, elas estariam estudando em seu devido lugar, e não trabalhando para uma senhora como aquela. Se fosse tudo justo, dividiriam os serviços da casa entre as três, e no máximo uma cozinheira seria necessária.

Susanna tentou parar de pensar em Isobel e as decisões que tomava. Não adiantaria de qualquer jeito ficar ruminando os mesmo assuntos; ela não iria mudar.

– Vocês souberam que Jane Giusini está doente? – infelizmente para Susanna, que não gostava nem um pouco de saber das fofocas da cidade, Isobel era conhecida como sendo uma das que mais contribuíam para que esses rumores se espalhassem. Sabendo que o que viria a seguir seria a mesmice de sempre (alguns comentários maldosos da parte de sua tia, um ou dois comentários educados de Lucy em resposta, no entanto nunca depreciativos, e nenhuma palavra dela própria) Susanna suspirou - Não levanta da cama há dias. Não sei por que raios aqueles moços não a levam para um hospital. Deve ser o orgulho de classe alta: acham que podem tudo no conforto de seus lares!

– Acho que pediram um médico particular. De qualquer modo, aqueles moços você quer dizer os dois filhos dela? – perguntou Lucy, ignorando as ofensas, com seu tom educado de sempre.

– Ah sim, o mais velho tomou vergonha e finalmente veio ver a mãe. Sabia da doença a tempos, me disseram.

– Pobrezinhos. – comentou Lucy, sentindo genuína pena. – Devem estar passando por maus bocados.

– Deixe de ser boba, Lucy, aquilo não deve ser doença terminal. Já já aquele Christopher está de volta para a capital, gastando dinheiro, e aí sim, o pobre do George terá de ficar por aqui, nessa cidade que aparentemente é boa demais para o mais velho.

Desta vez, as palavras de Isobel chegaram aos ouvidos de Susanna e despertaram certo interesse nela. Ouvia sem prestar realmente atenção, mas ao ouvir o nome do Giusini mais velho, recordara daquela mesma manhã.

Seria o jovem das rosas o mesmo Christopher que sua tia estava falando? Ela descartou a possibilidade de imediato: o jovem que encontrara fora cortês com ela, e educado ao extremo. Certamente que não poderia ser Christopher Giusini. Oh, não o jovem orgulhoso, metido a rico (embora realmente fosse), e que nunca levantara um dedo pela família ser o mesmo que ela encontrara. Além do mais, o que faria vagando pela rua, pedindo o endereço de um florista quando sua mãe ia de mal a pior na cama de sua mesma casa?

Susanna deu um sorrisinho ao se lembrar da conversa daquela manhã. Sua tia lhe perguntou onde estava a graça em uma senhora doente, no que Susanna segurou a língua para não dar uma resposta maldosa, e disse apenas:

– Oh, meus pensamentos estavam longe daqui, me perdoe.

Sob os olhares indagadores de Lucy, Susanna terminou sua refeição, pensando em contar tudo para a prima depois.



O Parque das Rosas era um local que Susanna considerava íntimo, apesar de ser público e muito visitado. A ligação do local com seu falecido pai era tão grande que Susanna não conseguira colocar os pés nas vizinhanças do lago por longas semanas após a morte dele. Sempre que chegava perto, lembranças boas ou ruins infiltravam por sua mente, desatando-a a chorar. Tentava bloquear essas imagens, que vinham nos momentos mais inesperados e inoportunos, mas não conseguia. Certa vez, enquanto conversava educadamente com as visitas na sala de estar de sua tia, Susanna desviou o olhar para as chamas da lareira, despreocupadamente. As chamas a fizeram recordar de uma noite, quando era muito pequena, que passou empoleirada no colo de seu pai. Ouviu-o contar histórias enquanto adormecia, observando a cor da lareira espairecer aos poucos. Levou muito tempo sozinha em seu quarto para poder se recuperar da crise de choro.

Mas certo dia, Susanna não sabia exatamente quando, ela teve uma imensa vontade de visitar o Parque, sofrendo de tanta saudade que estava de seu pai. Quando foi se aproximando pensou que fosse chorar novamente, mas não foi isso o que aconteceu. Naquele dia, ela refez o caminho para que sempre fora só dela e de seu pai, mas agora sozinha.

Parque das Rosas. Era o nome que todos usavam para apelidar o parque. A própria Susanna sempre usara este nome, pois ela amava aquelas rosas e olhava por elas com carinho. Não sabia ao certo se as plantas eram deixadas por si próprias ou se havia um jardineiro encarregado. Essas dúvidas frequentemente lhe lembravam de sua infância.

Edward Ferguson, um simpático dono de uma doceria aos arredores do Parque das Rosas, conhecia Susanna desde pequena, e dissera que as rosas as vezes murcharam porque sentiam sua falta. O doceria do Sr. e Sr.ª Ferguson era o segundo lugar favorito de Susanna, e sempre ia lá quando possível. O casal, já bem idoso, sentiu muito a falta dela quando parara com suas visitas. Susanna se lembrava que no dia de seu retorno comera tantos doces de graça que não podia nem ver a cor de chocolate dias depois.

A dúvida de qual lugar visitar primeiro perdurou por algum tempo na mente de Susanna. Escolheu visitar o Parque antes da doceria. Afinal, gostava de colher algumas das belas rosas para presentear Eddie e May.

Refez o seu caminho de sempre, agora quase automático depois de tanto tempo. Pegando atalhos mais desconhecidos, por passagens que quase não eram usadas, Suze chegou ao seu destino em minutos.

Chegou até a sorrir diante da visão do rio que cruzava o Parque. Porém, fechou o rosto assim que avistou a primeira rosa a secar. Aproximava-se o outono, e Susanna não podia parar o inevitável. Porém, sempre ficava mais triste na época em que as rosas secavam. Susanna colheu uma única rosa vermelha (a que estava murchando), que se destacava contra seu vestido azul, mas combinava com os cabelos, e foi para a ponte.

Ali, encontrou um jovem de cabelos escuros, debruçado sobre o parapeito, observando o lago calmamente. Não o conhecia, então tomou certa distância dele e pôs-se a observar o lago. Susanna rodou a rosa em suas mãos, distraidamente. Perdida em pensamentos, se sobressaltou ao ouvir a voz do jovem:

– Susanna das Rosas?

Virando-se em direção à voz agora conhecida, Susanna se espantou ao ver que era Christopher parado ali, olhando-a com um sorriso no rosto. Trajava-se do mesmo jeito do encontro mais cedo, porém agora trazia uma rosa branca na lapela. Apesar de seu sorriso, seus olhos lhe traíam: traziam consigo uma enigmática expressão conflitante, que mesclava consternação e certo deleite.

– Christopher! – ela respondeu em reconhecimento. – Nos encontramos novamente.

– De fato, as coincidências nesse dia não acabam. – ele comentou, mas não se referia exclusivamente a ele e a Susanna. – Vai me dizer também que você é a jardineira desse Parque?

Susanna riu diante da hipótese do jovem.

– Nem se eu quisesse teria tanto tempo. – ela respondeu. – Basta-me as rosas de minha casa. Conseguiu chegar ao seu destino? – ela perguntou, referindo-se as coordenadas dadas a ele mais cedo.

– Sim. E a flor foi entregue para quem merecia. – ele respondeu, fazendo Susanna imaginar se não haveria nenhuma moça envolvida com ele. A contar a sua beleza, não deveria ser difícil ter alguém para quem Christopher quisesse presentear com flores.

– Mas o que esta faz em sua lapela? – ela perguntou, curiosa.

– O mesmo que esta – ele disse, apontando para Susanna – faz em suas mãos.

A moça rodopiou a flor entre seus dedos.

– Como pode saber dos meus motivos para colhê-la?

– Raciocinando. Veja: você não pode colhê-la para si mesma, pois já possui um imenso – e devo acrescentar notável – jardim dessas mesmas flores em casa, então porque carregar mais uma consigo? Tão logo, esta flor pode servir para presentear alguém, mas creio que não seria isso, levando em conta que uma das pétalas está para cair, e no meio de tantas outras, você não escolheria justamente essa rosa – Susanna se admirava com a velocidade com que o jovem travava seu raciocínio. – Então me resta apenas uma possibilidade: você se apiedou da flor se deteriorando, e buscou colhê-la para embelezar os canteiros... Estou certo?

– Quase. – Susanna respondeu, num tom desafiante. No entanto admirava a confiança com que Christopher expunha seus pensamentos e os afirmava. – Eu me apiedei dela, verdade, mas a trouxe aqui pois me lembrei de um certo conto que soube quando ainda era criança...

– Despetala-se uma rosa murchando no rio, e ganhará um desejo. – ele completou por ela.

Os dois jovens se encararam por alguns segundos, ambos ponderando o mesmo que o outro. Seria mesmo você que eu encontrei em minha infância...?

– Christopher, vamos já, o carro nos aguarda! – de longe, gritava um moço, não mais velho que Susanna, acenando para que Christopher o visse. Não estava longe; parado pouco depois dos canteiros de rosa, o homem repetia o já antes dito urgentemente, apontando para o carro que os aguardava na beira do Parque.

– E este é meu irmão. – disse Christopher para Susanna, o encanto de momentos antes quebrado. – Não posso me demorar mais, a não ser que queira ouvir pelas próximas horas...

Susanna assentiu com a cabeça, entendendo o que quis dizer. Christopher mais uma vez tomou-lhe a mão e beijou-a, se despedindo.

Quando já ia longe, quase ao encontrar com o irmão, Christopher se virou para trás e falou para a moça:

– Nós reencontraremos, Susanna das Rosas!

Susanna permaneceu encarando o par de jovens entrar no carro, e o mesmo acelerar para longe com os dois no banco traseiro. Foi só tempos depois que ela notou a rosa branca deixada para trás no parapeito da ponte.



Quando avistou Eddie atrás do balcão, outro sorriso abriu em seu rosto. Deixando os fregueses sozinhos, Eddie os ignorou completamente enquanto contornava o balcão onde servia os doces e atendia aos pedidos e foi diretamente para Susanna. As rugas no rosto de Eddie pareciam aumentar a cada vez que Susanna o via, mas sua jovialidade e boa vontade nunca desapareciam. Sempre a cumprimentava como se aquele fosse seu melhor dia na vida. Dizia que estava velho demais para se preocupar com coisas bobas, e que deveria mesmo é ser feliz.

Susanna se esforçava para seguir o conselho dele, mas não conseguia. Com o tempo você aprende, ele dissera em resposta, quando Susanna viera contar para ele suas tentativas fracassadas. Depois que a soltou de um abraço apertado, e recebeu uma rosa vermelha, Eddie voltou o mais rápido que suas pernas lhe permitiam para trás do balcão, sob o protesto de inúmeros clientes.

Susanna, casualmente, abriu um pote e pegou um pedaço de doce de leite, enquanto tentava ver May através da janelinha da porta que dava acesso a cozinha. Um garotinho instantaneamente começou a reclamar quando viu o que fizera. Ela, que já havia passado por casos como esses inúmeras vezes, colocara um dos dedos nos lábios para o garoto, enquanto sua outra mão deslizava pela vasilha com doces um puxava um pequenino pedaço para o menininho. Tudo isso, as costas de sua mãe. O sorriso do garoto era tão grande que compensava o dinheiro perdido de Eddie. O velho homem se importava mais com a satisfação da clientela do que com o lucro. Susanna admirava muito o casal mais velho.

Passando pelo balcão, Susanna abriu a porta da cozinha; o cheiro de bolo recém assado invadindo suas narinas.

May Ferguson estava com o seu costumeiro avental de trabalhar na cozinha, e retirava duas travessas de bolo do forno. A cozinha era larga, com uma grande mesa no centro, lotada de ingredientes, e o fogão, geladeira, e afins espalhados ao seu redor. May deixou os bolos em cima de mesa e foi cumprimentar Susanna, dando um beijo em cada bochecha. Também ganhou uma flor da garota, dessa vez vermelha.

– A garota das rosas veio nos visitar de novo? Estava sumida, Suze.

Parque das Rosas. A Garota das Rosas. Parecia que tudo ali envolviam essas belas flores.

– Oh, me desculpe. – Susanna respondeu. – Eu estava ocupada esses dias...

Era verdade. A tia sempre pedia para Susanna fazer diversas atividades na casa, por vezes ignorando a existência da empregada ou de Lucy. Isobel nunca mandava Lucy fazer nada, mas, para mostrar como se opunha ao jeito da mãe, a garota ajudava Susanna em tudo o que era possível, fazendo questão de deixar claro para mãe que o estava fazendo. Lucy sempre teve seus próprios ideais, mesmo antes de conhecer Susanna mais a fundo. Em quase tudo ela pensava diferentemente da mãe.

– Eu entendo. – May respondeu, olhando fundo em seus olhos. Susanna nunca conseguia esconder suas emoções de pessoas mais atentas. Para alguns que olhavam com menos atenção, as emoções passavam despercebidas; para os que percebiam cada detalhe, pareciam que as emoções de Susanna estavam estampadas em seu rosto. Infelizmente, nenhum detalhe passava despercebido à tia, e Susanna se metia em problemas com isso. – Isobel. – May bufou. Ela e a tia de Susanna não poderiam ter personalidades mais diferenciadas, embora tivessem por volta da mesma idade. Sem deixar interromper o trabalho de cozinheira, May conversava com Susanna enquanto mexia em massas e afins.

– Isobel. – Susanna repetiu. Acompanhava os movimentos de May pela cozinha, mas sabia que seria inútil se oferecer para ajudar. May nunca deixava. – May, porque você não é minha tia? Sinceramente, eu não me importaria de sair daquela casa desnecessariamente gigantesca de minha tia e vir morar no sótão de vocês. – Susanna falou, brincando. A loja de doces era anexada à casa do casal, e ficava na parte da frente. Do lado da fachada da loja, havia um portãozinho, que levava diretamente a lateral da casa, e a porta da cozinha. A loja ficava no apenas no primeiro andar, deixando o segundo apenas para a casa dos dois.

– Eu adoraria Susanna. – May respondeu. – Mas como eu já disse e canso de repetir: você não deveria nutrir esse ódio por sua tia... Embora eu concorde que às vezes ela mereça. – segredou May para ela.

Susanna conhecia os Ferguson desde que era criança. Assim como suas visitas ao Parque, as visitas àquela doceria também eram tão antigas quanto. Seu pai fora quem primeiro começara esse relação amigável com o casal, e logo os dois se encantaram com a pequena Susanna. Eddie sempre falava, com um tanto de verdade, que ela era sua cliente favorita, e sempre concedia um doce ou dois a mais que o pedido. Em compensação, a pequena Susanna pegava uma ou duas rosas do Parque, e levava alegre para dar para o casal. Quando o pai dela morrera, os dois sentiram imensa falta de Susanna, pois, como a garota não ia mais ao Parque, isso significava que não iria mais a doceria. May escreveria cartas a Susanna, mas não fazia ideia de seu novo endereço. O casal e a moça foram se reencontrar semanas depois, quando Susanna tomou coragem de retornar ao local, com a promessa de que nunca mais iria demorar tanto.

May cessara um pouco o trabalho da cozinha, puxando uma cadeira para se sentar. Já não tinha mais a vitalidade de antes. Seus cabelos agora eram grisalhos, mas ainda curtos e encaracolados como sempre foram. Ela puxou seus óculos por debaixo de um livro de receitas, quase perdido na bagunça de uma das bancadas, e se pôs a estudá-lo.

– Sim, às vezes ela merece.

– Eu já te recomendei e não vou falar de novo... – May avisou.

– Eu sei, May, você é espírita e está sempre me recomendando a fazer isso... Mas não é sempre que consigo. – ela suspirou. – Eu só queria entender.

May largou o livro de receitas e se pôs ao trabalho novamente. Susanna sabia que ela prestava atenção em cada palavra sua, no entanto.

– Pesquise seu passado, Susanna. Onde estão aqueles diários que seu pai sempre guardava? Eu sei que ele tinha aquele caderninhos e vivia escrevendo neles...

– Por vezes até colocava uma fotografia junto. – ela suspirou. – Mas eles estão sob custódia de Isobel, May.

– O ovo de ouro no ninho da cobra. – May falou, rindo depois. – Eu não deveria sair colocando essas ideias na sua cabeça.

– Que ideias? – perguntou Eddie, entrando pelo porta vai e vem.

– Ideias negativas quanto a Isobel.

– Mas aquela mulher é o demônio! – condenou-a Eddie, recebendo a desaprovação de May.

– Você não deveria estar tomando conta das vendas? – ela perguntou para o marido.

– Nah, eles sobrevivem um tempo sem a minha presença. – ele respondeu com um gesto displicente. Voltando-se para Susanna, disse: - E como vão as coisas, Suze?

– Mais ou menos...

– Ainda está tentando desenterrar seu passado. – respondeu May por ela.

– Sim, eu quero motivos por Isobel me odiar.

– Suze, não se deixe abalar por aquela mulher, ela só enxerga a si mesma. A si e a mais ninguém. Isso é quase como odiar a todos. – falou Eddie.

Susanna pensou nas palavras de Eddie por algum tempo.

– Mas eu acho. – ele continuou. – Que eu teria alguma coisa que talvez fosse te ajudar.

Susanna olhou para ele com um sorriso no rosto.

– Se eu me lembro bem, seu pai deixou um diário para trás em nossa casa, da última vez que esteve aqui. – ele falou, medindo o rosto de Susanna para saber qual seria sua reação.

– E porque você não disseram nada antes? – ela perguntou, indignada.

– Suze, estávamos esperando a hora certa. – disse May. – E essa hora não era exatamente depois que você recebeu a notícia do falecimento de seu pai.

– Então me deem o diário logo de uma vez. – ela falou ansiosa. – Desculpem-me, mas eu... eu quero muito vê-lo.

Com um gesto de mão, Eddie pediu para ela segui-lo, e levou-a para dentro da casa. Acompanhando o ritmo lento do velho, Susanna seguiu-o até o andar de cima, de onde ele gastou certo tempo procurando o diário numa gaveta da cômoda do quarto do casal.

Quando achou o diário, Susanna reconheceu o caderninho: era de veludo vermelho, com detalhes em dourado e uma fita da mesma cor para marcar a página. Não era um caderno pautado; as folhas eram completamente brancas, esperando para serem preenchidas. Estava um tanto deteriorado pelo tempo, mas ainda em perfeitas condições de lê-lo. Susanna o envolveu com as mãos e viu em dourado na capa: 1951. Dois anos atrás. Dentro, estava a fina caligrafia de seu pai, adornada com enfeites, mas concisa, e bem legível.



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Notas finais do capítulo

Está bom? Reviews? Ah, ainda tem muito oq desenterrar de Reymond Hayes...