Presta atenção em mim!!!

Eu existo!! Não é só por que a Laís está aqui que eu não existo mais!!!

Por favor mãe, pai, eu estou aqui, também existo, sou filha de vocês!!! Por favor, cuidem de mim.

Onde foram as promessas que iam estar sempre aqui? Onde foram as promessas de que eu era importante? As promessas que a noite quando eu ficasse com medo do escuro e começasse a chorar e em um instante vocês apareceriam e ficariam comigo até eu dormir?

Por que sempre que ela está aqui eu sumo?

Pai, por favor, e aqueles momentos em que eu ficava com medo no meio da noite e vocês me deixavam dormir na cama de vocês?

Por que agora, quando ela vem minha opinião não importa? Por que vocês sempre fazem tudo o que ela quer? Por que quando eu digo algo contrario do que ela quer vocês brigam comigo?

Eu quero voltar a época em que tudo que eu fazia era fácil, certo, bonito. Quando vocês não viam minhas falhas e sempre estavam aqui comigo.

Por favor podemos voltar aquela época?

Mãe, por que quando eu falei da viagem para os Estados Unidos em julho, quando a Raissa me chamou pra lá você disse que não daria tempo de juntar todo o dinheiro, mas quando soube que a Laís ia mudar de casa, gastou mais de 2.000, o preço da passagem só pra comprar coisas pra ela? Você sempre soube que era meu sonho ir para os Estados Unidos, e quando eu tenho a chance, mesmo de ficar lá por um mês, nós não temos dinheiro, mas pra comprar um frigobar e mil e uma coisa para o novo apartamento da Laís nós temos esse dinheiro?

Por que ela é sempre mais importante que eu?

Por que ela é sempre mais perfeita que eu?

Por que ela é a junção perfeita de vocês dois e eu simplesmente pareço uma copia mal feita?

Por que ela tem seus cabelos castanhos pai, e seus olhos azuis mãe, a pele no tom perfeito, o rosto perfeito? Enquanto eu tenho a pele branca que não veio de nenhum de vocês, os seus olhos castanhos pai, e antes tinha seu cabelo loiro mãe?

Por até mesmo o Cassio, seu filho mais velho não se compara a ela?

Por que sempre que vocês falam comigo vocês me comparam com os dois e resolvem que eu me pareço mais com o Cassio, o primeiro filho que não deu tão certo quando a segunda filha perfeita?

Por que vocês não percebem que toda vez que vocês me ignoram eu morro um pouco mais por dentro?

Que talvez essa anemia brava que eu tenho, seja só por que eu nunca tive vocês comigo me ajudando a comer nas horas em que só olhar para a comida me fazia querer vomitar.

Mas eu acho que vocês deveriam ter orgulho de mim, pois mesmo que eu estivesse passado mal, que eu não conseguisse respirar, eu nuca ligava no trabalho de vocês, nunca atrapalhava na loja, eu sempre me forçava, e ainda forço a ir a cozinha pegar algo pra comer e depois fico no sofá.

Por que vocês acham que depois da morte do vovô eu comecei a ler compulsivamente? Comecei a parar de comer? Comecei a ir mal na escola?

Não é a adolescência que vocês insistem culpar! Nunca foi!

Eu comecei a fazer essas coisas por que ele era o único que me via simplesmente como Lara. Ele não me via como a cópia imperfeita da filha perfeita. Ele não me via como a neta que ia sempre na casa dos avôs e ficava lendo um livro ou jogando jogos na copa. Ele não me via como a sobrinha que não conversava muito.

Ele me via como Lara, a netinha que adorava sair com ela para passear de carro, comer laranjas dos degraus da frente, que amava sorvete de milho verde e de ir sentar no colo dele quando não tinha o que fazer.

Vocês nunca precisaram entender o que é ser comparada a irmã perfeita, e agora a prima perfeita também.

Mãe, você foi a segunda filha, você e a tia Bia eram inseparáveis.

E pai, você foi o primeiro filho, sempre cuidou no tio, nunca teve nas costas o peso de dois irmãos mais velhos para superar. Nunca teve que tentar ser a expectativa de toda uma família.

Talvez sejam os 11 anos que me diferenciem da Laís.

Ou talvez eu simplesmente não tenha nascido como vocês queriam.

Eu me sinto meio estupida, sabe.

Eu que sempre disse que vocês me amavam, mesmo com tudo isso acontecendo, estou perdendo as esperanças. Estou começando a acreditar que vocês não me amam.

Sabem o quando deve ser desesperador uma filha achar que os pais não a amam mais?

Vocês nunca percebem que a noite, as vezes quando vou para o meu quarto eu começo a chorar. Eu aprendi a esconder, a disfarçar.

Eu acho, que nunca terei coragem de contar essas coisas a vocês não é?

Eu até já sei o discurso, quase ensaiado, que vocês fariam:

Lara, isso é mentira querida. Eu e seu pai amamos você demais.

Nós nunca esperaríamos que você seja igual a Laís, nós sabemos como você é.

E você é perfeita assim.

Depois vocês sorririam e perguntariam se eu estava melhor e se tinha entendido.

Eu diria que sim e vocês beijariam minha bochecha e iriam trabalhar.

È, eu nunca contarei isso a vocês.