Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 28
Capítulo 27 - Amarga Verdade


Notas iniciais do capítulo

Pois bem meus caros leitores, aqui está a "amarga verdade" do passado da nossa querida (cof cof) personagem, Isobel.
Mas, falando sério, eu tenho pena dela.
Vocês verão.
Boa leitura!!



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Susanna deixara o escritório de seu antigo advogado de confiança a beira de explodir em raiva. O tormento em que se encontrava no momento em que fechava a porta da sala de Marcel e se dirigia à saída era notável, e ela, mesmo tendo consciência deste fato, não fez nada para amenizar suas emoções. Estava longe de querer se sentir daquele modo, e igualmente distante de ser capaz de controlar-se.

Seus saltos dos sapatos bateram mais rápidos e altos na escada de madeira, fazendo o baque que lhes era característico, e denunciando a sua chegada para a secretária e Christopher. Ele a aguardava sentado numa cadeira da recepção, com a paciência para o clima modorrento que sempre é esperado num momento como aquele.

O noivo de Susanna se ergueu quase no mesmo momento em que ela fez a curva e se tornou visível no topo da escada. Franzindo o cenho em preocupação ao ver claramente na expressão de Susanna que algo não estava correto, ele foi de encontro a ela na base da escada. Tudo o que recebeu foi um olhar de aviso de sua noiva, que parecia transmitir certa urgência em sair dali, e dizer explico tudo lá fora.

Christopher deixou que Susanna passasse direto por ele, sem saber exatamente o que fazer. A secretária olhou de esguelha para a moça, mas não se desviou tanto do romance que estava lendo. Quando Christopher reagiu e saiu porta afora exclamando um “tenha um bom dia” com uma simpatia um tanto forçada, ela nem sequer se mexeu, e voltou ao clima apático de todo dia.

– Susanna, o que houve? Parecia demasiado alterada. – ele perguntou.

Susanna apenas pediu para que ele entrasse no veículo que os aguardavam, e apenas quando já estavam a caminho da casa dos Hayes foi que ela iniciou a fala:

– O Sr. Abrams... bem, não foi exatamente ele o culpado, mas sim Isobel... – numa narrativa entrecortada de exclamações de raiva e da emoção que viera guardando para si, Susanna tentou reproduzir o que acabara de saber por intermédio de Marcel para que Christopher ficasse a par da situação.

Quando terminou, Christopher, que ouvira pacientemente enquanto dirigia, disse apenas:

– Presumo que você queira trocar algumas palavras com Isobel agora, não é?

– Não use eufemismo, Chris, “trocar algumas palavras” está mais para exigir o motivo que levou ela a fazer tal coisa... É um absurdo, mas agora que não há como voltar atrás... Satisfaz-me uma explicação lógica.

Estacionando o carro logo em frente à casa de Susanna, Christopher lhe lançou um olhar severo, clamando em silêncio que não fizesse daquilo um caso maior do que era. As chances de Susanna encontrar a tia em casa eram grandes, ele sabia disto, e, portanto, o aviso tinha de ser dado; num tal frenesi de sentimentos tumultuosos, levaria não mais do que uma frase irônica mal intencionada para fazê-la erguer a voz.

Susanna devolveu o olhar dele com irritação, embora soubesse que tinha a razão.

– Não pretendo discutir com ela, Christopher. – avisou.

Ela fez um movimento na direção da saída, mas Christopher a interrompeu.

– Susanna. – ele chamou, fazendo-a se virar. Ele beijou-a com suavidade, dizendo logo depois – Sei que não. Mas também sei que Isobel tem a propensão para irritá-la com facilidade, então não se deixe levar pelo o que ela diz. Vá, converse com ela... quer que eu espere?

Agradecendo silenciosamente a Christopher por conseguir acalmá-la, Susanna respondeu:

– Não. Pode ir... eu te encontro depois na mansão.

Saindo do carro, Susanna caminhou com passos apressados para a casa, procurando as chaves da porta no caminho. Abriu e entrou na sala, mas não viu sinal de ninguém por ali. Será que até Lucy saíra? Ela pensou. Na última vez que estivera ali, pouco mais de uma hora atrás, tanto Lucy, quanto sua tia e Carla estavam em casa. Susanna achou seu caminho até o andar de cima, olhando primeiro o escritório, seu quarto, o de Lucy... todos vazios. Quando chegou ao quarto de Isobel, em que quase nunca entrava a não ser quando era convidada, encontrou a porta entreaberta. Era o último no corredor, e depois dele não haveria mais nenhum lugar mais a ser explorado.

Como se aquela fresta vazia entre a porta e a parede apresentasse um convite de entrada, Susanna se sentiu no direito de entrar. Empurrou a porta o suficiente para que pudesse passar, olhando todo o quarto assim que o fez; estava vazio. As cortinas claras corriam e fechavam a janela, mergulhando o quarto na penumbra. O closet estava assim como a porta: entreaberto, revelando um interior de roupas impecavelmente organizadas. Nem a mesa de cabeceira nem a penteadeira apresentavam objetos fora do lugar; estava tudo na maior ordem, assim como Susanna esperava.

Uma única coisa lhe captou a atenção: em cima da cama feita e arrumada uma caixa quebrava toda a ordem. De papelão e de tamanho médio, a caixa causava uma discrepância que notavelmente era percebida por qualquer um que entrasse. Sua tampa estava aberta, e seu interior completamente visível, revelando aquilo que Susanna mais temia e mais queria achar: os diários “roubados” de seu pai.

Sem perder tempo, ela chegou perto da caixa, sentou-se na cama e retirou o primeiro exemplar. 1945. Leu na capa. O ano em que Ralph morreu.

Procurando por outros anos, Susanna foi limpando o interior da caixa, com uma curiosidade crescente, suplantando sua raiva que antes imperava.

– 1928 e 1930. – ela ouviu alguém dizer atrás de si. Virou-se na mesma hora, encontrando sua tia encostada na porta. – Eles guardam tudo o que quer saber. Setembro de 1928, Dezembro de 1930... – ela proferiu aquelas datas como se ardesse nela própria a revelação.

Dito isso, saiu do próprio quarto, deixando Susanna sozinha com os diários.



***

Setembro de 1928

Como todo o inverno no Brasil, aquele não era diferente: o tempo seco, o frio pouco acentuado, mas notável, e, especialmente, o que chamava a atenção de uma jovem: as folhas secas que cobriam o chão do Parque das Rosas. Naquele dia em questão, chovia incessantemente desde cedo na manhã, uma contribuição a mais para tornar a temperatura baixa e mudar a paisagem com o céu coberto com o véu de nuvens branco. A chuvinha fina não parecia incomodar a jovem que passeava perto da ponte, do contrário. A não ser por sua visitante, o Parque estava completamente deserto àquela hora da tarde e com aquele tempo, aparentemente.

– Não é uma paisagem tão soturna? – uma voz masculina inquiriu para ela.

Umas poucas rosas se aventuravam a florescer naquele tempo, tornando-se os únicos pontinhos coloridos. Eles logo foram capturados pelos olhos analíticos de Isobel, que não hesitou em discordar:

– Não. Eu adoro ver como aquelas flores lutam contra tudo, mostrando até mesmo para chuva que elas não se arrependem de ter florescido. – ela se virou para trás e encarou seu interlocutor. Os cabelos loiríssimos dele estavam bagunçados, e reluzindo com as gotículas de chuva que se prendiam nos fios. O queixo quadrado, as feições fortes e os olhos azuis fechavam aquela aparência inconfundível para Isobel.

– Capricho de Miriam. – Ricardo La Fontaine sorriu, dando um passo à frente e abrindo o guarda-chuva para ele e ela, num gesto cavalheiresco. As mãos fortes e calejadas revelavam o custo de sua atividade diário mexendo com madeira, mas ele não ligava. Vendo que Isobel recomeçara a caminhada, feliz por tê-lo ao seu lado, ele regulou o ritmo de seus passos com os dela, comentando – Ainda acho esse clima soturno. Prefiro quando tudo está florescido e brilhante com o sol.

– Pelo contrário. As flores ficam brilhantes quando são regadas, portanto, ficam brilhantes quando chove.

Ricardo sorriu de modo travesso, estendendo o braço para ela.

– Nunca há como ganhar uma discussão com você, querida... Pergunto-me como será quando formos casados...

– Não está insinuando que sou mandona, está? – ela enrolou seu braço no dele – Sei ser condescendente quando preciso, Ricardo. – Isobel mostrou-se um pouquinho ofendida, mas sabia o quanto ele era brincalhão.

– E por isso você quer dizer que comigo não precisa ser condescendente, é? Sei que você gosta que ganhar uma argumentação. Não esconda, fica sempre triunfante. – ela sorriu, e ele continuou – Você é inteligente demais para um simples filho de carpinteiro...

– Não, não venha com elogios para mim se isso significar se diminuir. Não vou aceitá-los. – ela avisou. Não era a primeira vez que Ricardo supervalorizava certas qualidades dela.

– Você é rica, filha de um renomado coronel do exército, teve a melhor das educações, tem mil e uma habilidades e ainda um rosto lindo que encanta qualquer um. – ele declarou, parando. – Não aceite meus elogios, aceite a verdade, querida.

Ele sorriu, garboso, envolvendo-a com seus braços. O casal se aproximava quando...

– Ricardo...! – Reymond Hayes, que vinha andando apressado pelo Parque a procura dele, mal percebera o que estava interrompendo até quando pronunciara o nome do outro. Um tanto embaraçado e surpreso, tirou o chapéu, fingindo arrumar seus cabelos ruivos.

– Reymond! Mas não acabei de deixá-lo na marcenaria de meu pai?- Ricardo perguntou, separando-se de Isobel completamente. Ainda segurava o guarda-chuva, desajeitado, tentando cobrir os dois e manter distância.

– Sim, de fato. – Reymond respondeu. – Mas eu acabei de notar que o recibo da compra que fiz, e junto dele a data da entrega, não estava comigo. Retornei direto à marcenaria, mas tudo o que encontrei foi a loja fechada. Voltando para casa, te vi enquanto andava aqui pelo Parque...

Nem Reymond Hayes, muito menos todo o resto de Valliria sabia do que acontecia entre Ricardo La Fontaine e Isobel Lopes. O coronel Lopes, sabido homem taciturno e severo, de alta reputação, assim como sua patente no exército brasileiro, pai de Isobel, impedira de quaisquer informações a respeito daquilo fossem divulgadas. Negociava com o jovem La Fontaine seu destino e seu casamento, no que nesse ínterim Ricardo era cuidadoso ao se encontrar com sua noiva.

Porém, naquele dia, a sorte não estava ao lado do casal.

– Sim, é claro, como fui descuidado... – Ricardo dizia para si mesmo. Vasculhando o bolso do casaco, ele encontrou o tal recibo de Reymond, e estendeu-o para o outro. – Aqui está. Esqueci-me completamente de dá-lo a você, me desculpe.

– Está tudo bem. Retornaria a loja amanhã se não o houvesse encontrado por aqui, de qualquer modo. Obrigado... desculpe a interrupção repentina. – com um olhar inquisidor para Isobel, Reymond recolocou o chapéu e desapareceu no horizonte brumoso do Parque das Rosas.

– Ele viu.

– Ele não viu. – Ricardo tentou tranquilizá-la. – Estava longe demais para discernir alguma coisa... – como que um mau presságio para o casal, a chuva aumentou de repente, obrigando-os a saírem do céu aberto.

Com um olhar que mesclava o cansaço da agitação do dia com a ansiedade para a festa iminente, Isobel se encarava no espelho de sua penteadeira. Acabava de retornar do salão feminino, onde ganhara um novo corte de cabelo. Ela admirava seus cachos castanhos, que caíam somente até seus ombros, emoldurando belamente seu rosto.

Baixando o olhar e remexendo em seu estojo de joias, indecisa sobre qual escolher, Isobel se deparou com o conjunto de colar e brincos que ganhara de Ricardo La Fontaine. O efeito da visão de seu presente sobre ela foi inesperado. Ao invés de sorrir a lembrança de seu noivo, como geralmente fazia, ela franziu o cenho em preocupação.

Cansara de ouvir de seu pai que estava muita nova para casar, especialmente o marido se tratando de um carpinteiro com uma lojinha pequena no centro da cidade, à beira da falência devido à concorrência com outra marcenaria, mais antiga e de maior renome. Tendo os La Fontaine se mudado recentemente para Valliria, não nutriam de grande apreço do coronel Lopes, o que só servia para complicar ainda mais a situação já delicada.

Por que você não escolhera um militar? Isobel lembrava-se nitidamente de seu pai perguntando. Levei-te ao encontro da marinha, te apresentei aos filhos de meus colegas... Um carpinteiro? O pai não era o maior fã de trabalhos manuais, pesados, e principalmente daqueles que envolviam venda e compra. Algo nobre como servir o país seria mais bem visto aos seus olhos.

Todavia, o problema que a jovem mais refletia ao encarar as pérolas que ganhara de presente não era seu pai. O que a preocupava desde que se despedira de Ricardo naquele dia chuvoso no Parque das Rosas era Reymond Hayes. Sabia que ele havia flagrado os dois; conseguira notar a expressão de espanto e seu olhar curioso. Reymond conhecera Isobel pela primeira vez anos atrás, e até mesmo pudera ser chamado de seu amigo. Ele devia a aproximação ao seu irmão mais novo, Ralph, que ainda mantinha contato com ela. No entanto, certas desavenças passadas afastaram o irmão mais velho de Isobel, e desde então se evitavam mutuamente.

Ela sabia o suficiente sobre ele para assegurar-se de que não era nenhum tipo de fofoqueiro, se aproximava mais de um homem respeitável. Reymond, porém, não estaria livre de suspeitas, especialmente depois que os dois começaram a se antipatizar. Qualquer um, se submetido a perguntas o suficiente, estaria sujeito a revelar algo que não intentava, comprometendo assim o sigilo de todo o noivado dela e de La Fontaine.

Ela suspirou, sem achar algo que estivesse ao seu alcance e que mudasse a situação. Levantando-se da cama, olhou-se no espelho mais uma vez, colocando os brincos e o colar de pérola. Qualquer coisa inventaria que os ganhara de seu pai.

Ricardo não estaria na festa de dos Cartwright, e Isobel ainda não decidira se seus sentimentos a respeito disso eram de lamento ou de alívio. Por um lado, manter-se afastada dele em público, quando já havia alguém que presenciara uma cena incriminadora por perto – Reymond estaria na festa, ela tinha quase certeza – era algo o qual celebrar; por outro, manter-se afastada dele não era um sentimento frequente de Isobel, e a vontade de desperdiçar uma oportunidade para dança igualmente não.

Quando chegou à festa, decidira-se por tentar usar a noite como artifício para afastar as preocupações de sua mente. Iria encontrar-se com conhecidos, conversar e dançar, sem maiores compromissos. Afinal, uma das únicas discussões que Ricardo saíra vencedor fora a que envolvia a ida ou não de Isobel a festa, no qual ele fora insistente o suficiente para convencê-la de atender ao baile dos Cartwright e tentar encontrar diversão.

Adentrando a grande mansão para a festa, Isobel não se surpreendeu ao encontrar a decoração de ótimo gosto de Gabrielle Cartwright, filha primogênita do casal dono da mansão. Como usual, os tons marcantes da estação imperavam, mostrando o trabalho magnífico de Gabrielle.

A recém-chegada andou sem rumo pela casa, admirando a decoração e simultaneamente procurando no meio de vários rostos que passavam alguém conhecido. A maioria que passava ela reconhecia de algum lugar da cidade, ou um amigo de um amigo, em que algum momento fora apresentada, mas que mal recordava o nome. Celina Houston e Eloise Farret prenderam seu olhar por não se destacarem do resto, e ela não tardou em se aproximar de ambas.

Eloise a recebeu com um largo sorriso que sabia ser sincero; já Celina apresentou essa mesma animação em menor intensidade, carecendo de um pouco de sinceridade.

– Boa noite, Isobel! – disse a primeira, e Celina fez eco a suas palavras.

– Boa noite às duas. Cheguei tarde? Não fiz exatamente o maior esforço para me apressar...

– Não, de modo algum. O baile só começou a ficar animado há pouco... sabe, eu acho que é a presença de Miriam Vouldt, no entanto, nunca vi nada nela que fosse motivo de admiração. – Celina falou, olhando de soslaio para a pista de dança, onde fato estava a jovem alvo de suas críticas.

– Miriam, a jardineira? – Isobel perguntou, dirigindo seu olhar para a pista.

No centro de todos os casais, com um destaque por seu claro conforto e desenvoltura ao dançar, estava Miriam, e, junto dela, Reymond Hayes. Os cabelos louros da primeira esvoaçavam ao ritmo em que seu corpo se mexia com graça, acompanhado de seu condutor firme, mas elegante. Era belo até mesmo de se admirar por alguns segundos, e merecedor de mais do que o olhar de inveja de alguns.

– Os dois formam um par lindo. – Isobel respondeu à crítica de Celina, com um sorriso. Não era admiração, mas sim alívio, que ela sentia. Ocupado como estava em cortejar Miriam, Reymond dificilmente traria qualquer trabalho a ela. – Certamente combinam.

– Era justamente o que eu dizia para Celina! – exclamou Eloise. – Que belo, belo casal. Tenho que me lembrar de cumprimentar Reymond mais tarde. Ele é sempre tão simpático...

– Por mais que ele exponha simpatia, querida Eloise, não acredito que vá ter tempo de dedicá-la a outros que não sua parceira de dança. – Isobel disse, de fato acreditando e querendo que a outra acreditasse no que dizia.

A jovem Isobel de outrora fizera essa equivocada suposição, e sustentou e até mesmo esqueceu-se que a havia feito até certo ponto do baile. Distraída como estava com a conversa não só com as duas já citadas, como também com outras personagens, mal notou a aproximação sutil do jovem Hayes, que, em outras circunstâncias que não essas, não possuiria motivo para tal.

– Isobel. – Reymond Hayes a cumprimentou com um aceno de cabeça, estendendo uma taça de vinho. – Aceita essa taça?

Ela percebeu que ele segurava outra, já pela metade, e, não tendo sentado numa cadeira adjacente a dela, a convidava a levantar. Surpresa pela aproximação repentina, mas sem deixar que ele percebesse, ela aceitou a taça por instinto, e se forçou a levantar.

– Obrigada. – murmurou, dando um grande gole.

– Então... – dando alguns passos para longe do círculo de pessoas que antes cercava Isobel, e certificando-se que ela o seguia, continuou – Ricardo La Fontaine.

– Então você realmente viu... – ela disse mais para si mesma do que para ele. Por mais que estivesse convicta daquilo, certificar-se nunca era muito.

– Sim, Isobel. Devo admitir que fiquei muito surpreso...

– Reymond, aonde quer chegar? – ela o interrompeu rudemente, falando aos sussurros, mas de modo que se fizesse bem clara. – Só conheço duas razões pelas quais você poderia estar admitindo que conheça um segredo que me pertence: ou de algum modo pretende me chantagear, ou então está procurando por mais detalhes os quais irá acrescentar quando contar para outro o que eu guardo.

Numa pausa, Reymond se apoiou no beiral de uma janela, num canto mais afastado de todos, mas num cômodo em que o barulho pudesse encobri-los.

– Nem um, nem outro. Não sabia que me tinha em tão baixa estima, Isobel.

– Não pensava nada de você até o momento em que veio me procurar.

Com um sorriso ladino, Reymond rebateu depois de um gole de vinho:

– Não minta para mim. Quando eu vi que era você quem estava com o La Fontaine, não sobraram dúvidas sobre o seu espanto e preocupação. Sabia que eu os tinha visto juntos. Está preocupada desde então, não está?

– Fale baixo. – ela ordenou entre dentes, erguendo a taça até os lábios na esperança de disfarçar seu embaraço. – Ainda não entendi qual a sua intenção em estar falando comigo. Qual seu interesse nisso? Poderia muito bem se fingir de cego.

– Irei me fingir de cego, em consideração a La Fontaine. – ele respondeu, e algo em sua voz fez Isobel acreditar que era somente a La Fontaine – E tenho que dar o braço a torcer por vocês dois; esconder um segredo em Valliria, com certas companhias por perto, não é um trabalho fácil. – ele deu uma olhadela para as jovens que faziam parte do grupo em que Isobel estava, especificamente Celina. – Diga-me, o coronel já sabe? – vendo o olhar frio que Isobel lhe mandava, completou – Esqueça, isso não é da minha conta.

– Poderia dar seguimento à conversa? – ela pediu.

Ele assentiu em concordância, e, depois de uma pausa, falou:

– Gostaria de perguntar o porquê.

– O por quê? Como assim, o por quê? Quer saber quais são os motivos que me levaram a amar... – ela se interrompeu – Você é esperto demais para estar querendo somente saber isso, Reymond.

– Por mais que eu o ache um rapaz dedicado, com um trabalho respeitável, – ele respondeu, referindo-se a Ricardo. – não creio que possa ser assim tão especial. Realmente, Isobel, a senhorita deve estar perdidamente apaixonada, pois não creio que ele possa oferecer mais do que isso.

– Está duvidando de mim?

– Não exatamente de você. – ele respondeu – Sabe o quanto o negócio dos La Fontaine pode dar errado. No risco em que Ricardo está, poderia facilmente ficar sem dinheiro...

Isobel apertava a taça de vidro com seu punho retesado mais do que o material poderia aguentar. O tom cínico de Reymond a irritara, como ela sabia que só ele era capaz de fazer. Respirando fundo, se voltou a ele com altivez, e disse, sem aguentar ser acusada:

– Você, que é fotógrafo e sempre fala em capturar o “mais belo”; você, apaixonado por uma florista, sempre dizendo que flores são as coisas mais delicadas; você, que pensa em todas essas sutilezas chamadas sentimentos, vem me dizer para valorizar os bens materiais? Você vem me dizer para ignorar o amor?

Cada “você” soava como uma acusação em particular, pronunciados com tanta intrepidez e entusiasmo que causaram até mesmo impacto a quem eram dirigidas, um homem que não se caracterizava por seu orgulho.

– Não nego seus sentimentos, mas eu abro seus olhos para os dele. Ricardo não pode oferecer mais que seu amor, já você pode oferecer tudo o que um homem ambicioso sonha. Dinheiro não lhe falta.

Com essas palavras enfáticas, Reymond deu as costas a Isobel, na crença de que somente a ajudara.



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Notas finais do capítulo

Justificado? Gostaram? Ainda tem mais intriga, (esses meus personagens só fazem besteria tbm poxa) mais infelicidade, mais coisa pra vcs saberem...