Cap. 5

A Volta Por Cima

– “Calma aí, vamos ver se eu entendi...! O cara que traiu a Hi tá saindo agora com a cantora Ming-ming, e ela veio à Nova York começar uma turnê com uma ajuda do seu patrocinador, Tala, justamente o ex da Lane. Daí nós soubemos que o Ray é o amigo de infância da Mariah, noiva do cara de quem a Salima gosta (e do irmão dela, mas ele não importa), e ela veio com o noivo à Nova York convidá-lo pra ser padrinho do casamento deles. Também tem o fato do meu ex-flerte, Michael, ter voltado a morar em Nova York e ainda trazido a namorada junto. Então, a pergunta é... Qual o problema dessa cidade?”.

– “Você acha mais fácil culpar a cidade por trazer nossos problemas à tona, Meli? Porque, se for assim, eu digo que seria pior se tivéssemos ido pra Paris.”.

– “E, no entanto, essa era a sua primeira sugestão, Hilary.”.

– “Certo Lane, mas foi a Meli quem ficou botando boneco na hora de escolher, até finalmente optarmos por Nova York! Alias, foi você quem sugeriu esta cidade!”.

– “E agora a culpada disso tudo sou eu? Acham que eu queria ver Tala de novo?”.

– “Já chega meninas, não é culpa de ninguém!”. – Salima suspira, passando a mão sobre o rosto e parando um pouco na área dos olhos.

– “O que aconteceu para suas assombrações estarem perseguindo vocês?”.

– “De todos os males, Diva, acho que o maior a se considerar é o da Salima.”.

– “A Thalia tem razão, desculpe nossa indelicadeza Sali, você deve estar sofrendo bem mais do que todas nós juntas, não é?!”. – a ruiva encara a tela do celular e faz uma careta, digitando rápido antes de Melissa ter chance de prosseguir.

– “Do que estão falando? É ruim sim eu ver aqueles dois de novo, mas posso ficar melhor depois de um SPA.”. – ela aguarda alguns segundos para alguém responder.

– “Em que condições eu coloco?... Você é patética!”.

– “Sério? É Lane, eu sempre soube...!”. – a escritora sorri sem real vontade.

– “Nem adianta fazer de conta agora que aquilo não aconteceu!”.

– “A Meli tem razão! Bem que o Ray podia ter contado sobre a Mariah mais cedo, antes dela beijar ele na frente de todo mundo!”.

– “Foi um cumprimento na bochecha, nada demais Hilary.”.

– “Olha criança, até que você está se comportando bem para quem terá de ajudar o seu mais novo ‘amigo’ a fazer os preparativos do casamento da sua rival com o cara do qual você gosta. Isso é chegar ao fundo do poço!”.

– “Lane, NÃO ESTÁ AJUDANDO! Melhor parar de afundar a Sali no poço!”.

– “Mas o que eu deveria dizer Hilary? Ela fez a besteira de abrir a boca e dizer que sim quando aquela Mariah a convidou pra cerimônia! Se já era ruim a ideia de participar da celebração, imagine colaborar com a festa! E ninguém aqui realmente está feliz.”.

– “Pior que a Lane tem razão Sali. Não fique tão passiva criatura, se solta!”.

– “Sim Melissa, mas o que eu faço então? Não posso voltar para ele e nem consigo deixar de esquecê-lo! Eu sou terrível!”. – todas as amigas lhe respondem com emoticons zangados – “O que eu disse? Por que estão irritadas?”.

– “Acho que você não entendeu a quem nos referíamos... A gente falava do Ray.”.

– “Heim?”. – Salima puxa ar nervosamente – “Não Thalia! Eu sou amiga dele!”.

– “De novo, a quem você quer enganar? Todo mundo sabe que você tem uma baita queda por ele. Até chegou a fugir pra cozinha quando ele apareceu no apartamento com o Tyson.”. – Diva sorri consigo mesma – “A Melissa me contou.”.

– “Ah, sua dedo-duro!”. – a loira responde com um emoticon sorridente corado.

– “Você também parecia nervosa naquele almoço de ontem, e sentou ao lado dele, então foi bem fácil adivinhar. Por que está tentando negar?”.

– “Eu não estou! É só a verdade, não tem nada entre a gente! Pare de inventar mais do que existe, Thalia!”. – Keilhany suspira e bate o dedo nas teclas antes de continuar.

– “Tenho uma ideia. Essa conversa começou por eu ter achado uma informação da turnê da Ming-ming, então vamos esquecer essa história, sair agora da sala de bate-papo do hotel e nos reunir no quarto que Diva e eu estamos dividindo. Faremos uma festa do pijama, heim?!”. – as respostas são quase imediatas.

– “Boa ideia Thalia! Eu estou meio cansada de fazer compras.”. – Hilary responde.

– “Eu preciso comer alguma coisa bastante gordurosa, então vou arranjar os doces, principalmente muito chocolate!”. – Diva anuncia.

– “Já que é assim eu também concordo. Acho que eu já visitei todos os pontos de turismo e áreas de lazer da cidade em menos de uma semana; estou dura de pagar todos os táxis e também muitíssimo entediada!”.

– “Então podemos sair juntas amanhã Melissa. Eu estou com vontade de conhecer o Zoológico do Bronx.”. – Kailane cerra os olhos e digita velozmente.

– “Pelo amor de Deus Melissa, não deixe a Salima ir sozinha! Dessa vez ela pode acabar entrando na jaula de uma onça ou pior! Melhor ainda, por que não vão visitar o Jardim Botânico de Nova York? É menos perigoso!”. – as outras respondem com risos e emoticons de risadas, excerto a aborrecida amante de tigres.

– “Engraçado... Eu aceito participar da festa do pijama. E a senhora advogada?”.

– “Festa do pijama soa muito infantil, mas eu não tenho nada melhor pra fazer.”.

– “Ótimo! A gente se encontra em uma hora.”. – Keilhany sai da conversa.

...

No dia seguinte, mais relaxada, Salima decide fazer uma caminhada até a padaria mais próxima do hotel, pra comprar a especialidade dos bolinhos chineses, e na volta vê dois garotos com dificuldades para pegar um peão de cima do toldo fora do prédio. Gentilmente, ela deixa a bolsa e a sacola de compras no chão e estica o corpo para pegar o brinquedo, se abaixando para entregar ao menino mais próximo de si.

– Não deviam brincar tão perto da rua. – o garoto pega o brinquedo e sorri de volta – Eu acho que deram sorte do peão não ter sido atropelado. Prometam que vão procurar um lugar seguro para brincar. – ela ergue o indicador ao pedir.

– Tudo bem moça, e obrigado por salvar o meu peão.

– Claro! – a ruiva levanta e acena enquanto eles se afastam.

– Você leva jeito com crianças. – alguém diz ao chegar por trás.

– Ray?! – vira-se nervosa – Ah, eu...! Eu só...!

– Tudo bem? Parece que eu te deixo nervosa.

– O quê? Não, de jeito nenhum! Eu estava distraída.

– Então eu te assustei? Poxa, desculpa, não tive intenção!

– Eu sei. – ela toma fôlego e sorri – E o que está fazendo aqui?

– Eu vim olhar os itens que a Mariah quer no casamento dela, então... – antes que ele termine, a moça começa a andar para frente, com as mãos nas costas.

– Ah sei, e estou te atrapalhando, não é?! Eu vou indo então, até mais! – Salima se vira e passa pelo rapaz, acelerando os passos.

– Mas eu pensei que fosse entrar. – ele aponta para o prédio.

– Não, eu não ia! – ela se volta para mentir e vira novamente de costas.

– Então devo supor que está livre agora de tarde, certo?! – a zoóloga paralisa e gira nos calcanhares bem devagar, sorrindo torto.

– Eu... – passam-se mil e uma coisas na sua cabeça, menos uma negação – Estou.

– Quer vir comigo? A Mariah disse que queria sua ajuda, não é?!

– Ah é, mas eu não tenho tão bom gosto assim como ela disse!

– Então pelo menos me faça companhia. É meio constrangedor preparar uma lista de presentes de casamento, sabe. – a ruiva reflete e dá de ombros, aceitando o convite.

Nem bem meia hora após terem começado a andar, ela se sente meio engasgada e sufocada, como se tivesse comido algo no café para colocar pra fora. A divina presença do belo veterinário de repente parece desconfortável. Quando os dois entram numa loja e começam a verificar a prataria recomendada, a jovem se afasta. O suor das suas mãos é quase imperceptível, mas seu sorriso falso é o que mais chama a atenção de Ray.

– Salima? – antes de ele tocar seu ombro, ela se alarma – Por acaso está tudo bem com você? Estou te achando um pouco estranha.

– Não tem problema algum, por quê? – o rapaz ergue uma sobrancelha.

– Parece que estou te forçando a fazer alguma coisa.

– Não, você não está me forçando a nada! Desculpe se deu a entender isso.

– Então por que, sempre que estou perto, você se afasta?

– Bom... Talvez esteja imaginando coisas Ray.

– Não, eu não estou não! – ele segura-a pelos ombros e força a olha-lo – Por que não quer chegar perto de mim? Eu te fiz alguma coisa?

– Isso é uma pergunta muito indiscreta, sabe?! Embora não seja esse o problema...

– Pode só responder Salima, por favor? – a escritora ofega e fecha os olhos.

– Eu tenho meus motivos e não preciso contar! – ela sai correndo repentinamente.

...

– Sali, por onde andou? Estava te esperando há um tempão! Você não falou que ia fazer compras comigo hoje às nove? Já são quase dez.

– Eu sei Hilary, desculpe. – a ruiva suspira, chegando ao seu lado e encarando toda pilha de opções em sapatos na vitrine em frente – É que aconteceu uma coisa.

– E eu posso chutar e dizer que a “coisa” se chama Ray?

– É. A gente se encontrou na porta do hotel, depois de eu voltar da padaria, e ele já estava a caminho de preparar a lista de presentes do casamento da Mariah!

– E você foi ajudar ele ou algo assim? – Salima encolhe os ombros em resposta – Não acredito como você pode ser tão boba.

– Desculpa, mas se eu recusasse ele ia fazer perguntas!

– E como foi? – elas caminham até uma loja de roupas e entram – Conta pra mim.

– Não aconteceu nada demais, só olhamos umas coisas.

– Fala sério? Ele deve ter puxado algum assunto.

– Na verdade, ele achou estranho como eu me comporto quando estou perto dele e queria saber por que estava tensa. Não sei o que me deu, parecia constipação!

– Muito romântico. Então, sua resposta deve ter sido “eu te amo”, certo?! – Hilary afasta a primeira blusa que põe na frente da amiga e continua olhando.

– Você é louca? Eu nem sei mais o que eu estou sentindo!

– Sim, mas você gosta dele, não gosta?! Porque todo mundo vê isso, menos vocês.

– Hilary, eu realmente prefiro mudar de assunto.

– Ok, então qual dos óculos eu levo? – a morena põe dois modelos entre os olhos, sorrindo – Eu gostei mais do vermelho, mesmo o branco servindo com qualquer look.

– Não acha que já tem muitos óculos escuros? Pra quê vai comprar outro?

– Nenhum dos outros combina com meu vestido novo e eu preciso arrasar amanhã. – a ruiva levanta uma das sobrancelhas – Fala sério! Mato você se disser que esqueceu nosso passeio à Broadway amanhã à noite! – a zoóloga permanece quieta até fazer uma expressão surpresa – Não acredito! Decidimos o passeio ontem por votação na festa do pijama! Você escolheu o musical como opção!

– Sinto muito, eu realmente esqueci. Nem lembro mais o que eu queria comprar.

– Mas eu sim. Vamos agora mesmo pra sessão de roupas de frio! – Salima deixa a amiga arrastá-la e quando finalmente está abarrotada de opções de casacos ela vai para o provador, enquanto a cineasta espera do lado de fora.

– E as outras já escolheram o que vão usar? Está congelando agora!

– Sim, mas estou incomodada com uma coisa. O Tyson ligou ontem de noite, e eu não falei nada a elas, mas ele e os amigos também estão planejando ir ao teatro amanhã.

– E qual o problema nisso? Podemos nos divertir juntos.

– Bem, talvez o Ray não tenha tido tempo de contar a você, mas todas as pessoas que não queríamos ver nunca mais nas nossas vidas estarão lá também. – a escritora fica silenciosa por um tempo, então a cortina do seu provador abre num rompante.

– Ah não Hilary, eu não posso ir com ela lá! E ele, todos os dois!...

– Seja mulher Salima! Nada melhor do que mostrar para a Mariah como você pode competir com ela em estilo! Ah, e esse casaco ficou divino em você. Experimenta este.

– Nem pensar! – ela retira a peça que Hilary lhe mostra da frente do corpo – Com certeza vai rolar confusão se a gente ficar junto deles, e mesmo assim você quer ir?

– Meu amor, eu tenho muita autoconfiança, especialmente se for sobre aquela pop chiclete metida a besta. Ela pode ter me tirando um namorado, porém, jamais poderá me tirar a dignidade! Eu sou orgulhosa, admito isso, e se precisar vou com toda certeza dar uma rasteira de salto alto na, como diz a Diva, “gralha azul”! – a ruiva ri.

– E você acha que as outras vão ter a mesma opinião quando descobrirem?

– Certamente! Só nos resta mais uma semana até o Natal, e depois voltamos para a Inglaterra. Acha que todas vão querer desperdiçar tempo se escondendo?

– Mesmo assim, os outros estão em melhor situação do que a gente. Ming-ming, o Michael e a Mariah estão comprometidos, e aquele... Tala... Ele é rico e famoso.

– Grande coisa! Nós ainda temos pouca fama, mas nossa renda é muito boa! Agora veja só, se tratando de pretendentes... – a morena sorri maliciosamente – Não terá guerra enquanto tivermos nossas armas secretas sempre conosco.

– “Armas secretas”, né? E elas seriam exatamente...?

– Ora, o que mais? Tyson e os rapazes em nossas mãos.

...

Como Hilary previra, todas as moças do grupo aceitaram ir ao teatro mesmo tendo conhecimento da presença dos outros, contanto que os seus mais novos amigos fizessem companhia. Kai se prontificara a comprar os ingressos para o musical votado pelo grupo antecipadamente e assim, ao chegarem na hora marcada, cada cavalheiro de braço atado a sua dama, eles acabam se deparando com uma multidão nervosa.

– É por causa da gralha azul. – a cineasta diz simplesmente, tirando risadas de seus amigos, e puxa o braço de Tyson levemente – Vamos dar a volta. – ao contornarem todo o aglomerado, os olhos de Tala, acompanhando a cantora, por um momento se cruzam a alguns metros de distância dos de Kailane, e a surpresa passa claramente por eles.

– Talvez a noite possa ser mais divertida do eu que esperava. – ela sorri para Kai.

Continua...