CAPÍTULO 4

ALICE POV

Assustada, encaro os cinco rostos que me fitam no meio da cozinha. Sem dar espaço para minhas perguntas, Niall começa a tocar o violão e, apesar de estar absurdamente confusa, reconheço a música.   

- If you ever find yourself stuck in the middle of the sea; I'll sail the world to find you... - Liam começou a cantar, fazendo-me encará-lo instantaneamente.    

Minha atenção passa a ser de Louis quando o escuto cantar:   

- If you ever find yourself lost in the dark and you can't see, I'll be the light to guide you...   

Ainda paralizada, vejo Styles voltar a cozinha às pressas - dessa vez vestido - e fazer um dueto com Zayn por um breve momento:   

- Find out what we're made of; When we are called to help our friends in need...    

De repente, todos me fitam e dão um sorriso. Embasbacada, vejo Meg cantando e dançando animada com os garotos, em uma voz só.   

You can count on me like one, two, threeI'll be there

And i know when i need itI can count on you like four, three, two

And you'll be thereCause that's what friends are suppose to do

Oh yeah(ooh ooh ooh uh uh)   

Ainda na mesma posição do começo, observei Niall tocar as últimas notas, finalizando a música ali mesmo.   

Todos me encararam e um silêncio constrangedor se fez presente.   

- O que foi isso? - Soltei, por fim, em um só fôlego.    

Liam deu um passo para frente, sem quebrar o contato visual comigo.    

- É um pedido de amizade. Ou de confiança, o que você achar menos antiquado - deu um sorriso. Como não falei coisa alguma, ele continuou. - Nunca fizemos isso antes... Espero que tenha gostado.    

Respirei fundo. Quando iam entender que eu não podia? Quando iam me deixar em paz?   

- Alice, não faça isso - Meg sibilou. Com tanta convivência, ela me achava muito previsível, principalmente quando eu não estava em minha "personagem" fria e distante. - Nós passamos o dia inteiro planejando isso aqui e eu posso te afirmar com toda a certeza que eu tenho: você não faz ideia do quanto esses caras são incríveis.    

A fitei. Por que ela estava fazendo isso comigo?!   

- Foi isso o que estava fazendo para não aparecer na nossa casa ontem? - Murmurei, tentando recompor meu "eu" frio e distante, mas sucumbindo e aparentando estar magoada.    

Ela se aproximou de mim, com um sorriso gentil que chegava em seus olhos. Parecia estar cuidando de uma criança.    

- Sim, Allie. Eu realmente acho que agora, mais do que nunca, vale a pena tentar quebrar essas barreiras que você construíu em volta de si mesma. Estou cansada de ver você sofrendo por causa de todos esses dilemas internos. Tá na hora de superar isso, Allie - declarou.   

Cruzei os braços.    

- Eu estou ótima.   

- Não está - a voz de Louis soou, dando-me um susto. - Você nunca está a vontade, Allie. Estamos nos reencontrando agora e o que era pra ser um reencontro divertido de amigos está sendo algo desastroso. Parece até que nunca falou comigo pelo jeito que me trata!  

Não resisti a fitá-lo.    

- Louis, me desculpe, de verdade - supliquei, mesmo sabendo que ele não tomara conhecimento do motivo para eu estar falando aquilo.    

A incerteza me inundou quando ele continuou a me encarar com firmeza.    

- Relaxa, baby blue - contornou a cozinha e se aproximou de mim, ainda sorrindo.     

Ele estava me chamando pelo apelido que havia me dado desde que descobrira minha obsessão por Jazed do Aerosmith*.

- Velhos apelidos de gravação - comentei.    

- Sim - ele disse, passando seu braço por meu ombro -, não sente saudade disso? Porque eu sinto de você. Acho que trocaria todas as garotas que gostam de cenoura no mundo para ter minha velha amiga de volta - declarou, fazendo-me fechar os olhos com força. Eu sabia que aquilo tinha sido uma piada, não uma acusação. Mesmo assim...   

Doía saber que eu tinha o ignorado por tanto tempo.    

- Ei, calma - murmurou. - Eu já sei de tudo, Allie, pare de se culpar. Se tivesse me contado dos problemas que tinha, eu teria dado um jeito há muito tempo. - Comentou, fazendo-me instantaneamente encarar Liam, Styles e Meg aflita.   

- Eles sabem de tudo - Meg disse, deixando-me pasma. - Era necessário, acredite. Você vai ficar com raiva de mim, mas eu quero arriscar isso se a sua felicidade vier em troca.    

- Você... Você... - Sibilei, sem conseguir encontrar palavras.   

Não esperava aquilo de Meg!   

- Alice, calma. Nós sabemos que não quer ter contato com o seu pai e respeitamos isso - Zayn se pronunciou. - Mas você não disse para Megan que ela podia ser nossa amiga, apesar das suas desavenças? Por que não pode fazer o mesmo? - Questionou. - Garanto que Simon não terá nada a ver com nossa amizade. Acha mesmo que vale a pena deixar suas desavenças com seu pai afetar tudo a sua volta, inclusive sua própria felicidade?   

Trinquei os dentes. Um "estranho" sabendo de todos os meus problemas. Obrigada, Meg!   

- Você não sabe de nada - cuspi. - Nenhum de vocês sabe!    

- Sabemos, Alice. Isso inclui o fato de você já ter quebrado as regras de amizade uma vez... - Niall ponderou. Oh, droga! Não! Eles não podiam saber isso. - E ter se decepcionado. Nós não somos os caras do Mcfly, Alice, e você não precisará se afastar da gente porque nenhum de nós é seu ex-namorado.    

- Entenda a diferença das coisas, Allie. Se você nunca tentar, não vai saber como é! Esses garotos aqui são as melhores pessoas que já conheci, cada um à seu modo - Meg argumentou. Como eu queria não escutá-la agora... - E você sabe que quem se afastou do Tom, Dougie e do Harry foi você!    

Aquilo me acertou em cheio. Como uma flecha. E doía.   

- Eu não podia continuar sendo amiga deles e fingindo que nada tinha acontecido! Você sabe, droga, você sabe que eu sempre o amei! - Berrei, sentindo lágrimas salgadas escorrerem por meu rosto.   

Odiava chorar na frente dos outros. Odiava! Ainda mais por Danny.    

Em um segundo, Louis me abraçava e Meg acariciava meu cabelo.   

- Eu sei, Allie, e como sei! Pelo amor de Deus, me escuta, estou tentando fazer a coisa certa, mas isso tá me matando por dentro porque estou vendo que tá te fazendo mal! - Meg agora chorava comigo.    

Ela usou sua mão para fazer com que eu a encarasse.    

- Por favor, Al, pense nisso. Pelo menos pense. Lembra das regras de redação, sobre nunca generalizar? Talvez você tenha encontrado algumas das exceções e esteja as perdendo porque quer. Sou sua melhor amiga, nunca desejaria nada de mal a você. Pelo amor de Deus, não aguento mais te ver assim, pelo menos pense nisso! - Implorou.    

As palavras pareciam fugir de mim.    

- Eu... Eu preciso escovar meus dentes - disse, desvencilhando-me dos braços de Louis e saindo porta afora, desejando ardentemente que ninguém me seguisse.   

Aquilo tudo tinha sido demais para mim. Era muita informação, pressão, como se uma guerra interna se formasse. De um lado, o grupo de proteção, achando que eu seria burra se me aventurasse naquela jornada de decepções novamente. Do outro, o grupo sonhador, pensando na felicidade de não estar mais tão sozinha.    

Uma mão em minha cintura, guiando-me mais depressa para minha casa, fez com que meus pensamentos fossem embora.    

- O que... - Comecei a murmurar, mas a mão parecia estar colada a minha cintura e não me soltou até que estivéssemos em frente a porta da casa.   

Styles.   

- O que você está fazendo? - Irritei-me.   

Eu queria ficar sozinha, droga!   

- Eu estou te devendo um pedido de desculpas, julguei você mal por causa da conversa que ouvi naquela visita à sua casa - falou.   

Bufei.   

- E também me atrasou para que eu não encontrasse os outros na cozinha antes da hora certa - completei. - Não sou idiota, Styles, não venha tentar reforçar o pedido que foi feito lá dentro. Me deixa em paz! - Pedi, minha cabeça dando voltas.   

Eu realmente não sabia o que pensar sobre o pedido que me fora feito. Destranquei a porta e adentrei a casa, deixando o garoto para trás. Esperava que ele se tocasse e fosse embora.   

Mas ele não o fez.   

- Deixa de ser teimosa! - Pediu, enquanto eu me contorcia dando um jeito de bater nele para que me soltasse. Odiava aquela mania que ele tinha de segurar minha cintura!    

- Me deixa em paz! - Repeti.   

Styles me olhou com urgência.   

- Estou falando sério, Alice. Preciso falar uma coisa pra você antes de te deixar sozinha para pensar - murmurou com firmeza.   

Apenas o encarei. Ele parecia decidido a não me soltar enquanto não me dissesse o que queria.    

- Fala logo. Pelo menos você está vestido dessa vez - murmurei, fazendo-o dar uma risada em resposta.   

Ele nos guiou até o sofá da sala-de-estar e se sentou ao meu lado, encarando-me abertamente.    

- Não sei se sabe, mas tenho a mesma idade que você. Então, quando você começou sua carreira em "Percy Jackson", eu tinha doze anos. Era bem tolo... E seu fã - acrescentou, fazendo-me piscar três vezes até absorver bem o que ele tinha dito.   

Eu não via como Harry Styles poderia ter sido meu fã algum dia.   

- Você deve estar me zoando - revirei os olhos.   

Styles bufou.   

- Não estou. Todos nós éramos (eu e os garotos). Dá pra parar de ser teimosa e me deixar continuar? - Pediu.   

Gesticulei para que ele continuasse.   

- Sabe por que eu era seu fã, Cowell? - Indagou-me.   

Era bem óbvio.   

- Porque eu era uma dos protagonistas. E uma garota - acrescentei. - Ah, que se dane, todos gostavam da Annabeth!   

Styles riu.   

- Também. Mas não era o motivo principal - disse, fazendo-me encará-lo em choque.   

- Não?    

Ele negou, balançando levemente a cabeça cheia de cachos.    

- Era seu fã porque sabia que você havia perdido sua mãe quando era pequena. Acho que eu me identificava com você, Cowell. 

Agora ele fitava suas próprias mãos.

- Eu estava passando por momentos difíceis com o recente divórcio dos meus pais, acreditando ter perdido meu pai com aquilo. Era meio ingênuo, você sabe. Mas eu me sentia muito sozinho - Contou.   

Observei Styles mexer as mãos, como se falar sobre aquilo fosse um incômodo. Bem, devia ser. Ainda mais para mim, com quem ele não tinha nenhum tipo de intimidade a não ser algumas chantagens e grosserias.    

- Acho que eu admirava você. Quer dizer, tenho certeza. Eu te enxergava como uma luz no fim do túnel, sabe? Alguém que podia se sentir tão sozinha como eu, mas que havia conquistado tudo o que queria, era talentosa, inteligente e bonita - estacou, voltando a me encarar. - Não fique convencida.    

Quase sorri.   

- Continue, Styles - pedi, interessada em sua história.    

- Ser seu fã me ajudou de alguma maneira a passar pelo período mais difícil da minha vida. Minha mãe vivia falando que quando eu fosse um cantor famoso, casaríamos - deu um sorrisinho malicioso. - E quando soube que meu mentor do X-factor seria o Simon... Eu achei que você nos visitaria algum dia. Mas não foi isso o que aconteceu - murmurou com cuidado.   

Foi minha vez de quebrar o contato visual com ele. Odiava conversar coisas sobre Simon.    

- Foi a época em que eu me demiti - esclareci.   

Styles concordou e prosseguiu.   

- Então, o destino resolve finalmente agir. Te encontro e é... Desastroso - dá um sorriso amarelo. - Primeiramente, sou vítima de uma brincadeira dos meus amigos, depois escuto você falar que não quer se aproximar da gente. Pensei que estivesse fazendo isso por orgulho, por sermos novos nesse "habitat" que é tão seu... Não sei. - Deu de ombros.    

- Eu sei que você me achou uma filha da mãe - completei, encarando minhas unhas. - Mas você também é um! Liam me contou sobre o lance na cama do Zayn. Muito desapropriado da sua parte - alfinetei, em tom de brincadeira.    

Escutei a risada dele.   

- Talvez - murmurou. - O que estou tentando te mostrar, Cowell, é que você não precisava se colocar entre milhares de paredes. Seus dilemas estão presos aí dentro, com você, e nada vai te proteger deles. Mas se você pudesse abrir as portas pra mim e pra os caras daquela casa - apontou para a residência da frente -, nós não a decepcionaríamos. Pelo menos não de propósito. Você não percebe, mas marcou a infância de muitas pessoas - argumentou. - Annabeth não é só um papel, Cowell, é um marco para milhões de crianças. Você me ajudou, mesmo sem querer, quando eu estava na pior. To tentando retribuir agora.   

Cruzei os braços. Não queria mostrar pra Styles que estava tão sensibilizada com aquilo, segurando as lágrimas.    

- Se eu não tivesse tido a sorte de ser escolhida para o papel de Annabeth nada disso teria acontecido, Styles. Encare os fatos, sou só uma atriz - murmurei.   

Ele balançou a cabeça, negando.   

- Não foi sorte. Milhões de pessoas queriam aquele papel. O diretor a enxergou em você de alguma forma, enxergou seu talento. Acha mesmo que é por acaso os vários prêmios que já ganhou? - Revirou os olhos. - Não sou à favor de elogios de graça, mas você tem talento pra caramba, como atriz e cantora. Só não sabe cuidar de si mesma - disse, fitando meus olhos de uma maneira que me fez sentir desprotegida.   

Respirei fundo. Talvez, só talvez, eu realmente não soubesse. E talvez, só talvez, Styles fosse mais parecido comigo do que eu imaginava.    

- O que aconteceu depois? - O indaguei.    

- Minha mãe se casou de novo. Meu padrasto é o cara mais legal do mundo. - Disse sorrindo.    

Fiquei alegre por Styles ter tido seu final feliz.   

- E quanto a meu pai... Bem, temos uma relação amigável - deu de ombros.    

- Pelo visto, você ficou meio desiludido com toda essa história - argumentei. - Aí virou Harry Styles, o cara mais galanteador da Inglaterra! - Zoei, jogando uma almofada nele.    

Styles revirou os olhos, jogando a almofada de volta em mim.   

- Todo mundo tem seus defeitos - retrucou, fazendo-me rir.   

Eu gostava daquela sensação. De repente, estava tão alegre e as coisas tinham voltado a fazer sentido. Eu descobrira que Simon estava errado, ao menos em uma coisa: alguém havia gostado de mim. Alguém tinha virado meu fã, e não porque eu fazia o papel de "Annabeth", não porque eu era "Alice Cowell". Simplesmente por ter se identificado comigo.   

A memória de todas aquelas crianças e jovens se apertando para ganhar um pouco da minha atenção e alguns autógrafos retornou a minha mente. Agora eu podia acreditar, aquilo ali era de verdade. Bem, pelo menos para um deles. Ou cinco.    

E talvez aqueles cinco merecessem uma chance. Meg podia estar certa, eles realmente podiam ser a exceção à regra.    

- Além disso, eu sou um homem de respeito, estou em uma relação séria - Styles argumentou, tirando-me dos meus devaneios. - Ainda vou casar com você e tudo mais...   

Revirei os olhos, saindo do sofá.   

- Sonha, Styles! - Retruquei, fazendo-o rir. - Agora me espera aqui. Tenho que ficar apresentável antes de dar a resposta - tornei.   

- Sobre se casar comigo? - Provocou, zombando.   

- Pra isso a resposta nunca mudará: NÃO! Você tem todas as garotas do mundo, arranje qualquer uma - aconselhei, dessa vez fazendo-o ter uma crise de risos. - A resposta sobre o pedido que vocês me fizeram à pouco.   

Styles me encarou, apreensivo.   

- E qual é sua resposta para isso?   

- Sim - disse, sem fitá-lo e me dirigindo às escadas.   

Precisava me arrumar urgentemente. Algo dentro de mim vibrava por estar começando algo com caras que pareciam valer a pena.   

Tudo parecia se encaminhar para o lado certo. Eu estava feliz, como poucas vezes antes ficara. 

(...)