POV NARRADOR

   Depois do beijo, Harry achou melhor agir normalmente com Alice, sem pressão ou mais demonstrações de afeto. Fora o melhor momento de sua vida, mas não poderia pressionar demais a garota, uma vez que ela levaria algum tempo para absorver o que estava se passando com ambos.

   E ele estava certo. Alice não sabia ao certo como estava se sentindo. Por um lado, gostara da sensação de beijar Harry, pelo outro, sentia-se incomodada com isso. Ele era seu melhor amigo e Danny não saía de seu coração.

   Cowell se sentia culpada por ter perdido o amor de Jones. Ela ainda se lembrava do dia...

FLASHBACK ON

   - O que está fazendo, Danny? Droga, eu to falando com você! Eu disse pra não citar meu pai na entrevista! – Alice gritava com fúria enquanto assistia a Danny marchar até a porta do apartamento.

   Jones suspirou. Seus pés pareciam não querer se mover. Mas era o certo. Se Alice realmente o amasse, precisava demonstrar isso. Ele estava cansado de ser o único que tentava consertar as coisas e manter a relação bem.

   - Alice... – Ele murmurou, sentindo uma pontada de tristeza ao perceber que poderia ser a última coisa que falaria para a garota que ama. – Eu passei dois anos correndo atrás de você para consertar as coisas quando não estávamos bem. Está na sua vez. – Deixou as palavras flutuarem até Cowell.

   Em seguida, deu as costas e fechou a porta atrás de si.

   Ally sentiu o mundo ruir ao seu redor. Por que ele estava testando-a desse jeito? Logo ele, que deveria saber que ela não teria capacidade de correr atrás de ninguém.

   Não que Cowell fosse orgulhosa. O problema dela era a incapacidade de manter pessoas em sua vida. Qualquer coisa era motivo de afastamento.

   E era por isso que Danny estava indo embora. Ele não conseguia mais atravessar a barreira que Alice colocava entre os dois.

   Ambos amavam-se intensamente, mas os dilemas e crenças deturpadas de Ally tornavam as coisas difíceis demais para continuar.

   Um tempo depois, Cowell viria se tocar de que ao não ter corrido atrás dele aquela noite ou ligado após alguns dias, estava colocando um ponto final na história dos dois.

   O problema era que ela só conseguia pensar em reticências...

   Mal sabia Alice que Danny também.

FLASHBACK OFF

   Lembrar do término com Danny era um episódio lamentável para Alice. Não conseguia o fazer sem deixar de se martirizar por não tê-lo feito ficar naquela noite.

   Cowell ficou feliz por Harry manter a relação dos dois normal. Ela estava confusa demais para se deixar levar mais uma vez sem ter que arcar com conseqüências mais tarde.

   O natal acabou e logo os dois amigos partiram de Cheshire com a promessa de voltar logo.

   Dias passaram-se e com eles as coisas começaram a voltar a sua normalidade.

   Os outros garotos e Megan retornaram, voltando a bagunçar as vidas de Harry e Alice daquela maneira divertida que ambos amavam.

   Reunidos na sala de estar de sua grande e espaçosa casa, os garotos da One Direction contavam os acontecimentos do natal. Quando chegou a vez de Styles, ele discursou sobre seu episódio com Alice e contou o plano de Simon.

   Harry fez os amigos entenderem o lado do empresário e logo todos concordaram em ajudar, embora Liam tenha ponderado sobre como Alice se sentiria ao descobrir.

   Os garotos riram quando Harold confidenciou com entusiasmo o beijo com Alice e pediu conselhos sobre como deveria lidar com a mesma. Era uma situação nova e estranha, uma vez que Styles nunca o fizera antes.

   Entre conselhos horríveis, absurdos e risadas, o único plausível fora o de Liam: pedir ajuda à Megan.

   Ficou combinado que ligariam para a melhor amiga de Alice e marcariam uma reunião. Sem Cowell, lógico.

   Enquanto isso, no apartamento que as amigas dividiam, Ally acabara desabafando com Megan sobre tudo o que ocorrera com ela e as coisas que estava sentindo.

   Meg, depois de muito pensar, conversou com a amiga.

   - Ally, promete que vai me ouvir? – Pediu, encarando Alice com apreensão.

   Ela sabia que a garota iria querer ignorar suas palavras a seguir. Mas precisava tentar.

   - Sim, Meg. É o que estou pedindo: um conselho. To tão perdida... Não sei nem como devo tratar o Harry... – Alice murmurou, dando um suspiro em seguida.

   Megan conteve uma risada e encarou Ally com seriedade.

   - Você me disse que foi diferente com o Styles, né? – Recordou.

   - Sim... Parece... Uma conexão invisível, eu não sei. Deve ser a maldita genética mesmo – Cowell fez uma piada boba, tentando aliviar a tensão.

   A melhor amiga deu um sorriso.

   - Ótimo, primeiro passo dado. Você admite que tem algo de especial na sua relação com ele – concluiu, vendo Alice arregalar os olhos. – Então, você tem basicamente duas opções. Ligar pra o Danny ou investir no Harry.

   Ally arfou com a objetividade de Megan. Ela fazia tudo parecer muito simples quando não era.

   - Megan, já faz muito tempo, Danny vai rir... E, quanto ao Harry... Eu não sei, Meg. Nós somos melhores amigos!

   - Se melhores amigos se beijam e tem algo especial, eu quero um melhor amigo! – Disse, encarando Alice maliciosamente.

   Ally suspirou.

   - Olha, amiga... Eu sei que é difícil. Vou tentar te ajudar, certo? – Megan tornou, fitando Alice com compaixão. – Você ainda acredita na sua relação com o Danny? Digo, que possam voltar a serem realmente felizes?

   Cowell deu um sorriso.

   Ela acreditava. Sempre acreditara naquilo. Danny Jones tinha sido o primeiro e único cara a libertá-la de alguma forma de seu passado frustrante. Ela queria sentir aquilo de novo e pensava que somente o próprio poderia fazer isso acontecer.

   Além disso, ela o amava.

   - Acredito. – Disse com firmeza. – Só não sei se ele acredita... – Concluiu com um suspiro.

   Megan segurou sua mão, tentando lhe dar forças.

   - Então liga pra ele, Ally. Liga. Gasta todas essas esperanças e ilusões que você tem. Se Danny as destruir, vai ser melhor também. Pode causar sofrimento, mas você não se sentirá mais tão presa a ele – Meg argumentou.

   Ally apenas balançou a cabeça negativamente.

   - Não tenho coragem... – Murmurou. – Ele é tão importante pra mim... Danny... Danny me liberta, você entende? Ele me faz bem. Se o ouvisse me desprezar... Eu não agüentaria, Meg.

   Megan assentiu.

   - Tudo bem. Mas faz assim, não ilude o Harry. Seja lá o que você estiver sentindo por ele, dê um tempo a si mesma. O ideal seria ligar para o Jones e tentar destruir as ilusões, construir algo real e sólido. Ou perceber que você mudou demais para ainda ser a Alice que o amava. – Falou, observando o semblante descrente de Cowell. – O que? Você acha que as coisas não mudam? Claro que mudam, Ally. Jones estará diferente assim como você também. Talvez você não o ame mais e só esteja alimentando ilusões. Sou sua melhor amiga e preciso te fazer enxergar todas as possibilidades. – Meg argumentou.

   Ally suspirou.

   - Só não tenho coragem o suficiente para ligar agora – disse, mordendo o lábio. – Mas conversarei com o Harry. Ele é importante demais para que o magoe. Tá entendendo o meu problema? Não posso ficar com o Styles, mas não tenho forças o suficiente pra fazer qualquer coisa acontecer. Eu sou uma covarde – se martirizou, escondendo a face com as mãos.

   Meg segurou as mãos dela, fazendo-a encará-la.

   - Ei, ei, ei. Você passou por muita coisa, garota, é normal que se sinta confusa. No final das contas, você é só uma mulher, Alice. Não precisa se desesperar por isso.

(...)

   Dias depois, a reunião na casa dos garotos se realizava e Megan descobria os sentimentos de Harry por Alice.

   Ela prontamente se dispôs a ajudar Styles, contando para o mesmo sobre o recente desejo de Alice por ter uma relação livre, sem compromisso e divertida.

   Harry entendeu. Ele não poderia mencionar algo mais sério com Ally por enquanto. Teria que ir com calma, até conquistar sua garota de uma vez por todas.

   Megan também fez questão de apontar os riscos, como o fato de sua melhor amiga continuar confusa por conta de Danny. Harold compreendeu que se tratavam de coisas que Alice teria que superar ou vivenciar.

   Vivenciar estava fora de questão.

   Principalmente para Harry. Ele conhecia Alice bem demais para saber que Jones provavelmente estava enterrado na mente dela como as várias crenças de Simon. Portanto, tratava-se daquela velha ilusão sobre o príncipe encantado.

   Que sua garota se preparasse então, porque aí vinha o cavaleiro negro! De um jeito modesto, lógico, pois apesar de tecnicamente ser o vilão da história, Harold não seria capaz de machucar Alice de modo algum.

   Ele estava apaixonado, afinal.

   (...)

   Dias depois, noite de ano novo.

POV ALICE

   Estava me arrumando para a noite de ano novo. Passaria com os melhores amigos do mundo: os meus!

   Sorri ao observar Megan adentrar meu quarto estabanadamente, os cabelos negros presos em um coque, maquiagem forte, vestido branco sem mangas e saltos do tamanho do mundo.

   - E aí, como eu to? – Perguntou, girando em volta de si mesma.

   Afinei os olhos ao notar algo se destacando em baixo do vestido branco.

   - Meg, você-

   - Pode parar! Se disser qualquer coisa que não seja diva, linda, maravilhosa ou... – Baixou o tom. – Gostosa também serve – sugeriu com um risinho. – Enfim, sem adjetivos, sem vida, entendeu? – Ameaçou divertidamente.

   Gargalhei e revirei os olhos.

   - Quando você não está maravilhosa, idiota? – Retruquei, fazendo-a sorrir. – Só queria perguntar o que você está usando em baixo do vestido. Tá se destacando e... Bem, acho que você deveria saber. – Dei de ombros.

   Eu sabia que não era certo usar roupas íntimas de cor muito forte em baixo de vestimentas brancas, uma vez que as primeiras se destacariam e fariam a pessoa que estivesse as usando pagar mico. Mas não usaria um tom crítico com Megan.

   Para minha surpresa, ela apenas revirou os olhos e levantou o vestido, fazendo-me ver sua calcinha vermelha.

   - Isso – apontou para si mesma, em seguida abaixando o vestido. – É pra atrair paixão, se é que me entende – sorriu maliciosamente.

   Gargalhei alto.

   - Meg, você não tem jeito!

   - Não tenho mesmo. Prometi a mim mesma que esse ano o Zayn não me escapa – o sorriso aumentou e a perversidade também. – Principalmente nessas férias...

   A insinuação de Meg me fez sorrir ao recordar que iríamos voltar para o Havaí dias depois de hoje. Teríamos férias e dessa vez os garotos iriam realmente com a gente. Ficaríamos até na mesma casa!

   Jimmy havia sugerido isso há alguns dias e não vi motivo para recusar. Todos também concordaram. Meu empresário era demais!

   - Pelo visto, vai dar muito trabalho pra escapar – murmurei.

   - Você não tem idéia! – Ela assentiu.

   Rimos juntas de mais algumas coisas enquanto eu terminava de me arrumar. Megan elogiou minha escolha: cabelos soltos com algumas ondas, vestido curto com um ombro só de cor branca e sandálias de salto alto prata. A maquiagem também era forte, principalmente na área dos olhos.

   Mas ainda faltava alguma coisa.

   Respirando fundo, dirigi-me a meu closet e rapidamente encontrei as duas caixinhas de veludo. Abri a primeira e fiquei alguns segundos encarando o delicado colar de diamantes.

   Era dela.

   Iria me fazer sentir mais próxima dela.

   Estava definido. Eu levaria mamãe para o ano novo.

   Respirei fundo mais uma vez e pedi para Meg fechar o colar – que eu colocara em volta do pescoço – para mim. Ela o fez gentilmente e puxou minha mão para que eu me dirigisse ao espelho, mas não colaborei.

   Parada no mesmo local, encarei a segunda caixinha de veludo.

   Harry.

   Eu teria que conversar com ele.

   Coloquei o anel do X-men no dedo e senti meu coração se apertar, como se estivesse sendo esmagado.

   Toquei levemente meus lábios, lembrando de nosso beijo. Eu sabia que não devia o fazer, mas era inevitável. Havia sentido tanta coisa!

   E talvez fosse por estar tão perturbada na noite de natal. Mas uma grande parte daquilo não se encaixava.

   Era isso, eu tinha que admitir. Fora especial. E Harry era especial. Mas eu era burra e covarde demais para lidar com isso. Já havia tido problemas com Danny e o perdido, por que deixaria acontecer a mesma coisa com Harry?

   Eu não deixaria.

   - Ei, viajante, vamos? – Ouvi a voz de Megan soar ao meu lado.

   Sorri, desculpei-me e em seguida saímos do meu closet.

   Logo estávamos partindo para a casa dos garotos em meu porsche. Passaríamos o ano novo lá, uma vez que eles estavam dando uma festa.

(...)

   A festa estava animada e passamos as primeiras horas conversando animadamente e dançando. Megan fazia sucesso com a cor chamativa de sua calcinha.

   Era engraçado, porque Zayn era uma dos admiradores e não parecia muito satisfeito com o fato de ter concorrentes.

   Eles eram loucos! Convenci a mim mesma dando de ombros.

   Por fim, no momento da virada do ano, senti mãos agarrando minha cintura e me puxando para longe de Megan, dos garotos e das outras pessoas presentes na festa.

   Não estranhei, apesar de me achar louca por pensar em Harry numa hora dessas. Eu havia o ignorado a noite toda, como esperaria essa atitude dele?

   Mas era Harry. Com um sorriso matreiro, ele me guiou até seu quarto e fechou a porta atrás de nós, empurrando-me contra ela e colando nossos lábios.

   Preciso mesmo dizer que minha força de vontade, senso ético e decisão sobre “não deixar as coisas com Harry serem iguais as com Danny” foram pro espaço?

   Minhas mãos subiram involuntariamente para seu cabelo, puxando-o mais para mim, enquanto as de Harry se posicionaram em minha cintura.

   Um segundo depois os fogos começaram a explodir lá fora, assustando a mim e a Harold e fazendo-me recobrar a consciência.

   Ele resmungou algo baixinho, mas logo estava gargalhando alto de minha expressão assustada.

   - Feliz ano novo, Ally! – Desejou. – Sou só eu que estou notando que esse hábito de te beijar e depois desejar felicidades em uma data está virando rotineiro? – Provocou.

   Eu queria rir. Mesmo. Mas tinha algo importante a falar.

   - Temos que conversar... Sobre isso – murmurei com dificuldade.

   A expressão de Harry enrijeceu.

   - Tudo bem...

   Respirei fundo.

   - Harry, não podemos continuar com isso. Eu sou uma pessoa complicada demais pra você e ainda sinto alguma coisa pelo meu ex. – Falei num jato, sem encará-lo.

   Ouvi uma risada baixa e seca. E eu quase podia escutar meu coração quebrando-se pedacinho por pedacinho ao vê-lo desse jeito.

   - Por que não me olhar ao falar isso? – Perguntou com exasperação.

   Mordi o lábio.

   - Harry... – Tentei retrucar, agoniada com a situação.

   Não queria repetir aquilo.

   As mãos de Styles tocaram meu queixo e levantaram meu rosto para encará-lo.

   - Eu sei que... Você está confusa. Mas... – Ele parecia perdido em suas próprias palavras. – Espera, tem um jeito melhor. – Pareceu decidir algo.

   Dito isso, Harold selou nossos lábios mais uma vez.

   Mas era um beijo diferente. Sem tanta exasperação quanto o primeiro ou desespero quanto o segundo. Era calmo. Como mergulhar em chocolate quente e flutuar por lá, esquecendo-se do mundo.

   Logo Harry separou nossos lábios com um selinho e voltou a me encarar.

   Toda a sensação de flutuar afundou com isso e logo eu estava tensa mais uma vez, com sérios problemas no estômago.

   - Só esquece tudo, Ally. Somos só eu e você. Sem compromisso e sem pressão. Só a Ally e o Harry, uma garota e um garoto. – Disse, encarando-me.

   Seus olhos verdes ardiam.

   - Só... Nós dois? Algo-

   - Leve, bom, divertido. Sem peso. – Ele completou com um meio sorriso.

   E era isso. Harry sempre parecia ler minha mente. Como diabos ele sabia que aquilo era o que eu tanto precisava?

   Oh, e a idéia parecia melhor com Harold. Eu me sentia alguém especial ao estar com ele. Talvez fosse pelo fato de que Harry era especial.

   Sorrindo, dessa vez fui eu a beijá-lo, sem mais resistir.

   Aquela força terrível que me atraía para ele sempre surgia, mas dessa vez veio com mais força diante da minha decisão.

   Eu havia aceitado aquele outro lado de minha relação com Harry. Porque naquele instante, ele era tudo do que eu precisava.

   Não ligaria para Danny.