Rosas escrita por Larissa M


Capítulo 16
Capítulo 15 - O Beijo


Notas iniciais do capítulo

Hey everybody! Tenho que informá-los de que a minha história será dividida desse modo: a primeira parte será no ano de 1953, e a segunda no ano de 1956. Infelizmente, esse é o penúltimo capítulo da primeira parte. Então estejam preparados para um salto de 3 anos!!



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- Christopher Alves Giusini. – George chamou o irmão pelo nome completo, assim que o viu entrando na mansão pela porta dos fundos. Ameaçadoramente foi se aproximando a cada palavra, terminando defronte o irmão. – O senhor me faça o favor de explicar onde, como e porquê Vagner Melbourne veio te fazer uma proposta a respeito de suas exposições de quadros no Rio de Janeiro.

Para a infelicidade de George, ele era alguns centímetros mais baixo que Christopher, e não conseguia sustentar uma pose ameaçadora por muito tempo. No entanto, tentou, e o efeito que surtiu foi mais ou menos o desejado, se não fosse o senso de humor cínico de Christopher:

- Bem, “onde” você próprio já respondeu: Rio de Janeiro.

Atrás de Christopher, vinha Susanna. Ela planejava cruzar a mansão até o hall de entrada para pegar sua bolsa e ir direto de volta para casa, mas, ao ver aquela cena se desenrolando em sua frente, resolver dar meia volta e tomar outro caminho. Não queria invadir a privacidade dos dois irmãos, e o caso claramente era aquele. Discretamente rumou para fora do cômodo, sem ser percebida.

- Não se faça de bobo. – George retrucou indignado com o humor do irmão – Você expôs quadros na capital e nem sequer se digna a me comunicar! Ganhou dinheiro com as muitas exposições que Vagner fez questão de frisar...

- É aí que você se engana, meu caro irmão. – Christopher deixara as piadas de lado, e assumia um tom sério. – Nunca ganhei um tostão sequer com essas exposições. De fato, tinha-se que pagar para entrar, mas todo o dinheiro ali ganho foi doado para a caridade, e, mais especificamente, para a medicina em cidades do interior. Você mais do que todos deve saber o quanto é difícil e mesmo caro arrumar remédios quando o assunto é uma doença séria tratada por médicos aqui da região.

George boquiabriu-se. Seu irmão falava com tanta convicção, com tanta seriedade e talvez uma ponta de orgulho na voz que era indubitável que falava a verdade.

- Porque você não me disse antes? – George perguntou. – Porque você não falou que estava ajudando mamãe?

Christopher virou o rosto ao chão, respondendo:

- Eu tinha vergonha de meus quadros. Não sabia o quanto você ou mesmo nossa própria mãe estava do lado de nosso pai quando se dizia respeito a desaprovar a arte. Marcello foi convicto demais no dia em que me mandou para a capital e me proibiu de pintar ou desenhar. Por isso eu tomei cursos de pintura em sigilo; por isso eu desenvolvi minha técnica e me afeiçoei à arte em segredo, afixando-me nesse ateliê que é responsável por estas exposições. Claro, eu estava estudando Administração em meio tempo, eu estava tentando cuidar da empresa, mesmo que fosse recebendo ordens suas. Eu não poderia largar o Rio de Janeiro e voltar para Valliria...

George se sentiu extremamente culpado em frente ao irmão. Julgara-o erroneamente perante um mal entendido. Agora, queria se redimir, mas antes teria de terminar de fazer certas perguntas que ainda o intrigavam:

- Mas quando você chegou aqui começou a pintar tão abertamente...

- Eu estava com raiva de você por não me entender. Eu não deveria ter me sentido assim, dado que você tinha todas as suas razões para me culpar. Estava no escuro; não tinha como adivinhar o que eu havia feito ou deixado de fazer na capital. – ele suspirou. – Eu gosto de extravasar meus sentimentos pintando. E, além do mais, eu já estava de volta a esta cidade... Porque adiar mais o momento em que eu teria de (ao menos assim eu pensava) confrontar você e mamãe?

- Me desculpe, irmão... Vocês conseguiram algo com essas exposições?

- Eu desculpo, George, mesmo porque também tive minha parcela de culpa. – Christopher respondeu – Conseguimos o dinheiro e o enviamos. Eu nem sequer sabia que Vagner Melbourne estava presente numa dessas exposições...

- Foi o que ele me informou.

- Ele esteve aqui? Esteve na mansão?

George assentiu. Christopher subitamente se lembrou de Susanna e da última hora que passara com ela, e se virou para trás para procura-la na cozinha, o último lugar que a havia visto antes de ser chamado por George.

- Onde é que você estava? – o irmão mais novo perguntou, mas teve de seguir atrás de Christopher, que já deixava o cômodo e passava ao seguinte.

- Susanna? – ele perguntou, em vão. A moça já há muito saíra da mansão, deixando recado com Ilina de despedidas para Christopher.

Lucy estava fora de si de tanta felicidade pelo plano arquitetado por ela e o namorado ter dado tão certo em frente a todos. Apesar das tentativas de Celina Houston de desestabiliza-la e fazer com que desse alguma deixa de que ainda continuava vendo Henry, Lucy se mantivera firme no que afirmava.

Henry, por sua vez, não partilhava da mesma felicidade.

Os dois estavam sentados nos jardins do fundo da casa dos La Fontaine, porquanto os pais de Henry não estavam presentes na casa. Era um jardinzinho apertado, sem muito espaço entre o muro e a casa em si, devido a localização dela no centro da cidade. Porém, ele um lugar agradável, e Henry e Lucy se abraçavam sentados numa rede, balançando lentamente.

- Você não deveria estar tão feliz por isso... Não é uma solução.

- Não é uma solução plena, mas uma solução temporária, e isto é o bastante para me alegrar. – ela respondeu.

- Me diga um momento em que você não está sorrindo, Lucy.

Ela riu ainda mais, e se aconchegou ao ombro de Henry. Ele, espertamente, comentou, já prevendo a reação dela:

- Ou será que eu deveria dizer Lucia?

Como o esperado, o sorriso dela diminuiu, mas voltou a crescer assim que percebeu que era uma brincadeira.

- Não me chame assim, você sabe que não gosto.

- Eu sei que não, Lucia. – ele falou, só de implicância. Lucy, fingindo-se de ofendida, levantou a cabeça do ombro dele, e deixou seu peso cair do outro lado da rede. – Oh, venha cá. – ele pediu carinhosamente.

Depois de certo tempo em silêncio, ele falou:

- Lucy, não podemos continuar assim por muito tempo, você sabe disso.

- Eu sei, Henry. – ela suspirou.

- Precisamos pensar em algo que resolva nossa situação...

- Você pode conversar com minha mãe outra vez. – ela sugeriu.

- Depois de nos passarmos apenas por amigos? Eu tentaria, Lucy, não me entenda mal... Mas mesmo que eu tentasse; e se ela recusar outra vez? E se ela mantiver sua opinião de antes, conosco insistindo no assunto ou não?

Lucy manteve-se em silêncio por certo tempo. É claro, todas aquelas questões já haviam perpassado sua mente, assim como a de Henry, mas o fato de ele as ter verbalizado as tornou assustadoramente reais. O que dizia estava correto: não havia como eles continuarem em sigilo.

- E se... nós fizéssemos o contrário do que Isobel está dizendo? – ele sugeriu.

- Mas isto nós já estamos fazendo. – ela retrucou, olhando para eles próprios abraçados, juntinhos.

- Não. Fazer tudo abertamente. Enfrentá-la.

Lucy ponderou a hipótese sugerida pelo namorado.

Vagner Melbourne fora convidado para uma segunda visita à mansão Giusini. Aliás, aquele era seu primeiro convite, dado que na primeira ocasião ele se fizera presente na casa por sua própria vontade e necessidade. Desta vez, ele chegou desacompanhado de suas filhas, e rumou direto para os assuntos pendentes para com Christopher.

Com ambos aconchegados no que era o antigo escritório provisório de Marcello Giusini (este passava a maior parte do tempo no Rio de Janeiro, em seu escritório principal no mesmo lugar), Christopher pediu para que fosse servido café, e se preparou para ouvir o que o outro tinha para dizer.

- Christopher, creio que seu irmão mais novo tenha lhe informado corretamente sobre o que vim aqui lhe dizer, não é mesmo?

- Exatamente. – Christopher assentiu. – Porém, tenho algumas dúvidas a sobre os detalhes...

- Isso depende de sua habilidade de barganhar – Vagner riu sarcasticamente, e continuou num tom mais sério – Eu posso te oferecer destaque na Segunda Bienal Internacional de São Paulo, no final do ano. Seus quadros estarão expostos com toda certeza, se aceitar meu acordo.

- E qual seria esse? – Christopher perguntou, tentando não mostrar um interesse tão grande igual ao que estava sentindo para Vagner.

- Eu gostaria de parte dos lucros que a exposição trará para você. – Vagner especificou a quantia prevista para Christopher, e quanto ganharia ele no final, caso aceitasse a proposta de Vagner.

O Giusini mais velho logo notou o instrumento utilizado por Vagner para conseguir fechar o acordo: era tudo ou nada. Se Christopher aceitasse, ganhava a parte proposta; se não, não ganharia nada, e nem chegaria a ir para São Paulo. Nessa transação, de um jeito ou de outro, Vagner sairia ganhando. Christopher Giusini certamente não era o único artista disposto a fechar negócio.

Christopher parou para pensar por certo tempo, refletindo nas possíveis consequências que teria se aceitasse ou não o acordo. Lentamente bebericou o seu café. Só depois de ter recolocado a xícara no lugar foi que ele deu sua resposta:

- Me daria alguns dias para pensar no assunto? Estou inclinado a aceitar, mas preciso consultar a opinião de certas pessoas antes de lhe dar uma resposta concreta.

- Mas é claro, é claro... – Vagner respondeu, satisfeito com a resposta quase positiva de Christopher. Era uma homem de negócios, e estava acostumado com certas decepções quando se tratava de fechar acordos. Porém, aquele em questão era especial, e ele gostaria de ter uma resposta sólida o mais cedo possível. – Faria a gentileza de me mostrar algumas de suas obras, Christopher?

- Sim, me acompanhe. – ele respondeu, tentando ser o mais simpático possível. Ainda estava com um pé atrás quando se tratava de qualquer um da família Melbourne, exceto Vivian. Não havia esquecido-se de Marcello.

Na marcenaria La Fontaine se encontravam Lucy, William e Susanna. Mais uma vez, William alternava o trabalho numa peça de madeira e a conversa com as duas, enquanto as próprias se sentavam ao redor dele.

Tendo uma das moças Hayes ocupado a maior parte de seu tempo entre trabalhar como jardineira na mansão Giusini, cuidar de seu próprio jardim e avançar na leitura do diário de seu pai, mal sobrava tempo para aquelas visitas. Já Lucy tentava ser o mais discreta o possível quando se encontrava com Henry, o que raramente acontecia a céu aberto no meio da cidade.

No presente momento, os três discutiam o futuro deles próprios. William vinha descrevendo como ele estava tendo sucesso na constante venda de móveis ou artigos de madeira, e pensando se, ao guardar dinheiro da parte dos lucros que tinha da marcenaria, não poderia abrir uma loja em outro lugar, longe de Valliria. A cidadezinha pequena não oferecia muitos atrativos para jovens da idade dele, muito menos oportunidade.

- É uma ótima ideia, William. – Lucy o apoiou com sinceridade. – Tem o meu incentivo.

- Obrigado, Lucy. – ele respondeu, alegre por sua ideia ser sido aceita.

Já Susanna tentou contra argumentar:

- Mas você deixaria Valliria sem olhar para trás?

William meneou a cabeça em um sinal positivo.

- E porque não? Não vejo muito motivo para eu continuar aqui se uma oportunidade surgir em outro lugar. Em especial o Rio de Janeiro... Tenho que confessar algo, Susanna. – a moça olhou para ele em expectativa, e ele continuou – Andei dando uma olhada nas fotos de seu pai, espero que não se importe... e percebi o quanto a capital é bonita. Morro de vontade de experimentar ir à praia, por exemplo...

Susanna sorriu em resposta, mostrando que não ligava por William ter espiado as fotos. Ela estivera apenas uma vez na capital do estado, e era muito nova para se recordar do que quer que fosse. Apenas algumas lembranças persistiam, mas nada muito concreto para ser descrito para William e suplantar a curiosidade do jovem.

- Eu fui lá apenas uma vez, com cinco anos. Não me recordo de nada em especial.

- Puxa, é uma pena. – William respondeu.

- Mas você nunca sairia de Valliria, não é, Suze? – Lucy perguntou, retornando ao outro assunto.

- De fato, não. Eu acho que tem algo de especial aqui que me faria ficar... – ela buscou pelas razões as quais se sentia tão ligada ao lugar, mas não encontrou respostas. Talvez fosse mera questão de preferência. – E você, Lucy? Se mudaria para viver em cidade grande?

- Oh, eu acho que sim, eu iria. Como disse William perfeitamente: porque não? Não há nada a perder. – ela respondeu com simplicidade.

- Então vocês dois me deixariam sozinha aqui em Valliria? – Susanna perguntou, fingindo-se ofendida.

- Claro que não! E pensar em perder as minhas rosas presenteados quase diariamente? – William disse em resposta.

Susanna riu, dizendo:

- Elas não fazem tanta diferença.

- Acredite, elas fazem, Susanna. – Lucy respondeu. – Talvez seja por elas que você queira tanto ficar aqui. Você e seu frisson por essas flores... – Lucy riu, acompanhada de William.

- Riam de mim quando eu abrir uma floricultura. – ela respondeu de brincadeira.

- Então é isso o que você pretende fazer? – William perguntou, retornando à seriedade.

- Eu não sei, estava brincando... De fato, sugeriram isso para mim, mas ainda nem parei para pensar no assunto...

- Ia ser ótimo, Suze! – Lucy incentivou-a. – William iria para a capital com sua habilidade em marcenaria e você abriria uma floricultura!

- E quanto a você, Lucy? – William perguntou.

A moça perdeu o sorriso de antes, e até mesmo se mostrou um tanto cabisbaixa. Ele tocara em um ponto sensível.

- Eu não sei. Eu e Henry, nós... – ela parou.

- Não pense assim, Lucy. Isobel terá de ceder, um momento ou outro. – Susanna tentou consolá-la, colocando suas mãos por sobre as dela.

- Era por isso que eu gostaria de ir para o Rio de Janeiro. – ela desabafou. – Mas eu acho que nunca conseguiria deixar minha mãe para trás, ou mesmo você, Suze...

- Não se prenda a mim; eu terei minhas rosas. – ela tentou brincar. – Isobel precisaria mesmo levar um choque para parar de ser tão rígida.

- Você acha?

- Sim, eu acho.

Mais consolada, Lucy tentou esboçar alguma alegria perante seu futuro incerto. Espertamente, William mudou de assunto, e conseguiu deixar a atmosfera ali menos carregada de tensão. Porém, Lucy sempre se lembraria daquela conversa.

Semanas depois da proposta de Vagner para Christopher, quando o jovem já estava praticamente decidido em ir, ele caminhava juntamente de Susanna, no Parque das Rosas, depois de um dia cheio de trabalho da jardineira. Os dois estavam ali a convite do próprio Christopher. Ao contrário do que Susanna pensava, não estavam ali para um passeio inocente: Christopher tinha em mente partilhar com Susanna sobre a exposição de São Paulo. Só faltava mesmo era saber o que a moça pensava da situação antes de partir.

George apoiava completamente o irmão, e achava que ele merecia um pouco de glória. Claro, apenas afirmou isso depois de ter avisado Christopher do quanto a fama poderia ser uma inimiga perigosa. Entretanto, depois de saber que seu irmão mais velho sempre estivera ajudando, mesmo que fosse de longe, George estava bem mais propenso a acreditar nele.

Susanna ouvira da Ilina da proposta de Vagner, e já sabia da possibilidade de Christopher ir para a capital paulista. Ela o surpreendeu perguntando justamente daquilo, enquanto os dois atravessavam a ponte que cruzava o rio:

- Então é verdade? Você vai para São Paulo? – a principio, estava só curiosa.

- Sim. – ele respondeu – Eu aceitei a proposta de Vagner; creio que você tenha ouvido falar... eu, junto dele e de sua filha, vamos para lá no final do ano.

- Qual filha? Veronica?

- Vivian vai ficar com George. – Christopher respondeu apenas.

- É claro, os dois se amam... – ela sorriu ao lembrar do casal – Você não deveria ter aceitado isso, sabe do passado de Vagner com seu pai. – Susanna, propositalmente, evitara falar na parte em que Veronica estaria junto.

- Sei muito bem; estive no meio das intrigas entre os dois. – ele suspirou, parando no meio da ponte para olhar o rio. – Estou na esperança de que, assim como Vivian, Vagner não é o que aparentava.

- Essa lição eu aprendi: não julgar os outros pela aparência.

Ele riu, e disse:

- Isso é passado.

- Sim... agora eu me preocupo com o futuro. Quando você vai voltar?

- Sinto dizer que não saberia te informar. Pode durar meses a exposição, e sabe-se lá o que mais Vagner vai arrumar para eu fazer lá em São Paulo. É uma das cidades mais influentes do Brasil, e você sabe que é a II Bienal Internacional... Quem sabe eu tenho a sorte de me encontrar com um pintor do exterior...?

- E Valliria? – naquele pergunta, estava codificado algo mais, que Susanna não conseguia expressar em palavras. Nem ela sabia ao certo porque estava tão incomodada com a partida de Christopher, mas, ao perguntar sobre a cidadezinha, incluía a ela mesma.

- Eu voltarei, Susanna. Não duvide disso. Não vou te esquecer. – ele garantiu.

- Mas...

- Feche os olhos. – ele pediu.

Ela obedeceu.

- Para todos os efeitos, queria que você guardasse uma coisa consigo, antes que eu parta... – ela o ouviu dizer.

Susanna não podia ver que Christopher aproximava seu rosto dela, mas tinha certeza do que viria a seguir. Beijou-o como nunca antes beijara ninguém.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Estive esperando tanto tempo por esse capitulo!! *-* não esqueçam de deixar review!