POV Harry

Assistimos a partida até o fim e nosso time perdeu, como sempre Ron disse que eu dava azar e me desconvidou para assistir ao próximo jogo com ele. Rimos um pouco de algumas besteiras e quando disse que ia embora ele pegou o telefone, eu já sabia para quem ele iria ligar, e minha atenção se aguçou imediatamente.

—Oi cabeçuda, sou eu. - Esperou um pouco e riu de alguma coisa que ela falou. - Quer que te busque ou Hermione virá trazê-la? - Ouviu o que Gina respondeu e levantou-se antes de responder. - Ok, estou indo. Em vinte minutos esteja na portaria. - Pegou uma blusa em cima do sofá e começou a calçar um par de tênis que estava jogado embaixo da mesinha da sala. - Ta bom, fala pra Mi que depois eu ligo pra ela e que estou com saudade. - Terminou de calçar os tênis. - Beleza, beijo.

E desligou, em seguida vestindo a blusa e pegando a chave do carro em cima da estante e se virando para mim.

—Vamos, vou com você até lá. - Assenti me virando e ele continuou em um tom dividido entre zombeteiro e sarcástico. - Preciso buscar a moça que te desperta tantas curiosidades.

Eu fingi que não ouvi, porque eu nunca saberia o que responder para essa questão. Desci no térreo e Ron foi até a garagem, entrei em meu carro e esperei que ele passasse por mim para então começar a segui-lo até minha casa. Em aproximadamente vinte minutos já estávamos na minha rua, e antes de entrar na garagem eu a vi caminhando, linda como sempre, até o carro do irmão.

Estacionei em minha vaga e subi. Ao entrar em casa, Hermione estava deitada no sofá e antes que eu terminasse de trancar a porta me falou rindo:

—Oi, gostoso! - E caiu na gargalhada.

Eu ri também, fui até onde ela estava e dei-lhe um beijo no rosto, sentando-me depois ao seu lado e colocando seus pés em meu colo.

—Então ela me acha gostoso? - Perguntei sorrindo.

—Convenhamos, Harry, até eu acho. - Ela me respondeu animada.

—Fico lisonjeado. - Respondi irônico.

—Bobo! - Falou se virando para me olhar. - E você, também tem a mesma opinião sobre ela?

—Acho que até Rony tem. - Eu respondi no mesmo tom que ela havia falado e depois de rirmos comentei sério. - Ela é linda.

—É realmente. - Falou como quem finaliza a conversa.

—E ai -comecei tentando soar despretensioso novamente. - não vai me contar o que ela falou?

—O que ela falou sobre o que? - Mione tentou fugir do assunto.

—Aah, Mi, eu vi que ela ficou com vergonha, com certeza te falou alguma coisa. - Deixei a falsa despretensão para trás. - Já sabe por que ela não está mais passando os fins de semana conosco?

—E por que o senhor anda tão interessado? - Me perguntou sentando-se.

—Só curiosidade, ué.

—Entendi. - Me olhou daquela maneira acusatória que me fazia lembrar a mamãe. - Mesmo que eu acreditasse nessa suposta e falsa curiosidade eu não diria, porque esse é um assunto nosso.

—Aah Hermione, pare de ser chata - Comecei a reclamar quando ela me cortou.

—Você quer realmente saber?

—Claro! - Respondi como se fosse óbvio, e de fato era!

—Então pergunte a ela. - A olhei como se ela fosse louca. - Boa noite, Harry. - Me deu um beijo no rosto. - Durma bem e boa sorte em sua entrevista amanhã.

—Obrigado. - Foi o que consegui responder antes de ser deixado sozinho na sala.

Me deitei no sofá onde ela estava, porque ele já estava quente, e fiquei mudando os canais da TV. Deve ser por isso que eu não gostava muito de adolescentes, porque eles são confusos! Mas essa menina me intrigava, era fato. Como disse Hermione, até ela me achava gostoso, então foi só um elogio com o qual as duas devem estar acostumadas a classificar os homens bonitos. Pensando agora com menos pretensão ela pode não estar fugindo de mim e sim saindo com um carinha qualquer da faculdade e não querendo contar para ninguém ainda.

O problema é que ela me atraía muito e não só fisicamente, eu gostava do jeito dela, do sorriso despreocupado, de como ela andava bem de salto e de como ficava uma graça sem eles, das roupas justas que ficavam muito bem nela. E até hoje eu imagino o nó daquele robe rosa que ela estava usando quando conversamos de madrugada em minha primeira noite em Londres. Eu sempre fui exigente com relação às mulheres, mas tenho que admitir que ela tem realmente todo o potencial que tanto me falavam.

Me sentir tão atraído por ela, a ponto de já ter imaginado várias maneiras de nos encontrarmos sozinhos só pra ver como seria, me assustava um pouco. Eu tinha acabado de sair de um namoro, ela era irmã do meu melhor amigo e estava na idade da curtição, de aproveitar a vida. Eu queria uma mulher pra casar comigo, e já me peguei uma ou duas vezes imaginando Gina Weasley ocupando esse cargo na minha vida.

Resolvi deixar as coisas acontecerem, se ela continuar não fazendo questão de participar dos nossos fins de semana em família eu paro de pensar nisso. Fiquei mais um tempo ali passando os canais e resolvi me deitar, amanhã seria um dia decisivo em minha carreira profissional, não podia chegar lá com cara de cansado. Desliguei o aparelho e fui para o meu quarto.

POV Gina.

Já fazia mais de uma semana que eu tinha visto Harry pela ultima vez, no fim de semana que sucedeu aquele encontro na casa dele eu inventei outra desculpa qualquer e hoje, sábado, de tanto inventar mentiras o universo resolveu me dar um motivo real para sumir: cólica. Fiquei o dia trancada no quarto e quando Ron veio me convidar para sair com eles para comemorarem o novo emprego do cunhado eu neguei, mas com muita vontade de ir. Apesar de não querer admitir, eu estava com saudades dele, muita saudade.

Mandei um abraço e os meus parabéns e fiquei ali curtindo minha solidão. Não vi a hora que Ron chegou, mas ele com certeza não me deixou dormir sozinha em casa. No domingo ele saiu cedo com Hermione e eu fiquei em casa de novo. Fazia um tempo que os dois não saiam sozinhos, deviam estar cansados de carregar a mim e a Harry. O domingo se passou lentamente e eu dormi a maior parte dele.

Na segunda de manhã me levantei já sem dor e me vesti para trabalhar. Coloquei minhas roupas básicas de sempre, elas ficavam bem em mim, calcei meus saltos altos costumeiros e saí. Eu era estagiária então entrava um pouquinho mais tarde que os outros e quando cheguei todos já estava em seus lugares e a secretária assanhada, Romilda Vane, me chamou dizendo que meu novo chefe já havia chegado, e que era um gato.

Com o fim de semana chato que tive, nem me lembrei que meu novo chefe começaria hoje. Eu me sentia aliviada com isso, estava trabalhando muito nos últimos dias ficando sozinha no departamento. Me dirigi à minha mesa e o suposto bonitão estava em reunião com o diretor. Dei bom dia à todos e fui para a sala onde trabalhava para começar a arrumar minhas coisas. Como o departamento em que atuava continha informações um pouco mais restritas, ele ficava numa sala não isolada, mas um pouco afastada dentro do escritório, e nela havia três mesas: a minha, a do gerente que normalmente ficava em nossa outra filial, mas que nesse ultimo mês inteiro ficou aqui me supervisionando, e uma terceira, de frente para a minha, onde ficaria meu novo, e até então desconhecido, chefe.

Hoje o gerente não havia vindo para cá, e como já haviam me dito que eu seria encarregada de passar os processos da empresa para o novato, comecei a separar os papéis que estavam espalhados pela minha mesa à espera de uma milagrosa resolução. Tirei meu casaco, ficando com uma blusa vermelha de mangas compridas e grudada no corpo, pendurei minha bolsa no armário atrás de mim, pluguei meus fones de ouvido no computador e liguei em uma música qualquer para começar a trabalhar mais relaxada.

Eu sempre deixava o volume baixo, para o caso de conseguir ouvir se alguém falar comigo inesperadamente, e estava analisando algumas notas fiscais quando ouvi a voz do diretor (o Sr. Dumbledore sempre foi escandaloso para falar) vindo em direção à nossa sala e conversando animadamente sobre mim: “a Srta. Weasley é uma excelente funcionária, e é claro que a decisão final caberá a você, mas no que depender da minha opinião e do gerente da área ela com certeza será contratada por nós em breve”.

Eu estava ouvindo animadamente os comentários sobre mim quando veio a resposta que me desesperou: “tenho certeza que sua avaliação é suficiente para que eu a aprove, senhor”. Avaliando apenas a resposta em si eu deveria ter ficado satisfeita, mas a voz estranhamente familiar que a pronunciou foi o que me fez estar com o estômago embrulhado e a cabeça baixa quando eles cruzaram a porta e se dirigiram à mim:

—Bom dia, Srta. Weasley - começou o diretor - Esse é o Sr. Potter, seu novo supervisor.