Depois da minha mãe enviar Dan pro escritório sabe-se lá como, era nossa vez de nos dirigir pra lá, mas não com tanta comodidade, infelizmente, tínhamos que ir andando.(Aparentemente o teletransporte não era muito agradável já Mitsra chamou-o de pequenas situações traumáticas macumbeiras que podem ser evitadas.)

- Você tá bem, minha coisa fofosa? – Minha mãe me perguntou, balançando as pernas nos meus ombros.

- Ah... Estou bem sim, mãe. – Estranhei o sentimento de ser paparicada por uma boneca. Parecia que Mitsra tinha saído de um festival de Barbies mamães que falam.

Jim, que estava andando na frente junto com Sam estacou. Olhou pra minha cara meio abaixado e as sobrancelhas erguidas.

- Filha, pode me explicar o que é isso? – Ele apontou com o polegar por cima de seus ombros.

Olhei pro local indicado e vi Taus segurando uma filmadora com a linguinha pra fora e fazendo joinha.

- Essa vai pro “Casos de Família”!! Tenho certeza que será um viral do YouTube!!!! – Segurou seu queixo pontudo e assentiu com a cabeça.

 Meus pais me olharam com uma cara de: “O que essa porra tá fazendo?”. Dei um sorriso amarelo.

- Er... Mamãe, papai, esse é Taus, o primo do Dan. Aparentemente ele quer estudar aqui também. – Meus pais se encararam e deram de ombros, Jim retornou a caminhar feliz, Mitsra, que já tinha perdido o interesse em Taus foi irritar seu marido. O bom é que meus pais são bem conformados com as coisas.(Diretor Chrow principalmente)

O demônio prosseguiu ao meu lado, revendo o vídeo, dando risadinhas e soltando “Ais, ais”. Algo pegou a filmadora por cima dele que, revoltado, virou-se de supetão e deu de cara com o Sam (Na verdade a coxa dele, já que Taus não era lá grandes alturas) segurando desdenhosamente o objeto roubado acima de sua cabeça, fazendo-o balançar.

- Se tentar fazer mais alguma coisa, jogo você e essa caixa mágica numa privada e dou descarga, entendeu? – Meu irmão falou ameaçadoramente com um sorriso singelo nos lábios. Taus se apressou em concordar com a cabeça e dar pequenos pulinhos para alcançar sua filmadora, que Sam abaixou e o demônio pegou e guardou com um semblante magoado.

Apressou-se em correr de Sam, andando logo atrás de Jim e Mitsra - esta se ocupava de puxar pelos da orelha de seu marido - e tropeçando no processo. O anjo deu um risinho orgulhoso estufando o peito ao meu lado.

- E aí, maninha, gostou? Ou prefere que eu me vista de Lady Gaga ou enfermeira antes? – Brincou, fazendo sua voz ficar nasalada novamente.

- Quero ver você com sua fraldinha de cupido. – Provoquei, ele fez um bico e fingiu observar a paisagem do lado contrário ao meu. Dei uma risadinha.

- O que foi??!! – Ele se virou irritado e um pouco corado.

- Nada, é que pensando bem, você não mudou muito desde a época que realmente usava fraldas, então achei que combinou muito com você.

- Não combinou nada. – Virou um pimentão e me deu uma chave de braço. Bati nos braços dele e fingi que estava asfixiada. Ele me soltou rapidamente e segurou nos meus ombros. – Você está bem? – Os olhos azuis dele me encaravam sérios. Não agüentei.

- Hahahahahahaha!!! Tinha que ver sua cara!!! – Gargalhei. Ele ficou com uma cara de bravo por, no máximo, 5 segundos e caiu no riso também.

- Pft... HAHAHAHAHA!!! Você ainda me paga!!!

- Ei, crianças. – Reclamou Jim lá da frente. – Mais baixo, por favor, que só consigo processar uma coisa, ou vocês, ou sua mãe. Ai, Mitsra!!!

- Desculpa, amor. – Ela falou em tom de falso arrependimento, enquanto estendia vitoriosa um longo pelo. Chrow revirou seus olhos. Próxima boneca que compraria para ser o corpo de sua esposa seria da coleção “Barbie no Hospício”, camisas de força incluídas para milagrosamente vetar os movimentos acalmar pequenas feras.

--x—

Chegando no escritório de bonecas do meu pai (e agrupando 8 cadeiras pra deitar Dan em cima), nos sentamos novamente nas cadeirinhas pequenas demais pra qualquer pessoa que não seja uma boneca vodoo.

Diretor Chrow maneou a cabeça enquanto pigarreava, chamando desnecessariamente a atenção de todas as pessoas (que não eram ninguém além de mim, Sam, Taus, e meus pais, ah, e Dan, de espírito) da sala.

- Olha, me dói muito fazer isso com meu próprio filho, mas é preciso. – Jim começou e fez uma pausa talvez dramática (depende muito da pessoa e quanto ela conhece Chrow). – Você receberá uma punição.

Todos ficaram quietos, porém o silêncio não durou muito.

- Que-e-e-em quer torta!!?? ~ – Gritou Mitsra, dando uma pirueta.

- E-e-e-eu!!! ~ -  Respondeu meu irmão de prontidão, levantando a mão ao ar em questão de segundos. – É de que?

- De jiló. – Respondeu minha mãe satisfeita, entregando um prato com algo que em prática era torta. – Acho que está maravilhosa! Eu mesma que fiz!

Eu suspirei aliviada de não ter pedido, Taus já tinha posto a sua filmadora à postos de novo e fazia um vídeo de um moreno suplicando pra mim e olhando com ódio pra câmera.

- Você não quer também, filha? – Indagou Mitsra enquanto colocava obrigatoriamente a gororoba no prato do marido, que tinha uma expressão de derrotado. Suei frio.

- N-não, mãe, obrigada!!! Acontece que estou de dieta.

Ela me olhou com certa desconfiança, mas deu de ombros, se encaminhando pra nova vítima, Taus, que já dava um sorriso amarelo enquanto a filmadora tremia em sua mão.

- Só cuidado pra não acabar passando mal com esses regimes malucos.

- K-Khum – Tossiu meu pai, eu não sabia se era pra chamar atenção novamente ou se ele tinha se engasgado com a obra prima da esposa. Resolvi prestar atenção. – Bem, então, alguém tem uma sugestão pra uma punição ao Sam?

Pensei com meus miolos que só comer aquela torta envenenada já era uma punição, mas deixei quieto.

Teve tantas sugestões quanto teria quando uma professora rabugenta e exigente de geografia pergunta se alguém quer responder a questão.

- Olha, se ninguém der uma sugestão vou arranjar uma, e não prometo que vá ser leve.

- Que tal eu ser obrigado a usar lacinhos rosas pelo resto do ano? – Opinou Sam.

- Como se você precisasse que te obriguem. – Bufou o diretor. Já perdendo a cor verde de seu rosto, pois podia parar de comer a torta pra falar.

- Por que você não faz ele tomar conta de Taus? – Opinou minha mãe. Imediatamente Sam e Taus olharam surpresos e alarmados para ela, sacudindo a cabeça em negação. Ao ver isso meus pais sorriram maliciosamente.

- Isso!! Maravilhoso querida!!! Assim matamos dois ornitorrincos numa...

- Dois coelhos – Soprou Mitsra baixinho.

- Dois coelhos – Corrigiu. – Numa cajadada só. Um toma conta do outro. Taus não fica perdido, nem Sam tem chances de fugir.

Um clima pesado e raivoso se instalou no ambiente.

- Alguém quer mais torta? – Mitsra arriscou.