Meus olhos estavam entreabertos, pois acabara de acordar. Parecia que tivera dormido por anos. Espreguicei-me e procurei focar a visão.

Avistei Jess. Ela também acabara de acordar.

O Sol liberava seus raios que atravessavam os pequenos buracos da portinha de madeira acima de nossas cabeças. Mais um dia lindo para todos.

Se “todos” estivessem vivos.

Uma visão estranha. Saímos do porão e não avistamos nada além de arvores e áreas cobertas por cinzas. A superfície fora destruída enquanto dormíamos.

Dormíamos? Por quanto tempo a ponto de que enormes arvores crescessem ao nosso redor?

– Jay? O que aconteceu aqui?

Por alguma razão todas as casas haviam sido queimadas e destruídas, inclusive parte da nossa. Não sei... Mas nossa casa não havia sido totalmente destruída, a estrutura estava intacta e o exterior...destruído. Podíamos ver as escadas ao lado de fora, pois paredes a casa não possuía mais.

– Jess... Queria poder responder a essa pergunta.

Indignados. A simples pergunta “O que aconteceu?” teria uma resposta bem complexa, mas no momento era a única que nos incomodava naquele momento.

Resolvemos verificar os estragos mais a fundo. Saímos da frente de nossa casa e caminhamos entre a antiga vizinhança. Ate a igreja fora demolida. Viam-se pequenos blocos de tijolo que formavam sua base, empilhados no chão.

Galhos se partindo. Ouvimos alguém se aproximando. Amigo ou alguém para atacar? Reponderia nossas perguntas?

Duas garotas se aproximaram pararam ao nos ver. Sorridentes, com roupas coloridas e justas, mastigando uma coisa pegajosa e grudenta. Uma delas falou primeiro:

– Se perderam depois da festa a fantasia, gente?

– Me desculpe, estamos meio perdidos mesmo pode nos ajudar?

Minha irmã tomou a frente e continuou:

– Alguma de vocês sabe a data de hoje?

A garota que estava calada se impôs e soltou algumas palavras esquisitas:

– Cara, vocês devem ter ficado na “rave” ate tarde! Devem ter enchido a cara!

A amiga riu

– Idiota. Ela esta só de zueira! Bom, hoje e dia 02/07 de 2010. O centro fica a uns 10 metros daqui. Boa sorte galera.

2010? Mas em 2010 o mundo não deveria existir mais? Como? Dormimos ou morremos em tempo integral?

Jamais vira a cara de Jess tão branca. A minha não deveria estar diferente. Eram muitas informações para apenas duas cabeças assimilarem tudo de uma vez. Sentados em um tronco caído procuramos por as informações juntas.

Ate onde sabíamos, a superfície que conhecíamos fora destruída. Todos haviam sumido e nos havíamos dormido por anos. Voltamos ao porão para procurar algo que nos ajudasse. Jess achou um facão ensanguentado e uma carta. Ambos tinham símbolos estranhos: O facão tinha a letra “K” marcada na lamina. A carta tinha a letra “G” ... “G” de Gylber. Uma carta de nosso pai.

“Acho que ao lerem esta carta eu estarei morto assim como o resto do povo.

Sedei vocês para que não fossem descobertos nem passassem pelo mesmo destino que nos provavelmente passamos.

A questão e que vieram para cidade atrás de vocês...

pensaram que toda a cidade fosse cumplice...

Uns fugiram, outros morreram com suas casas...

Tenham muito cuidado com K...

Eles voltaram, com uma geração mais forte. Assim como nos.

Cuidem-se. Amamos vocês

G ”

– Esta faltando um pedaço da carta!

– Eu sei Jay, deve ter sido rasgada em algum momento.

– Quem ou o que fosse “K” possuía um facão bem afiado. E certamente usou-o em alguém.

– Geração mais forte? “K”?

– Cumplices? Desde quando viramos criminos...

– Tem certeza que você pretende terminar essa pergunta, Jay?