Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 26
Capítulo 25 - Reconciliação


Notas iniciais do capítulo

^^ Hello leitores, mais um capitulo pra vcs. Enjoy!



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Susanna não tinha palavras o suficiente para colocar em seu diário e poder expressar fielmente a sua impressão do que fora seu jantar de aniversário, porém, não queria nem precisava usar-se da gramática para deixar guardada aquela memória; a máquina fotográfica fizera isto por ela. Toda a harmonia do local, todo o recém-adquirido júbilo pudera ser eternizado.

Tudo parecia haver se encaixado para Susanna. Era sua relação com Christopher resolvida, o lugar para sua floricultura garantido, Lucy de volta em Valliria, em suma, tudo o que havia desejado apenas uma semana atrás.

Um pequeno “porém”, no entanto, era a única coisa que conseguia refrear essa alegria, e intervir, de certo modo, no que Susanna agora havia planejado para seu futuro. Esse estorvo era Isobel, se é que toda a culpa poderia recair sobre ela sem injustiça. De fato, estava ainda menos simpática do que fora toda a sua vida, e o fato dos dois noivados de ambas Lucy e Susanna não pareciam levantar seu humor. Ela poderia ter se desculpado à Lucy, mas de modo algum aquele gesto parecia incluir também a adoração pelo noivo, ou a família dele.

A verdade era que Susanna estava começando a se preocupar com sua tia.  Isobel estava deixando de ser um objeto de sua indiferença e oposição para começar a ser alguém com quem Susanna mostrava um pouco de afeição. No mínimo, o tanto quanto a própria permitia.

Susanna estava começando a achar que as raízes dos problemas e da razão pela qual a sua tia agia daquele modo estava nela própria: como ter uma vida razoável sendo tão reclusa, tão fria, não se dedicando corretamente para com os outros? Susanna não conseguia visualizar a sua felicidade se não amasse Christopher, se não tivesse amigos como Henry e William e se não sentisse a felicidade de sua prima como sua própria.

Enquanto Susanna se sentava na varanda aquela manhã, todos esses pensamentos a perturbavam, depois de ela ter visto Isobel brevemente, mais cedo naquele mesmo dia, e só trocado algumas meras palavras.

 - Vocês já decidiram a data do casamento? – Lucy perguntou, sorrindo, e tirando-a de seus devaneios. Estivera pensando em algo completamente diferente da prima enquanto fazia companhia a ela na varanda. Ambas ainda moravam com a tia e mãe, mas, com ambos os noivados, era provisório.

- Ainda não, mas preferimos esperar até que a floricultura esteja quase formada. Não temos pressa. – Susanna devolveu o sorriso com tanto entusiasmo quanto ela. – Talvez no final deste ano, ainda na primavera.

Lucy riu.

- Não haveria estação do ano que mais se adequasse.

Susanna sorriu e deixou o seu olhar descer, encontrando o anel de noivado. Dourado, delicado e muito bem fabricado, o anel era ornamentado com arabescos que se cruzavam logo no topo e se dispersavam em uma composição abstrata pelo resto de anel. Uma só pedra safira enfeitava o anel, fazendo o contraste do azul com o dourado. Susanna considerara-o lindo desde o momento em que primeiro pusera seus olhos nele, e fazia questão de mantê-lo bem seguro em seu dedo.

Com Lucy não era diferente. O anel de noivado dela enfeitava seu dedo fazia tempo, mas mesmo assim ambos os noivos não desistiram do intento de se casar. Tudo o que faltava era a boa vontade das respectivas famílias em comparecer a cerimônia de casamento.

- E como Isobel anda lidando com a ideia do seu casamento? – Susanna perguntou para a prima, que, com um suspiro, respondeu com um olhar pesaroso.

- Você sabe como ela é, Suze... Está no mesmo de sempre.

- Tenho certeza de que quando você e Henry decidirem, ela vai comparecer a cerimônia. – Susanna tentou animar a prima, mesmo que ela própria não sentisse toda aquela esperança. Sabia que não podia fazer nada mais do que aquilo; não faria bem sugerir algo com a intenção de aconselhar sua tia, pois Isobel não a receberia de bom grado.

- Sim, espero que ela vá. Recusaria-me a fazer se ela não estivesse presente, de qualquer modo. Por isso eu e Henry resolvemos esperar por tanto tempo, ele também pensa do mesmo modo. – ela respondeu, ajeitando-se na cadeira, lembrando-se dos meses passados. Olhou nervosamente para frente da casa, mas Susanna sequer percebeu.

- Compreendo, mas não precisavam ter passado tanto tempo no Rio de Janeiro... – ela falou quase como se perguntasse o porquê daquilo.

- Sabe que ele gosta de lá, e eu também. – Lucy respondeu delicadamente. Sua atenção desviou-se dos terrenos da casa e ela voltou o rosto para Susanna. Sabia o quanto esse assunto não era do agrado de sua prima. – Além do mais, estávamos estabelecendo uma boa residência e modo de viver para o futuro.

Susanna desviou o rosto, ressentida pela escolha da prima de sair de sua cidade natal. No entanto, forçou um sorriso logo depois, pois não queria que Lucy visse a sua insatisfação. Se ela havia decidido por morar em outro lugar, não seria ela, Susanna, que se oporia. Aprendera sua lição sobre egoísmo e retenção. Portanto, tratava de expressar o máximo de alegria possível sem ser falsa.

- É claro, nada mais importante do que ter estabilidade. – embora Susanna fizesse esforço para não mostrar o que sentia, Lucy leu em seu rosto suas emoções com a maior facilidade.

- Eu sei que você não gosta dessa ideia, Suze. Mas garanto que eu nunca vou desaparecer de sua vida... – Lucy garantiu, e acrescentou, dando uma honesta e clara ênfase – é claro que não.

Susanna assentiu para mostrar que entendia.

- Deixe isso de lado, vá ser só um pequeno empecilho para nós! – Lucy continuou falando. – E agora, me diga, onde é que vocês dois vão morar?

- Não sabemos, ainda. A mansão está ocupada por George e Vivian, então, é claro, lá não é uma opção. Poderíamos comprar uma casa por aqui, mas não acho que seja tão cômodo, financeiramente e fisicamente falando, para nós dois.

- Ah, Suze, eu sei que você adoraria um chalé confortável e bem posicionado, de preferência pertinho do Parque... – Lucy riu. – Se fosse perto do Parque das Rosas, teria também a comodidade de ser perto da floricultura!

- Sem dúvida. – ela respondeu.

Observando Lucy, Susanna pôde ver que ela tamborilava os dedos nervosamente sobre a mesinha da varanda. Mais uma vez, ela olhou para frente da casa, para o portão.

- Lucy, o que a perturba? E não adianta esconder a verdade, pois consigo ver a agitação no seu rosto...

- É Henry. Foi agorinha mesmo falar com seus pais. Queria debater todo o assunto nos mínimos detalhes, clarear tudo e falar do casamento.

- Eles também não foram muito simpáticos, não é mesmo?

- Não foi tanto questão de simpatia, Suze, – ela amenizou o problema, como sabia fazer muito bem quando se tratava de críticas a outros – eles só não compreenderam a necessidade de nós fugirmos. O pai dele até foi muito gentil comigo no primeiro momento em que nos conhecemos. Mas depois, não sei o que foi que aconteceu, eu devo ter feito algo para fazê-lo mudar de ideia quanto a essa gentileza...

- Você, Lucy, fazer algo para ele ser rude com você? – Susanna riu duvidosa Depois acrescentou, para amenizar a culpa que Lucy jogara sobre si mesma – Possivelmente foi algo mais que o fez mudar de ideia. Não me admiro que tenha sido esse retraimento da Isobel... Pode muito bem ser confundido com altivez demasiada. Não que Isobel não esteja completamente isenta dessa característica-

- Mas porque culpar a filha por algo que a mãe fez? – Lucy a cortou, sem prestar atenção no último comentário. – Ou melhor, não fez, porque minha mãe não anda com nariz empinado por aí! – Lucy defendeu inocentemente sua mãe. Susanna preferiu deixar a ironia de lado, e não fez nenhum comentário, embora um sorrisinho estivesse em seus lábios. Lucy seguiu adiante com o assunto, sem notar nada – Não é mesmo...? Mas, Susanna, se eu bem entendi... Você não criticou minha mãe.

- Não, está certa, não critiquei. – Susanna confirmou. – Mas não me olhe com essa cara de espanto, até parece que eu tenho aversão completa por ela! – sob o raro olhar cético de Lucy, Susanna se corrigiu – Não mais. Em minha opinião, algo aconteceu que a fez ficar assim. Impossível que tivesse tão pouco amor ao próximo por natureza...

- Não acredito que tenha. É um pouco difícil fazer com que ela demonstre emoção, mas não é impossível. Tem gente que é assim mesmo, todos temos nossas falhas. – Lucy defendeu-a.

- Decerto, todos nós temos... – ela concordou, absorta em pensamentos. Ela ficou assim por algum tempo, até que ouviu:

- Susanna, olha quem vem lá. – Lucy a interrompeu.

- Bom dia, querida. – Christopher a cumprimentou, colocando as mãos sobre os ombros dela, que estava de costas para ele. – Não quero atrapalhar a conversa de você duas nem seu descanso, mas creio que precise.

- Bom dia, Chris. – ela respondeu, virando-se para trás e colocando uma mão sobre a dele – Porque, aonde vamos?

- Adoraria poder dizer “passar um dia na companhia um do outro”, mas não posso. – ele fingiu um largo suspiro – Esqueceu que hoje é que você tem que visitar o Sr. Abrams?

- Oh, é mesmo! Como pude me esquecer? Obrigada. – ela falou, levantando-se logo em seguida. – Lucy, eu adoraria ficar...

- Não precisa pedir desculpas, Suze, eu entendo. Não vejo problema em ficar aqui. – algo na voz de Lucy deu a entender que gostaria de um tempo sozinha. Susanna achou que as razões estivessem em sei noivado, e, portanto, preferiu deixar o assunto quieto.

Enquanto Lucy retirava o copo e a jarra de sucos da mesa – insistira em fazer isso, já que Susanna estava atrasada – Christopher e sua noiva se afastavam de braços dados, em direção ao carro que aguardava no meio da rua, pronto para a partida.

Ficando para trás sem ninguém como companhia, os pensamentos de Lucy logo se desviaram para seu noivo. Desconcertada pela possibilidade de o debate que Henry estava tendo com o pai não correr bem, porém, sem conseguir pensar em algo mais, Lucy seguiu nesse conflito, sem ter como saber o que acontecia.

Henry possuía certa lábia, isso era inegável, mas seu pai o conhecia bem demais para se deixar levar por esses artifícios. O filho estava tentando ser o máximo possível sincero com o pai, escolhendo as palavras corretas para que não o tirasse do sério.

- Está me dizendo que passou aquele tempo inteiro ao lado de sua noiva?

- Sim...

- Não firmaram um compromisso formal e você leva a moça para longe! – Ricardo soava incrédulo.

- O noivado pode não ser tão louvável e inquebrável quanto um casamento, meu pai, porém decerto é um compromisso em que ambas as partes estão de acordo. – antes que Ricardo pudesse interromper, Henry continuou – Pode ter sido algo... precipitado de nossa parte, mas não me arrependo de ter passado o tempo que passei com Lucy. O objeto de meu remorso é ter saído tão abruptamente daqui...

- Levando dinheiro e toda sua imprudência infantil. – seu pai o cortou com acidez na voz.

- Não nego, mas não concordo. – Henry argumentou, resoluto no que viera fazer. – Pai...

- Pai, eu posso lhe garantir, mesmo só tendo observado Lucy e Henry de longe, que o amor dos dois é tão tangível e inabalável quanto possível. – William se pronunciou, rompendo a privacidade entre pai e filho e fazendo-se ser ouvido ao adentrar a sala de estar em que ambos estavam.

- William! Lembro-me que seu irmão pediu-me momentos a sós. – o pai dos irmãos fez questão de frisar.

- Eu não posso e não aguento vê-los nesse impasse. – William respondeu, mostrando-se tão determinado quanto o irmão – Você conheceu Lucy, sabe o quanto é uma jovem moça respeitável.

- Sei também como é aquela desprezível mãe... – Ricardo resmungou, mais para si mesmo do que os filhos. Depois, num tom mais compassível, emendou – Minhas objeções não dizem respeito a jovem que intenta se casar, Henry, mas o modo como você agiu. Suas atitudes foram deveras desrespeitosas para nossa família, e a de Lucy... Embora aquela mãe mereça mesmo ter ganhado o que ganhou... – mais uma vez ele resmungou.

- Eu venho aqui para me desculpar! Se o problema era esse, porque não mencionou logo?

- Porque você não voltou antes? Não telefonou? Nunca o tomei por um covarde, Henry, e espero que sua atitude não tenha se dado por conta do medo. Nunca me deu satisfação pelo o que fez, e a visitinha de sua noiva no casamento daqueles Giusini também não serviu de muito. Minha pobre esposa nunca olhou para os Hayes com bons olhos...

- Eu... tenho que admitir que receei sua reação. Depois que eu fiz o que fiz, refleti e cheguei a conclusão de que ou você apoiaria meu amor, ou me julgaria um covarde... Sabia que o que estava fazendo não era honroso, mas foi uma das únicas alternativas. Um dos motivos por não ter retornado era o que eu estava fazendo no Rio de Janeiro. Sabe, eu empreendi minhas habilidades adquiridas durantes os anos de trabalho por aqui e até consegui algo de concreto. Outro dos motivos foi o seu silêncio. Eu esperava tudo, esperava incredulidade por parte da Sra. Hayes, de minha mãe, de metade de Valliria, mas nunca o silêncio de ninguém.

Ricardo abaixou a cabeça em reflexão. As palavras do filho reavivaram nele as lembranças dos anos findos.

- Julguei mal o seu silêncio. Parecia para mim que gostaria de manter distância, e o respeitei até onde aguentei.

- Eu estava em profunda reflexão após o que você fez, meu filho. Sua mãe insistia que havia sido tudo por culpa daquela “menina e da criação daquela mãe”, etc.,...

- Minha mãe estava criticando Lucy? – Henry perguntou.

- Ela não gosta de desagradá-los, garotos, por isso nunca criticou a amizade que vocês tinham abertamente. Falou comigo, porém. Fui influenciado por ela e por meu passado... – ele se interrompeu – Mas isto não vem ao caso!

- O senhor perdoa o modo como agi? Não foi louvável, não foi honroso... Foi até egoísta da minha parte dar a meu amor por ela tanta importância.

- O meu perdão completo – Ricardo começou, erguendo-se de modo imperioso – é algo que nunca poderei te conceder, meu filho. Não o criei para causar tanto rebuliço. – ele lamentou. – Pensei e repensei no seu caso horas a fio... Lucy é uma mocinha amável, e pode até conquistar o meu respeito com o tempo. O gesto que você fez, salvo a parte da vergonha familiar e índole introspectiva, mostra o quanto você sente por aquela garota. Então lhe concedo o direito de desposá-la, se é o que deseja. – com um largo suspiro, Ricardo deixou-se cair na poltrona que antes estivera ocupando.

Com um largo sorriso, Henry estendeu a mão ao pai, que a aperto sem muito entusiasmo. Sorria, e Henry teria de se contentar com aquilo.

Quando tanto o irmão mais novo quanto o irmão mais velho caminhavam para fora da casa depois daquela conversa tensa, mas satisfatória, William comentou, achando que deveria justificar-se.

- Nas vezes em que me comuniquei com você, irmão, verdadeiramente não sabia de nada do que nosso pai ou mãe pensavam... Nem sequer passou por minha mente que Lucy não agradasse nossa mãe.

- Ela deve ter suas razões... – Henry ponderou pensativo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Reviews? Não se esqueçam, a opinião de vcs é importante para mim.