Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 25
Capítulo 24 - Rosas


Notas iniciais do capítulo

*-* olá gente, como sempre, voltei domingo com mais um capítulo pra vcs! Se me perguntarem, direi que este é meu favorito; adorei escrevê-lo. Aproveitem!



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A alegria que preencheu Susanna por inteiro no momento em que ela levantava os olhos da última palavra da carta só poderia ser aplacada, e mesmo assim apenas um pouco, pela incerteza de quando e onde exatamente poderia encontrar o seu querido remetente. Com uma paciência que nem ela mesma sabia de onde conseguia encontrar forças para ter, ela dobrou de novo o papel da carta, e guardou cuidadosamente no envelope, levantando-se da poltrona que ocupara.

Sendo cedo na manhã, e estando todas as moradoras da casa (exceto a própria Susanna) adormecidas, a ruiva logo tomou as providências necessárias para que ninguém viesse a se preocupar com o seu paradeiro, pois rapidamente decidira-se por sair: deixou um bilhete bem a vista, debaixo de uma jarrinha com flores numa estante da sala. Cedo ou tarde ou Isobel, ou Lucy, passaria por ali, e encontraria o comunicado dizendo que ela saíra para a cidade.

Susanna, no entanto, ao chegar à porta de casa, hesitou por alguns momentos; queria também partilhar a alegre novidade com Lucy, para que sua prima não mais precisasse se preocupar... Sabia o quanto ela sofria com as dores que pertenciam àqueles queridos por ela, e sempre fazia o máximo para poder amenizar esse dito sofrimento. No entanto, enquanto parava indecisa na porta perguntando se deveria ser mais clara no bilhete deixado para trás, um sentimento de urgência se apossou dela. Isso foi o que bastou para fazê-la dar as costas para sua própria casa – Lucy poderia esperar tranquila em seu sono.

Susanna seguiu para fora, e, embora não soubesse aonde possivelmente Christopher fora após deixar a carta, tinha uma intuição...

A única coisa que a impediu de traçar um caminho reto e decidido à procura de Christopher foi o seu jardim de rosas. É claro, ela levaria uma. Afinal, era ou não era a “Susanna das rosas” de outrora?

É engraçado o poder que as memórias têm de ficarem aprisionadas a determinado objeto, música, cheiro, ou lugar. Só basta um vislumbre, uma amostra daquilo, que lá se veem outra vez todas as memórias reavivadas. Vêm sem a menor piedade ou discrição, sem nem serem convidadas pelo próprio dono da mente, mas lá estão elas. Junto, infelizmente ou não, vêm também os sentimentos, tendo como pano de fundo aquela nostalgia característica, se positivos forem.

Era exatamente dessa sensação que Christopher tinha o prazer, ou mútuo sofrimento – como discernir naquele caos? – de vivenciar. O Parque das Rosas era demasiado importante em sua memória para ser simplesmente ignorado pelos seus sentimentos. Pois então, lá estavam eles, invadindo seu dono e fazendo-o experimentar de diferentes sensações a cada curva que fazia no Parque.

Ele tinha certeza de que a carta seria efetiva, quer fosse para causar em Susanna uma boa reação, ou uma má.

Distraído, Christopher continuou sua caminhada pelo Parque, tentando ignorar aquela sensação nostálgica que insistia em permanecer com ele. Não havia como se esquecer daqueles meses de 1953...

Colocando a mão no bolso, Christopher quase se assustou ao tatear com a ponta dos dedos o aro frio de metal, mas logo se lembrou de que o havia colocado ali. Ele sabia que o objeto era dourado e habilidosamente trabalhado para agradar o gosto feminino, tanto quanto o masculino, e sem nem precisar olhar para já deduzia cada curva e cada floreio, relembrando o anel à medida que passava os dedos por ele. Gastara uma boa quantidade de minutos a observá-lo em silêncio. Era o par perfeito para outro, o qual Christopher deixara em casa. Só esperava que se encaixasse... De tanto que fora passado pelas gerações de sua família, Christopher não sabia se havia sido adulterado alguma vez, e não queria ser o primeiro esposo a tomar essa providência...

Mas que coisa boba! Ele censurou a si próprio. Estava ele ali pensando no tamanho do anel, enquanto mil outras preocupações mais pertinentes deveriam esta ocupando sua mente. Quanta bobagem.

Repreendendo-se mais uma vez, Christopher continuou sua caminhada, sem ter um rumo específico...

Sem rumo específico também vinha Susanna. Porém, era demais de se esperar que os dois se esbarrassem nessas caminhadas sem direção correta e se encontrassem outra vez; e por demais inusitado que assim o fizessem. Não, ela seguiu por um lado Parque, enquanto ele seguia por outro; logo depois, ele seguiu pelo lado que ela viera, e ela seguiu pelo lado que ele fora. Que infortúnio desencontro! Os dois corações angustiados não poderiam deixar de pensar na pior possibilidade, como sempre fazem os que se deixam levar pela sensibilidade e esquecem-se um tantinho da razão, e logo pensaram que ali o outro não estava. Mas por que não estaria eles não sabiam, e não precisavam saber: tudo era um só sofrimento, de um modo ou de outro!

Só faltou a rosa de Susanna murchar para a moça se sentir o máximo infeliz. Tinha certeza de que ele estaria por ali... onde mais iria? Certamente não haveria o que fazer na cidade, não, ela imaginava que ele houvesse descido toda a extensão da colina de sua casa apenas para deixar a carta. E porque não? Não haviam aquelas doces palavras eternizadas numa folha de papel sido o suficiente expressivas para que Susanna se contentasse, e pudesse amá-lo por fim?

E ele, o que pensar por sua vez? Rondava o Parque das Rosas na agora vã esperança de encontrar a sua rosa. Talvez ela ainda não houvesse acordado, talvez ninguém na casa houvesse checado a correspondência. Mas como é que Christopher podia, entre tantas outras preocupações – até mesmo a do tamanho do anel – pensar com tamanha lógica assim? Se essas possibilidades passaram por sua cabeça, foram logo descartadas; ele passara tanto tempo no Parque!

Anda para cá, anda para lá. Olha aquela moça que vem por ali, mas não é ruiva... A outra que vem acolá, alta demais para ser Susanna... Voltas e mais voltas no parque se mostraram infrutíferas, e ele teve que se contentar com aquilo. Voltou para a mansão Giusini, pois talvez aquele fosse mesmo o lugar mais inclinado a receber uma visita de Susanna.

- Onde foi assim tão cedo na manhã? – George perguntou assim que viu o seu irmão passar pelo arco da sala.

- Susanna. – ele respondeu, como se aquele nome fosse um lugar. Bastou para George, que já estava à parte dos planos do irmão. – Ela passou por aqui? – ele perguntou com urgência.

- Não, não passou. Chegou a vê-la? Entrou na casa?

O semblante desanimado do irmão de George não era auspicioso, e, portanto, ele temeu que a resposta fosse que a conversa travada houvesse sido negativa. No entanto, Christopher negou até mesmo tê-la visto.

- Então simplesmente deixou a carta lá e voltou?

- Passeei pelo Parque. Pensei que pudesse estar lá, sabe, havia certa chance de que estivesse. Agora soube que também não está por aqui...

- Ela poderia estar dormindo, simples. – George ofereceu como solução.

- Mas não vem trabalhar as oito quase todos os dias? Hoje é quinta-feira, e já são oito e meia! Ela nunca se atrasa...

- Christopher, que tipo de ideia tem de mim? Acha mesmo que obrigaria a pobre moça a trabalhar no dia de seu aniversário? Por Deus, irmão, use um pouco mais do bom senso, parece que o perdeu desde que retornou. Eu não estava deste modo quando me apaixonei por Vivian...

- Mas é claro que não, por acaso você a deixou... desapontou? – ele se corrigiu, pois por mais que houvesse admitido o erro, não gostava de repeti-lo com todas as palavras. Ele continuou – Não, teve certeza do amor dela pouco depois!

- Sorte...

- Sim, a sorte que não tive. – não havia um pingo de inveja, porém, na voz de Christopher. Ele lamentava a si próprio, mas não invejava seu irmão.

- Acalme-se, Chris. Ela verá sua carta mais cedo ou mais tarde. – George falou com ternura, e sorriu secretamente. Sabia que não importava o quanto ele próprio afirmasse que a carta bastaria para tê-la de volta; Christopher não iria acreditar até quando visse. – Ande, vá para a cozinha e peça para que Ilina lhe prepare um chá.

Christopher obedeceu, sabendo que deveria acalmar-se. Pôs ele mesmo a água no fogo, e logo depois o saquinho de chá de camomila. Enquanto esperava, buscou pelo anel em seu bolso e começou a brincar com o objeto entre os dedos.

- Bom dia, senhor Christopher. – cumprimentou Ilina, toda sorrisos, ao entrar no recinto. – Como vai? O senhor parece desanimado... – depois, a empregada notou o que Christopher trazia em suas mãos, e deixou uma pequena exclamação de espanto escapar.

- Bom dia. Vou bem, Ilina, obrigado. – ele ergueu o rosto e sustentou o olhar dela com um sorriso forçado.

- Este aí não é o anel da senhora Jane? – Ilina perguntou, agora com toda a atenção voltada para o objeto. – Sempre o achei tão lindo...

- Sim. – Christopher se limitou a responder apenas com um monossílabo, rodando o anel depressa no dedo e guardando-o.

- Pelo o que eu saiba, é passado de geração em geração, não é mesmo? De mãe para filha, ou noiva do filho... – ela insinuou sem qualquer discrição, e esquecendo-se do que o bom senso mandava de tanta que era sua curiosidade.

- Correto. Sabe, minha mãe não o usava tanto mesmo enquanto meu pai estava vivo; sempre preferiu a outra aliança que ele lhe dera... Portanto, tomei a liberdade de me apossar dela...

O olhar de Ilina não escondia nada; viam-se claramente todas as perguntas que ela estava morrendo de vontade de fazer, e Christopher sabia muito bem que ela não pararia enquanto não as obtivesse.

- Senhor Christopher... – ela estava pronta para continuar quando ele interrompeu-a:

- Maldição! Sim, eu vou pedir Susanna em casamento! Já bastou eu não ter tido coragem o suficiente para fazê-lo quanto tive chance, e se não agora, quando mais?

Ilina chegava muito próximo de dar literalmente pulinhos de alegria, de tão efusiva que estava. Seus olhinhos brilhavam pelo casal, e por ser portadora daquele quase segredo – ela não sabia se alguém estava a par daquilo.

- Ah, senhor Christopher, não sabe o quanto me deixa feliz com essa notícia, não sabe-

- Ilina, por favor, menos. – ele pedia, e, não sabendo o que fazer para acalmá-la, serviu o chá de camomila que seria para ele. – Aqui, tome.

Quando ela se acalmou o suficiente, ele continuou a falar:

- Ela precisa me responder positivamente, eu preciso ter certeza de tentar qualquer coisa...

Perante tamanha bobagem, a empregada só não bateu com a caneca de chá na cabeça de seu interlocutor, pois estava ocupada sendo alegre demais para pensar em agredi-lo. Ademais, o chamaria à razão nem que fosse à força física.

Enquanto Christopher subia a colina refazendo o caminho para sua mansão, Susanna saía pelo outro lado do Parque das Rosas, encaminhando-se ao Eddie’s. Àquela hora da manhã, a doceria não estaria aberta, mas Susanna não fazia objeções quanto a esperar – e refletir.

Sabia e poderia jurar de pés juntos quais seriam as exatas palavras de Eddie: “isso não é motivo para se preocupar” ou “É seu aniversário” ou então “Mas já perdoou o coitado?” Sabia e também jurava o que May diria: “querida, se ele prometeu, irá cumprir.” ou “Vai achá-lo cedo ou tarde” ou ainda “venha sentar e tomar um chá...”.

No entanto, o casal de velhinhos, embora previsíveis, não a entediavam, de modo algum. Ela gostava de ouvir os seus conselhos, e tentava ao máximo mantê-los em mente. Talvez nunca fosse usá-los, mas sabia que seria o melhor para ela mesma.

Queria poder chamar Lucy para conversar...

- Suze! – não era Lucy, no entanto, nem Christopher. Era Henry. – Feliz aniversário, felicidades...

- Oh, muito obrigada! – ela retribuiu o abraço que ele lhe dava. Quase havia se esquecido que era seu aniversário.

- Bem, Suze, estava justamente procurando por você. – Henry disse, logo depois que soltou-a do abraço. – Eu sei como é chato o jeito como os rumores correm por aí, mas esse eu ouvi de Lucy...

- O que ela lhe contou? – Susanna perguntou, só expressando genuína curiosidade.

- Falou de sua herança. De como você estava precisando de um lugar barato, sabe como é... Não mencionou números. – ele completou, receoso de que houvesse sido enxerido demais. – Enfim, não é especificamente sobre isso que queria conversar com você.

- Henry, pare de enrolar, diga o que veio me dizer. Não me sinto ofendida por Lucy ter te contado qualquer coisa sobre isso. Espere, você não vai me oferecer ajuda, vai? – ela perguntou, pronta para recusar caso a resposta dele fosse positiva.

- De certo modo, estou. – ele ergueu uma mão num sinal de quem pedia tempo para se explicar. – Nós vamos “locomover” a marcenaria. Ela não mais ficará na antiga loja de seu pai, Suze. Meu irmão e eu já estamos querendo arrumar outro lugar... Sem ofensas, mas o lugar é pequeno. – Susanna franzia o cenho, estranhando a troca súbita de assuntos. O que a marcenaria tem a ver com a herança? Ela parecia estar se perguntando. Com uma risada, Henry acrescentou – O lugar cheira demais a rosas, se é que me entende...

- Vocês estão querendo me vender a loja! – ela deduziu, automaticamente mudando sua expressão para uma mil vezes mais animada.

- Vender, não. – ele corrigiu. – Digamos que iremos fazer um investimento no futuro.

- Henry, eu nunca aceitarei o local sem pagar nada, isso seria injusto com vocês! É verdade, meu pai pagava aluguel pela loja, mas vocês a compraram...

- Relaxe, Susanna, assim que eu resolver os pormenores com meu irmão e – ele hesitou, fechando o rosto numa expressão sombria – ...meu pai, discutiremos isso corretamente com você.

Susanna só sabia sorrir e, é claro, agradecer a gentileza dos irmãos La Fontaine. Evitou propositalmente mencionar o pai, pois notara a dureza de Henry ao mencionar o nome dele. Deixaria esse assunto para depois, após se certificar com Lucy de como estavam indo as coisas com os pais de seu noivo.

- Oh, eu não posso acreditar, vocês são gentis demais comigo...

- Você merece, Susanna. Aquele lugar sempre foi um pouco seu, mesmo quando nós estávamos lá...

Da vitrine da doceria, a qual o par estava logo a frente, Susanna pôde ver que Eddie abria a loja. Susanna, então, depois de agradecer mais uma vez, despediu-se de Henry, dizendo:

- Eu vou entrar aqui; mande um olá para Lucy quando a vir.

- Não a viu hoje pela manhã?

- Não, eu... Saí cedo. – ela disse. – Henry, se você por acaso vir Christopher por aí... faria a gentileza de me avisar?

- Sim, é claro. – ele respondeu, embora estranhasse o pedido.

Entrando na loja, as atenções de Susanna saíram do noivo de Lucy, para serem direcionados a Eddie.

- Bom dia, Ed. Que prazer, sou sua primeira cliente! – ela brincou.

- Suze, Suze, feliz aniversário! – o velho sorriu enquanto a abraçava – O prazer é meu em servi-la! O que vai querer? Hoje é tudo de graça para senhorita aniversariante... – ele comentou, enquanto se afastava um pouco e gritava, mas sem abandonar o tom delicado de antes – May! Ande, sua preguiçosa, venha atender sua primeira cliente...

Susanna riu do jeito aparentemente indelicado de Eddie, mas que era tão característico do velhinho. Vendo que ele olhava sem discrição para a cestinha que Susanna carregava, ela se apressou em explicar, cheia de humor:

- Mas hoje sou eu que faço aniversário e você quer presentes? – ela riu. – Me desculpe Eddie, essa aqui é especial...

- Especial? – ele perguntou, pedindo explicações.

- Sim, é para alguém... Achei que merecia, se eu o houvesse encontrado... – ela deu só um pequeno suspiro. A notícia que acabara de receber de Henry surtira um ótimo efeito em Susanna: pensar no dinheiro e na sua possível futura prosperidade lhe fez lembrar-se um pouco da razão, sem falar que a encheu de esperança. Tanta esperança que até mesmo o ânimo que perdera no Parque fora parcialmente restaurado.

- Um tal moço desaparecido? Por acaso resolveu dar as caras por aqui?

- Não exatamente as caras, mas já falou o suficiente por palavras...

- Susanna, você mesma estava se lamuriando semana passada conosco e agora leva flores para o maldito! – Eddie indignou-se.

- Quem é maldito? – May perguntou, intrometendo-se na conversa ao chegar à doceria. – Susanna! – exclamou assim que viu a moça. – Oh, feliz aniversário!

- Muito obrigada, May.

- Mas, afinal, quem é maldito que ganhará flores? – ela tornou ao assunto.

- O tal moço da Susanna.

- Moço?

- O Giusini.

- Qual dos dois?

- O mais velho, ora! O outro é casado! – Eddie retrucou.

- Christopher? – ela se sobressaltou. Depois, voltando-se para o marido, disse – Custa dizer o nome, Eduardo?

Eddie saiu da sala resmungando, deixando May e Susanna sozinhas. A mais nova, é claro, foi obrigada a contar os detalhes do motivo pelo qual mudara tanto de opinião de um dia para o outro.

Sem saber aonde mais poderia ir, Susanna por fim se dirigiu a mansão Giusini, na esperança de que o encontrasse. Tudo teria sido mais fácil ele houvesse entregue a carta pessoalmente... Porém, depois de tê-lo deixado na ponte do Parque das Rosas, ela duvidava que Christopher estivesse ansiando outro encontro antes que pudesse realmente se explicar.

A subida para a mansão foi cansativa, mas a jovem esperava que ela valesse o esforço físico e compensasse na questão sentimental. Ao chegar a dita mansão e abrir o portão com sua chave, entrou e bateu a porta.

Quem a atendeu foi Vivian. Pareceu um tanto sobressaltada em excesso, Susanna julgou, mas foi simpática como sempre. Quando ela, porém, ousou fazer a pergunta sobre a presença dele, a resposta de Vivian não foi de seu agrado.

- Receio que ele tenha saído. Eu o vi não mais do que quinze minutos atrás saindo pela porta do frente...

- Oh, compreendo.

- Você o verá hoje à noite, se esqueceu? É o seu jantar. – Vivian tentou anima-la.

- Sim, sim, talvez ele venha... – Susanna na realidade queria se lamentar da presença de todos, mas não em frente a Vivian.

- Ele deu certeza a George de que viria, ontem mesmo, se não me engano. Mas falou que primeiro precisava fazer algo... Tão enigmático que não consigo entendê-lo. – ela suspirou.

Susanna conseguia. Deveria estar falando da carta; só poderia estar falando dela. Se não entregasse, como é que poderia comparecer ao jantar?

- Uh-hum... – Susanna concordou sem prestar muita atenção. Vivian, discretamente, insinuava que o jantar e a decoração seriam preparados dali a uns instantes, e que não seria correto deixar que Susanna ficasse por ali. A moça não ouvia a quase nada. – Vou dar uma subida até o topo da colina. Se Christopher chegar...

- É claro, mando chamá-lo... – Vivian assegurou-a, e, mal tendo ouvido aquilo, Susanna já saía porta afora, trilhando seu caminho para a colina.

Foi longo, e não tão prazeroso quanto Susanna havia julgado quando ainda só havia avançado poucos metros. Cheio de curvas, e um pouco maltratado pelo tempo, assim era o cenário que ela encontrou. Não subia ali fazia bastante tempo, no entanto, lembrava-se com clareza da última vez...

- Sim, eu entendo. – ela dissera – Assim como é difícil com as tintas, misturar diferentes personalidades e chegar a um final que satisfaça a ambos os lados é difícil...

- E nem sempre é alcançado. É necessário paciência e trabalho com afinco para unir as diferentes matizes de pessoas e chegar a uma só cor...

Paciência e trabalho com afinco Susanna estava usando para chegar ao topo da colina, mas em meio a esse esforço também se usava dessas duas qualidades e refletia bastante no que ouvira.

- “É necessário paciência e trabalho com afinco...” – ela sussurrava para si mesma.

- Concordo. E um tantinho a mais de paciência, ladeada pelo inevitável nervosismo, devo acrescentar, de esperar desde as sete da manhã por uma resposta... – ela ouviu a voz brincalhona de Christopher.

Abrindo a boca em espanto, Susanna respondeu para ele, que a observava serenamente parado já no topo da colina:

- Eu te vi quando descia a minha rua hoje de manhã...

- Ah, se eu houvesse passado um segundo depois, então...

Ela concordou num lamento curto, mas não conseguiu se segurar...

- Estou adorando esse sorriso no seu rosto, querida. – ele comentou, fazendo-a sorrir ainda mais. Ele ficou sério por uns instantes, completando – Susanna, eu-

- Não diga mais nada, Chris. Tudo o que havia para ser dito eu já ouvi...

- Não era essa a minha intenção. – ele deu um passo à frente. – Só preciso fazer algo antes de ter certeza...

Ela não recusou o beijo que Christopher lhe deu. E como poderia?

- Eu trouxe, bem, uma rosa. – ela riu. – Sei que não é nada muito criativo...

- É você quem faz aniversário, e sou eu quem ganha um presente? – ele usou a mesma brincadeira que ela fizera com Eddie, fazendo-a rir. – É extremamente apropriado, obrigado. – ele segurou as flores que ela lhe estendia entre os dedos, cuidadoso com os espinhos.

- Christopher, eu acredito em tudo o que escreveu em sua carta. – ela confessou depois que parou a risada – Queria me desculpar também... Não, não me peça para parar. – ela avisou diante o protesto o qual ela sabia que viria – Você não pode me isentar de toda a culpa e mesquinhez, pois eu certamente as tive. Eu lamento admitir que não passou pela minha cabeça no casamento o que você poderia estar pensando, as suas vontades, as suas necessidades... Por mais que depois as tenha desvalorizado, elas eram reais e desejadas no casamento de Vivian e seu irmão. Portanto, peço que não me proteja. Eu só pensei em mim quando não larguei a ideia de ficar em Valliria. Agora aqui estou eu, sem nem ter completado meu sonho! – ela fez uma pausa, mas continuou logo em seguida – Sei o quanto foi difícil para você admitir tudo o que admitiu, eu o conheço o bastante para poder afirmar isso com certeza, e saiba que também não é fácil para mim. Acho que ninguém consegue se sentir bem ao confessar um erro, não é mesmo? – ela riu de leve – Podemos deixar isso no passado? Já tivemos tantos erros... Senão daqui a pouco essa paciência nos deixa loucos.

Ele riu, concordando prontamente. Levando Susanna pela mão, guiou-a até a beirada da colina, para que os dois pudessem apreciar a vista lá em cima.

- Sei que não é o meu aniversário, mas esse é o melhor presente que eu poderia ganhar... Porém, não sou eu aqui quem está completando 21 anos. Eu tenho um presente para você.

Diante do rosto iluminado de expectativa de Susanna, Christopher continuou:

- Embora eu acredite que possa estar um tanto atrasado... Susanna, aceita se casar comigo?

O sorriso no rosto dela foi o suficiente para responder a pergunta.


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Notas finais do capítulo

Reviews? ^^ (vcs devem estar pensando: finalmente eles se resolveram!! kkkk)