CAPÍTULO 7

ALICE POV

E finalmente chegou o dia. Harry e eu saímos de seu Audi, pegamos nossas coisas e apertamos a campainha.

Ambos estávamos cansados, mas alegres. Viajar com Styles era algo legal, uma vez que passávamos o trajeto todo cantando e rindo de bobagens.

Mordi o lábio enquanto ninguém vinha abrir a porta. Estava ansiosa para finalmente rever Anne, Gemma e Robin.

A casa deles em Chesire ficava numa vila chamada Holmes Chapel, onde Harry tinha nascido e morado até o início do sucesso da One Direction. Styles adorava falar como nenhum lugar do mundo se comparava com sua terra natal.

Comprovei suas palavras. Chesire, e em especial Holmes Chapel, era muito bonita. Uma cidade arborizada, com um ar de frescor e jovialidade. A casa dos Styles - que tinha sido a mesma desde o nascimento de Harry - era grande e tinha o exterior todo pintado em tons pastéis.

– Está gostando? - Harry me indagou.

Sorri em resposta.

– É tudo muito lindo por aqui - comentei.

Styles retribuíu meu sorriso.

– Fico feliz que esteja gostando. Trouxe uma amiga aqui uma vez e ela odiou - confessou, dando de ombros.

Dei uma risada.

– Styles, suas "amigas" geralmente estão interessadas em outra coisa - insinuei.

– Você é minha amiga... O que quer dizer que também está interessada em outra coisa? YES! - Provocou.

Bufei.

– Não começa, Harold - pedi, revirando os olhos. - E eu sou sua melhor amiga. É diferente.

Harry ia retrucar, mas o barulho da porta se abrindo o impediu.

– MÃE! O HARRY E A ALLIE CHEGARAM! - Ouvimos Gemma berrar antes de se atirar sobre mim.

Por causa da força com que fui acertada, dei uns três passos para trás enquanto a irmã de Styles me abraçava.

– Ai, que saudade! Tenho tanta coisa pra te contar, espero que tenha novidades também! - Gemma falou, fazendo-me rir pela rapidez com que ela falava.

Styles pigarreou.

– Seu irmão volta para casa depois de tanto tempo e você vai abraçar ela? - Apontou para mim. - Estou decepcionado, Gemma. - Fez drama.

Gemma correu para o irmão e se atirou sobre ele, também murmurando sobre o quanto estava com saudade.

– Você devia passar um tempo com a gente em Londres - murmurei. - Meg está louca pra te conhecer!

A irmã de Harry me encarou, animada.

– Também estou louca para conhecê-la! Principalmente depois daqueles conselhos que você me repassou! - Confessou.

Styles nos fitou, confuso.

– Posso saber que conselhos foram esses? Vindo da Megan, já posso até imaginar...

Limitei-me a dar uma risada.

– Coisas de mulher - Gemma e eu murmuramos em coro, fazendo Harry bufar e dar de ombros.

– Desisto de entender vocês.

(...)

Depois de me acomodar devidamente no quarto de hóspedes, Gemma e Harry fizeram questão de me mostrar o resto da casa, sempre contando histórias sobre coisas que haviam acontecido em tal local.

Achei divertido. Apesar de implicarem um com o outro várias vezes, os irmãos Styles se davam muito bem.

Passamos o resto do dia descansando e conversando. Anne fez questão de me contar curiosidades sobre Holmes Chapel, as quais eu ouvi com atenção. A mãe de Harry era uma mulher sábia e alegre, era impossível não gostar dela.

Robin, marido apaixonado que era, nos fez companhia durante todo o tempo. O amor deles era muito bonito e eu tinha certeza de que Styles se orgulhava disso.

Durante vários momentos, as coisas que Megan me dissera antes de viajar ficaram em minha mente.

Eu via a maneira como Anne e Robin se olhavam e começava a imaginar o dia em que Harry arranjaria alguém que o fizesse se sentir daquela maneira. Isso me dava frio na barriga, porque Styles era o cara que sempre estava comigo, se destacando mesmo entre os outros garotos da One Direction.

Mesmo tendo seus momentos de retardado, eu o amava e ele era meu melhor amigo. Mas ele tinha sua vida. Eu sabia muito bem disso, pois enxergava com meus próprios olhos a rotina daquela família incrível.

Harry tinha sua família, um lugar para estar em qualquer momento e logo poderia ter outro, assim que encontrasse uma garota especial. Os outros fariam o mesmo, acho que até Megan ficaria mais quieta a ponto de constituir uma família - ainda que tão louca quanto ela.

Então, daqui a uns anos, eu estaria sozinha novamente. Podia até cuidar de minha pequena meia-irmã, mas eu sabia que ela faria suas próprias amizades e talvez se sentisse melhor saindo com gente da idade dela. Qual é, eu era 16 anos mais velha que ela!

À noite, depois do jantar, resolvi me recolher, já com o humor modificado depois de tantos pensamentos. Esperava de verdade que os Styles não tivessem notado meu real estado mental, porque não os queria preocupado com coisas que só eram da minha conta. Meus problemas, coisas minhas: eu devia resolver e mais ninguém. Não devia sobrecarregá-los com meu estado - às vezes - deprimente.

Jogada na cama de casal do quarto de hóspede dos Styles, voltei a refletir. Era bom fazer isso sozinha. As palavras de Simon me vieram a mente...

– Em alguns momentos você vai se sentir muito sozinha, meu bem. Mas seja forte, você não precisa de ninguém além de si mesma. Lembre-se disso. Quanto menos pessoas, menos decepções pra você, meu anjinho.

Balancei a cabeça.

– Você estava errado, papai... - Murmurei baixinho. - Talvez seja muito ruim ficar sozinha.

Foi a vez das palavras de Megan tomarem conta dos meus pensamentos, travando uma batalha contra as do meu pai.

– Dá uma chance pra algum cara, vai. Melhor ainda: pra vários! - Exclamou, abrindo um sorriso. - Só uma chance, sem compromisso, sem pressão. Você não é obrigada a casar com o garoto só porque conversou com ele, ou dançou com ele, ou o beijou, ou fez s...

– Ok, para! Eu já entendi! - A interrompi, rindo.

As palavras de Meg sempre acabavam naquele ponto.

– Então, vai me ouvir? - Perguntou para mim.

Refleti.

Talvez Megan estivesse certa. Eu havia tido amigos de verdade e me apaixonado por um cara uma vez e aqueles foram os melhores anos da minha vida.

Eu havia perdido aquilo quando Danny terminou comigo. O que me levava a outra discussão interna: Por quê? E por que ainda não havia voltado a falar com nenhum deles, mesmo depois de tanto tempo?

Criança estúpida, era isso o que estava sendo. Aqueles caras, querendo ou não, haviam feito parte da minha vida. Eu devia pelo menos consideração a eles. E daí se eu ainda amasse Danny? Falar com os outros garotos da McFly iria me matar por acaso? Eles também eram meus amigos!

E Logan, que havia sido presente em tantos anos da minha vida, por conta das gravações de Percy Jackson?

Fechei os olhos com força. Queria me matar por ter sido tão estúpida durante tanto tempo. Eu criticava e não queria ver meu pai, mas sua presença e seus conselhos haviam assombrado minha mente durante todo esse tempo.

Era chegada a hora de me libertar daquilo. Mesmo que demorasse, eu conseguiria. Mesmo que não quisesse me livrar de todas as coisas, porque algumas funcionavam.

Estava na hora de dar uma nova chance a mim mesma, conhecer pessoas legais e talvez até sair para um encontro.

Respirei fundo e ouvi batidas na porta do quanto.

– Entra - murmurei.

Gemma adentrou o quarto sem nenhuma timidez, jogando-se ao meu lado na cama.

– Deus, quando você se tornou tão extrovertida comigo? - Perguntei rindo. - Aliás, quando eu te dei toda essa ousadia?

Ela sorriu e virou-se para me encarar.

– Desde aquele dia que você não aguentou mais me ignorar - comentou. - Eu sei, eu sei, na hora você só estava com pena porque eu estava toda deprimida chorando por um idiota.

Um sentimento de culpa se abateu sobre mim.

– Ei, eu me identifiquei com você naquele momento - tentei me defender. - Não foi só pena.

Ela revirou os olhos e riu.

– Tanto faz, de qualquer jeito eu ganhei uma grande amiga! - Abraçou-me.

Sorri. Eu também havia a ganhado. Gemma era romântica e sonhadora, mas tão boa amiga quanto Meg. Eu ainda apresentaria as duas e formaríamos o trio mais bizarro e legal da face da terra.

– E aí, o que a traz até este quarto? - Perguntei, apontando para o local ao meu redor.

– Novidades. Tenho que te atualizar - declarou.

Fiquei curiosa.

– Pode começar.

Gemma sorriu sonhadoramente enquanto começava a falar:

– Conheci um cara. Ele é bem diferente do meu ex, mas mesmo assim... Sabe, é incrível! Eu achava que nunca voltaria a sentir borboletas no estômago de novo - comentou, sorrindo abobalhadamente. - Ele me chamou para um encontro amanhã.

Arregalei os olhos.

– Não acredito! Está toda apaixonada assim e nem me mandou um email para contar? Decepção, Gemma! - Fiz drama, fazendo-a rir.

– Eu quis esperar para te contar pessoalmente! - Se defendeu. Mordi o lábio e fingi pensar.

– Ok, argumento válido. Então, tá ansiosa? - A indaguei.

– Muito! Ele é super carinhoso e parece se importar de verdade comigo. - Suspirou, imersa em seus próprios pensamentos.

– Pela sua descrição, ele parece ser seu príncipe encantado - concluí. - Mas dizem por aí que não se pode confiar em palavras de gente apaixonada...

– Besta! - Ela me xingou, rindo. - Não estou apaixonada, pelo menos ainda não. Só o acho uma gracinha! E ele adora cozinhar, assim como eu! - Suspirou novamente. - Sabe, acho que nem lembro mais o nome do meu ex!

A encarei, pasma.

– Sério? - Pisquei. - Quero dizer... Só por estar saindo e conhecendo alguém novo você fica assim?

Ela deu de ombros.

– É legal, você se sente valorizada, sabe? Alguém tentando te impressionar, encontros, essas coisas todas... E o frio na barriga! Ah, tudo isso é muito bom - declarou alegre.

Sorri. E se aquilo funcionasse comigo?

– Depois do Danny, eu nunca tentei me envolver com outra pessoa. Na verdade, acho que fugi disso - confessei com uma careta.

Gemma me encarou.

– Você devia tentar! Ajuda muito. - Argumentou.

Dei um sorriso triste.

– Não sei, Gemma. Acho que perdi o Danny por ter problemas demais. Às vezes, eu sinto que desisti de nós dois e isso fez com que ele fizesse o mesmo. Sou tão problemática que nem o cara que mais me entendia aguentou - dei de ombros. - Ele pediu que eu provasse que o amava depois de uma dessas brigas e eu não o fiz por orgulho.

Gemma me abraçou mais forte.

– Ei, calma. Todo mundo erra, sabia? E quem sabe vocês não conversam qualquer outro dia desses, hein? - Tentou me animar. - Sério, muitos casais decidem voltar assim. Mas isso não quer dizer que você precisa esperar por ele pra sempre. Tem que seguir sua vida.

Seguir sua vida. Todos me falando que eu devia "seguir com minha vida" ou dar uma chance a mim mesma.

– Ainda bem que é você me falando isso. Se fosse a Megan, ela diria que eu deveria oferecer meu corpo ao Danny e tudo daria certo - comentei, sorrindo ao lembrar dos comentários "apimentados" de minha melhor amiga.

– Eu definitivamente preciso conhecer a Megan! - Gemma exclamou, rindo junto comigo.

Ponderei um instante antes de fazer a pergunta-chave da noite. Com ela, eu poderia decidir o que fazer.

– Harry já te falou alguma coisa sobre os planos para o futuro dele? - Perguntei. - Digo... Formar uma família, sabe? Ou arranjar alguma namorada.

Gemma fez uma careta confusa.

– Ele só fica brincando sobre casar com você - riu.

– Sério, Gemma - pedi, sem rir.

Ela me encarou pensativa.

– Acho que... Algumas vezes, é. Quando nossos primos pequenos vêm pra cá, ele fala que quando tiver filhos quer vê-los correndo pela casa do mesmo jeito. - Deu de ombros. - Todo mundo quer constituir uma família algum dia, Allie. Principalmente Harry, que sempre teve a nós e está acostumado com isso.

Respirei fundo. Megan estava certa, todos seguiriam seu próprio caminho alguma hora. Mesmo que continuássemos amigos, existiriam momentos em que cada um voltaria para sua própria casa, para seu lar, para sua família.

E não só Harry, que era o que se fazia mais presente comigo. Niall, Louis, Zayn, Liam, Megan e Gemma... Todos.

Estava na hora de encarar a realidade e dar uma nova chance a mim mesma.

Tive meus melhores anos quando estava apaixonada por alguém e os piores quando o perdi. Talvez, só talvez, a tristeza que havia sentido depois não tivesse sido tão grande quanto os momentos de felicidade anteriores.

Talvez valesse a pena.

– Gemma, tenho uma coisa pra te contar - comecei.

– Novidade? Conta, conta, conta! - Pediu, animada.

– Acho que está na hora... De dar chance para alguém mexer com meu estômago também - brinquei, sem encará-la. Era difícil falar sobre relacionamentos.

Não queria ainda pensar sobre relacionamentos sérios, pois eu realmente tinha problemas só de pensar neles. Um fresco, novo e sem compromisso já estava de tamanho suficientemente bom para mim.

– Sério? - Encarou-me incrédula e abriu um sorriso. - Assim que se fala, garota! Você pode começar aqui em Chesire, garanto que tem muita gente interessante por aqui - disse. - Já pensou: você se casa com alguém daqui e vem morar perto de mim? Seria perfeito! - Sonhou.

Fiz uma careta horrenda.

– Sem relacionamentos sérios, Gemma. Não estou preparada para isso. Estou falando de encontros e sair sem compromisso - esclareci.

Ela fez bico.

– Ah, sim... - murmurou. - Não se preocupe, nunca se sabe quando vai se apaixonar! - Rogou praga, rindo.

Revirei os olhos e dei de ombros.

– Depois disso, eu com certeza quero dormir - disse, fazendo Gemma me dar língua.

– Então boa noite, bela adormecida. Um dia seu príncipe chega pra te acordar com um beijo, você querendo ou não - repetiu, saindo do quarto em seguida.

Balancei a cabeça, refletindo.

– Não, Gemma. Ele nunca vai chegar. - Murmurei antes de adormecer.