POV Gina

Eu trabalhei a tarde inteira sem parar nem para ir ao banheiro, quem sabe assim o tempo passava rápido e eu poderia ir embora logo, e quando ele voltou fiz questão de ignorá-lo. Eu não ia chorar minhas decepções na frente dele então o "Não" que eu respondi quando ele me chamou para sair saiu rápido e sem pestanejar. Passei pela recepção sem respirar nem me despedir de ninguém e só quando estava dentro do elevador respirei fundo e me olhei no espelho, eu estava com cara de assustada.

Saí do prédio o mais rápido que pude e me odiando internamente por ter super estimado as qualidades do ilustríssimo Sr. Potter. No fim ele não era nada diferente dos outros, e foi o que me fez sentir pior nesse tempo todo. Eu sonho com esse convite para sairmos há mais de um mês, e quando ele finalmente surge eu estou me sentindo a pior mulher do mundo.

Cheguei na faculdade e procurei um grupo de amigas para conversar sobre outras coisas, isso não me fez esquecer mas adiou a enorme vontade de chorar que eu estava. Durante a prova estranhamente eu me lembrei de tudo que ele falou, e acredito que pela primeira vez em dois semestres eu tenha ido muito bem numa prova de matemática financeira. Saí da sala e fui para casa, eu não iria assistir minha segunda aula hoje.

No caminho de volta eu mal respirei e finalmente, quando abri a porta da sala e entrei, eu deixei que as lágrimas saíssem e o nó na garganta se desfizesse. Me sentei no sofá soluçando um pouco e em menos de dois minutos Ron estava do meu lado perguntando o que tinha acontecido. Eu não falei a principio e ele não me forçou, apenas me deitei em seu colo e ele fez carinho nos meus cabelos até que eu me acalmasse.

—Harry Potter. - Disse quando consegui. - Foi isso que aconteceu.

—O que ele fez, Gina? - Me perguntou com os olhos arregalados.

—Ele nasceu. - Falei e voltei a chorar.

Ele pacientemente esperou que me acalmasse antes de continuar.

—Está mais calma?

Apenas assenti.

—Me conte o que aconteceu. - Pediu gentilmente.

—Você vai brigar com ele? - Perguntei estupidamente preocupada com aquele animal.

—Não sei. - Respondeu sinceramente.

—Prometa que não vai. - Insisti.

—Prometo, agora conte. - Disse impaciente.

—Ele me beijou. - Comecei ainda soluçando um pouco.

—A força? - Me perguntou assustado.

—Não, eu correspondi. - Falei olhando para minhas mãos. - Mas fomos interrompidos pela secretária gostosona da empresa, que falta se colocar numa bandeja e mandar entregar na casa dele.

—E o que ela queria? - Perguntou incentivando-me a continuar.

—Confirmar o horário do almoço dele com o Sr. Black para a uma da tarde.- Funguei audivelmente e continuei. - Eu estava decidida a aceitar seu convite para almoçarmos juntos dessa vez, mas como surgiu o imprevisto e eu estava envergonhada sai para o almoço assim que a biscate da Srta. Vane deixou a sala.

—E o que tem demais em não poder almoçar com você porque tem um almoço de negócios, Gina? Ele estava trabalhando. - Falou pacientemente.

—Acontece que o filho da puta não tinha um almoço de negócios. - Respondi segurando o choro. Ron me olhou interrogativamente. - Eu comi um lanche lá em frente ao escritório mesmo, e quando estava voltando vi Harry falando ao celular e entrando no carro, segundos depois a secretariazinha entrou no banco do carona e saíram juntos. - Cai no choro outra vez, Ron ficou quieto então eu respirei fundo e continuei. - Voltei para minha sala e trabalhei a tarde inteira sozinha, ele só pode retornar do almocinho de negócios dele mais de três da tarde. A Srta. Vane deve ser muito boa em alimentar as pessoas, né. - Falei sarcástica e limpando as lágrimas com raiva.

Ron ficou quieto depois que terminei, então olhei para ele e o vi com uma expressão de dúvida inquietante.

—O que foi? - Perguntei chorosa.

Ele suspirou antes de me olhar e dizer.

—Olha, Gi, Hermione e eu prometemos não nos meter nisso, mas eu acho que ela irá entender essa exceção. - Falou me olhando e eu não disse nada. - Hoje um pouco depois que você e Harry se beijaram ele me ligou para contar e parecia um adolescente com sua primeira namorada.

—Ele finge muito bem mesmo. - Falei emburrada.

Ele fingiu que não me ouviu e continuou.

—No meio da nossa conversa ele me disse que iria almoçar com o gerente de vocês, esse tal de Sr. Black, e saiu da sala enquanto conversava comigo. No caminho alguém o chamou, acredito que essa tal de Srta. Vane, e inventou uma desculpa qualquer pedindo a ele uma carona até a rua de trás porque estava salto, uma coisa assim. - Eu começava a olhá-lo mais interessada. - E ele não recusou, mas a partir dai começou a falar comigo como se eu fosse um cliente ou algo assim e uma hora me pediu socorro, no começo eu não entendi e comecei a rir, mas quando ela saiu do carro uns três minutos depois, a explicação que ele me deu foi exatamente essa: "essa mulher é louca, Ron, eu tenho medo de ficar sozinho com ela e ela me agarrar".

Eu ouvia atentamente.

—E me disse depois - Continuou. - que nos três minutos que ficaram no carro, mesmo no telefone, ela já tinha tentando acariciar a perna dele. - Bufei com raiva. - Quando eu perguntei se ela era bonita pelo menos, a resposta foi: "Sei lá se ela é bonita. Ela não é sua irmã, já é motivo suficiente para não deixar". E depois disso foi realmente almoçar com o Sr. Black. - E finalizou sua narrativa com a seguinte frase. - Aparentemente ele não mentiu pra você, Gina.

Me sentei rapidamente e me virei de frente para ele.

—E você acha que ele estava falando a verdade? - Perguntei sorrindo um pouco, foi inevitável não fazê-lo.

—Harry é um péssimo mentiroso, acredite. - Respondeu também sorrindo.

—Mas agora eu já neguei seu convite para sairmos. - Falei me encostando no sofá sem saber o que fazer.

—Hoje é terça feira, você tem até sexta para concertar isso. - Ron me disse e rimos um para o outro.

Fiquei pensativa alguns minutos antes de perguntar.

—Me fale como melhor amigo dele, você acha que eu ainda tenho chances? - Perguntei nervosa.

—Eu tenho certeza que sim.

Eu apenas sorri de volta, enquanto ele me olhava com um sorriso que dizia claramente que ele não se sentia muito confortável com isso, mas que continuaria me ajudando.

—Você é o melhor irmão do mundo, sabia? - Dei um beijo em sua bochecha e notei que ele ficou todo feliz com o elogio. - Posso dormir com você hoje?

—E você é uma interesseira! - Ele acusou com a cara séria e eu gargalhei. - Se ficar me chutando hoje de novo eu te derrubo da cama.

Ri de novo com seu comentário e fui até meu quarto buscar o travesseiro.

POV Hermione

Cheguei em casa em meu horário normal e Harry já estava, achei estranho porque ele sempre chegava bem depois de mim.

—Olá. - O cumprimentei. - Algum problema no trabalho?

—Oi, Mi. Não, só não estava conseguindo me concentrar. - Respondeu emburrado.

Eu resolvi não perguntar mais, ele me contaria se quisesse. Passei por ele e fui direto para o meu quarto, coloquei a bolsa sobre a cadeira da minha escrivaninha e comecei a trocar de roupa. Quando tirei a blusa e estava só de sutiã ele entrou sem bater na porta, eu me assustei.

—Que susto, Harry.- Falei tirando a blusa que instintivamente havia colocado na frente do corpo.

—Desculpe. - Disse sem parecer realmente estar se lamentando e sentou-se na minha cama. - Hermione, preciso da sua ajuda.

—Fale, Harry. - Me sentei também depois que já havia colocado outra blusa.

—Eu sei que você já disse que não vai se meter, mas dessa vez é diferente. - Começou e eu entendi o que era.

—Harry, eu não...

—Não, Mi, me escute primeiro. - Assenti e ele continuou. - Hoje nós nos beijamos.

—Isso não é bom? - Perguntei confusa.

—Na hora foi perfeito, ela me correspondeu instantaneamente e foi incrível. - Falou me olhando com os olhos bem abertos, típico de quando estava nervoso.

—E qual é o problema? Não entendi.

—O problema foi depois. Fomos interrompidos pela secretária que foi me lembrar que meu almoço com o gerente era hoje, então assim que ficamos a sós de novo ela saiu para almoçar sozinha. Quando sai ela ainda não tinha voltado e quando retornei à empresa ela me ignorou totalmente. Mesmo assim quando ela estava saindo para ir embora eu a chamei para sair e tentei acariciar sua mão.

—E qual foi a reação?

—Ela se esquivou do meu toque, apenas respondeu que não de um jeito muito frio e saiu sem nem me dar um motivo. - Terminou olhando para mim com cara de cachorro sem dono. - E eu preciso de você Mi, por favor, descubra por que ela fez isso.

Suspirei e olhei para ele.

—Harry, eu não tenho o direito de me meter nisso. - Falei calmamente.

—Não precisa se meter Hermione, só descubra por que ela me tratou assim que eu me viro com o motivo. Eu sei que ela vai te contar, ela te conta tudo. - Falou muito rápido. - Isso se já não contou.

—Não, hoje fiquei o dia todo em reunião, nem com Ron eu falei. - Respondi pensando no que ele estava me pedindo.

—Por favor, Mi. - Pediu de novo.

—E por que está tão desesperado? Foi só um beijo, não foi? - Perguntei querendo saber suas intenções.

—Por que eu acho que estou apaixonado. - Me disse olhando as próprias mãos.

Eu o conhecia bem o suficiente para saber que pelo menos para mim ele não mentiria sobre isso, então cedi.

—Tudo bem, Harry, eu descubro e te conto. - Ele me olhou sorrindo e eu o interrompi. - Maaas, eu não vou aconselhar ela a fazer nada só pra te favorecer, entendeu? Te digo o motivo e só, você que se vire com o resto.

Ele permaneceu rindo.

—Está ótimo, perfeito! Melhor impossível! - Disse rindo e se levantou. - Você é a melhor irmã do mundo, sabia? - Me deu um beijo no rosto e saiu quase saltitando de dentro do meu quarto.

O olhei rindo enquanto ele saia e depois troquei a calça social por uma leggie que era mais confortável, prendi os cabelos em um rabo de cavalo e fui me juntar a ele no sofá. Me sentei em sua frente e perguntei.

—E o beijo, me conta como foi.

Ele sorriu igual uma criança antes de dizer.

—Inexplicável. - Falou ainda sorrindo. - Ela é incrível, Mione. Nunca pensei que adolescentes pudessem ser tão tentadoras.

Nós dois rimos com o comentário.

—E você acha que ela gostou? - Perguntei olhando-o seriamente.

—A julgar pelo modo como agiu enquanto me beijava sim, ela até arranhou minha nuca. - Falou acariciando o local todo sorridente e eu ri com ele. - Mas sua reação depois que voltei do almoço me deixou em dúvidas. - Falou coçando a cabeça preocupado. - Será que eu beijo mal?

Nós dois rimos com a pergunta e pouco depois disso fomos jantar. Durante o jantar ele me perguntou impaciente.

—Você não vai ligar para ela?

—Hoje não. - Respondi calma.

Quando ele ia questionar continuei.

—Primeiro porque ela tem aula, depois porque se ela estiver irritada ou brava com alguma coisa e eu ligar só vou ouvi-la praguejar tudo e todos e não vai me responder nada. - Ele me olhou desconfiado. - Eu a conheço, Harry. Acredite em mim.

—E quando eu vou saber, então?

—Amanhã quando ela sair do trabalho eu ligo. - Prometi e quando vi que ele iria contestar me adiantei. - Harry, fique tranqüilo, ela não tem como fugir de você, trabalham juntos, esqueceu?

Ele suspirou conformado e depois disso eu até tentei conversar mais um pouco, mas ele não estava prestando atenção em mim, então quando fomos para a sala peguei alguns processos para rever.