Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 17
Capítulo 16 - Despedidas


Notas iniciais do capítulo

AEEE o último capítulo do ano de 1953! Na boa, eu acho q todo mundo vai se surpreender no fim...



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Susanna não sabia o que significava exatamente o beijo que acontecera entre ela e Christopher na ponte do Parque das Rosas, mas não seria ela quem iria se oporia a ideia de tê-lo como seu namorado. Nunca antes havia parado para refletir sobre os seus sentimentos referentes a ele, mas agora que algo de concreto acontecera, nada poderia estar mais claro em sua cabeça.

Amava-o. Sentia-se bem na companhia dele, sentia-se segura. Por muitos meses, Susanna não encontrava a segurança de que estava precisando. A perda de seu pai lhe proporcionara sensações desagradáveis de vazio, de solidão. Sempre houvera Lucy ao seu lado, disso ela estava certa, mas não uma figura masculina.

Susanna sabia, porém, que seu relacionamento com Christopher era um mero substituto para os sentimentos fraternos entre ela e seu pai. Esperava que com o tempo o afeto entre os dois crescesse mais ainda. No entanto, a dor da perda nunca seria suplantada, e sempre estaria ali. Por vezes terrivelmente dolorosa, e por vezes aguentável. Só o amor era a cura.

Andando vagarosamente pelas ruas de Valliria, Susanna se sentiu plenamente feliz de um modo que não se sentia em meses. Ela sorria por nenhuma razão aparente, se fosse vista de fora. Ela sorria para si mesma, e sorria porque se sentia feliz. Queria eternizar o momento, mas sabiam que viriam mais alegrias e mais momentos a serem recordados depois.

Susanna aproveitou enquanto pôde.

***

Meados de Novembro de 1953. Três meses haviam se passado desde o primeiro beijo entre Christopher e Susanna. Tudo estava correndo bem em Valliria, se não fosse a eminente viagem de Christopher.

Os dois continuaram a sua relação, e logo a maior parte de Valliria estava ciente disso. Assim como Lucy e Henry, Susanna não tinha uma perspectiva correta de seu futuro, mas se prendia a ideia do retorno de Christopher a Valliria.

Lucy e Henry continuavam sua relação às escuras. Não se poderia dizer, pelo menos, que fora por falta de tentativas.

Certo dia em Agosto, Henry tornou a falar com Isobel:

- Sra. Hayes, por favor, tente me compreender. Eu amo sua filha. Nunca vi moça igual a ela; acho Lucy a mais encantadora e doce de todas. Prometo que cuidarei com muito carinho dela, num compromisso sério. Vou me esforçar ao máximo para manter uma boa renda, se for este o problema. A senhora deve se lembrar de que os La Fontaine, em tempos passados, nutriam de uma ótima reputação, que fazia jus ao seu dinheiro...

Ele se calou, perante o silêncio intimidante que Isobel fazia. Sua expressão parecia um pouco mais amolecida se comparada à última vez, mas ela ainda era uma barreira impenetrável. Quaisquer argumentos seriam inúteis. Por trás, porém, dessa aparente indiferença e impenetrabilidade, Isobel se perguntava se estava fazendo a escolha certa. Se, ao negar mais uma vez os apelos de Henry La Fontaine, estaria auxiliando sua filha, ou negando-lhe o que aquele jovem jurara ser o amor de sua vida.

Como sempre, Isobel escolheu se retrair. Como sempre fora para ela, tomou sua escolha sozinha, sem consultar a ninguém, sem ponderar demais o mal que poderia estar causando aos outros. A negação do pedido de Henry só serviu para dar mais combustível a sua amargura crescente.

Lucy passou algumas semanas completamente infeliz, depois da recusa de Isobel.  Na quietude de seu quarto, Lucy se perguntava se deveria ou não ir a procura de sua mãe. Sentou-se ao piano, cabisbaixa, e ficou a encarar as teclas brancas e pretas, a procura de uma resposta. Olhou para a porta diversas vezes, a espera de alguém que não viria. Aquela decisão era dela, e só dela.

Depois de algumas voltas imprecisas ao redor do quarto, e alguns segundos gastos no parapeito da janela, Lucy sentou-se bruscamente ao seu piano, e dedilhou os primeiros acordes de “Polonaise”, de Chopin. Entregou-se à música logo depois, fechando os olhos ao tocar.

Na calma primavera de Novembro, na manhã anterior a sua partida, Christopher organizava seus pertences para a viagem. Faria malas para uma estadia de meses, pois o próprio Vagner lhe informara que seus negócios lá não eram rápidos.

Por diversas vezes, Christopher se perguntara se estaria tomando a decisão correta. A ideia de deixar Susanna para trás lhe era extremamente desagradável, e ainda mais a ideia de ficar meses sem vê-la. No entanto, Christopher sabia muito bem o quanto ele próprio adorava cidades grandes. Apaixonara-se pelo movimento, pelas cores efusivas, por tudo de novo que conhecia desde a primeira vez que pusera os pés no Rio de Janeiro. Sabia também que o mesmo estava fadado a acontecer em São Paulo.

Outra imagem que deixava Christopher ansioso era um possível sucesso em sua carreira de pintor. Aquela era uma oportunidade única para ele.

Para a surpresa do próprio Christopher, sua própria mãe viera a incentivá-lo quanto a ideia de partir.

- Chris, Chris... Vá, meu filho, vá. Não se prenda por sua infeliz mãe, nem por seu irmão... – comentara Jane, quando primeiro soube do que seu filho mais velho estava planejando – Será o melhor para você, eu sinto isso...

- Obrigado, mãe. – ele agradecera, envolvendo as mãos de sua mãe nas suas. – Mas temo que Susanna...

Jane também estava ciente da nova jardineira do local, e, embora não gostasse nada da ideia de que o que antes era o seu trabalho estava agora nas mãos de outra, admitira, com certo custo, que ela tinha jeito para o ofício. Também sabia que Susanna se relacionava com Christopher, e não gastara nenhuma energia se opondo àquilo. Jane parecia ter se recuperado um pouco de sua doença, e por vezes se levantava para um passeio, acompanhada de Ilina. Recebia visitas, e chegara até a conversar com Susanna. Porém, não se aventurava além dos limites dos seus terrenos.

- Chris, ouça-me. – ela dissera, naquela ocasião – Se essa moça realmente o ama, então não tema a sua partida. Ela o esperará.

Christopher assentira, reconfortado pelas palavras de sua mãe.

- Então, irmãozinho, tudo pronto? – de volta ao presente, Christopher ouviu seu irmão dizer, surpreendendo-o enquanto arrumava suas malas.

- Ainda não, George... Era eu quem deveria estar te chamando de “irmãozinho”, não o contrário... Debochado. – Christopher respondeu.

- Qual o problema, o diminutivo o incomoda? – George, depois que começara o seu namoro com Vivian Melbourne, estava se sentindo deveras mais alegre e disposto do que antes. Para ele, tudo estava correndo nos eixos, na maior alegria possível. Confessara a seu irmão que até mesmo estava planejando pedir Vivian em casamento, se tudo continuasse como estava. O maior problema seria Vagner Melbourne, mas, com Christopher tendo estado tão próximo do antigo “inimigo” da família, as possibilidades de tudo correr bem eram ótimas.

Christopher resmungou qualquer coisa em resposta, e se concentrou nas malas.

Susanna apareceu na porta, e bateu mesmo ela estando aberta, apenas para se fazer presente.

- Olá. – ela, assim como George, estivera vivendo os últimos três meses como os mais alegres de sua vida.

- Bem, eu já vou indo... – disse George, não querendo se intrometer entre os dois – Vou dar uma checada para ver se mamãe está disposta a ir lá para baixo vê-lo partir, Christopher. – ele rapidamente sumiu para fora do quarto.

Susanna se sentou na borda da cama de Christopher, observando-o ajeitar seus pertences. Ele estava do outro lado do quarto, enumerando suas tintas e guardando-as cuidadosamente.

- Então... – começou Susanna, sem saber ao certo o que dizer. – Você já vai.

- Já? – ele perguntou. – Se passaram três meses, Suze...

- Que aparentaram serem três semanas, nem isso. – ela suspirou.

Ele riu, mas teve que concordar. Parando a movimentação frenética em que estava, ele se sentou do lado dela, dizendo:

- Eu ficaria por você, Susanna.

Ela sorriu, e respondeu:

- Eu iria por você, se George não fosse me matar por largar meu trabalho como jardineira aqui.

- Você é quase parte da família.

O rosto de Susanna ficou quente ao ouvir as palavras de Christopher; eram quase uma promessa do futuro dos dois. Ela ainda não havia pensado o bastante naquela parte, mas não a temia. Enquanto assistia Susanna sorrir, Christopher falou:

- Siga-me, querida. Eu tenho algo para lhe mostrar.

Sempre seguindo Christopher de perto, Susanna foi levada até a cerca branca nos limites da propriedade, que levava ao caminho das colinas.

Juntos, os dois subiram o local, de mãos dadas.

Na última curva do percurso, logo antes da chegada ao topo da colina, Christopher parou, e Susanna parou junto.

- O que foi? – ela perguntou.

- Feche os olhos, por favor.

- Não vai me surpreender com mais um beijo, vai?

- Assim não seria uma surpresa. – ele respondeu, rindo. Susanna, obediente, fechou os olhos.

Ele a levou pelo resto do percurso, e parou pouco além. Depois, pediu para que ela reabrisse os olhos.

Para a real surpresa de Susanna, a cena que se encontrava sua frente era esplendorosa.

O que antes não passava de um amontoado de rochas na ponta da colina, uma grama desbotada crescendo desordenadamente nas bordas e um terreno de terra sem graça no centro, agora era um lugar resplandecente de vida.

Susanna não sabia exatamente como, mas Christopher dera um jeito para que rosas crescessem entremeadas nas rochas, majestosas naquela época do ano. Eram rosas vermelhas, todas, e encantavam o local. Uma grama verdinha, recém aparada, complementava a visão, e, em cima dela, um banco de madeira branca.

- Você fez isso? – ela perguntou.

- Bem, eu tive os conselhos de certa jardineira a respeito das rosas...

Susanna se lembrou do quanto Christopher parecera inusitadamente interessado no seu ofício, nos últimos meses. Fizera perguntas que beiravam a estranheza para ela, mas Susanna nunca suspeitara de nada.

Ela riu, e continuou rindo. Olhou para Christopher na maior alegria, dizendo:

- Eu te amo.

- Eu também te amo. – ele respondeu, e continuou – Quando sentir minha falta, venha para cá. Eu achei que o Parque das Rosas já fosse o suficiente, dado que foi lá a primeira vez que nos encontramos... Mas queria algo mais íntimo. Esse lugar é realmente seu, Susanna, eu assino um documento se for necessário para passá-lo para o seu nome – ele brincou – Afinal, foi aqui que reatamos...

Sem dizer mais nada, ela se aproximou dele para um beijo.

À tarde, Christopher já estava com todas as malas prontas, a espera de Vagner Melbourne e Veronica.

Lá, no pátio da mansão, não só estava a família Giusini (Jane não perderia a despedida do filho por nada), mas também Vivian Melbourne, Susanna, Ilina, e até mesmo Lucy e Henry. Os dois haviam se tornado mais íntimos dos Giusini, a partir da relação de Susanna com Christopher.

Nervoso por estar rodeado de tantas pessoas que ocupavam a maior parte de seu coração, Christopher esperava pelo carro que o levaria até o aeroporto.

Não tardou muito, Vagner chegou, acompanhado de Veronica. Os Melbourne se despediram, e depois foi a vez do resto. A despedida mais longa, se não fora a de Susanna, decerto fora de Jane. A cena chegava a ser cômica, mas, por fim, Christopher partiu.

Susanna ficou até o último momento que pôde observando o carro se afastar, imaginando quando é que seu amado voltaria para casa.

Três dias depois, Susanna acordava, sonolenta, de uma boa noite de sono. Sentia saudades incomparáveis de Christopher, mas tentava se consolar: ainda eram os primeiros dias.

Bocejando, Susanna se surpreendeu ao encontrar um envelope em sua mesa de cabeceira. Arregalou ainda mais os olhos quando reconheceu a caligrafia, e quando percebeu que a rosa que repousava em cima do objeto já estava murcha. Fora coloca ali há horas.

As letras floreadas de Lucy Hayes enfeitavam a envelope pardo. Susanna leu primeiro o seu nome, depois, sem hesitar, o abriu. De dentro, caiu uma carta.

As mãos trêmulas de Susanna ajeitaram a carta, e nervosamente começaram a ler a mensagem escrita por sua prima.

Susanna,

Eu sinto muito ter que escrever uma carta como essa para você. Porém, eu não encontrei alternativa melhor para mim agora.

Quando estiver lendo isto, estarei longe. Longe de Valliria, rumo ao Rio de Janeiro.

Por favor, não tenha raiva de mim. Não fique triste, Suze, por favor. Eu sei que é muito o que pedir, dada as circunstâncias, mas você sabe o quanto eu ficaria arrasada em saber que você está fragilizada. Sem mais delongas, vou lhe explicar os motivos pelos quais eu parti com Henry nessa jornada inesperada.

Para falar a verdade, não foi nada tão inesperado assim. Meses atrás, Henry havia me proposto que eu me abrisse com minha mãe, e que mostrasse para ela o quanto eu o amo. Porém, eu não atendi a esse pedido. Estava receosa de qual seria a reação, e do que minha mãe poderia fazer depois para parar a nós dois.

Eu não poderia perdê-lo, Suze. Eu não posso. Você deve me entender, certamente. O amor que sente por Christopher – e, apesar de você nunca ter me dito abertamente o quanto esse sentimento é largo, eu sei, Suze, eu a conheço melhor do que ninguém, e vejo isso em seus olhos quando você olha para ele – é comparável ao que eu sinto por Henry. Sei que ao lado dele estarei feliz. Mas não sei se encontrarei paz.

Deixar minha mãe, não, deixar Valliria para trás foi um passo extremamente difícil para mim. Eu não sei se estou fazendo a coisa certa, mais meu coração me diz que sim. Eu deixei uma carta para minha mãe também, e, no final dela e desta, eu acrescentei meu novo endereço. Escreva-me, Suze, por favor. Eu ainda não tenho telefone, então você terá que usar a via antiga de mensagens. Eu sempre gostei mais de cartas.

Há horas em que eu dou um grande suspiro, e penso em voltar atrás. Mas eu sei que se eu ficar em Valliria, nunca vou conseguir o que eu quero: a companhia de Henry.

Dói-me o coração saber que a estarei deixando sozinha. Christopher partiu anteontem, e hoje, sou eu. Oh, Susanna, eu nunca quis lhe causar dor, nem solidão! O momento para partir foi o errado, se levar em consideração a sua situação. Mas William prometeu cuidar de você. E eu sei que George, Vivian, Ilina, Carla, Mary Jane, May e Eddie estarão lá para você.

Espero que me entenda,

De todo o coração,

Sua, para sempre,

Lucy.

Então era isso. Susanna encarou o papel branquinho em que Lucy escrevera sua carta, e o envelope pardo que a envolvera, apenas para ter certeza de que ela se fora. Sua prima, sua confidente, a doce Lucy àquela hora estava longe de Valliria, longe de Susanna e tudo o que ela conhecera. Deixou atrás de si o que seria um escândalo em Valliria, uma mãe desolada e Susanna, com um vazio no peito.

Susanna não sentiu raiva da prima, em nenhum momento da carta. Conhecia-a bem o suficiente para saber que fora franca, e que fizera um gesto dificílimo para alguém de sua personalidade. Relembrando um diálogo que tivera com ela e William, meses atrás, se espantou ao percebeu que ela própria, Susanna, apoiava a ideia de Lucy ir para o Rio de Janeiro, e deixar Valliria para trás.

Susanna guardou a carta bem dobrada no envelope, mas não se levantou de sua cama. Agora, ela estava só. Seu amado Christopher se fora, sua prima e melhor amiga Lucy seguira o seu amor. Ela estava só e ficaria só por tempo indefinido.

Baixando a cabeça, Susanna se perguntou onde seu pai estaria, e o que diria naquela hora. “Deixe de ser boba, Susanna.” Seriam as palavras dele. “Você sabe o quanto Lucy te ama; você lembra-se das promessas de Christopher de nunca a deixar.”

Dando um longo suspiro, Susanna levantou a cabeça para encarar o novo dia.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Vão me matar? Surpresos? Não se esqueçam de reviews!