Amanhecer Com Os Volturi escrita por bella cullen


Capítulo 15
INSTINTO


Notas iniciais do capítulo

ATENÇAO!!!!!
GENTE ESSE CAPI NAO ESTA PERFEITO AINDA,PORQUE DEMOREI COMEÇAR A PREPARAR ELE,MAIS COMO JA TINHA DEMORADO MUITO RESOLVI POSTAR ASSIM MESMO!!!
NA VERDADE SO FALTA COLOCAR ALGUMAS FOTOS (SOU BEM DETALISTA)
NAO ME MATEM PELA DEMORA TA?!!



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PODEM TER SIDO ALGUNS SEGUNDOS, OU ALGUMAS HORAS. Eu não saberia dizer.

Em algum lugar da minha mente eu ainda tentava processar os últimos acontecimentos, mas era difícil discernir o que pertencia à memória dos últimos três dias e o que era dos últimos meses; dos últimos anos. Era estranho notar que eu nunca havia realmente enxergado nada. Não como eu enxergava agora. As cores que minha mente humana nunca foi capaz de processar, os mínimos detalhes de tudo o que me rodeava. De alguma maneira eu entendia agora como era fácil para um vampiro não notar o tempo passar, não como os humanos.

Tentei ficar focada nas palavras de Edward e me concentrar em uma coisa de cada vez. O caos das cores e dos cheiros estava deixando meus pensamentos confusos. Olhei fixamente para um porta-retratos que havia em cima de uma prateleira, isolando todo o resto. Em menos de um segundo, eu estava segurando a pequena peça de armação prateada e que continha uma foto minha e dele. Mesmo com o vestido de noiva e a maquiagem impecável que Alice fizera eu tremi ao ver o quão comum eu era perto dele e, antes que eu pudesse perceber como, o vidro se partira ao meio.

Eu encarei meio assustada, perguntando-me como tinha feito isso com tanta facilidade. Em algum lugar da minha mente eu sabia que minha força agora era maior até mesmo que a de Emmett, mas era estranho notar isso na prática. Eu pousei o porta-retratos de volta na estante, o barulho do vidro se quebrando ainda ecoando nos meus ouvidos e, mais como hábito não perdido do que qualquer outra coisa, ergui meus dedos esperando ver algum corte. É meio desnecessário apontar que não havia corte nenhum lá, entretanto havia algo singular. Minha pele estava perfeita – estava igual à de Edward.

A realidade da situação voltou a me atingir como uma onda. Eu era uma vampira. Eu mal me atrevia a respirar – não que eu realmente precisasse, mas, velhos hábitos não morrem fácil – enquanto girava minha mão na frente dos meus olhos, fascinada.

- Você está tão linda e continua cheirando maravilhosamente bem. – Alice apareceu no batente da porta, me encarando com seus olhos brilhantes e ansiosos. Eu pisquei por alguns segundos, me perdendo nos detalhes das linhas do rosto da minha irmã, que agora, muito mais que antes, parecia uma fada de mitos e lendas antigas; como se Alice brilhasse por si só, mesmo sem a presença do sol refletindo em sua pele.

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Só parei de observá-la quando a senti praticamente se jogando em cima de mim, me envolvendo em um forte abraço que parecia há muito tempo esperado por ela – era como se eu fosse alguém que Alice não houvesse visto por muito tempo e finalmente tivesse reencontrado. Eu a abracei de volta, deixando que aquele contato dela me desse um pouco de conforto e suplantasse a fome constante que não me abandonava.

Alice se soltou de mim, me observando novamente com o rosto sorridente.

- Quando você estiver mais controlada, vou fazer um vestido maravilhoso para você, para sairmos para comemorar. E também faço questão de desenhar a roupa de sua primeira caçada: imaginei um par de botas perfeito! Bonito e confortável para correr pela floresta.

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Fosse outra a ocasião; a Bella humana e não essa nova criatura em que eu me transformara aquele comentário certamente teria merecido uma revirada de olhos. Contudo, a simples menção da palavra 'caçada' fez minha garganta arder como se estivesse seca, meu estômago doer e minha boca se encher de saliva venenosa. Por breves segundos me imaginei, fora do quarto, correndo livre, me alimentando, sem remorsos, da primeira coisa que surgisse à minha frente.

- Bella... – a voz de Alice me chamou de volta, a preocupação impressa em seus orbes dourados – Você não vai fazer isso. Vai deixar Edward triste.

Eu balancei a cabeça para espantar aqueles desejos e pensamentos. Edward... Eu não poderia deixá-lo infeliz. Olhei ao redor, percebendo pela primeira vez que ele não estava mais comigo no quarto. Desde o minuto em que eu me transformara, apesar de não poder dormir, às vezes minha consciência parecia se transportar para outro lugar. Para os sons e cheiros além da nossa casa, talvez, até mesmo, para além da floresta.

- Onde ele está? – eu perguntei, sentindo uma pontada inesperada de medo.

Alice sorriu com doçura, fazendo com que meus receios diminuíssem um pouco.

- Lá embaixo, contando para os demais como você está menos Carlisle, que ainda está na porta, por precaução. Foi um custo tirar Edward daqui, sabia? Mas eu queria um momento "só de garotas" para nós duas.

Eu assenti ao mesmo tempo em que fechava os olhos, tentando discernir os barulhos ao meu redor, buscando a voz de Edward, sem sucesso. Antes que pudesse entender o motivo disso, um cheiro doce, que parecia uma mistura de mel e lilás, e lembrava um pôr do sol, quente e desejável, preencheu meus pulmões. Eu soube, imediatamente, que era ele, Edward, e senti-me um pouco mais tranquila.

Voltei a fitar Alice, que, esperava pacientemente que eu saísse mais uma vez de meus devaneios.

- Às vezes eu fico... Confusa... – eu falei meio que tentando me desculpar – Não me lembro de direito das coisas... Do que aconteceu... De quem eu era... O que poderia ter sido apenas sonhos e o que era real.

Alice pousou as costas de sua mão com delicadeza em meu rosto, carinhosamente, como a irmã que ela já era bem antes de minha transformação.

- É assim mesmo. Mesmo com o que descobrimos sobre o meu passado, eu não me lembro de absolutamente nada. Mas eu estava sozinha e no escuro, você tem a nós para te ajudar. Emmett está louco para caçar para você, Esme virá trazer seu lanche sempre que puder, Jazz vai fazer você se sentir mais calma...

Ela fez uma pequena pausa, antes de prosseguir.

- Você vai ter muito tempo para ver todo mundo, Bella. - Alice segurou minha mão, me puxando da cama. – Agora, você precisa se ver. Edward me prometeu que seria eu a apresentá-la à nova Bella.

Minha irmã me fez girar ao redor de mim mesma, em uma suave dança, que me lembrou dum balé improvisado. Talvez fosse apropriado, afinal, eu era um patinho feio que havia, finalmente, me tornado um cisne.

Entretanto, nenhuma das minhas expectativas me preparou para a imagem daquela estranha que eu via no espelho de corpo inteiro que havia no quarto. Se Alice não estivesse ao meu lado, me segurando pela cintura, eu poderia duvidar que estivesse realmente diante de mim. Eu havia me tornado exatamente tudo aquilo que Edward merecia.

Minha pele era alva e leitosa como a superfície de uma pérola, meus cabelos escuros caiam em cascatas volumosas pelos meus ombros, encaracolados e meus lábios, cheios, bem delineados e rosados se destacavam em meu rosto. Só não chamavam menos a atenção que meus olhos vermelhos. Um tom carmim tão escuro que quase parecia negro. Aquela visão me lembrou de quem eu era e me fez atentar novamente, para o anseio que todas as células do meu corpo gritavam e eu tentava ignorar. Postei a mão no ventre, tentando conter aquele desejo.

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- Eu ainda estou com fome. – murmurei de forma exigente.

Alice me puxou de volta para a cama, me guiando como se eu fosse uma garotinha. Segurando ambas as minhas mãos, ela ajoelhou-se diante de mim, sorrindo de modo carinhoso.

- Já pedi Edward para subir com seu lanche, ele vai estar aqui a qualquer momento.

Eu encarei a porta, meio confusa por alguns instantes, em seguida meneei a cabeça tentando me concentrar em algo concreto. O cheiro de Edward – mel e lilás – aproximava-se de mim. Era quase de certa maneira interessante a inversão dos papéis, agora a essência dele é que era absolutamente apelativa para mim. Entretanto, naquele momento, e provavelmente pelos momentos adiantes, não era o mais significativo. O meu lado racional lutava para me manter sã, mesmo diante da fome insaciável e do sentimento de aprisionamento. Em alguma parte de mim eu sabia que era o que teoricamente seria mais seguro, já o meu instinto implorava pela liberdade da floresta, do sangue quente descendo pela minha garganta.

Alice apertou minhas mãos com veemência e me tirou do estupor mental em que eu novamente havia me perdido. Eu olhei em seus olhos topázio, envergonhada, mas ela sorriu complacente. Eu ouvi o som dos degraus e assim que eu virei minha cabeça em direção à porta, Edward já estava lá. Uma térmica na mão, um meio sorriso no rosto. Eu senti o meu rosto se iluminar com a sua presença.

- Edward. – eu estiquei meus braços na direção dele e em menos de um piscar de olhos ele já estava entre os meus braços, beijando a minha testa.

- Estou bem aqui, meu amor.

Eu inalei o cheiro dele, enroscando os meus dedos na gola da sua camisa. A paz que ele me trouxe, entretanto, não durou muito. A minha fome, a minha sede não era fácil de ser esquecida ou aplacada.

- Eu estou com fome. – eu escondi meu rosto no seu peito.

- Eu trouxe um lanche. – ele falou calmamente, mas eu pude ouvir um pequeno tremor na sua voz.

Eu encarei seus olhos calmos, translúcidos, me perdendo neles por alguns segundos, até a minha sede me fazer virar em direção à térmica que ele havia trazido. Meus dedos foram em direção a ela, e eu entornei a garrafa como se a minha vida dependesse disso – talvez não a minha, mas a de outras criaturas, eu tinha certeza. O sangue estava morno, e eu podia sentir o gosto do metal da garrafa na minha língua. Não mencionei isso para Edward, mas eu não estava satisfeita ainda. Eu precisava de mais.

Edward retirou a garrafa vazia das minhas mãos e a depositou na mesa de cabeceira. Com o polegar limpou uma gota de sangue que escorria do canto dos meus lábios e sorriu para mim, com um suspiro.

- Me desculpe – eu pedi sincera. Eu sabia que ele havia entendido que não era o suficiente.

- Não é sua culpa. – ele parecia distante.

Eu coloquei minhas mãos no seu rosto e encostei minha testa na sua. Ele sorriu meia boca e meu estômago flutuou. Ele era a minha razão quando eu era nada além de puro instinto. Ele era a luz no meio da escuridão em que eu estava perdida.

- Diga que você ainda me ama agora.

- Eu te amo agora. Eu te amo para sempre.

Eu sorri e beijei os seus lábios levemente. Ele me abraçou, e nos seus braços, o tempo se perdeu.

Tão perdida eu estava na presença dele que quase não notei as outras presenças no quarto. Erguendo meus olhos escuros para o pórtico, eu vi – pela primeira vez realmente vi minha família.

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Esme e Carlisle eram os mais próximos e os dois me observavam com ternura parental. Emmett estava um pouco atrás deles, com um sorriso fácil no rosto e duas covinhas que, mais do que nunca, me fizeram lembrar-se de um grande urso de pelúcia. Alice se adiantara para Jasper enquanto eu tinha minha atenção concentrada em Edward e, por um momento, eu me deixei impressionar pelo número de cicatrizes ao longo do seu corpo. Eu sabia que aquelas cicatrizes eram resultados de prévios encontros com recém-nascidos, exatamente como eu era naquele momento.

Rosálie devia estar no andar de baixo com minha filha que estou ansiosa para conhecer.

 Uma onda de medo perpassou meu corpo. Medo de perder o controle. Medo de machucar as pessoas que eu amava. Quase que de imediato, uma onda de calma me alcançou e eu me senti relaxar minimamente – minha tensão era largamente influenciada pela sede e eu só imaginava que tipo de sentimentos Jasper estaria recebendo de mim e se tudo aquilo não era demais para ele.

Esme foi a primeira a se aproximar e, tão logo eu senti os passos leves dela reverberarem pelo chão, desviei meu olhar de Jasper para ela. Edward não se afastara completamente, mas dera espaço suficiente para que ela parasse de frente para mim, envolvendo-me num abraço surpreendentemente caloroso – eu ainda não me acostumara totalmente com o fato de que os corpos deles não tinham mais a textura de granito e a temperatura de um bloco de gelo sob meus dedos.

De imediato, eu correspondi, passando meus braços por baixo dos dela, um sorriso contente em meu rosto.

- Seja bem-vinda à família, Bella. – ela murmurou, afastando-se um pouco de mim para que pudéssemos nos encarar, uma expressão quase beatífica em seu rosto delicado – Seja bem-vinda de novo.

- Obrigada. – eu agradeci, tentando transpor em minha voz todo o afeto e admiração que eu sentia por ela.

Ela balançou a cabeça.

- Sou eu quem agradeço, Bella. – ela desviou o olhar para Edward, que estava agora sentado ao meu lado, com um braço por cima dos meus ombros – Todos os dias, eu agradeço por você ter entrado em nossas vidas.

Se eu pudesse, estaria chorando agora. Meu novo corpo, contudo, não me permitia tal fraqueza e tudo que pude conjurar foi um sorriso fraco, quase hesitante, incapaz de responder com palavras às emoções que eu via tão claramente em sua face.

Como se aquela fosse sua deixa, Emmett se plantou à minha frente, mãos na cintura, o sorriso aberto mostrando seus dentes brancos, as covinhas aparecendo em suas bochechas e, por um instante me perguntei como um dia eu podia tê-lo achado ameaçador.

- Não se esqueça de que você tem uma promessa a cumprir, irmãzinha. – o sorriso aumentou um pouco mais – Você me deve uma partida de queda de braço.

Eu quase podia sentir fisicamente Edward revirar os olhos do meu lado. A postura dele estava um pouco mais relaxada, espelhando a minha e eu senti esperanças de que me envolvendo no convívio com minha família, eu pudesse me manter mais sob controle.

Anoitecia quando eu me vi novamente sozinha com Edward. Emmett fora o primeiro a sair, a fim de providenciar mais uma rodada de sangue para mim e, desde então, eu já tinha sido brindada com mais duas garrafas cheias até a borda.

Carlisle e Esme tinham permanecido um pouco mais, até que outras necessidades os chamassem – houve uma estranha troca de olhares entre Edward e Carlisle, mas como as expressões de ambos não sinalizassem nada de errado, não dei muita atenção a isso.

Jasper e Alice foram os últimos a saírem. O tempo todo, Jasper mantivera a atenção fixa em mim e quase não falara. Não que Alice deixasse muito espaço para que ele ou outra pessoa falasse, disparando dez palavras por segundo sobre a última moda e tudo o que ela planejava me fazer vestir ao longo dos próximos... Não tinha bem certeza, mas pela quantidade, creio que uns vinte anos, no mínimo.

O tempo todo Edward permaneceu ao meu lado, de vez em quando penteando meus cabelos com os dedos, participando apenas esparsamente da conversa. Foi só quando estávamos novamente sozinhos que eu voltei toda a minha atenção para ele, maravilhando-me mais uma vez com suas feições angelicais e com a absoluta devoção em seus olhos. Ele sorriu para mim enquanto eu me içava para seu colo, mergulhando a cabeça contra seu peito.

- Você está feliz, Bella? – ele perguntou numa voz baixa e profunda.

Eu demorei um minuto para responder, embora soubesse perfeitamente qual era a minha resposta. Levantando a cabeça, eu fixei meus olhos sobre os seus. Se eu estava satisfeita? Não, a sede não me permitia estar completamente satisfeita. Se eu estava feliz?

- Eu passaria pelo fogo de novo, Edward, se isso significasse estar com você. – foi o discurso mais coerente que fiz desde minha transformação – Eu só posso ser feliz se você estiver comigo.

Não era uma resposta totalmente direta, mas foi o suficiente para que ele assentisse com um meio sorriso, voltando a me abraçar.

Os primeiros dias de minha transformação se passaram lentamente para mim, mais do que eu podia imaginar. Grande parte do tempo, eu entrava em estados prolongados de estupor, presa em algum detalhe novo que meus sentidos vampirescos captavam. Estava aprendendo a usá-los melhor, embora, paradoxalmente, aquilo me deixasse mais ansiosa. Havia um mundo completamente novo inteirinho para que eu pudesse descobrir. Contudo, eu quase nunca saía do quarto. Edward dizia que eu ainda não estava preparada, e eu acreditava nele. Não me deixaram ver minha filha ate eu estar completamente Sá, nem os Quileutes a viram ainda, não quis que eles a vissem antes de mim, mais me mostravam fotos dela.

Quando eu saía desses "transes", conversava com minha família, tentando me lembrar de exatamente de quem eu era, reaprendendo, relembrando, alcançando paulatinamente a essência da humana que eu fora um dia.

Edward quase nunca me deixava. Carlisle volta e meia aparecia para examinar meu progresso. Alice vinha me ver sempre que podia, contava histórias, penteava meus cabelos como se eu fosse uma boneca de porcelana. Emmett, pelo que eu sabia, era o mais empenhado em caçar meu alimento, que Esme, invariavelmente trazia em uma bandeja, em uma caneca com uma garrafa térmica ao lado, caso eu quisesse mais – e eu sempre queria. Era quase a visão de uma mãe trazendo chocolate quente e marshmallows, se esses houvessem sido extraídos de algum animal da floresta. Depois de Edward e Alice, Jasper era quem mais vinha me ver, para dividir suas experiências, para me dar doses diárias de tranquilidade e acalmar a ansiedade que rugia dentro de mim.

Assim, os dias se tornavam suportáveis dentro dessa rotina. Na claridade, eu era capaz de lidar com a sede; era a escuridão da noite que parecia querer me engolir que tornava tudo mais intolerável. Mesmo eu podendo enxergar perfeitamente durante a noite, a ausência do sol parecia mexer com minha percepção. Eu queria fugir para o negrume da floresta, me tornar parte daquelas sombras. Então, Edward me abraçava e murmurava a minha canção de ninar. Às vezes aquilo me deixava mais calma... Porém, nem sempre... Eu me perguntava até quando eu iria me refrear.

Naquela noite, pelas conversas que escutei entre minha família, eu soube que estaria praticamente sozinha. Preocupados em me alimentar, eles acabaram negligenciando um pouco eles mesmos, e Carlisle decidira sair em família.

Pelo que Alice me contara, antes de despedir-se de mim, iriam caçar um pouco mais longe, perto das montanhas onde me refuguei com Edward e Jacob quando Victoria estivera me caçando. Era raro a família toda sair em grupo para caçarem, preferiam ir em duplas ou trios, para não chamarem tanto a atenção.

Acho que não só queriam se alimentar, mas também dar a mim e Edward uma privacidade que não tínhamos desde o dia de minha transformação. Apenas Jasper ficara para trás, talvez a pedido de Alice, para evitar que eu me tornasse excessivamente agitada, o que acontecia de vez em quando, ao cair da noite.

Eu estava, naquele momento, encolhida, sentada no canto do quarto, completamente sozinha, abraçando meus joelhos. Podia escutar Jasper virar as páginas de um livro no andar de baixo e Edward caminhando na cozinha para me trazer o que comer.

Fora isso, o silêncio era avassalador. Não havia o barulho dos dedos de Alice correndo nos teclados do computador, arrastando o mouse ou desenhando roupas no tablet enquanto Jasper ficava absorto em montar e desmontar os mecanismos de uma pistola da época da Secessão, nem Rosálie e Emmett mexendo nos carros da garagem, ou Carlisle lendo um livro para Esme no quarto do fim do corredor. Eram todos esses pequenos ruídos que me distraíam da fome e da sede torturante que me perseguiam dia e noite, noite e dia.

Escutei a maçaneta da porta girando e levantei o rosto, encarando Edward com sua expressão angelical me trazendo uma enorme garrafa cheia de sangue até a borda. Meus olhos se prenderam no recipiente, cobiçosos. Mesmo sem ver a minha imagem no espelho, suspeitava que minhas íris deveriam estar naquele tom vermelho quase negro que a insatisfação do meu corpo refletia.

Ele me entregou a garrafa, e eu sorvi o líquido de uma única vez. Pareceu-me frio e viscoso, sem vida, sem sabor. Ainda assim, eu o tomei com voracidade. Eu podia sentir meus lábios e parte do meu rosto sujos de sangue. Meu estômago se revirou, exigente, e fui incapaz de esconder a dor que eu sentia.

- Não é o bastante. Você sabe que não é... – eu praticamente implorei.

Eu conseguia ver o sofrimento em seu rosto, apesar de ele tentar esconder. Se eu ainda fosse humana, talvez eu não tivesse percebido, mas, sendo vampira, era fácil notar os olhos dourados o traindo, assim como a rápida e discreta careta que comprimira seus lábios de veludo.

- Logo irá passar amor. – ele falou, com suavidade, enquanto limpava meu rosto com um guardanapo que trouxera. Ele pousou um beijo em minha testa, antes de se afastar minimamente e segurar meu rosto com uma das mãos, fazendo um leve carinho.

Contudo, nem o prazer que o toque dele sempre me proporcionava conseguiu apaziguar a fera que parecia crescer dentro de mim. O silêncio ao redor se tornava cada vez mais opressor, pois permitia que a voz da sede clamasse cada vez mais alto por aquilo que queria.

- Se você me ama, então por que não me deixa ir? – eu implorei novamente, deixando que o desespero que me corroia fosse claro o suficiente para ele.

- Porque eu jurei que a protegeria. Ainda que fosse de você mesma. – ele me respondeu.

Aquilo fez com que eu inconscientemente me afastasse do toque dele, soltando um grunhido que não parecia vindo de mim, mas de um animal selvagem e ferido. Eu não queria ter feito aquilo, eu realmente me odiava com todas as forças pelo eu que estava fazendo, especialmente ao perceber a tristeza cobrir o rosto perfeito de Edward. Contudo, a sede se tornara insuportável demais, eu alcançara meu limite, não tinha mais forças para resistir. Eu precisava fazer aquilo parar, do contrário iria enlouquecer. A verdade, é que eu já estava enlouquecendo. A razão já havia me abandonado por completo.

- Eu odeio o que você me transformou! – o animal dentro de mim gritou sem que eu conseguisse segurá-lo, enquanto a Bella que amava Edward com todas as suas forças se retorcia de desespero e arrependimento.

Edward tornou-se uma estátua sem vida, incapaz de esboçar qualquer reação, mantendo-se congelado onde estivera sentado. Eu não sabia se era o desejo de liberdade, a sede insistente ou o sentimento de culpa opressor que me invadia depois do que fizera ao amor de minha existência que me impulsionou quarto afora. Fosse qual fosse a razão, ou a mais forte delas, eu não poderia permanecer mais ali, talvez eu nem merecesse pertencer mais àquele lugar.

Desci tão rapidamente pelas escadas que nem senti os degraus sob meus pés. Jasper levantou-se do sofá, me encarando de frente. Tudo aconteceu em um milésimo de segundo. Minhas emoções turbulentas eram tão fortes, tão instintivas e animalescas que eu o peguei de surpresa, desestabilizando-o. Com um movimento, arremessei Jasper contra a parede da sala com a minha força de recém-nascida. Eu apenas queria ir embora... Apenas desaparecer.

Alcancei a porta, me dirigindo às sombras convidativas da floresta. Eu podia ouvir os primeiros passos de Jasper, que parecia ter se recuperado rapidamente, virem em busca de mim. Eu podia reconhecê-lo pelo som e pelo cheiro.

Continuei avançando, cada vez mais rápido, tentando aumentar o espaço que existia entre nós dois. Até que eu não pude escutá-lo vindo atrás de mim. Ele havia parado. Poucos segundos depois, os passos voltaram a ecoar pela mata, mas pareciam se afastar de mim.

Uma vozinha no fundo da minha mente murmurou que eu estava na terra dos Quileutes, mas eu a ignorei, incapaz de compreender plenamente o que aquilo significava.

Parei, momentaneamente, sorvendo uma golfada enorme de ar. Parecia até que era a primeira vez que eu sentia o ar da noite me envolvendo. Ele era frio, úmido e almiscarado. Assim como também era úmido o chão sob meus pés descalços.

Eu me deixei perder por um minuto para apreciar todas aquelas sensações, especialmente para apreender a noção de recém-adquirida liberdade. Depois de tantos dias confinados, era um deleite além do explicável por palavras poder correr completamente livre pela floresta, no meio daquela noite aparentemente sem fim.

Foi isso, então, o que eu fiz. Comecei a correr como nunca havia feito antes, testando meus próprios limites. Sentindo a floresta passar por mim como borrões verdes escuros, meus pés mal tocando o chão. Deixando que o olfato super-aguçado, e, agora, um pouco mais treinado, me guiasse ao que eu precisava tão desesperadamente. Bloqueando a minha mente para todo o restante. Esquecendo a linha de estragos que eu deixava para trás a fim de satisfazer as necessidades egoístas do monstro dentro de mim.

Meu nariz captou o aroma doce e inebriante que fez minha garganta queimar – embora eu não sentisse nada além daquela queimação insuportável que a sede provocava já havia dias – e minha boca salivar com veneno. Um rosnado baixo reverberou pelo meu peito.

Eu sabia que, naquela noite, eu me tornaria uma caçadora. Meus dias de presa tinham, finalmente, acabado.

O monstro estava livre.


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