In Your Life escrita por MonicaCFCosta


Capítulo 15
Capítulo 15




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~*~  

Cheguei na residência do meu pai uns quinze minutos depois de sair do hotel onde Matthieu estava hospedado.

            Estava já em frente á grande porta principal, porém faltava-me coragem para tocar á campainha.

            Olhei para o meu carro estacionado no caminho de areia branca e respirei fundo. Dei costas á porta dirigindo-me ao carro com a intenção de ir embora. Sim, eu iria desistir.

            Porém, ao longe vi uma SUV branca a chegar. Não conhecia o carro, mas sabia que agora não podia ir embora, pois quem fosse contaria ao meu pai que me tinha visto.

            Resignada tranquei o carro novamente e dirigi-me á porta.

            A SUV branca estacionou perto do meu carro e Clarice saiu do mesmo.

            -Debbie! – Cumprimentou sorrindo. – Como estás?

            -Clarice. Estou bem obrigada. – Cumprimentei. - Hã…o meu pai está?!

            Ela assentiu.

            -Não entras? – Perguntou.

            -Claro.

            Caminhei até á porta com ela ao meu lado, que contava sobre os preparativos do casamento. Não era um assunto com o qual eu me importasse, mas fingi interesse até alcançarmos a porta.

             Quando entramos fomos juntas novamente, até á sala de convívio, onde o meu pai estava, em frente á grande janela que dava visão para a entrada. Sendo assim, ele já me tinha visto muito antes de eu entrar na casa.

            -Querido olha quem eu encontrei lá fora. – Clarice comentou animada. Caminhando até ao meu pai e beijando-lhe os lábios.

            Nesse momento um quadro na parede chamou a minha atenção.

            -Bem, eu vou deixar-vos sozinhos. Com licença.

            Clarice abandonou a sala e fechou a porta.

            -Pensei que irias embora.

            -Vontade não me falta. – Respondi irónica.

            -Debbie… - Suspirou resignado. – Podemos falar sobre o assunto. Sabe que sim.

            -Sim, eu sei. Mas temo dizer coisas que nos magoem, e magoada consigo já eu estou.

            O meu pai assentiu e caminhou até ao bar. Servindo-se de whisky.

            -É servida?

            -Não. Obrigada.

            O meu pai pegou no copo levando-o aos lábios. De seguida sentou-se no sofá em frente ao qual eu estava sentada.

            Ele sorriu, triste, como se uma memória lhe ocorresse.

            -O quê?

            -Você é tão parecida com a sua mãe…

            -Não pai! – Exaltei-me. – Não fale da mãe, quando neste momento, tem alguém nesta casa a ocupar o lugar dela. Não!

            -Devia saber que a Clarice nunca irá ocupar o lugar da sua mãe! – Ele exaltou-se também. – Não é algo que eu queira. E nunca irei permitir que aconteça.

            Soltei um riso irónico.

            -Você não percebe pai! – Acusei. – Isso não é algo que possamos controlar. Pode muito bem acontecer sem você se aperceber disso. Você não controla tudo!

            O meu pai respirou fundo.

            -Talvez tenha razão, filha. Mas eu vou tentar! Algo que você também deveria fazer… Somos uma família, somos apenas nós agora.

            -Nunca pareceu! E não parece!

            O meu pai sorriu.

            -Eu sempre estive ao seu lado filha! Não é algo discutível…

            -Sim. Você sempre me apoiou…até á morte da mãe. Sim você sempre esteve ao meu lado…até á morte da MINHA mãe! – Comentei. - Depois disso, eu simplesmente era alguém com quem você tinha de conviver! E não diga o contrário. Sabemos que é verdade!

            -O trabalho era algo…

            -O trabalho?! – Sorri irónica. – Claro! O trabalho para o qual você apenas ia três vezes por semana para se apresentar nas reuniões mais importantes da revista. De resto, você fechava-se no escritório em casa. O problema sempre foi eu, não foi pai?!

            -È Debbie! Sempre foi você! Você e a semelhança com a sua mãe! Depois que Camille morreu, eu não consegui encarar a minha própria filha durante muito tempo. Tudo em si gritava pela sua mãe! Olhar para si magoava mais que perder a sua mãe, pois era como se perdesse você também!

            Eu fiquei espantada.

            -Não tenho culpa… - Comentei. – Nunca tive!

            -Sei que não! E eu nunca a culparia por algo em que só eu tive culpa! Você tinha apenas seis anos, não sabia o que era sofrer por alguém que já não podia ter ao seu lado.

            -Eu também a perdi! E também me doía! – Confessei. - Ainda dói…

            O meu pai alcançou o meu rosto e acariciou-me levemente.

            -Eu sei que sim querida! A mim também dói!

            -Não parece! Clarice é como…

            -Clarice é minha companheira. È quem eu amo agora! Não como eu amei a sua mãe, porque eu sempre a irei amar de uma forma avassaladora, Camille sempre foi e sempre será quem eu irei amar para sempre. Mas eu sinto-me sozinho e quando conhecia Clarice, ela afastou um pouco da minha solidão…

            -Você tinha-me a mim! – Acusei.

            -Eu sei que sim! Mas não é a mesma coisa filha! Eu precisava de me sentir amado e de amar alguém. Poder sentir algo que me consumisse, que me mostrasse que eu ainda estou vivo! Que ainda posso sentir. – O meu pai suspirou e voltou a sentar-se no grande sofá. – Doía ter de me afastar de você só porque era demasiada parecida como a sua mãe. Sempre me custou! Você não faz ideia.

            -Eu apenas sei que a mim também doía e eu nunca tive culpa.

            O meu pai assentiu e bebeu o resto da bebida contida no copo.

            - Nós dois não tivemos culpa nenhuma! A sua mãe…tomou decisões erradas na vida! Mas eu não a posso culpar!

            -Como assim? A mãe não teve culpa de me tentar salvar! Ela salvou-me de ser levada para longe de si, de vocês os dois e acabou sendo ela retirada das nossas vidas! Ela, ela sim, não teve culpa!

            O meu pai riu. E eu fiquei confusa.

            -Vocês sempre foram muito parecidas. Disso ninguém tem culpa. Talvez tenha sido pelas vossas semelhanças que você sempre se deu melhor com a sua mãe. Camille era…dedicada a você, filha. Ela amava-a mais que a ela mesma. Eu também a amo, sempre irei amar, afinal é minha filha, sangue do meu sangue, uma pequena parte de mim. – O meu pai voltou a encher o copo. Eu apenas ouvi-a o que ele dizia. – Mas todos os dias o colo da sua mãe era o seu porto seguro. Eu amava isso em Camille! Eu amava todo nela. – O meu pai suspirou fundo e sentou-se no sofá, com o copo nas mãos. – Nós nunca deixamos você saber sobre os problemas que apenas aos adultos diz respeito. Nós a protegeríamos de todo e de todos, e de nós mesmos se fosse necessário.

            -Sei disso, pai…

            -Deixe-me terminar. – Pediu. Assenti. – Quando você atingiu os quatro anos de idade foi nessa altura que eu e a sua mãe começamos a ter as nossas discussões mais…eu diria, graves. Naquele ano, eu entrei de cabeça num negócio que me parecia bastante lucrativo, de facto, ele era. Ele era tão lucrativo que eu em pouco tempo virei uma pessoa gananciosa, apenas via o lucro que aquele novo negócio me daria, mais um pouco para encher a nossa conta bancária. – Ele pausou, olhando a janela. - Quando eu falei sobre o negócio para a sua mãe, Camille deu-me total apoio e segurança. O negócio era a prolificação de uma cadeia de hotéis em diversos pontos turísticos de vários países. Um projeto dispendioso, mas como já referi, bastante lucrativo no fim de contas. E era tudo o que eu precisava de saber. Com a ajuda dos financiadores certos e algum dinheiro meu, o negócio seguiu em frente. – O meu pai suspirou novamente. Sentei-me de frente para ele no sofá branco. – Nos negócios eu era uma pessoa bastante realizada, porém em casa, eu começava a descuidar de você e da sua mãe. Eu senti, três meses depois de o projeto estar pronto para avançar, que a sua mãe fugia-me pelos dedos, como areia. Eu tentei de tudo para remediar a nossa relação, trazer de volta aquela paixão antiga, avassaladora, mas era tarde demais e eu percebi isso da pior forma possível.

            -Pai, o que aconteceu?

            -Bem, você crescia a um ritmo alarmante, ou então de tanto descuido da minha parte pela minha família eu perdi momentos importantes do seu crescimento. E acredito que realmente tenha sido a segunda opção. – Ele sorriu irónico. Bebeu mais um gole da sua bebida predileta e continuou. – A sua mãe era uma pessoa jovem e muito animada, sempre sorridente e nada a abalava a não ser as suas lágrimas, filha. Mas naquele pequeno período de tempo eu ouvia o seu choro descontrolado na casa de banho, á noite ela refugiava-se no seu quarto, horas seguidas, e por vezes encarava-me de forma assustadora. E o seu olhar demonstrava arrependimento. Por muito tempo eu fiz de conta que não se passava nada, ignorei tais reações. Até não aguentar mais ouvi-la chorar. Quando me cansei disso e a confrontei, ela destruiu-me e eu preferi ter ficado calado, não ter perguntado nada. Mas quando o assunto era a sua mãe, eu apenas não conseguia fingir durante muito tempo. A sua mãe traiu-me. – Ele explicou, olhando com os olhos marejados.

            -Não pai, ela nunca faria uma coisa dessas, não a minha mãe.

            -Esse foi o meu pensamento. – Ele limpou as lágrimas com as costas da mão. – Mas então a sua mãe começou a dizer que estava arrependida, que foi um colapso, um deslize. Naquele momento, enquanto ela chorava abraçado ao meu peito, eu nada consegui fazer. No dia a seguir a todo isso, eu fiz uma “viagem de trabalho”. Você ficou com Camille e eu fui para um hotel. Precisava de pensar, e se eu o fizesse perto dela, eu iria perdoa-lhe de imediato. Duas semanas depois voltei para casa.

            O meu pai pareceu recordar algo. Pelo menos era o que aparentava a expressão de nostalgia na sua face.

            Camille estava sentada na sala com Debbie no seu colo, brincavam com as bonecas da criança e cantavam uma música em francês que Camille ensinara á sua pequena. Mikael entrou em casa silenciosamente e fechou a porta, caminhando em direção dos burburinhos.

            Ficou deliciado com a imagem das duas mulheres da sua vida juntas. Era sempre assim que se sentia quando estava ao pé delas, completo.

            Alcançou a ombreira da porta e recostou-se nela.

            Minutos depois, a sua pequena menina reparou na sua presença e sorriu quando o viu. Mikael sentiu-se em casa. E isso era bom.

            -Papá! – Gritou a menina, que se levantou desajeitadamente e de seguida correu para os braços do pai.

            Mikael apertou o pequeno ser contra si. Sentindo a fragilidade de um momento, a vivacidade contida num abraço tão pequeno e tão forte.

            -Olá… - Sussurrou. – O que estavam a fazer? – Pergunta.

            -A mamã ensinava-me uma canção. Em francês. – Mikael sorriu com a linguagem da sua pequena. – E penteávamos os cabelos da Francyne. – Disse a menina referindo-se á sua, agora, boneca de eleição. Um presente da sua mãe.

            -Francyne? – Perguntou o pai confuso. – Acho que ainda não conheço.

            A menina riu com a atenção exagerada dada á sua boneca.

            Debbie puxou o seu pai pela mão levando-o para o centro da sala onde, Camille ainda sentada admirava o afeto que Mikael tinha pela sua pequena.

            Mikael foi obrigado a sentar-se junto de Camille e Debbie introduziu-o á sua boneca.

            Enquanto a pequena falava ao seu pai onde a mãe lhe comprar a boneca e o porquê, Mikael sentiu os olhares de Camille em si. Levantou os seus olhos da sua filha e encarou a sua esposa.

            -Está tudo bem. – Balbuciou. – Nós vamos ficar bem.

            Camille sorriu-lhe e ele suspirou aliviado.

            Tudo iria voltar a dar certo. Como sempre deveria ter acontecido.”

           

            -O que aconteceu a seguir? – Perguntou Debbie.

            -Dois anos depois aconteceu a sua tentativa de rapto. Bem a única coisa que tenho a acrescentar é que o cabecilha do grupo era o homem com quem a sua mãe…

            -Se envolveu. – Disse ainda surpresa. – E então?

            -E então nós superamos, e estamos bem agora, certo?

Eu levantei-me e sorri delicada para a minha figura paterna.

            -Sim. Acho que sim.

            O meu pai sorriu e caminhou até mim para me abraçar.

            -Obrigado. – Sussurrou no meu ouvido.

            De repente, a porta da sala foi aberta e Clarice entrou e sorriu vendo-nos abraçados.

            -Vejo que tudo acabou bem.

            -Sim. – Afirmou o meu pai aproximando-se dela e rodeando a sua cintura com o braço. – E o nosso almoço?

            -Era sobre isso que vos vinha informar. Está pronto, podemos ir.

            -Tão cedo?! – Exclamou o meu pai.

            Clarice olhou para ele de forma repreensora.

            -O senhor tem de deixar de beber whisky antes das refeições. Que tal?

            O meu pai negou com a cabeça mas sorriu.

            -Irei pensar querida, irei pensar.

            E saiu da sala em direção á sala de jantar cantarolando alguma música francesa.

            Olhei para Clarice que mantinha o olhar sobre ele e sorria. Ela parecia feliz assim como ele. E eu arrependi-me de ter agido mal com os dois.

            -Clarice? – Ele olhou-me. – Queria desculpar-me contigo pelo meu comportamento na festa…

            -Não. Eu não aceito as tuas desculpas.

            Fiquei confusa. Como assim?

            -Mikael e eu agimos mal contigo. – Ela explicou. – Deverias ter sido a primeira a saber sobre nós mas, no entanto, foste uma das últimas. E a verdade é que, apesar disso, és a pessoa mais importante que ele tem. – Afirmou. - E se tu estás feliz, ele está feliz e consequentemente, eu estou feliz. – Ela sorriu. – Só espero que tu me possas perdoar algum dia. Não quero que penses que apenas estou com Mikael por causa da conta bancária dele. Não é verdade, eu realmente gosto dele.

            Sorri para ela e aproximei-me mais de si.

            -Era apenas isso que eu queria ouvir.

            Foi surpreendida pelos braços finos dela que me abraçaram. Sabia que não seríamos as melhores amigas uma da outra, mas eu queria ter uma boa relação social com ela pois estava em causa a felicidade do meu pai.

            -Meninas? Vão demorar? – Perguntou o meu pai, sarcasticamente.

            -Vamos?

            -Sim… - Nesse momento o barulho do meu telemóvel a tocar preencheu a sala. – Podem ir andando, eu já lá vou ter.

            -Não se demore, querida. – Pediu Mikael.

            Assenti e atendi o telemóvel.

            -E enão como correu? – A voz de Matthieu chegou-me ao ouvido. Sorri automaticamente.

            -Foi tenso, mas nós conversamos. Acho que agora tudo vai correr melhor.

            -Finalmente! Vou poder conhecer o sogrão? – Brincou.

            -Como? – Fingi indignação. – Não mesmo!

            -Estás a falar a sério Debbie? Eu pensei que me amasses!

            -Desculpa?! – Brinquei. – Não me recordo de ter dito tal pecado. Na verdade, tu é que me adoras.

            -Amo. – Admitiu. O seu tom de voz era sério e assim que superei esse facto tentei mudar de assunto. – Debbie?

            -Hã… Eu meio que… Tenho de ir agora. Vou almoçar. Adeus.

            -Ade…

            Desliguei o telemóvel rapidamente, não lhe dando oportunidade de se despedir.


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